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4 TEDs SOBRE O BRINCAR

ESCOLARIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

4 TEDs SOBRE O BRINCAR – Educação Infantil

BRINCAR é substrato para a vida, é o motor da infância que garante potência para a idade adulta. Brincando a criança desenvolve competências que serão requisitadas mais tarde nas relações interpessoais e de trabalho. Como atividade instintiva, natural e espontânea, brincar é fundamental para o desenvolvimento infantil integral e saudável, e segue tendo sua importância ao longo da vida, porque afinal somos seres lúdicos.

Infelizmente na sociedade contemporânea o brincar está em declínio, as novas gerações estão sendo privadas de tempo e espaço de brincar livre. Especialistas na área de educação e saúde vêm alertando sobre a diminuição do tempo de brincar das crianças.

Conheça 4 TEDs SOBRE O BRINCAR e entenda a sua importância para o desenvolvimento integral da criança.

Stuart Brown, psiquiatra americano, pioneiro na pesquisa sobre o brincar, descobriu por meio de seus estudos que crianças tolhidas na sua necessidade de brincar terão dificuldades de decodificar o mundo, que brincar bastante na infância gera adultos felizes e bem sucedidos e que a capacidade de continuar nutrindo este ser brincante que somos, nos mantém joviais e saudáveis ao longo da vida.

Como resultado de suas pesquisas, Stuart afirma que:

“Brincar desenvolve músculos e habilidades sociais, fertiliza a atividade cerebral, aprofunda e regula emoções, nos faz perder a noção do tempo, proporciona um estado de equilíbrio, ajuda a lidar com as dificuldades, aumenta a expansividade e favorece as conexões entre as pessoas. Ao brincar ativamos o lado direito do cérebro, que está ligado à criatividade, emoção, imaginação, intuição e subjetividade”.

 

LEIA TAMBÉM: BRINCAR SUBSTRATO PARA A VIDA


4 TEDs SOBRE O BRINCAR

BRINCAR É MAIS DO QUE DIVERSÃO – É VITAL, STUART BROWN

Um pioneiro na pesquisa sobre o ato de brincar, Stuart Brown, autor do livro  Play, diz que humor, jogos, algazarra, flerte e fantasia são mais do que simples diversão. Brincar bastante na infância gera adultos espertos e felizes – e continuar fazendo isso nos faz mais inteligentes em qualquer idade.

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O DECLÍNIO DO BRINCAR, PETER GRAY

Na visão do psicólogo evolucionista Peter Gray, autor do livro Free to Learn, hoje as crianças  não têm tempo, espaço e permissão para brincar livremente. O espaço público tornou se inacessível e perigoso. As horas dedicadas à escola aumentaram.  As crianças estão sempre supervisionadas e controladas por adultos. Tudo isso tem profundos impactos no desenvolvimento e aprendizado das crianças.

Nesta palestra, o Dr. Gray chama a atenção de forma convincente para a realidade de que, nos últimos 60 anos, nos Estados Unidos, houve um declínio gradual, mas globalmente dramático, na liberdade das crianças de brincar com outras crianças, sem a orientação de um adulto. Durante este mesmo período, houve um aumento gradual, mas globalmente dramático, da ansiedade, depressão, sentimentos de desamparo, suicídio e narcisismo em crianças e adolescentes. Com base em pesquisas próprias e de outros, o Dr. Gray documenta por que a brincadeira livre é essencial para o desenvolvimento social e emocional saudável das crianças e descreve as etapas pelas quais podemos trazer a brincadeira livre de volta à vida das crianças.

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TERRITÓRIO DO BRINCAR, RENATA MEIRELLES

A Renata Meirelles viaja por todas as regiões do Brasil registrando o brincar das crianças em sua forma mais espontânea por meio de vídeos, fotografias e áudios. Formada em Educação Física e é mestre pela Faculdade de Educação da USP. Desenvolveu dois projetos, o BIRA – Brincadeiras Infantis da Região Amazônica, no qual registrou as brincadeiras das crianças da Amazônia, e o Território do Brincar, que gerou um filme de longa-metragem, dois livros e duas séries infantis para TV, além de filmes de curta metragem, artigos e uma exposição itinerante em 2014/15.

Ela afirma que a  autonomia é a essência da criança. Se você pegar o que as crianças estão fazendo enquanto brincam, elas estão criando um processo de autonomia: ‘O que dou conta nessa vida’? Quando a gente vê crianças que estão sob um excesso de supervisão, com um adulto dizendo o tempo todo o que é para fazer, que horas que começa, que horas que termina… Por mais bem intencionada que seja a atividade, a criança vai crescendo em um lugar em que alguém deseja e escolhe por ela. Não há uma voz interna sendo escutada. A criança precisa ter o ‘nada’ disponível para fazer. E o ‘nada’ não significa ficar à frente de telas de celulares, tablets ou televisores. “O ‘nada’ é justamente ela estar sem propostas ou planejamentos. (trecho de entrevista)

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LIBERTEM AS CRIANÇAS, CARLOS NETO

Professor Catedrático na Faculdade de Motricidade Humana no Departamento de Ciências da Motricidade Humana de Lisboa, autor do livro Libertem as crianças. Um dos maiores especialistas mundiais na área da brincadeira e do jogo, o profº Carlos Neto trabalha com crianças há mais de quarenta anos e uma coisa que o preocupa é que hoje as crianças brincam e se movimentam cada vez menos, aumentando assim a taxa de sedentarismo entre a população infantil.

De acordo com ele, esta inatividade corporal infantil, terá enormes consequências na  saúde física da criança –  excesso de peso, obesidade, diabetes, doenças crónicas cardíacas e respiratórias, e na saúde mental – ansiedade, depressão, stress, hiperatividade e deficit de atenção. É necessária uma visão de desenvolvimento sustentável no âmbito das “culturas de infância”, no sentido de combater a crescente inatividade e inabilidade motora e promover experiências de brincadeiras e movimento, a fim de assegurar estilos de vida saudáveis ao longo da vida.

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Não deixe de assistir os 4 TEDs SOBRE O BRINCAR. O lúdico é fundamental em todas as fases da vida, inclusive na idade adulta, então vamos todos brincar!

Abraço

Ana Lúcia Machado

 

5 livros para aprender como facilitar a relação da criança com a natureza

5 LIVROS PARA APRENDER COMO FACILITAR A RELAÇÃO DAS CRIANÇAS COM A NATUREZA

Dicas de leitura para promover a facilitação da relação das crianças com a natureza e auxiliar professores a estar do lado de fora com elas

 

Se você é professor da educação infantil, do ensino fundamental, se é um profissional da área da saúde que atende crianças e adolescentes, ou ainda se é pai, mãe, tio ou avós preocupados com o distanciamento das novas gerações com o mundo natural, estes livros são para você. Estas indicações vão inspirar e apoiar iniciativas que incentivam a relação das crianças e jovens com a natureza.

Cada vez mais estamos percebendo a importância da conexão com o mundo natural, pelo crescente distanciamento da natureza e o excesso do mundo tecnológico na vida das crianças.

Sabemos que a criança se desenvolve muito além da sua genética. As interações com o meio têm uma relevância vital no processo alavancando o desenvolvimento integral da criança. Como grande mestra, a natureza tem muito a ensinar para as crianças. Em conexão com o mundo vivo elas  aprendem sobre os princípios que regem a vida na Terra – seus ciclos de nascimento, vida e morte, fluxos, processos evolutivos, o que leva a compreensão sobre si mesma, o outro, o meio e as relações. Na natureza encontramos os estímulos mais ricos e completos necessários para o desenvolvimento infantil integral e saudável.

 

5 LIVROS PARA APRENDER COMO FACILITAR A RELAÇÃO DAS CRIANÇAS COM A NATUREZA

Aqui você vai encontrar uma seleção de 5 livros fundamentais para o aprofundamento dos seguintes temas: aprendizagens ao ar livre, educação ambiental na infância, a relação da criança com a natureza, brinquedos e brincadeiras na e com a natureza.

Estas publicações são indispensáveis para a trajetória de pesquisadores e formadores das infâncias e familiares e visa a saúde da infância e do planeta.

O professor norte-americano David Sobel*, nos adverti de maneira sábia dizendo que “antes de pedirmos as crianças que salvem o planeta, precisamos oferecer à elas a oportunidade de amar a Terra”, pois só amamos aquilo que conhecemos. Portanto, é trabalho das famílias e da escola promover interações diretas das crianças com o mundo vivo.

*David Sobel, professor emérito do Departamento de Educação do Antioch University New England


  1. A última criança na natureza, de Richard Louv

Este livro apresenta uma abrangente síntese de pesquisas e também de histórias de todo o mundo que relacionam a presença da natureza na vida das crianças com seu bem-estar físico, emocional, social e acadêmico. Richard Louv cunhou o termo ‘Transtorno do Déficit de Natureza’ e despertou, assim, o interesse da comunidade internacional para o impacto negativo da falta da natureza na vida das crianças, especialmente as que vivem em contextos urbanos.

O autor ressalta que muitos problemas comuns de aprendizagem, como dificuldade de concentração, hiperatividade e déficit de atenção, estão diretamente ligados ao pouco tempo que os pequenos passam em contato com a natureza. Isso sem falar dos problemas mais graves, como obesidade infantil.

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  1. Crianças e natureza – Reconectar é preciso, de Christiana Profice

O livro é um alerta para as graves consequências físicas e psíquicas de um cotidiano infantil sedentário e conectado a dispositivos eletrônicos. A obra reúne os principais resultados de pesquisas sobre o tema nacional e internacional. A conclusão a que se chega é que a reconexão entre crianças e natureza é urgente, sob o risco de aumento de distúrbios físicos e emocionais causados pela privação de interações com os ambientes naturais, seus seres e processos.

Outro efeito nefasto do afastamento entre crianças e natureza é o desinteresse das pessoas pelo mundo natural que, sem conhecê-lo, não se empenham em sua proteção, agravando, deste modo, os problemas ambientais contemporâneos. Apesar deste alerta, as pesquisas científicas deixam claro que nem tudo está perdido e que ainda há tempo para reversão da situação, basta que devolvamos às crianças o seu direito de contato com a natureza da qual todos nós fazemos parte.

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  1. Brinquedos do Chão

Este livro explora a imaginação do brincar e sua intimidade com os quatro elementos da natureza: terra, fogo, água e ar, e revela a voz livre e fluente da criança em sua trajetória de moldar a si própria, tão esquecida nos estudos sobre a infância. Assim como o brinquedo, interessam ao autor, artista plástico, teólogo, pesquisador da infância e do imaginário, a brincadeira e seu universo simbólico; a experiência da criança quando, em comunhão com a natureza e em sua vivência transcendente, brinca e significa o mundo. Fala sobre os brinquedos da terra, que caracterizam, na produção material, gestual e narrativa da infância, a investigação da matéria e as operações da imaginação no forjar a elaboração e o enraizamento dos papéis sociais na casa, na família e no mundo.

 

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  1. Livro do Educador brincando com a natureza

Este livro é um convite à  prática de um brincar vivo e ecológico no dia a dia com as crianças; um convite à defesa do exercício imaginativo , da saúde da infância e do planeta. Brincar em espaços naturais nos coloca diante da vocação lúdica da natureza e  expõe a criança à riqueza e diversidade dos elementos naturais, abrindo um leque de possibilidades de brincadeiras e invenção dos próprios brinquedos pela criança, tendo a natureza como matéria-prima.

O livro incentiva o brincar em contato com a natureza  inspirado na história da Turma da Floresta – uma brincadeira puxa outra,  primeira obra infantil publicada pela autora,  especializada na primeira infância, e que agora, no Livro do Educador, ensina a fazer brinquedos com elementos da natureza, além de divertidas brincadeiras que nutrem a imaginação da criança e estimulam a criatividade.

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  1. Educação verde, crianças saudáveis, de Heike Freire

A leitura é fluida e cheia de ideias e dicas para trabalhar com as crianças na natureza. A autora faz uma abordagem da importância de uma educação voltada para o contato com a natureza.

As crianças hoje passam a maior parte do tempo em espaços fechados, sentados, frente às telas. Elas vivem constantemente debaixo da supervisão de adultos obcecados por segurança e quase já não têm momentos de brincadeiras descontraídas ao ar livre. As crianças precisam da natureza.

Os pequenos se sentem espontaneamente atraídos por ambientes naturais e, quando estão em contato com eles, desenvolvem- se de uma forma mais saudável em todos os níveis: físico, emocional, mental, social e espiritual. Passar algum tempo ao ar livre, em uma interação direta com a vida, é um direito fundamental da infância que deveria ser reconhecido na nossa sociedade. Este livro foi escrito para todas as pessoas, pais e educadores, dispostas a se empenhar para atingir esse ideal.

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Estas são algumas das referências bibliográficas que embasam o trabalho do Educando Tudo Muda e que além de inspirar, fortalecem ações potentes em prol da saúde da infância. Você conhece esses livros? Já leu? Se ainda não leu, sugiro que salve as indicações e compartilhe para espalhar esta semente pró-infância.

 

LEIA TAMBÉM: CRIANÇA E NATUREZA – TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER

 

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

 

Mês da Primeira Infância – Agosto Verde

Etapa essencial para o desenvolvimento infantil, a primeira infância recebe destaque neste mês com a chegada do Agosto Verde, o Mês da Primeira Infância.

Este é o segundo ano de celebração do Mês da Primeira Infância – Agosto Verde, data que foi oficializada pela lei 14.617, de julho de 2023.

A data visa dar ênfase em ações e políticas que promovam vínculos afetivos, nutrição saudável, importância da imunização, do direito de brincar e de prevenção de acidentes e doenças. Um mês focado na conscientização da sociedade sobre a importância da atenção integral às gestantes, às crianças e suas famílias em todo o território nacional.

A primeira infância, que vai do 0 aos 6 anos de idade, é uma etapa fundamental para o desenvolvimento humano, período em que a criança está muito sensível aos cuidados e estímulos ambientais.

O Brasil tem cerca de 20,6 milhões de crianças nessa faixa etária  segundo dados de 2021 do DataSUS. Os anos iniciais da vida de uma criança são considerados uma janela de oportunidade para o desenvolvimento integral. As experiências e as interações que acontecem nessa fase geram impactos para toda a vida.

Compreender e respeitar as etapas de desenvolvimento infantil e valorizar toda a cultura da infância é fundamental para a formação de indivíduos saudáveis e aptos a atuar na sociedade.

LEIA TAMBÉM: Respeito à Cultura da Infância

Diversas evidências demonstram que investir nos primeiros anos de vida é uma maneira efetiva de combater as desigualdades e romper o ciclo de pobreza que atravessa gerações. Pesquisas revelam que o começo da vida, tem um forte impacto na vida de um indivíduo e que o desenvolvimento saudável de uma criança, levando em conta boa alimentação, cuidados com a saúde física e emocional, competências sociais e capacidades cognitivas, forma a base da prosperidade econômica e justiça social de uma nação.

Um estudo da Nova Zelândia publicado no final de 2016 que avaliou 1037 neozelandeses dos 3 aos 38 anos de idade,  concluiu que os 20% de adultos que tiveram uma infância difícil, com restrições econômicas, descuido e negligência, foram responsáveis por 57% das internações hospitalares, 66% dos pedidos de benefícios sociais e 81% das condenações criminais.

O economista James Heckman, professor emérito na Universidade de Chicago e ganhador do Nobel de Economia no ano 2000, diz que crianças submetidas desde cedo a bons estímulos, aumentam suas chances de ter mais sucesso na vida adulta e que investir na Primeira Infância é o caminho para o país crescer.

O Dr. Heckman afirma que “cada dólar gasto com uma criança pequena trará um retorno anual de mais 14 centavos durante toda a sua vida. É um dos melhores investimentos que se podem fazer — melhor, mais eficiente e seguro do que apostar no mercado de ações americano”.

Confira as principais ideias defendidas pelo Dr. Heckman  numa entrevista concedida à revista Veja:

Por que os estímulos nos primeiros anos de vida são tão decisivos para o sucesso na idade adulta? É uma fase em que o cérebro se desenvolve em velocidade frenética e tem um enorme poder de absorção, como uma esponja maleável. As primeiras impressões e experiências na vida preparam o terreno sobre o qual o conhecimento e as emoções vão se desenvolver mais tarde. Se essa base for frágil, as chances de sucesso cairão; se ela for sólida, vão disparar na mesma proporção. Por isso, defendo estímulos desde muito cedo.

Quão cedo? Pode parecer exagero, mas a ciência já reuniu evidências para sustentar que essa conta começa no negativo, ou seja, com o bebê ainda na barriga. A probabilidade de ele vir a ter uma vida saudável se multiplica quando a mãe é disciplinada no período pré-natal. Até os 5, 6 anos, a criança aprende em ritmo espantoso, e isso será valioso para toda a vida. Infelizmente, é uma fase que costuma ser negligenciada — famílias pobres não recebem orientação básica sobre como enfrentar o desafio de criar um bebê, faltam boas creches e pré-escolas e, sobretudo, o empurrão certo na hora certa.

Qual é o preço dessa negligência? Altíssimo. Países que não investem na primeira infância apresentam índices de criminalidade mais elevados, maiores taxas de gravidez na adolescência e de evasão no ensino médio e níveis menores de produtividade no mercado de trabalho, o que é fatal. Como economista, faço contas o tempo inteiro. Uma delas é especialmente impressionante: cada dólar gasto com uma criança pequena trará um retorno anual de mais 14 centavos durante toda a sua vida. É um dos melhores investimentos que se podem fazer — melhor, mais eficiente e seguro do que apostar no mercado de ações americano.

Se isso é tão claro, por que a primeira infância não está na ordem do dia de quem tem a caneta na mão para decidir? Há ainda uma substancial ignorância sobre o tema. Algumas décadas atrás, a própria ciência patinava no assunto. A ideia que predominava, e até hoje pesa, é que a família deve se encarregar sozinha dos primeiros anos de vida dos filhos. A ênfase das políticas públicas é na fase que vem depois, no ensino fundamental. E assim se perde a chance de preparar a criança para essa nova etapa, justamente quando seu cérebro é mais moldável à novidade.

A classe política também evita olhar para a primeira infância por achar que esse é um investimento menos visível a curto prazo? Os políticos podem, sim, considerar isso, mas estão redondamente enganados. Crianças pequenas respondem rápido aos estímulos de qualidade. Para quem tem o poder de decidir, deixo aqui a provocação: não investir com inteligência nesses primeiros anos de vida é uma decisão bem pouco inteligente do ponto de vista do orçamento público. Basta usar a matemática.

O que mostra a matemática? Vamos pegar o exemplo da segurança pública. Há ao menos dois caminhos para mantê-la em bom patamar. Um deles é contratar policiais, que devem zelar pelo cumprimento da lei. O outro é investir bem cedo nas crianças, para que adquiram habilidades, como um bom poder de julgamento e autocontrole, que as ajudarão a integrar-se à sociedade longe da violência. Pois a opção pela primeira infância custa até um décimo do preço. Recaímos na velha questão: prevenir ou remediar? Como se vê, é muito melhor prevenir.

Que tipo de política pública de primeira infância tem surtido mais efeito? O grande impacto positivo vem de programas que conseguem envolver famílias pobres, creches e pré-­escolas, centros de saúde e outros órgãos que, integrados, canalizam incentivos à criança — não só materiais, evidentemente. O programa americano Perry, da década de 60, é um exemplo clássico de que o investimento em uma boa pré-escola produz ótimos resultados.

Por que esse modelo é bom? Ele envolve ativamente os alunos em projetos de sala de aula, lapidando habilidades sociais e cognitivas, sob a liderança de professores altamente qualificados. A família mantém um estreito elo com a escola. Temos de ter sempre certeza de que a família está a bordo, qualquer que seja a iniciativa.

Não é irrealista esperar tanto de famílias que vivem na pobreza, como no Brasil? Um bom programa de primeira infância consegue ajudar a família inteira, fazendo chegar até ela informações, boas práticas e valores essenciais, como a importância do estudo para a superação da pobreza.


Mês da Primeira Infância – Agosto Verde

Quer ser ativa (o) e contribuir para despertar a consciência sobre a importância do começo da vida? Leia e compartilhe estes 4 artigos, que representam uma síntese sobre esta etapa da vida:

  1. Afeto e Infância na Era da Complexidade
  2. Infância Pede Calma
  3. Respeito à Cultura da Infância
  4. Você conhece a força da sua Infância

A celebração do Mês da Primeira Infância é muito importante, nos convida a espalhar essa mensagem debatendo o tema com a sociedade e mobilizando a classe política. Se você é um profissional da área da educação ou saúde, se você tem filhos pequenos, ou se tem vínculos de afeto com alguma criança, saiba que você pode fazer a diferença na vida das crianças. Reflita, discuta por meio de conversas, trocas de opiniões, acerca da importância da infância com amigos e familiares. Cobre do poder público ações efetivas em prol da saúde da infância.

Não se esqueça que a infância é para a vida toda e que se mudarmos o começo da história de um indivíduo, mudaremos a história toda!

Abraço afetuoso

Ana Lúcia Machado

FÉRIAS ESCOLARES – ALTERNATIVAS DE LAZER E ENTRETENIMENTO

FÉRIAS ESCOLARES – ALTERNATIVAS DE LAZER E ENTRETENIMENTO MENOS DIGITAIS

O que não pode faltar nas férias escolares  –  alternativas de lazer e entretenimento menos digitais e mais tradicionais

Não se desespere com as férias escolares das crianças. Tenha sempre em mãos um jogo de tabuleiro ou de cartas, um quebra-cabeça de no mínimo 500 peças, um bom livro de aventuras e uma lista de parques para visitar nos fins de semana.

 

JOGOS

Os jogos em família são uma maneira divertida de passar momentos juntos de um jeito descontraído, dinâmico e salutar. Eles entretêm, divertem a todos e além disso auxiliam no desenvolvimento infantil. É um jeito das crianças aprenderem brincando, pois os jogos trabalham a concentração, o raciocínio lógico, a criatividade e a interação social.

Tire do armário todos os jogos – os tradicionais de tabuleiros: damas, ludo, trilha. Vale também os jogos da memória, batalha naval, etc. Fica aqui a dica de alguns jogos divertidos testado e aprovado por diversas famílias, a começar pelo queridinho da minha família até hoje, que são todos adultos. Confira:

 

Jogos em famíliaRUMMIKUB

Um jogo antigo, que surgiu na década de 30. Jogam de 2 a 4 pessoas. O objetivo é ser o primeiro a baixar todas as pedras do suporte. Joga-se formando sequências numéricas de acordo com as regras. No Youtube você encontra muitos vídeos que ensinam a jogar.

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CARA A CARA

Joga-se apenas duas pessoas por vez, porém é possível organizar um campeonato para que toda a família participe. O objetivo do jogo é descobrir quem é a cara do outro jogador. É preciso usar o raciocínio para fazer perguntas inteligentes, uma vez que só é possível responder as perguntas com “Sim” ou “Não”. É preciso ficar atento às respostas para acertar a cara que o oponente tem no suporte. As crianças a partir de 6 anos gostam bastante desse jogo.

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Jogos em famíliaUNO

Podem jogar de 2 a 10 participantes. Cada um recebe 7 cartas, que são descartadas de acordo com a cor que está no monte das que sobraram. O objetivo é zerar as cartas na mão.

O detalhe é que o baralho pode ditar ações específicas, seja para fazer o próximo jogador receber mais cartas, inverter a ordem das jogadas ou mesmo pular a vez de quem jogaria a seguir, tudo para atrapalhar os demais de chegarem ao objetivo final. É um jogo portátil bem divertido e estimula o pensamento estratégico na hora de jogar as cartas! Os adolescentes apreciam muito este jogo.

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Jogos em famíliaJENGA

Uma vez que a torre tenha sido construída, o construtor deve iniciar o jogo. Uma jogada consiste em retirar um e apenas um bloco de qualquer andar que não esteja logo abaixo do andar incompleto mais alto. O bloco retirado deve ser posto no topo da torre, de modo que os blocos formem novos andares. Indicado a partir de 4 anos

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PERFIL

O jogo de tabuleiro Perfil é ideal para 2 a 6 participantes. Tente descobrir qual é o perfil secreto que está sendo perguntado para você a cada rodada. Preste atenção em cada uma das dicas, pois elas vão formar o Perfil da pessoa, da coisa, do animal ou do lugar que deve ser desvendado. São 20 dicas para os jogadores adivinharem quem é a Coisa, a Pessoa, o Animal ou o Lugar na cartela da rodada! Quando menos dicas você precisar, mais casas você anda no tabuleiro. Junte as peças desse enigma antes dos outros participantes e mostre que é capaz de descobrir de quem é o PERFIL!   Indicado a partir de 7 anos

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FÉRIAS ESCOLARES – o que não pode faltar

  • um divertido jogo de tabuleiro ou cartas
  • um quebra-cabeça com um tema alegre e colorido
  • um livro de aventura cativante
  • uma lista de parques

 

QUEBRA-CABEÇAS

Sobre os quebra-cabeças, vale ressaltar que as crianças em geral sentem fascínio por eles. São atraídas pela variedade de peças coloridas, e pelo desafio de montar a imagem da caixa. Montar quebra-cabeças desenvolve a atenção, a coordenação motora, estimula a capacidade de observação e comparação e o pensamento lógico.

Escolha um quebra-cabeça de uma bela paisagem natural ou de uma obra de arte alegre e colorida. Pesquise a indicação de faixa etária de acordo com a idade da sua criança.

Arrume uma mesa para deixar o quebra-cabeça exposto, com espaço suficiente para espalhar as peças. Isso facilitará a montagem, além de chamar a atenção da criança e despertar o desejo de montar. Reserve um período do dia para que a criança se dedique a esta atividade,  fazendo um pouco a cada dia.

Veja algumas sugestões:

 

Romero Brito

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Paisagem com moinho

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Van Gogh

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LIVROS

A leitura é  uma atividade de férias divertida e proveitosa. Ler nas férias é um excelente exercício de expansão de horizontes e conhecimento de si e do mundo.
A leitura amplia repertório, aumenta o vocabulário e enriquece a comunicação. Estabeleça com sua criança uma meta de leituras para as férias.

Aproveite para entreter a criança com um cenário diferente da paisagem urbana. Os livros podem despertar o apreço pela natureza. Uma boa história de aventura em ambientes naturais pode influenciar de maneira positiva as crianças e incentivar o interesse pelo mundo vivo. Confira algumas indicações de livros de aventura:

 

CINCO CRIANÇAS E UM SEGREDO

O livro conta as aventuras de cinco irmãos que, durante as férias, encontram um duende da areia. Essa criatura estranha e peluda passa a realizar um desejo das crianças a cada dia. Mas, uma vez realizados, os desejos colocam os meninos em grandes e divertidos apuros.

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TEIA DE CHARLOTTE

Em uma manhã de primavera, a garotinha Fern resgata um porquinho e o nomeia Wilbur. Vendido para o tio de Fern e mandado para a fazenda dele, o porquinho faz amizade com os animais de lá ― incluindo a gentil aranha Charlotte. Mas, quando Wilbur precisa enfrentar o cruel destino de sua espécie, Fern e Charlotte se juntam aos outros animais para bolarem um plano infalível e salvarem esse porquinho muito especial.

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A TURMA DA FLORESTA UMA BRINCADEIRA PUXA OUTRA

O livro narra as aventuras de um grupo de crianças que se reúne num parque do bairro para brincar. No decorrer da tarde, essa turminha inventa muitas brincadeiras e brinquedos com materiais naturais que encontram pelo parque, mostrando que a imaginação das crianças é o melhor brinquedo.

SAIBA MAIS

 

 

 

O MENINO DO DEDO VERDE

O livro conta a história de um menino diferente que transforma tudo o que toca, suas impressões digitais causam reverdecimento e alegria. As proezas de seu dedo verde são originais. A mágica história de Tistu, garoto com raro poder de semear o bem por onde passa, é uma aventura fantástica com final singelo e extraordinário.

SAIBA MAIS

 

 

 

 

Dia do livroO JARDIM SECRETO
A clássica história de Mary, uma órfã de 10 anos que vai viver com o tio em um casarão na Inglaterra. Lá encontra Dickon, um menino que conversa com as plantas e os animais, e Colin, um pequeno lorde, doente e isolado em um dos quartos. A amizade das crianças e o contato com a natureza operam uma surpreendente tranformação em todos da casa.

SAIBA MAIS

 

 

 

 


PARQUES URBANOS

Aproveite o tempo livre nos finais de semana para um passeio gostoso em parques da sua cidade. Acesse o site da prefeitura e faça uma lista de parques próximos do seu bairro para ir com as crianças. Se você mora na cidade de São Paulo, confira os parques AQUI 

Nestas férias escolares programe a hora dos jogos em família,  um tempo para montar quebra-cabeça, e ainda o tempo da leitura. E não se esqueça de desfrutar momentos agradáveis ao ar livre, em contato com a natureza!

Bom divertimento e ótimas férias escolares!

Abraço caloroso

Ana Lúcia Machado

BRINQUEDO NÃO ESTRUTURADO – ENTENDA ESTE CONCEITO

BRINQUEDO NÃO ESTRUTURADO, você sabe o que é isto? Conhece o conceito dos materiais não estruturados?

Décadas atrás, crianças recorriam à imaginação e criatividade para que qualquer objeto do cotidiano pudesse se tornar um brinquedo. Desde que o universo da imaginação infantil foi invadido pela indústria dos brinquedos, as crianças tornaram se cada vez mais expectadoras passivas de brinquedos que fazem tudo sozinhos.

Entretanto, quanto menos coisas um brinquedo faz, mais coisas a mente da criança tem que fazer. Brincar de maneira livre, sem brinquedos prontos, exige mais da imaginação e criatividade da criança. Inventar o próprio brinquedo e brincadeira promove o desenvolvimento de habilidades físicas, manuais, cognitivas, sociais e até mesmo habilidades emocionais.

O QUE SÃO MATERIAIS NÃO ESTRUTURADOS?

Caixas de papelão, cones, carretéis, madeiras, tecidos, mangueiras, pneus, rolhas, elementos da natureza, argila, areia, entre outros.

Os materiais não estruturados são objetos da cultura, do cotidiano, e elementos da natureza que podem ser disponibilizados para a criança para que ela invente a própria brincadeira.

Para entender melhor o conceito de Brinquedo não estruturado, quero apresentar a Coleção Objetos Brinquedos composta por quatro livros infantis da autora Patrícia Auerbach:

 

 

O JORNAL

Neste livro-imagem inspirador, um menino viaja pelo mundo na sala de casa. O menino começa a explorar brincadeiras com as folhas do jornal que seu pai está lendo. A obra revela até onde vai a imaginação de uma criança ao transformar o jornal em aventuras incríveis ― de uma página para outra, o personagem vira surfista, aviador, cavaleiro e até pirata! O jornal do pai vira muitos brinquedos feitos pelo menino.

 

O LENÇO

Uma menininha curiosa pega um lenço da mãe na gaveta da penteadeira e transforma essa simples peça de vestuário numa brincadeira divertida. A cada página o lenço se transforma em diferentes brinquedos e brincadeiras revelando o mundo rico da imaginação da criança.

 

 

A GARRAFA

Nesse livro, a garrafa de plástico encontrada na pia da cozinha vai se transformando pelos olhos de uma criança muito curiosa. Carrinho, foguete, megafone, tromba de elefante e orelhas de coelho, são algumas das possibilidades que se multiplicam quando, na lata de lixo reciclável, várias outras garrafas são encontradas. Outras coisas são criadas pela criança a partir do objeto garrafa.

 

A PANELA

Vasculhando o armário de panelas de casa, duas crianças sem nada para fazer se transformam em alpinistas, encantadores de serpentes, músicos, jogadores de basquete… As panelas e suas tampas ganham vida nas mãos das crianças, com utilidades diferentes do uso comum do dia a dia.


Coisas nascem de coisas!  E quantas coisas a imaginação da criança é capaz de inventar com objetos do dia a dia que estão à nossa volta? Ou com elementos naturais que as crianças podem recolher na natureza? A graça para a criança ao brincar está em subverter os objetos e transformá-los em brinquedos, em algo diferente e novo.

LEIA TAMBÉM: Livro do Educador brincando com a natureza

Que a leitura dos livros indicados possam auxiliar os adultos na compreensão da importância do brinquedo não estruturado para as brincadeiras e inspirar as crianças para muitas invenções!

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

 

SELEÇÃO DE LIVROS COM DESCONTOS INCRÍVEIS

SELEÇÃO DE LIVROS COM DESCONTOS INCRÍVEIS – Black Friday

Começou a Black Friday! Aproveitei para conferir o preço dos livros que estão indicados na Biblioteca Verde do Educando Tudo Muda – uma seleção de livros para a infância.
Dá só uma olhada nos descontos incríveis que encontrei:

O jardim secreto 72% – Um clássico da literatura
https://amzn.to/3QQLDNZ

Arca de ninguém 62% – Uma divertida releitura da história da Arca de Nóe
https://amzn.to/3QSAix1

A árvore generosa 51% capa dura – Um história comovente sobre o abuso da natureza pelos humanos
https://amzn.to/47iejq9

De flor em flor 50% capa dura – Da dureza da cidade sob o olhar de encantamento de uma menininha
https://amzn.to/49LIS9f

O mundo nunca dorme 47% – Enquanto dorminos, existe um mundo que nunca dorme
https://amzn.to/3MWdQBH

Onda 48% capa dura – Livro imagem encantador
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O jornal 49% – Outro livro imagem surpreendente que mostra o jornal como um brinquedo não-brinquedo
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Eu estou aproveitando para fazer as compras de Natal. Sou aquela mãe, filha, irmã, tia, amiga que adora dar livros de presente! Boas compras consciente neste fim de ano! Sem exageros, porque menos continua sendo mais!

Abraço afetuoso

Ana Lúcia Machado

LADRÕES DA INFÂNCIA , roubamos da criança

Você conhece quais são os ladrões da infância?

O modo como a sociedade contemporânea se organizou, tem roubado da infância atributos e valores preciosos que pouco a pouco estão a esvaziar e enfraquecer a potência da primeira infância.

Hoje vemos entre a população infantil o decréscimo da força muscular pela falta de atividade física; a falta de equilíbrio corporal, pelo predomínio de pisos lisos, cimentados que oferecem pouca oportunidade de instabilidade na movimentação do corpo; a redução da mobilidade pela insegurança e violência urbana; a obesidade infantil, associada a inatividade física e maus hábitos alimentares; a deficiência de vitamina D, pela baixa exposição ao sol por conta do emparedamento das crianças; o aumento de incidência de miopia, pelo uso abusivo das telas; entre outras ocorrências que têm causado prejuízos ao desenvolvimento integral da criança.

A primeira infância, que vai do 0 aos 7 anos de idade, é uma etapa fundamental para o desenvolvimento humano. É o tempo em que formamos nossas raízes para depois criarmos as asas e irmos para o mundo. As experiências, os estímulos e as interações que acontecem nessa fase geram impactos para toda a vida. O que acontece nesta etapa da vida tem reflexos ao longo de toda a trajetória humana.



De acordo com o projeto aprovado, PL 2.034/2021, agosto será agora um mês focado na conscientização da sociedade sobre a importância da primeira infância, à atenção integral às gestantes, às crianças e suas famílias em todo o território nacional, um período de ênfase em ações e políticas que promovam vínculos afetivos, nutrição saudável, importância da imunização, do direito de brincar e de prevenção de acidentes e doenças. (Fonte: Fundação Maria Cecília Souto Vidigal)

Como esse é um dos pilares do meu trabalho aqui no Educando Tudo Muda, que este mês completa sete anos de existência, quero compartilhar um texto para reflexão sobre os Ladrões da Infância para que possamos impulsionar mudanças em prol do resgate da força da infância.

LADRÕES DA INFÂNCIA

Roubamos da infância o tempo da pausa para o divagar da vida – momento potente em que surgem as brincadeiras que vêm da imaginação, que nascem no íntimo, a partir de demandas da individualidade, como expressão da singularidade do ser e que possibilitam o aflorar da criatividade da criança.

Substituímos o tempo da espera, da vivência das etapas do preparo de cada coisa, pela pressa, pelo imediatismo. O fogo não trepida mais entre as panelas nas cozinhas espalhando o cheiro bom dos temperos pela casa no preparo das refeições. Foi trocado por poucos minutos da facilidade do micro-ondas, que leva ao prato a comida aquecida.

Trocamos o pausar da vida, as horas do dolce far niente, pelas aulas extras curriculares, que ocupam todo o tempo da criança. Os estímulos externos criados artificialmente pelos adultos com o intuito de acelerar o desenvolvimento infantil, anulam o que a criança tem de mais precioso que é sua motivação interna, alimentada por sua curiosidade inata.

O TEMPO DA NATUREZA É UM TEMPO DA ESPERA, DA VIVÊNCIA DE PROCESSOS

Roubamos da infância os espaços ao ar livre – a rua, os terrenos baldios da vizinhança, a pracinha, onde a gurizada se encontrava para explorações, descobertas e para viver pequenas travessuras sadias, ou mesmo cair, ralar o joelho, voltar prá casa chorando, e perceber o processo de cicatrização do ferimento nos dias subsequentes.

Roubamos da infância a natureza, como território lúdico e educador, lugar de pisar na terra, subir em árvores, comer fruta do pé, se esconder entre arbustos, crescer livre aprendendo com seus pares e aprendendo a amar a terra.

Roubamos da infância a relação com o mundo vivo que exala aromas, tem diversidade de sabores, sons, texturas, temperaturas e pesos, para propiciar às crianças uma pseudo segurança do entretenimento das telas dos smarthphones, tablets, televisão, etc, que furtam a vida real e oferecem a frieza do mundo virtual.

Deixamo-nos enganar, pois as interações virtuais jamais substituirão o valor do convívio social, a conversa olho no olho, a sensibilidade do toque e o calor do abraço. Esta é a dimensão do real e do humano capaz de acolher e preencher a vida da criança.


O modo mais eficaz de conectar as crianças com a natureza é também conectar-se à natureza. Se as crianças perceberem um verdadeiro entusiasmo nos adultos, vão se apropriar desse interesse.”
Richard Louv*

A RELAÇÃO COM A NATUREZA INTENSIFICA A VIDA

Roubamos da infância a oportunidade de inventar e construir seus próprios brinquedos e brincadeiras com achados do quintal: gravetos, sementes, cascas, e utensílios da casa, para colocar nas mãos das crianças os brinquedos prontos, industrializados, que tornam a criança um ser passivo diante deles.

É preciso entender que os brinquedos prontos eliminam o processo de criação e construção pela criança, produzindo um vazio, uma sensação constante de insatisfação e frustração, levando a criança a querer e pedir sempre mais, na ânsia de se sentir saciada.

Quando oferecemos a oportunidade à criança de criar e construir seus brinquedos, estamos colaborando para o desenvolvimento de competências que serão exigidas na vida adulta, sem saber que a concentração manifestada durante o brincar livre corresponde à mesma que será empregada em atividades profissionais no futuro.

Roubamos da infância a liberdade de escolher com o que brincar, como brincar e com quem. Brinquedos e brincadeiras são partes de uma construção autoral, elaborada por meio de um processo espontâneo e autêntico de cada criança. As crianças tem seus próprios interesses e narrativas pessoais, estão imbuídas de desejos que necessitam de liberdade de criação e expressão. A centralização e super proteção do adulto inibe o fluir natural do brincar.

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Precisamos enfrentar esses ladrões da infância. O resgate da potência da infância passa pela revisão de dimensões temporais, espaciais, de saberes ancestrais e fazeres manuais lúdicos e artísticos, e da liberdade. É necessário rever o quando, o onde, o como, e o que oferecemos às crianças para que possamos redirecionar a trajetória rumo à saúde das nossas crianças, garantia de um mundo melhor.

Abraço fraterno

Ana Lúcia Machado

*Richard Louv, autor do livro ‘A última criança na natureza’