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BRINCAR NA NATUREZA – PROJETO PLAYOUTSIDE

Conheça o projeto Playoutside – alegria de brincar na natureza, um movimento que busca transformar o cenário atual da infância.

Ao longo dos anos, com a crescente urbanização do ser humano, espaço e tempo diminuíram. Valores da sociedade de consumo tomaram conta do tempo e lugar do brincar no universo da criança.

Muitos fatores tem sido apontados como sabotadores do tempo do brincar livre da criança. Entre eles, podemos destacar o uso precoce e excessivo da tecnologia. Especialistas da área da saúde tem alertado quanto aos  prejuízos ao desenvolvimento infantil saudável e enumerado o que tais excessos podem acarretar:

dificuldade de concentração, má qualidade do sono, sedentarismo, problemas de saúde mental, atraso de aprendizagem, entre outros distúrbios

Hoje com menos de 3 anos de idade, as crianças já sabem usar smartphones e  tablets.  jogar games, mas poucas sabem amarrar os cadarços do tênis, pular cordas, subir em árvores, etc.

Estatísticas mostram que 80% da população brasileira vivem em cidades e que a criança urbana passa 90% do seu tempo em locais fechados, dentro de casa, em frente da televisão, jogando vídeo games, ou nas escolas dentro de salas de aula. Quando saem com os pais vão ao shopping, restaurante ou cinema.

Playoutside - alegria de brincar na natureza

As crianças brasileiras, segundo dados do relatório Children & Nature Network, estão entre aquelas que têm menos contato com a natureza. Doenças que passaram a ser comuns entre as crianças nos dias de hoje, tais como transtorno de hiperatividade, déficit de atenção, depressão, pressão alta e diabetes, estão de alguma forma relacionadas  com a falta de contato com a natureza.

Um movimento mundial de retorno à natureza está se espalhando pelo mundo. Este movimento visa reconectar as crianças a ambientes abertos, ao ar livre. Um novo termo tem sido usado por pediatras, psicólogos, educadores. Trata-se da expressão “Transtorno do Déficit de Natureza”, que é a falta de contato do ser humano com a natureza.  Uma pesquisa recente mostrou que 40% das crianças brasileiras passam uma hora ou menos ao ar livre. Um número inexpressivo.

O QUE A FALTA DO BRINCAR NA NATUREZA SOMADO AO STRESS DA VIDA URBANA PODE CAUSAR?

-obesidade infantil, associada a maus hábitos alimentares

-musculatura fraca, pela falta de atividade física

-falta de equilíbrio, pelo predomínio de pisos lisos, cimentados que oferecem pouca oportunidade de instabilidade na movimentação corporal

-deficiência de vitamina D

-aumento de incidência de miopia

-menor uso dos sentidos

-ansiedade

A primeira tarefa da educação é ensinar a ver. Através do olhar estabelecemos contato com a exuberância e beleza que há no mundo. A conexão com a natureza gera alegria e reverência. Traz a consciência de pertencimento, de que estamos ligados ao todo. Homem e natureza – uma coisa só.

Playoutside - alegria de brincar na natureza

A natureza deve ser a 1ª leitura de mundo da criança. Além de aprendizado por si só, ela é também premissa para o desenvolvimento infantil integral e saudável. Infância e natureza estão intimamente ligadas.

A criança tem um espírito exploratório. Brincando e descobrindo o mundo natural, ela também está aprendendo. Este aprendizado se dá de uma forma tão descontraída e prazerosa, que nem parece aprendizado. A natureza promove equilíbrio interno, autorregulador na criança. É um contato muito produtivo, pacificador, restaurador para ela.

Em recente livro publicado no Brasil, “A última criança na natureza”,  Richard Louv fala de um estudo realizado pela Universidade de Illinois que mostrou redução dos transtornos de ansiedade entre crianças de 7 à 13 anos após o aumento de tempo em contato com a natureza. Outro estudo feito em Massachussets em escolas, constatou que alunos tiveram aumento de desempenho e resultados satisfatórios depois de ficarem mais tempo ao ar livre.

CONHEÇA TAMBÉM O LIVRO A TURMA DA FLORESTA – UMA BRINCADEIRA PUXA OUTRA QUE ACABA DE SER LANÇADO

Os benefícios da natureza já estão comprovados. Uma pesquisa feita com estabelecimentos de educação infantil no Canadá mostrou que parques com áreas verdes nas escolas estimulam um brincar que envolve mais atividade física em comparação às áreas de lazer sem natureza.

PLAYOUTSIDE 27 DE NOVEMBRO

Mais tempo ao ar livre regula hormônios, reduz a agressividade, hiperatividade e obesidade. Sucesso vem sendo obtido no tratamento de transtorno de déficit de atenção, depressão, e até mesmo quadros alérgicos, pois o contato com os antígenos naturais no campo ou na praia fortalece o organismo. Além disso, aumenta a capacidade cognitiva, e as crianças ficam mais focadas e criativas.

Devemos criar oportunidades frequentes para as crianças brincarem ao ar livre. Foi pensando neste cenário de carência de natureza na vida das crianças, que desenvolvemos o projeto “PLAYOUTSIDE – ALEGRIA DE BRINCAR NA NATUREZA”.

Playoutside - alegria de brincar na natureza

Promovemos encontros em parques públicos com o objetivo de reconectar as crianças e seus familiares a natureza e estimular o brincar  da criança. Convidamos os pais a desfrutar um tempo de qualidade com seus filhos, deixando de lado as preocupações e as demandas do mundo digital, para se entregar a atividades lúdicas na companhia das crianças.

Um passeio na mata, uma caminhada no parque, praça ou jardim, num lugar bonito com pássaros, árvores, plantas, flores, terra úmida e insetos, aguça a curiosidade infantil. Cheiros novos, sons de pássaros, do vento, das folhas secas. Formas diferentes de folhas, cores variadas de flores. Observar formigas, lagartas, minhocas, musgos, líquens, diversos seres vivos fascinantes para a natureza curiosa e exploratória da criança. Andar na lama, na chuva. Acompanhar borboletas, subir em árvores, correr entre elas ou se esconder, colher frutos, pegar pedras. Construir brinquedos e composições artísticas com objetos da natureza, dar asas à imaginação. Tudo isso são possibilidades encantadoras de brincar com a natureza e que procuramos estimular nos nossos encontros.

Leia depoimento de uma mãe participante do Playoutside:

“Eu e minha filha de 4 anos participamos da primeira edição do Playoutside. Foi muito importante para nós participarmos desta iniciativa  pois pudemos desfrutar dos benefícios de brincar juntas explorando a natureza. Neste mundo que anda tão corrido não paramos para desfrutar de coisas simples e as crianças estão sendo levadas por essa onda, suas agendas estão cheias e elas não tem tempo de fazer o que é próprio da infância “brincar”. No Playoutside a Bia pode brincar explorando a natureza tendo seus sentidos estimulados e podendo canalizar toda a sua energia em descobrir coisas novas, além de fortalecer nossos laços afetivos.” (Roberta Fernandes)

Saiba mais assistindo ao vídeo e acessando nossa agenda AQUI.

Inscreva-se e seja muito bem vindo ao Playoutside, você e sua família.

Abraços

Ana Lúcia Machado

 

 

BRINCAR – SUBSTRATO PARA A VIDA

Brincar é substrato para a vida. O brincar é o motor da infância que garante a potência para a vida adulta. Brincando  a criança desenvolve competências que serão requisitadas mais tarde nas relações interpessoais e de trabalho. Infelizmente as novas gerações estão sendo privadas deste tempo e espaço de brincar livre.

Brincar é uma atividade instintiva, natural e espontânea da criança. Ele é essencial para o desenvolvimento infantil integral e saudável, e segue tendo sua importância ao longo da vida adulta, porque afinal somos seres lúdicos.

 

POR QUE BRINCAR É IMPORTANTE?

Stuart Brown, psiquiatra americano, pioneiro na pesquisa sobre o brincar, descobriu por meio de seus estudos que crianças tolhidas na sua necessidade de brincar terão dificuldades de decodificar o mundo , que brincar bastante na infância gera adultos felizes e bem sucedidos e que a capacidade de continuar nutrindo este ser brincante que somos, nos mantém joviais e saudáveis ao longo da vida.

Como resultado de suas pesquisas, Stuart afirma que:

“Brincar desenvolve músculos e habilidades sociais, fertiliza a atividade cerebral, aprofunda e regula emoções, nos faz perder a noção do tempo, proporciona um estado de equilíbrio, ajuda a lidar com as dificuldades, aumenta a expansividade e favorece as conexões entre as pessoas. Ao brincar ativamos o lado direito do cérebro, que está ligado à criatividade, emoção, imaginação, intuição e subjetividade”.  

 

Em abril de 2016 a empresa Unilever divulgou uma pesquisa sobre o valor do brincar livre, realizada  pela Edelman Berland, agência independente de pesquisa de marketing. A agência entrevistou 12.170 pais em 10 nações: EUA, Brasil, Reino Unido, Turquia, Portugal, África do Sul, Vietnã, China, Indonésia e Índia.

O QUE A PESQUISA DETECTOU:

– A maioria das crianças não sai para brincar ao ar livre,  56% das crianças passa uma hora ou menos brincando ao ar livre. Uma em cada 5 crianças passa 30 minutos ou menos ao ar livre; e uma em cada 10 nunca brinca ao ar livre. Em todos os países pesquisados, as crianças passam 50% a mais do seu tempo brincando em frente às telas dos eletrônicos do que ao ar livre.

– Os pais entendem que isso é um problema. Dois terços dos pais admitem que seus filhos brincam menos ao ar livre do que sua própria geração. A maioria dos pais (56%)  concorda que é preciso reequilibrar a rotina das crianças para fazer com que as brincadeiras que trazem benefícios para o crescimento possam acontecer – e 93% deles acreditam que brincar menos ao ar livre afeta o aprendizado dos filhos.

Brincar - Substrato para a vida

Para chamar a atenção para a carência do brincar livre, a Unilever criou uma campanha de impacto “Libertem as crianças“, que tem como ideia central a comparação do tempo de banho de sol dos presidiários ao tempo de brincar da criança ao ar livre.  Pode parecer um pouco exagerada, mas o objetivo é chocar e levar a sociedade a uma grande reflexão sobre a importância do brincar em contato com a natureza na infância. Assista o vídeo AQUI.

Anos atrás, li o  livro  “Minha vida de menina” –  diário de uma garota de Diamantina (MG), no  final do século XIX, que narra os acontecimentos do seu cotidiano, revelando os costumes da sociedade da época, a estrutura familiar e todo o universo que cerca a menina, com seus conflitos, temores e sonhos.

Nos relatos de Helena Morley, pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant (1880-1970), me encantou sua admiração e intimidade com a natureza. Ela conta que certa vez sofreu uma queda de um cavalo e machucou o joelho, o que lhe obrigou a ficar em repouso, presa dentro de casa, e comenta:

 “Como é horrível ficar presa num rancho, sabendo que há tanta coisa boa para a gente fazer! Quando eu penso que podia estar no córrego pescando ou mesmo atrás das frutas do mato, dos ninhos de passarinho, armando arapuca e tudo…”

Helena continua a se lamentar e diz que só voltará  a se sentir feliz quando estiver novamente lá fora.

Vivemos em outros tempos, e não poderia ser diferente. Entretanto é chocante constatar que hoje a realidade de nossas crianças é completamente oposta. Atualmente as crianças não sabem mais o que  fazer do lado de fora, mesmo em férias no campo ou na praia, não conseguem explorar todas as possibilidades que o mundo em ambiente aberto, ao ar livre,  pode proporcionar.

Brincar - substrato para a vida

 

A tela do pintor holandês Pieter Bruegel, intitulada “Brincadeiras Infantis” retrata um  pátio da Europa do século XVI. Mostra um tempo onde o brincar foi mais valorizado pela  humanidade. Podemos observar  adultos e crianças brincando, brincadeiras individuais, coletivas, jogos, atividades físicas, etc.  Rubem Alves, poeta, filósofo brasileiro, nos desafia ao dizer que já enumerou 60 brincadeiras nesse quadro. A maioria das brincadeiras de Bruegel, são do lado de fora. Em foco brincadeira de bolas de gude.

 

ONDE NASCE O BRINCAR?

O brincar tem origem na curiosidade e necessidade de exploração da criança para construção do seu próprio mundo, sua identidade, a imagem de si e a compreensão do mundo que a cerca.

O brincar ensina tudo o que os pequenos precisam aprender sobre a dinâmica interna e estrutura do seu próprio corpo.

Quando brinca a criança está inteira na brincadeira, pois brinca com todo o seu ser. Brincando ela aprende a se concentrar, experimenta o estado de flow, tão cobiçado e valorizado na atualidade.

As primeiras brincadeiras acontecem quando a criança começa a sorrir. Seu sorriso é uma expressão aberta que convida a brincar, a penetrar no seu mundo lúdico. Mãe e bebê se entreolham, a mãe balbucia, o bebê também. A vivência é de puro encantamento para ambos.

O corpo é o primeiro brinquedo da criança a partir da descoberta das mãos e pés, depois com os rolamentos aos seis meses, seguido dos primeiros passos por volta de um ano. Aos dois anos a criança adquire a habilidade de pular e passa muito tempo treinando e se divertindo com seu corpo-brinquedo.

As crianças possuem atividade motora intensa, muita energia, imaginação e curiosidade. Elas correm, pulam, saltam, gritam, cantam, rolam, rodam, escorregam, se penduram, ficam de ponta cabeça, dão cambalhotas, se agacham, dançam, etc.

Criança é puro movimento, e qualificar seus movimentos naturais de indisciplina, falta de controle ou tentar conter sua energia, é privar a criança de ser ela mesma e de conhecer o mundo. Criança necessita de tempo e espaço de brincar livre.

Na sociedade contemporânea o brincar livre está em declínio. Especialistas na área de educação e saúde vêm alertando sobre a diminuição do tempo de brincar das crianças.

A Educação Infantil está cada vez mais parecida com o Ensino Fundamental. Crianças de 4, 5 anos, ainda ávidas por correr, pular, girar, são requisitadas para atividades cognitivas que exigem um corpo estático e destreza em habilidades ainda em desenvolvimento, como a coordenação motora fina. Raquel Franzim, assessora pedagógica do Instituto Alana, fala que “A criança aprende o mundo com todo seu corpo não  apenas com os dedos de uma mão”.

Autoridades escolares diminuíram o intervalo do recreio para criar espaço para mais conteúdo curricular. Em algumas escolas as crianças não podem mais correr. Com isso os consultórios de psicologia estão cada dia mais cheios de crianças com problemas de falta de concentração, ansiedade, e vários transtornos.

Será que não estamos adoecendo nossas crianças? Será que o aumento desses distúrbios, a obesidade infantil, doenças cardiovasculares, não estão diretamente ligados ao tempo insuficiente do brincar? Será que não estamos tolhendo as crianças do seu verdadeiro ofício que é o brincar livre, criativo, imaginativo?

A carência do brincar leva ao risco das crianças não desenvolverem habilidades importantes para a vida adulta. Precisamos libertar nossas crianças, tirá-las dos quadrados das telas do mundo tecnológico, resgatar o mundo redondo infantil.

Leia também: O mundo da criança é redondo

Desde 1999, por iniciativa da Associação Internacional de Brinquedotecas, criou-se o Dia Mundial do Brincar, celebrado em 28 de maio. No Brasil, a Aliança pela Infância, incentiva este movimento há mais de dez anos e o ampliou para ser celebrado durante uma semana inteira. A SMB é uma grande mobilização em defesa da valorização e reconhecimento da importância do brincar para a infância.

Brincar - substrato para a vida

Como disse no início deste texto, brincar segue tendo importância por toda a vida, não só na infância. Foi pensando nisso que a  Maria Farinha Filmes lançou em 2014 o documentário “Tarja branca – A Revolução que faltava”.  O título do filme é uma alusão irônica aos remédios ‘tarja preta’. O documentário inspira o resgate da criança interior e procura mostrar que brincar é fundamental em qualquer idade.

Para finalizar, deixo a dica do e-book gratuito “Brincando com os quatro elementos da natureza”, que você pode baixar se cadastrando aqui no Educando Tudo Muda. Nele você encontrará inúmeras sugestões de brincadeiras naturais ao ar livre, em contato com a natureza.

Bora brincar! Desperte sua criança interior. Dê as mãos aos seus filhos e ou alunos para viver a alegria de ser criança.

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

 

O MUNDO ESTÁ SE TRANSFORMANDO

Muitas vezes nos deixamos levar pela onda de negativismo que nos faz desacreditar do futuro da humanidade. Mas a verdade é que o mundo está se transformando. Estamos  evoluindo como seres humanos, a despeito de tantos temores que nos cercam e ameaçam  nesses tempos atuais. Estamos quebrando paradigmas ao optar por um mundo mais inclusivo e com isso espalhando respeito.

O movimento de valorização da diversidade com o objetivo de promover a inclusão social, é um exemplo dessas mudanças. Desde o início da década de 90 vem crescendo, conquistando espaço no mundo das corporações, e através de muita luta, com a criação de leis, de cotas de contratação, hoje podemos testemunhar um novo cenário.

Esta semana o Brasil se emocionou com uma campanha publicitária. A agência de propaganda DM9DDB criou para a marca Johnson’s Baby,  um vídeo em homenagem ao Dia das Mães. A campanha investiu na sutileza e naturalidade  das imagens, e abriu espaço para a representatividade.

O vídeo começa mostrando cada detalhe do bebê, seus movimentos  e interação com o ambiente. Apenas no final é que a criança é totalmente focalizada e identificada como um bebê  com síndrome de down. O novo bebê Johnson’s é Lucca Berzins de apenas um aninho de idade.

O público fez questão de expressar empatia pela campanha nas redes sociais, com manifestações de carinho e comoção, por meio de milhares de compartilhamentos e comentários. Esta campanha é um estímulo para enxergarmos o ser humano antes da deficiência. Este é um importante exercício que podemos nos propor a fazer no dia a dia.

O mundo está se transformando

Lucca Berzins, 1 ano

Há 30 anos, crianças com síndrome de down, autistas  e outras deficiências, eram enclausuradas em casa ou institucionalizadas. Em artigo já publicado aqui no site,  as mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas  promoveram maior qualidade de vida para estas crianças, educandotudomuda.com.br.

Elas não frequentavam escolas,  não havia leis que garantissem a matrícula de crianças com deficiência.  A acessibilidade e mobilidade urbana era  precária, não existiam rampas que facilitassem a locomoção. Os pais de filhos com síndrome de down foram os precursores na luta pela inclusão. Hoje elas estão nas ruas, nos parques públicos, nas escolas. As vemos  crescer, estudar, namorar, cursar universidades, trabalhar  e casar.

Cada bebê que chega ao mundo é único e capaz de desenvolver seus talentos. Não devemos aceitar rótulos que coloquem o ser humano em caixinhas, e diagnósticos que abafem o potencial humano. Para mudar paradigmas é preciso alterar a consciência, e para isso a reflexão é essencial, como primeiro passo. A empatia e a diversidade são necessidades gritantes para uma sociedade mais justa, equilibrada e saudável.

o mundo está se transformando

 

Esse movimento de inclusão social deveria se estender de maneira mais contundente às escolas. Apesar  de alguns avanços, é difícil vermos por exemplo,  crianças cadeirantes em colégios tradicionais.

 

Ao longo da vida escolar dos meus filhos, o mais velho já na universidade  e a caçula no ensino médio,  nunca vi uma criança matriculada com mobilidade reduzida, síndrome de down, ou que apresentasse alguma deficiência,  nos colégios em que eles estudaram e estudam atualmente.

 

ONDE ESTÃO ESSAS CRIANÇAS?

Em escolas especializadas? Por qual motivo? Não seria enriquecedor  a oportunidade de estudarem juntas?  A criança que cresce ao lado de uma criança com deficiência na sala de aula, cresce com menos preconceito, aprendendo a respeitar  a diversidade.

O mundo está se transformando

A capacidade de superação do ser humano é admirável e com certeza o exemplo dessas crianças, surpreenderia às demais promovendo amadurecimento diante das inúmeras situações e oportunidade de expressão de empatia e solidariedade.

 

Temos ainda muitos desafios diante de nós , obstáculos a serem vencidos, entretanto vejo muitas pessoas mobilizadas em prol desta causa, o que efetivamente garantirá um grande salto nos próximos anos.

Todos podemos contribuir para acelerar este processo. Observar e questionar se há diversidade nas escolas em que nossos filhos estudam  é uma forma de colaborar.

Nós é que escolhemos mudar o olhar e assim aceitar, entender e aprender com a diversidade para transformação da sociedade.

A exemplo de Gandhi, ” devemos ser a mudança que queremos ver no mundo”. Tudo começa dentro de nós. 

Parabéns a DM9DDB, e a Johnson’s,  que estão  colaborando para impulsionar essas transformações. Sobretudo parabéns a todas as mães que pela primeira vez se sentem representadas nesta data comemorativa.

Participe deixando seu comentário e compartilhando este artigo entre amigos.

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

 

O TRABALHO INFANTIL E A IMPORTÂNCIA DO CONSUMO CONSCIENTE

Propomos aqui uma análise da relação do trabalho infantil com o consumo consciente. Para isso apresentaremos três importantes indústrias, a têxtil, do chocolate e a tecnológica.

A despeito dos programas voltados à erradicação do trabalho infantil, pesquisa divulgada pela OIT – Organização Internacional do Trabalho, constata que ainda há 168 milhões de crianças trabalhando no mundo, sendo que 85 milhões atuam nas piores formas, muitas vezes em condições sub humanas. Talvez  esses números não revelem o tamanho real desta ferida social, pois há muita coisa difícil de ser monitorada, fiscalizada  e quantificada mundo afora.

No Brasil a mão de obra infantil está estimada em 2,6 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos, segundo dados  da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) , do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Elas podem ser encontradas em serviços domésticos, na agricultura, no comércio informal, nos semáforos como malabares, vendedores de bala, nas feiras livres, nos lixões, em carvoarias e madeireiras.

Vários mitos tentam justificar o trabalho infantil, tais como: é melhor ver crianças trabalhando do que vê-las se drogando ou roubando, que o trabalho dignifica o homem e deve acontecer desde cedo para a formação de adultos trabalhadores e progresso da nação.

Muitos pais ainda acham que assim como um dia eles próprios ajudaram nas despesas em casa, seus filhos também devem repetir esse ciclo. É necessário desfazer o mito de que o trabalho precoce pode contribuir para o desenvolvimento humano e social, pois isso é uma grande mentira.

A sociedade precisa se conscientizar que o trabalho infantil causa danos enormes sobre o aspecto físico, emocional, intelectual e social da criança, que é um ser ainda em formação. Ele perpetua o ciclo da pobreza e miséria,  e compromete o desenvolvimento humano e social. Para que possa se desenvolver integralmente, a criança precisa antes de trabalhar, brincar livremente, se socializar com outras crianças, estudar e aprender.

Temos muitas entidades e instituições organizadas na luta pela erradicação do trabalho infantil no Brasil e no mundo.  Aqui, a  Rede Peteca  –  Chega de trabalho infantil é uma delas. Trata-se de uma plataforma de comunicação que promove os direitos da criança e do adolescente, disseminando informações relevantes para a conscientização da sociedade e seu engajamento em prol desta causa. Além da Rede Peteca, há também o FNPETI – Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, entre outras.

Muitas vezes a questão do trabalho infantil parece algo distante de nós, mas basta circular pela cidade para constatar a presença de crianças trabalhando em feiras livres, tomando conta de carros, lavando para-brisas nos semáforos. Quantas vezes em restaurantes não somos abordados por crianças  que escapam aos olhos do gerente e acabam entrando e circulando entre as mesas vendendo flores, panos de prato, etc…?

Mas o que tenho a ver com isso?

Parecemos ignorar que, por trás de tudo aquilo que consumimos, desde o alimento que colocamos na mesa, passando pelas roupas e sapatos que usamos, até os celulares que seguramos nas mãos, subjaz uma longa cadeia produtiva que envolve milhares de seres humanos, legislações trabalhistas, ambientais e sociais que devem ser cumpridas, hábitos de consumo da sociedade, etc…

Desta forma não podemos nos eximir da responsabilidade sobre esta triste realidade. Não podemos achar que essa questão não nos diz respeito e que não é um assunto que nos envolve pessoalmente. A falta de empatia nos torna cúmplices e perpetuadores desse câncer social.

Como consumidores devemos questionar a procedência dos produtos adquiridos por nós, procurar conhecer em que condições são produzidas as coisas que compramos. Quem faz as roupas que usamos? Onde essas roupas são produzidas e em quais circunstâncias? E os alimentos que comemos, e os objetos que compramos?

Somos responsáveis pela cobrança de uma cadeia produtiva ética, que promova o desenvolvimento e bem estar social, de uma cadeia livre de trabalho infantil, trabalho escravo e tráfico humano.

Basta analisarmos a indústria têxtil, do chocolate e a tecnológica para constatarmos que cada um tem sua parcela de responsabilidade enquanto consumidor.

 

Com que roupa eu vou?

O Brasil é a quinta maior indústria têxtil do mundo. Segundo dados da ABIT –  Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), a indústria têxtil gera um faturamento anual de 53,6 bilhões de dólares (166 bilhões de reais) e emprega mais de 1,6 milhão de trabalhadores, distribuídos nas 33 mil empresas instaladas pelo país.

Dados levantados em 2015 pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), apontam que 3,8% de crianças e adolescentes que trabalham no Brasil estão na indústria têxtil, trabalhando em pequenos núcleos familiares. Familiar aqui não pode ser entendido como sinônimo de aconchegante, pois na verdade o cenário que se vê na maioria das vezes é um ambiente bem hostil e inóspito para a infância.

 

Trabalho Infantil

Um relatório do Overseas  Development Institute sobre o trabalho infantil em Bangladesh, revelou crianças de 6 a 14 anos que trabalham na indústria têxtil mais de 60 horas semanais, com baixíssima remuneração, aumentando o lucro de grandes empresas inescrupulosas.

Em 2013 na capital de Bangladesh, uma grande tragédia revelou ao mundo o lado obscuro da indústria da moda, que evidenciou  o apetite voraz  das grandes marcas por altos lucros e dos consumidores pela moda descartável, por roupas de baixo custo. Um prédio onde funcionava uma fábrica de tecidos que produzia para grifes globais desabou, matando mais de 1.000 pessoas e deixando aproximadamente 1.300 feridas.

 

Trabalho infantil

O alerta deu origem ao movimento mundial Fashion Revolution, que visa conscientizar a sociedade sobre o funcionamento da indústria da moda, no intuito de provocar mudanças.  No Brasil, o movimento é atuante e tem sensibilizado centenas de pessoas em campanhas como a  FASHION EXPERIENCE: CONSUMO CONSCIENTE CONTRA O TRABALHO INFANTIL

(Fonte de Informações Rede Peteca)

 

O chocolate nosso de cada dia

Diariamente alimentamos uma indústria que só vem aumentando seu lucro ano a ano. O brasileiro consome 2,5 quilos, em média, de chocolate por ano, representando o quinto maior mercado de alimento no mundo, com faturamento de R$ 12,4 bilhões em 2015, dados fornecido pela Abicab – Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados, e divulgado em matéria publicada pelo Valor Econômico.

http://www.valor.com.br/empresas/4861618/fabricantes-de-chocolate-esperam-pascoa-ate-10-mais-gorda

A indústria do chocolate está diretamente ligada a uma triste realidade de escravidão, exploração infantil e tráfico de crianças nas fazendas de cacau na Costa do Marfim, país responsável por aproximadamente metade de toda a produção mundial de cacau.

Crianças entre 11 e 16 anos, muitas até menores que isso, estão confinadas  em plantações de cacaueiros, forçadas a trabalhar de 80 a 100 horas semanais em condições precárias, desprovidas completamente daquilo que entendemos que deva ser chamado como infância.

Trabalho infantil

Empresas como a Nestlé, Barry Callebaut e Mars assinaram em 2001 o Protocolo do Cacau, comprometendo-se a erradicar totalmente o trabalho infantil no setor até 2008. Como já era esperado, a meta não foi atingida, e o prazo para cumprimento do acordo foi prorrogado.

Apesar da declaração de altos investimentos pelas empresas produtoras de chocolate, governos e organizações especializadas em prol da erradicação do trabalho infantil, e do tráfico de crianças no mercado internacional de cacau, pouca coisa mudou efetivamente.

O premiado jornalista dinamarquês Miki Mistrati, num documentário tocante, “O lado negro do chocolate”, denunciou a indústria do chocolate que sustenta o tráfico de crianças nas fronteiras da Costa do Marfim e a sua escravidão nas plantações de cacau.

trabalho infantil

Neste documentário foram entrevistados tanto os mantenedores quanto os combatentes deste tipo de prática. Câmeras escondidas e identidades falsas foram usadas para vasculhar e revelar ao mundo as condições desumanas que milhares de crianças são submetidas. O documentário mostra as evasivas dos proprietários das empresas fornecedoras de matéria prima e dos representantes das empresas produtoras de chocolate.

 

 

O mundo digital que desfrutamos

Você sabia que para termos as baterias de nossos celulares, computadores, etc…, milhares de crianças sofrem trabalhando nas minas de extração do cobalto na República do Congo?

A República Democrática do Congo é  um dos países mais pobres do mundo, entretando é rico em recursos minerais. Produz 60% do cobalto usado em todo o mundo. Este minério é um componente essencial na produção de baterias dos smartphones e computadores portáteis de marcas como a Apple e Samsung.

Boa parte do cobalto é extraído à mão e vendido a comerciantes americanos e chineses, que procuram o melhor preço sem questionar sua origem, bem como sua forma de extração.

trabalho infantil

Existem milhares de minas clandestinas, onde homens, mulheres e crianças trabalham sob condições de escravidão. Crianças de apenas 8 anos chegam a trabalhar 12 horas por dia, a maioria sem sapatos, nem luvas ou máscaras,  sob  qualquer condição climática, seja sol intenso ou chuva  forte, carregando sacos pesados, sofrendo ameaças e agressões físicas. Totalmente expostas aos efeitos danosos à saúde que o cobalto e seus vapores provocam.

No link abaixo você pode assistir um comovente vídeo mostrando as atrocidades vivenciadas por crianças nas minas de cobalto:

Https://www.youtube.com/watch?v=op3FkZ4_DFQ

Trabalho infantil

 

Este é um convite para uma grande reflexão. Vivemos em uma sociedade repleta de desigualdades, explorações, ausência de oportunidades e muita carência, ao mesmo tempo em que testemunhamos muita fartura, excessos, e sobras.

Acredito que a educação seja ainda a forma mais eficaz de combater todos esses transtornos que afligem a humanidade, causados pela sociedade contemporânea que  vive de forma automática no dia a dia, sem questionamentos sobre o por quê das coisas serem como são, funcionarem deste ou daquele modo.

Ao refletirmos um pouco sobre a obra de Ítalo Cavino, Cidades Invisíveis, publicada em 1972, nos daremos conta que  tal qual a  cidade de Leônia, não percebemos mais os custos sociais e ambientais deste mundo permanentemente faminto por invenções e inovações, cego pelo desejo do último modelo da última geração, dando valor aos bens imediatos em detrimento aos bens duráveis, produzindo e amontanhando lixos e dejetos, descartando coisas que rapidamente se tornam obsoletas pela sociedade consumista.

Fica aqui um trecho deste livro que mostra que qualquer semelhança não é mera coincidência.

“A cidade de Leônia refaz a si própria todos os dias: a população acorda todas as manhãs em lençóis frescos, lava-se com sabonetes recém-tirados da embalagem, veste roupões novíssimos, extrai das mais avançadas geladeiras latas ainda intatas, escutando as últimas lengalengas do último modelo de rádio.

Nas calçadas, envoltos em límpidos sacos plásticos, os restos da Leônia de ontem aguardam a carroça do lixeiro. Não só tubos retorcidos de pasta de dente, lâmpadas queimadas, jornais, recipientes, materiais de embalagem, mas também aquecedores, enciclopédias, pianos, aparelhos de jantar de porcelana: mais do que pelas coisas que todos os dias são fabricadas vendidas compradas, a opulência de Leônia se mede pelas coisas que todos os dias são jogadas fora para dar lugar às novas. Tanto que se pergunta se a verdadeira paixão de Leônia é de fato, como dizem, o prazer das coisas novas e diferentes, e não o ato de expelir, de afastar de si, expurgar uma impureza recorrente. O certo é que os lixeiros são acolhidos como anjos e a sua tarefa de remover os restos da existência do dia anterior é circundada de um respeito silencioso, como um rito que inspira a devoção, ou talvez apenas porque, uma vez que as coisas são jogadas fora, ninguém mais quer pensar nelas.

Ninguém se pergunta para onde os lixeiros levam os seus carregamentos: para fora da cidade, sem dúvida; mas todos os anos a cidade se expande e os depósitos de lixo devem recuar para mais longe; a imponência dos tributos aumenta e os impostos elevam-se, estratificam-se, estendem-se por um perímetro mais amplo. Acrescente-se que, quanto mais Leônia se supera na arte de fabricar novos materiais, mais substancioso torna-se o lixo, resistindo ao tempo, às intempéries, à fermentação e à combustão. E uma fortaleza de rebotalhos indestrutíveis que circunda Leônia, domina-a de todos os lados como uma cadeia de montanhas.

O resultado é o seguinte: quanto mais Leônia expele, mais coisas acumula; as escamas do seu passado se solidificam numa couraça impossível de se tirar; renovando-se todos os dias, a cidade conserva-se integralmente em sua única forma definitiva: a do lixo de ontem que se junta ao lixo de anteontem e de todos os dias e anos e lustros.

A imundície de Leônia pouco a pouco invadiria o mundo se o imenso depósito de lixo não fosse comprimido, do lado de lá de sua cumeeira, por depósitos de lixo de outras cidades que também repelem para longe montanhas de detritos. Talvez o mundo inteiro, além dos confins de Leônia, seja recoberto por crateras de imundície, cada uma com uma metrópole no centro em ininterrupta erupção…”

Boa reflexão

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

SÍNDROME DE DOWN – O QUE MUDOU NAS ÚLTIMAS DÉCADAS

Dia 21 de março, comemorou-se o Dia Internacional da síndrome de Down.  Esta data serve também para se refletir  sobre o que mudou nas últimas décadas. Como se sabe, esta síndrome é caracterizada pela quantidade maior de material  cromossômico –  três cromossomos 21, 21/3, daí a razão da data escolhida.

As datas comemorativas são importantes para a conscientização coletiva e contribuem gradualmente para avanços significativos em defesa da  causa das minorias. Uma quantidade enorme de informações e notícias circularam pelas redes sociais, tele jornais e mídia em geral neste dia.

Lembrei que em 2007 li de Cristóvão Tezza, escritor catarinense, seu romance O Filho Eterno, uma obra autobiográfica que relata as vicissitudes  enfrentadas  pelo escritor  desde que recebeu a notícia que seu filho recém nascido tinha síndrome de Down, no início dos anos 80.

O ano passado  a obra  de Cristóvão Tezza estreou na telona, sob direção de Paulo Machline. Esta história nos faz refletir sobre o quanto mudou nos últimos 35 anos a compreensão sobre a síndrome de Down, e a qualidade de vida dessas pessoas.

Síndrome de Down

 

Hoje a síndrome de Down não é mais vista como uma questão de saúde, mais sim como uma condição da existência, assim como um indivíduo tem olhos castanhos, é loiro, etc.

Uma rápida retrospectiva  constatará a evolução até mesmo na nomenclatura adotada internacionalmente que aboliu o termo mongolismo em 1961, substituindo -o por Trissomia do cromossomo 21 e síndrome de Down. Nomenclaturas são importantes, pois muitas carregam em si preconceitos e vão levantando muros só de serem pronunciadas, ao passo que o contrário também é verdadeiro. Daí o cuidado com a escolha, visando contribuir para derrubar preconceitos.

Pais de crianças com dificuldades em geral, não sentem mais constrangimentos em exibir seus filhos, tampouco essas crianças são enclausuradas em  casa. Hoje as vemos  crescer, estudar, namorar, cursar universidades, trabalhar  e casar. Elas aprendem a enfrentar as dificuldades da vida, como a vida é.

Equipes multiprofissionais  de estimulação precoce trabalham essas crianças  desde o nascimento. As famílias por sua vez estão atentas na construção da  autoconfiança e estímulo da socialização de seus filhos. Há um trabalho intenso visando a autonomia e independência desse indivíduo em cada etapa do seu desenvolvimento.

Apesar dos avanços, das conquistas sociais, temos uma longa caminhada. O sistema  educacional ainda é nosso grande desafio. Na hora em que as famílias saem a procura de uma escola para seus filhos, dá-se início a uma exaustiva maratona.  Nas visitas às escolas e entrevistas, tudo parece correr bem até que se diga que a criança tem síndrome de Down, como conta a publicitária Ana Castelo Branco, na edição deste mês da revista Pais e Filhos:

“Em três escolas a história foi exatamente a mesma. Eu ia conhecer o lugar, conversava, tirava dúvidas e perguntava sobre as vagas. Tem? Não tem? Sempre tinha. Tinha. Até eu fazer a revelação: meu filho tem síndrome de down. A partir daí, o roteiro se repetia. Começava com um ‘Veja bem’ e terminava mais tarde com uma ligação dizendo que havia acontecido um engano e que não havia mais vagas para o Mateus.”

Crianças com síndrome de Down tem capacidade de estudar em escolas regulares e mais tarde também são capazes de trabalhar. Fala-se em educação inclusiva há 20 anos , tanto para escolas públicas como privadas. Entretanto o que se vê é ainda muito despreparo das instituições e seus profissionais. Vemos uma dificuldade no reconhecimento e acolhimento da singularidade da criança. Temos que buscar amadurecimento em relação à convivência com as diferenças  e  a valorização do aprendizado por meio da diversidade.

Atualmente encontramos grandes histórias de superação e vitórias que nos servem de exemplo,  como a do ator espanhol Pablo Pineda, do vídeo acima, primeiro europeu com síndrome de Down a se formar em uma universidade e da Isabella Springmühl, uma designer de moda de sucesso da Guatemala.

O ano passado minha família foi presenteada com a chegada de mais um membro, o Gabriel, com síndrome de Down.  Desde então nos sentimos mais unidos e mais fortes. Sabemos que o pequeno Gabriel proporcionará crescimento e aprendizado para todos nós. Com isto, já me pus a caminho na busca de novos conhecimentos com o objetivo de atuar e lutar em prol da educação inclusiva, pensando não apenas em beneficiar meu querido sobrinho, mas todas as crianças. Iniciei este mês um curso de Pós Graduação na APAE de São Paulo.

Síndrome de Down

 

Precisamos  ser facilitadores na superação das dificuldades dessas crianças, e estimuladores das suas potencialidades.  Não devemos aceitar rótulos que coloquem o ser humano em caixinhas, e diagnósticos que abafem o potencial humano. Devemos acreditar que cada ser é único e que pode ser capaz de desenvolver seus talentos. Para mudar paradigmas é preciso alterar a consciência, e para isso a reflexão é essencial.

 

Há uma citação de Goethe que sustenta minha fé e prática:

 “Trate o homem como ele é, e ele permanecerá como é. Trate o homem como ele pode e deve ser, e ele se tornará o que pode e deve ser.” 

 

Que a força dessa verdade sustente e inspire pais e educadores.Que possamos refletir sobre isso, ganhar consciência e nos mobilizarmos para as mudanças necessárias.

Participe, colabore para o despertar dessa consciência compartilhando essas ideias. Deixe seu comentário e observações para enriquecermos este debate.

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

PRIMEIROS SINAIS DE ENVELHECIMENTO. COMECE A COMBATÊ-LOS

Primeiros sinais de envelhecimento

A partir dos 30 anos começa a surgir os primeiros sinais de envelhecimento, com as primeiras rugas na testa, região dos olhos, boca e nariz, tanto nas mulheres como nos homens, as tais marcas de expressão. A preocupação com a beleza é uma marca cultural do brasileiro: seis em cada dez pessoas consideram-se vaidosas e 66% acham que cuidar da beleza não é um luxo – mas sim uma necessidade.

A indústria nacional de cosméticos teve um crescimento de 275% em faturamento na última década, segundo dados da associação brasileira do segmento. Considerado hoje um dos maiores mercados do mundo, a cada ano aumentam os investimentos em pesquisas, e novos produtos são lançados no mercado com a promessa de garantir uma aparência mais jovial. E assim, milhares de pessoas alimentam este mercado que só no ano passado movimentou R$ 42,6 bilhões.

Primeiros sinais de envelhecimento

Mas será mesmo que os primeiros sinais de envelhecimento surgem com as rugas de expressão, ou o verdadeiro envelhecimento começa na alma humana?

Vale iniciar esta reflexão observando que todos os seres vivos nascem “prontos”, como as plantas e animais. Porém com o ser humano é diferente. Nós não nascemos prontos, somos seres em construção. Como diz o filósofo e professor Mario Sergio Cortella “Gente não nasce pronta e vai se gastando; gente nasce não-pronta, e vai se fazendo”. Ao longo da vida, num processo doloroso e ao mesmo tempo lindo, vamos nos construindo, crescendo, amadurecendo. Temos toda a existência para construirmos a nós mesmos.

Sócrates dizia que “sábio é aquele que sabe que nada sabe” e que “o princípio de toda a sabedoria é o conhecimento de si mesmo”. Desta forma o autoconhecimento e a autoeducação devem ser caminhos trilhados pelo homem até o seu último sopro de vida.

Primeiros sinais de envelhecimento

Quando homens e mulheres perdem a vontade de aprender coisas novas constantemente, tem início o processo de envelhecimento da alma.

Há pessoas que vivem se referindo a experiências do passado e, dificilmente, se surpreendem com as descobertas feitas por outros. Você pode até se aproximar cheio de entusiasmo contando sobre uma nova experiência que te surpreendeu, mas elas se voltarão para você perguntando “Mas você não se lembra que quando comecei a trabalhar naquela empresa há 10 anos, eu já falava que isso aconteceria assim?”. E por aí vai.

Para este tipo de pessoa, nada é novo, nada surpreende, tudo é previsível, tudo já foi dito e vivenciado. Fica evidente a dificuldade de se enxergar a vida com um novo olhar, se encantar e surpreender. Fica sempre a impressão de que nada se iguala ou supera as referências do passado. Fica faltando espanto!

Vida é movimento, é desenvolvimento! Estamos em contínuo processo de autoconhecimento e autoeducação com o intuito do aprimoramento de nossos potenciais. Velho é o ser humano que não desperta o eterno aprendiz dentro de si, que não se desafia a sempre aprender algo novo.

O envelhecimento chega para aqueles que se mostram incapazes de aprender, desaprender e reaprender. O envelhecimento chega para aqueles que deixam de sonhar, de almejar. O envelhecimento chega para aqueles que se sentem satisfeitos e com isso se acomodam, deixando de movimentar a energia vital. Samuel Ullman, poeta americano, dizia que “O tempo enruga a pele, mas abrir mão de entusiasmo enruga a alma”.

Seguem algumas dicas para manter a jovialidade:

Primeiros sinais de envelhecimento-Tome sol todos os dias , o sol tem ação antidepressiva.

-Reconecte-se a natureza, o contato com a natureza promove autorregulação do organismo.

-Resgate sua infância, desenvolva seu lado lúdico, brinque mais.

-Conquiste uma nova habilidade, aprenda um idioma, um instrumento musical, uma receita culinária, etc…

-Sonhe, os sonhos dão origem a mudanças .

Para finalizar, deixo um poema da querida poeta mineira Adélia Prado:

Primeiros sinais de envelhecimento

ERÓTICA É A ALMA

Todos vamos envelhecer… Querendo ou não, iremos todos envelhecer. As pernas irão pesar, a coluna doer, o colesterol aumentar.

A imagem no espelho irá se alterar gradativamente e perderemos estatura, lábios e cabelos.

A boa notícia é que a alma pode permanecer com o humor dos dez, o viço dos vinte e o erotismo dos trinta anos.

O segredo não é reformar por fora.

É, acima de tudo, renovar a mobília interior: tirar o pó, dar brilho, trocar o estofado, abrir as janelas, arejar o ambiente. Porque o tempo, invariavelmente, irá corroer o exterior.

E, quando ocorrer, o alicerce precisa estar forte para suportar.

Erótica é a alma que se diverte, que se perdoa, que ri de si mesma e faz as pazes com sua história.

Que usa a espontaneidade pra ser sensual, que se despe de preconceitos, intolerâncias, desafetos.

Erótica é a alma que aceita a passagem do tempo com leveza e conserva o bom humor apesar dos vincos em torno dos olhos e o código de barras acima dos lábios.

Erótica é a alma que não esconde seus defeitos, que não se culpa pela passagem do tempo.

Erótica é a alma que aceita suas dores, atravessa seu deserto e ama sem pudores.

Aprenda: bisturi algum vai dar conta do buraco de uma alma negligenciada anos a fio.

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

SABOTADORES DA INFÂNCIA – DA ESCASSEZ AO EXCESSO

Sabotadores da infância

A  luta por uma infância digna ainda é grande e deve ser nossa prioridade absoluta. São vários os sabotadores da infância que precisam  ser combatidos. Eles vão desde aspectos caracterizados pela escassez, até o outro extremo, os excessos da sociedade.

O desenvolvimento saudável da Primeira Infância é a base da prosperidade econômica e justiça social de uma nação. Sabemos que as primeiras experiências da vida de uma criança são incorporadas por ela, permanecendo por toda a vida. O que é vivenciado na infância afeta o  aprendizado, o comportamento, saúde, e segue reverberando ao longo da existência de cada indivíduo. Por isso, os sabotadores da infância que apontaremos aqui, precisarão ser encarados com seriedade em todas as esferas.

Nos próximos artigos no Educando Tudo Muda vamos falar um pouco sobre cada um dos sabotadores da infância. Queremos aprofundar um a um.

SABOTADORES DA INFÂNCIA

  1. TRABALHO INFANTIL

O trabalho infantil é um dos mais vis sabotadores da infância, um grave problema que enfrentamos no país. Mais de 2,670 milhões de crianças e adolescentes, entre 5 e 17 anos, trabalham no Brasil, segundo informações da Rede Peteca/Chega de Trabalho Infantil. O trabalho infantil está ligado às atividades econômicas e/ou atividades de sobrevivência, com ou sem finalidade de lucro, remuneradas ou não.

Pesquisa divulgada pela OIT – Organização Internacional do Trabalho, constata que o setor que mais explora a mão de obra infantil no mundo, é o agrícola, representando 58,6%, seguido pelo setor de serviços, com 32,3%, sendo 6,9% em serviços domésticos, e do setor industrial, correspondendo a 7,2%.

Sabotadores da infância

O trabalho na agricultura expõe a criança a uma série de riscos: intoxicação por agrotóxicos, queimaduras solares, transporte de peso excessivo, instrumentos cortantes, etc.

O corpo da criança  está em formação. Ossos e músculos ainda não estão totalmente desenvolvidos e podem sofrer deformações. Fígado, baço, rins, estomago e intestinos estão mais sujeitos à intoxicação.

Com relação ao trabalho doméstico, as meninas são as que mais sofrem. Muitas trabalham apenas por comida ou roupa, sem  remuneração. Elas correm maior risco de violência física, psicológica e abuso sexual.

A Constituição Federal proíbe o trabalho infantil. A idade mínima para o trabalho é de 16 anos. Antes disso, a partir dos 14, o adolescente pode ser apenas aprendiz.

O trabalho precoce prejudica a vida toda de um indivíduo. Compromete a infância pela falta do brincar, e  aprender. Prejudica a escolarização e acaba levando ao abandono escolar. Uma criança que entra no mercado de trabalho dessa maneira, receberá um salário menor por toda a vida.

Muitas vezes esta realidade parece  distante de nós, mas basta circular pelas feiras livres da cidade para constatar a presença de crianças trabalhando.  Recentemente no Carnaval de rua da cidade de São Paulo, muitas crianças trabalharam duro ao lado de vendedores ambulantes.

O trabalho infantil causa danos enormes sobre o aspecto físico, emocional, intelectual e social da criança, que é um ser em formação – fadiga excessiva, distúrbios do sono, problemas respiratórios, lesões, fraturas e evasão ou baixo rendimento escolar são algumas de suas consequências, além da privação de crianças e adolescentes de uma infância  e desenvolvimento saudável, resultando na perpetuação de ciclos de pobreza, miséria e desigualdade.

12 de junho institui-se Dia do Combate ao Trabalho Infantil. A data foi criada para mobilizar organizações e toda a sociedade em prol da erradicação do trabalho infantil, chamando atenção para as infâncias e adolescências invisibilizadas

 

2. ALFABETIZAÇÃO PRECOCE

A aceleração do letramento é um dos sabotadores da infância mais desrespeitosos à natureza da criança. Faço parte de uma geração que passou os primeiros anos de vida brincando em casa, com amigos da vizinhança, cuidando da minha cachorrinha, ouvindo histórias, andando de bicicleta nas ruas do meu bairro, e assim descobrindo e explorando o mundo. Na pré-escola , até os 7 anos,  aprendi muitas canções, ouvi muitas histórias, desenhei, pintei, recortei, colei, pulei corda, brinquei de roda, casinha, médico, professora. Aprendi a dividir com os amiguinhos, jogar de acordo com as regras, pedir desculpas quando necessário, cuidar das plantinhas, guardar e arrumar o que tirava do lugar, não mexer no que não fosse meu.

Há uma grande diferença entre a minha vida de menina e a vida das crianças nos dias de hoje. Os anos pré-escolares se transformaram em uma competição acadêmica exaustiva. A Educação Infantil ficou muito parecida com o Ensino Fundamental, por causa da ênfase na alfabetização.

 

Atividades que requerem que a criança seja capaz de se sentar em uma mesa e completar uma tarefa usando lápis e papel, que antes estavam restritas às crianças de 5 e 6 anos de idade, são agora dirigidas às crianças ainda mais novas, que não têm habilidades motoras e não têm a capacidade de concentração para isso, com exigências de que devem concluir seus trabalhos e atividades, antes que possam ir brincar.

Na contra mão desta aceleração,

especialistas afirmam que o aprendizado formal  é mais produtivo  a partir dos 6 anos de idade, pois é quando as crianças são mais capazes de lidar com ideias abstratas. Afirmam também que  crianças que chegam à escola socialmente adaptadas, que sabem seguir instruções, compartilhar, ajudar os amigos, terão mais chance de dominar a escrita, a leitura, e os números.

Em 2007, o Conselho de Pesquisa Econômico e Social da Inglaterra publicou um documento que contou com a participação de dezessete especialistas de diversas universidades europeias interessados na discussão entre a neurociência e a educação, que diz o seguinte:

“Contrariando a crença popular, não existem evidências neurocientíficas que justifiquem começar a educação formal o quanto antes. A plasticidade do cérebro é um fenômeno que dura a vida inteira, não somente nos primeiros anos.”

O trabalho nos primeiros anos de vida com a criança deve estar focado no desenvolvimento integral do ser humano, centrado no amadurecimento emocional, psicológico e social da criança.

 

 3. DÉFICIT DE NATUREZA

Estatísticas mostram que 80% da população brasileira vive em cidades e que as crianças que moram nos grandes centros urbanos passam 90% do seu tempo em locais fechados, dentro de casa,  em frente da televisão, jogando vídeo games, ou nas escolas dentro de salas de aula. Quando saem com os pais vão ao shopping, restaurante ou cinema.

Segundo dados do relatório Children & Nature Network, as crianças brasileiras  estão entre aquelas que tem menos contato com a natureza. Doenças que passaram a ser comum entre as crianças nos dias de hoje, tais como  transtorno de hiperatividade, déficit de atenção, depressão, pressão alta e diabetes, obesidade, estão diretamente ligadas com a falta de natureza.

Um movimento de retorno à natureza está se espalhando pelo mundo e já chegou ao Brasil. Trata-se do movimento de incentivar as crianças  a brincar ao ar livre, em áreas verdes. Uma pesquisa recente mostrou que 40% das crianças brasileiras passam uma hora ou menos ao ar livre. Um número inexpressivo. A expressão Transtorno do Deficit de Natureza  está circulando e sendo usado  por pediatras, psicólogos, educadores. Médicos já estão prescrevendo natureza para as crianças.

Sabotadores da infância

O que a falta de natureza pode causar?

-musculatura fraca, pela falta de atividade física

-falta de equilíbrio, pelo predomínio de pisos lisos, cimentados que oferecem pouca oportunidade de instabilidade na movimentação corporal

-obesidade infantil, associada a maus hábitos alimentares

-deficiência de vitamina D

-aumento de incidência de miopia

-menor uso dos sentidos

-ansiedade

Os benefícios da natureza já estão comprovados. Mais tempo ao ar livre regula hormônios, reduz a agressividade, hiperatividade e obesidade. Sucesso vem sendo obtido no tratamento de transtorno de déficit de atenção, depressão, e até mesmo quadros alérgicos, pois o contato com os antígenos naturais no campo ou na praia  fortalece o organismo. Além disso, aumenta  a capacidade cognitiva, e  as crianças ficam mais focadas e criativas.

Uma caminhada por uma mata fechada é capaz de promover bem estar e  tranquilidade. Assim que os odores da mata adentram o organismo humano, os níveis de estresse e irritação diminuem. A exposição mais prolongada e intensa ao cheiro do verde pode reduzir  a pressão arterial e fortalecer nossa imunidade.

Entre os sabotadores da infância apresentados, a desconexão com o mundo natural é aparentemente o mais simples de se resolver, entretanto requer esforços das famílias e das escolas para que se reverta este cenário de afastamento e se estabeleça novos hábitos de conexão no cotidiano das crianças.

 

LEIA TAMBÉM: O MUNDO DA CRIANÇA É REDONDO

 

4. USO EXCESSIVO DA TECNOLOGIA

O acesso precoce e abusivo dos dispositivos digitais por crianças pequenas, é um dos sabotadores da infância que vem “trabalhando” em silêncio há algumas décadas e que agora explode de maneira assustadora.

Hoje já são oito milhões de pessoas viciadas em internet no país, segundo o Grupo de Dependência Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do  Hospital das Clínicas de São Paulo. De acordo com o Dr. Cristiano Nabuco, psicólogo e coordenador do Grupo, a situação é preocupante. Ele tem atendido casos de crianças viciadas em smartphones, videogames e tablets, incapazes de se relacionar sem ser virtualmente, de manter a concentração, dar sequência a um raciocínio lógico. Há casos de crianças com um pouco mais de 2 anos de idade que não comem, nem vão para a cama se não tiverem o aparelho ao lado.

A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria é que crianças menores de 3 anos não tenham acesso e nem sejam expostas passivamente aos aparelhos tecnológicos. Às crianças maiores, a orientação é de limitar o uso ao máximo uma hora por dia. Recomenda-se ainda que crianças de 0 à 10 anos não tenham TV no quarto.

Por que  pais e educadores devem ficar atentos ao acesso tecnológico precoce e intenso?

O Dr. Cristiano Nabuco explica que “nosso cérebro sofre um processo de amadurecimento que só é finalizado após a maioridade, aos 21 anos. A região do córtex pré-frontal é a última área a ser finalizada, e o córtex é responsável pelo nosso raciocínio lógico e também pelo controle dos impulsos, nosso freio comportamental”. E mais: “existem operações mentais que precisam naturalmente serem feitas e o grau de estimulação de um tablet desrespeita essa ‘ecologia’, essa natureza de desencadeamento da lógica”.

Já se sabe por meio de estudos que quanto mais a criança ficar exposta a tecnologia, piores serão suas funções cognitivas, como a memória e desenvolvimento da atenção. O uso precoce e excessivo da tecnologia na infância pode prejudicar o desenvolvimento infantil, causando dificuldade de concentração, má qualidade do sono, sedentarismo, problemas de saúde mental, atraso de aprendizagem, entre outros distúrbios.

O mais interessante é que pais que trabalham no Vale do Silício, a meca tecnológica dos EUA, executivos de grupos como Google, Apple, Hewlett-Paackard, eBay, etc, tem preferido matricular seus filhos em escolas que sequer têm wi-fi. Não é a tecnologia usada em sala de aula o que julgam importante para o aprendizado da criança, e sim a filosofia de aprendizagem. Tudo porque eles entendem que a tecnologia de hoje será obsoleta amanhã, e que o relevante é o estímulo à criatividade, curiosidade,  habilidades artísticas, e a capacidade de mudanças. O próprio Steve Jobs foi um pai low-tech que controlava e limitava a quantidade de tecnologia aos filhos dentro e fora de casa.

As crianças só migram para a tecnologia porque estão confinadas em casa. Pense nisso.

 

    5.AGENDA LOTADA

Este é um dos sabotadores da infância mais sutis, que passa desapercebido pela maioria de nós. Já parou para pensar na complexidade das agendas infantis atualmente?  Muitas crianças mantêm uma agenda que faria qualquer CEO adoecer. As crianças são levadas de um compromisso a outro, de segunda-feira à sábado. Suas agendas estão lotadas de cursos extracurriculares, do balé para o inglês, mandarin, da yoga para o Kumon, e também natação, judô, piano, etc… Muitas crianças têm atividades extracurriculares no mínimo três vezes por semana, ultrapassando 50 horas semanais de atividades, entre escola, cursos, esportes e reforços escolares.

 

O que pretendemos com isso? Formar uma  super geração competitiva? Prepará-los  para o sucesso? A superestimulação promovida pelos adultos tem  levado as crianças ao esgotamento. Estímulo demais, concentração de menos. Estamos adoecendo nossas crianças.

Esquecemos que elas desde cedo tem no próprio ambiente natural, familiar, estímulos suficientes para seu desenvolvimento. Os estímulos externos criados artificialmente pelos adultos com o intuito de acelerar o desenvolvimento, anulam o que a criança tem de mais precioso que é sua motivação interna, alimentada por sua curiosidade inata.

O não fazer nada para a criança é muito importante, é o momento que ela faz de conta, inventa brincadeiras, faz seu brinquedo.  O tempo livre, o “tédio”, nada mais é que a oportunidade da criança entrar em contato consigo mesma,  estimular o pensamento, a fantasia e a concentração.

 

    6.MEDICALIZAÇÃO INFANTIL

Você sabia que o Brasil é o segundo maior consumidor  mundial de Ritalina? Trata-se de um medicamento indicado para o tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Em 2010 foram vendidas  cerca de 2 milhões de caixas, um aumento de 775% na última década, segundo a Anvisa.

Estamos vivendo um momento de patologização extrema de comportamentos infantis. Milhares de crianças estão sendo diagnosticados com algum tipo de transtorno: Transtorno de Défict de Atenção, Hiperatividade, Transtorno  Desafiador Opositor,Transtorno Obssessivo  Compulsivo, Transtorno do Comportamento Disruptivo, Transtorno Desintegrativo,  Transtorno de Ansiedade, Dislexia e por aí vai.  Até mesmo crianças pequenas estão engolindo antidepressivos com leite.

Com a justificativa de melhorar o desempenho escolar, as  conquistas de desenvolvimento que não acontecem no período esperado, e promover mudanças comportamentais não aceitas socialmente,  o medicamento tarja preta,  Ritalina, Concerta , tem sido prescrito, para tornar as crianças “obedientes, disciplinadas e concentradas”. Este é um dos sabotadores da infância mais covardes.

Para se ter uma ideia da gravidade da situação, já temos uma entidade voltada para o tema, a Associação Brasileira de Cientistas para Desconstrução de Diagnósticos e Desmedicalização,  além de um curso com este foco,  “Da palmatória a ritalina – especialização em desconstrução de diagnósticos para desmedicalização”.

Atualmente já são  quase 500 tipos descritos de transtornos mentais  e de comportamentos, segundo o Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Doenças Mentais.  Coisas normais da vida como a timidez, a teimosia, ou até mesmo a rebeldia infantil, estão sendo enquadradas em algum tipo de transtorno. É a normalidade e as diferenças individuais sendo medicalizadas.

Sabotadores da infância

Precisamos fomentar este debate em prol da saúde da criança e  enfrentar cada um dos sabotadores da infância de frente. Sopre esta semente ao vento, há de cair em solo fértil e tornar-se árvore frondosa. Participe deixando seu comentário e compartilhando este artigo.

abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado