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36 MOTIVOS PARA CONECTAR AS CRIANÇAS À NATUREZA

36 motivos para conectar as crianças à natureza

Depois de conhecer os 36 motivos para conectar as crianças à natureza, vocês pais, não vão querer ficar dentro de casa com elas. Vocês professores, se sentirão provocados a ultrapassar os limites da sala de aula e romper os muros da escola.

A infância vive um momento de grande complexidade e se encontra no centro das incertezas desta época, expondo as crianças precocemente às mesmas angústias que os adultos estão sujeitos.

As mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas alteraram de forma considerável a estrutura da vida familiar e seus reflexos podem ser observados nitidamente na vida da criança.

37 motivos para conectar as crianças à natureza

Foto: BBC

Hoje a maioria da população brasileira vive em centros urbanos, onde as crianças passam a maior parte do tempo em locais fechados, dentro de casa – em frente das grandes telas televisivas e das pequenas telas portáteis de smartphones, tablets e vídeo games. Nas escolas, elas permanecem quase o tempo todo dentro de salas de aulas. E ainda nos finais de semana, quando saem com seus familiares, vão aos shoppings, restaurantes e cinemas.

Os novos hábitos transformaram o ritmo e a rotina das crianças, criando estilos de vida mais individuais, sedentários, que desfavorecem o convívio social, atividades físicas, o exercício imaginativo,  a autonomia da criança, e o estar em contato com a natureza.

Um forte sinal de alerta são as doenças típicas de adultos que hoje acometem também a população infantil, tais como a obesidade, diabetes, miopia, doenças cardiovasculares, entre outras. O que este fenômeno está nos dizendo? Precisamos investigar e refletir.

UMA BOA NOTÍCIA

Um movimento de retorno à natureza tem se espalhado pelo mundo. Muitas iniciativas estão surgindo com o objetivo de expandir a consciência e promover mudanças neste cenário, estimulando o contato com o mundo natural e mais tempo ao ar livre.

Em contato com a natureza a criança tem acesso a processos vivos que estão em constante transformação. Alimentar os sentidos da criança com formas primordiais, substancias vivas, e elementos naturais que exalam aromas, florescem, frutificam e emitem sons nativos, é fundamental para o desenvolvimento integral infantil.

36 motivos para conectar as crianças à natureza

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A criança deve ser compreendida como um ser lúdico, contemplativo, explorador e investigativo, e atendida nessas necessidades.

Pesquisas científicas já comprovaram inúmeros benefícios que o contato com a natureza propicia. Esses benefícios envolvem aspectos físicos, emocionais, cognitivos, sociais e espirituais.

 

 

VAMOS A ELES? EIS OS PRINCIPAIS MOTIVOS PARA CONECTAR AS CRIANÇAS À NATUREZA 

1.Permite maior movimentação corporal auxiliando na estruturação do sistema muscular. Estar ao ar livre é um convite para o movimento – correr, pular, escorregar, explorar troncos caídos, escalar barrancos, etc.

2.Ajuda na aquisição do equilíbrio do corpo

3.Desenvolve a destreza corporal

36 motivos para conectar as crianças à natureza

Playoutside – alegria de brincar na natureza

4.Contribui para o domínio espacial

5.Promove estímulos sensoriais

6.Propicia maior gasto de energia, que é uma necessidade biológica do corpo

7.Auxilia na qualidade do sono, tão importante para a fase de crescimento infantil

8.Regula hormônios, diminui o cortisol (hormônio do stress)

9.Ajuda a respirar melhor

10.Contribui para a melhora nas medições de pressão sanguínea e batimentos cardíacos

11.Previne a obesidade

 

 

12.Previne a deficiência de Vitamina D, pela exposição aos raios solares.

13.Previne a miopia. Espaços amplos, abertos e com iluminação natural estimulam o exercício dos músculos oculares. As crianças precisam focar em objetos grandes e ao longe. É importante que os olhos se movimentem seguindo a linha vertical, horizontal e de profundidade para a prevenção do encurtamento dos músculos dos olhos. A ocorrência de miopia tem crescido entre as crianças e uma das explicações é o acesso precoce e excessivo ao mundo tecnológico.

14.Fortalece o sistema imunológico, pois a criança entra em contato com uma série de bactérias e micro-organismos

15.Previne o desenvolvimento de alergias

36 motivos para conectar as crianças à natureza

Foto Luiza Esteves divulgada pelo Instituto Alana

16. A criança aprende a correr riscos e medi-los, como ao subir numa árvore.

17. A criança aprende a superar desafios

18.Desenvolve resiliência e autoconfiança

19.Colabora para a autonomia da criança

20.Alivia a ansiedade

21.Diminui a hiperatividade

 

 

22.Reduz a agressividade

23.Estimula a capacidade cognitiva

24.Aumenta a concentração

25.Contribui para a melhoria da aprendizagem

26.Nutri a imaginação

27.Enriquece o repertório da criança

28.Promove a convivência e interação social

29.Fortalece os vínculos afetivos

37 motivos para conectar as crianças à natureza

Papo de Pracinha

30.Estimula o espírito solidário

31.Dá a sensação de liberdade e pertencimento

32.Promove equilíbrio interno, autorregulador da criança.

33.Promove harmonia, vitalidade e alegria

34.Eleva a capacidade criativa

35.Estimula o cuidado com o meio ambiente. A criança em contato com a natureza é o potencial cuidador e preservador do meio ambiente, porque em sua memória haverá registros do significado do frescor à sombra de uma árvore por exemplo

36.Promove a educação ambiental vivencial, na prática

36 motivos para conectar as crianças à natureza

Playoutside – alegria de brincar na natureza

Proporcionar e incentivar o brincar livre da criança em contato com a natureza  é algo simples, de baixo custo, que traz muita alegria, encantamento e um profundo sentimento de unidade e pertencimento. Pode ser uma caminhada num parque ou numa praça para ouvir o vento soprar, o canto dos pássaros, observar as árvores , as cores das flores. Respirar fundo e sentir o cheiro de terra úmida. Pisar em folhas secas. Procurar minhocas, musgos, borboletas. Subir em árvores, correr entre elas, e muito mais.

Tudo isso propiciará a formação de um reservatório de experiências vivas e reais para a vida.

No relato de memórias infantis de muitos escritores, é comum encontrar passagens de aventuras ao ar livre, lembranças de vivências calorosas em conexão com a natureza.

QUAIS  LEMBRANÇAS QUEREMOS QUE AS CRIANÇAS TENHAM DE SUAS INFÂNCIAS?   

36 motivos para conectar as crianças à natureza

Playoutside – alegria de brincar na natureza

Richard Louv em seu livro A última criança da natureza fala  que “Um círculo cada vez maior de pesquisadores acredita que a perda do habitat natural, ou a desconexão com a natureza, mesmo quando ela está disponível, tem implicações enormes para a saúde humana e o desenvolvimento infantil. Eles dizem que a qualidade dessa exposição afeta nossa saúde em um nível celular”.

 

 

Educando Tudo Muda concedeu uma entrevista ao site da revista Exame falando sobre a importância de conectar as crianças à natureza. Leia a matéria do site EXAME aqui.

Para falar a Exame, nos fundamentamos na experiência com o projeto Playoutside – alegria de brincar na natureza, que está comemorando um ano de atividades. O projeto Playoutside busca restabelecer o elo emocional das crianças com a natureza, estimular o brincar ao ar livre, promover valores pró-sociais  e  fortalecer os laços familiares. Acreditamos que esse  é o antídoto para uma infância high-tech e a maneira de despertarmos uma nova geração de cuidadores da natureza.

Conheça mais sobre o Playoutside aqui. Confira na agenda nosso próximo encontro e participe.

Somos a última geração de pais e educadores que conheceu o mundo sem a   influência do forte avanço tecnológico. Somos os grandes responsáveis pelo estabelecimento e incentivo do elo emocional da geração de nativos digitais com o mundo natural.

36 motivos para conectar as crianças à natureza

Playoutside – alegria de brincar na natureza

 

Então vamos,  #playoutside. Comece hoje mesmo a mudar o cenário atual da infância. Vamos nos mobilizar no desafio de tornar a infância de nossas crianças mais verde.

Junte-se a nós. Espalhe esta semente.

 

abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

 

 

 

BRINCAR COM PALAVRAS

Brincar com palavras

Palavras também podem ser brinquedo na boca das crianças. Que tal experimentar brincar com palavras?

Então vamos lá. Chamem as crianças e peçam para elas repetirem esta frase:

Três doidos tentam deitar dentro de três tendas

Acharam fácil? E esta?

Tatu bola matuto batuca um batuque em Botucatu

Brincar com palavras

Esses são os trava-línguas, jogo verbal que consiste em dizer de forma rápida e clara, versos ou frases que contenham semelhança sonora das suas sílabas. Trata-se de rimas infantis da cultura popular, transmitida de geração em geração.

O fato de terem de ser ditas com rapidez, faz com que o jogo se torne uma brincadeira desafiante e divertida, inclusive para os adultos. Crianças na faixa entre 6 e 8 anos gostam bastante dessa brincadeira. Além de diversão, é um excelente recurso para o desenvolvimento linguístico.

Na escola podem se tornar um projeto interdisciplinar muito interessante envolvendo a família, com a participação inclusive dos avós para enriquecer o repertório. Ainda, pode-se estimular a turma a criar seus próprios trava-línguas.

Até mesmo em casa, os pais também podem elaborar com as crianças um caderno de trava-línguas e juntos se divertirem muito.

Este foi o que criamos  em casa quando as crianças eram pequenas. Meus filhos adoravam brincar com palavras. Demos boas risadas brincando assim! Aliás, este foi um jogo que me ajudou bastante em momentos que precisava entreter as crianças, como em salas de espera de consultórios médicos, no carro em viagens longas, etc.

Mas foi muito além. Pude perceber o quanto foi benéfico para o processo de letramento deles, pois os trava-línguas estimulam a atenção e concentração, melhoram a dicção, desenvolvem naturalmente a questão do ritmo, o que ajuda na absorção da divisão silábica e leitura oral.

Quer uma sugestão de um livro de trava-línguas para começar a brincar com palavras? Deixo aqui a dica do livro da jornalista Ciça, autora de outras publicações do gênero linguagem lúdica, e com ilustrações do jornalista e cartunista mineiro Zélio Alves Pinto – ‘O livro do trava-língua’.

Viu quantos benefícios? O que está esperando para começar a brincar com palavras?

Brincar com palavras

Esta é uma maneira natural, saudável e lúdica de ajudar as crianças  no processo de aprendizado da escrita e leitura. Temos discutido muito aqui no Educando Tudo Muda as questões sobre a pressão escolar, a importância de respeitar o tempo de amadurecimento cognitivo de cada criança e o espaço do brincar –  base da infância.

Profissionais de várias áreas que trouxemos para debater este tema foram unânimes quanto à necessidade de compreender a criança como um ser integral, considerando no aprendizado formal os aspectos físicos, emocionais, cognitivos e sociais da criança.

É assim que pensa também o odontólogo Dr. Saulo Teles¹, nosso convidado para contar um pouco a respeito de sua experiência e observações no consultório no atendimento às crianças.

UM OLHAR INTEGRAL

“Procuro sempre olhar meu paciente como um todo, como propõe o paradigma holístico. Observamos a repercussão do social/emocional naquele paciente.

Em tese, a criança estaria preparada para alfabetização por volta dos 7 anos quando ocorre a mielinização de certos nervos o que vem proporcionar a plasticidade corporal, os ritmos, a pinça, a oposição do polegar, segurança para se afastar da mãe, etc

Avaliamos a postura bucal, as maloclusões, ocorrência de dentes fora da posição adequada, mordida cruzada, sobre mordidas, retrusão maxilar e/ou mandibular, posição da língua, se faz o vedamento labial eficiente, se mastiga bilateralmente, etc.

Observamos também a postura da cabeça, dos olhos, dos ombros, da coxofemural, joelhos, tornozelos, da forma como pisa, da marcha, do seu eixo postural, o desempenho escolar, como interage socialmente, relação com pai e mãe, histórico de saúde, entre outros.

O QUE SINALIZA O AMADURECIMENTO DA CRIANÇA PARA O PROCESSO DE LETRAMENTO?

Geralmente a criança dá sinais de prontidão. A presença dos incisivos laterais é um sinal forte da sua demanda social/escolar. A pinça, a oposição do polegar, marcha mais refinada. A própria criança pede para ir à escola.

A infância, como uma estação do ano, se dá entre 0 a 7 anos. Esse é o tempo destinado para estar em família brincando, correndo, gritando, aprendendo a interagir, vivendo os afetos, se semialfabetizando através do contar estórias, etc. Tudo que se opõe a esses aspectos antecipa, acelera, gera fortes tensões nas cadeias musculares, podendo provocar enfermidades variadas.

Leia também: Por que não alfabetizei meu filho antes dos 7 anos e as 6 consequências da alfabetização precoce

Se educa a personalidade, se educa o ego, de forma que na ausência daquele, não há nada a educar. Afastar a cria da mãe antes do momento adequado pode ser desastroso. Amamentação interrompida, filhos terceirizados nas escolas. Geralmente apresentam sintomas tais como falta de vedamento labial, dentes tortos, mandíbula retraída, problemas cognitivos, hiperatividade, distúrbios de personalidade, autismo, postura corporal inadequada, etc.

É um assunto extenso que geralmente é tratado dentro de uma ótica sistêmica, com um sentido filogenético que vem a sustentar a ontogenia de cada ser. A biologia com seu código genético, pede expressão funcional no meio, de forma que se houver oposição a esta expressão poderá ocorrer sintomas. É importante lembrar que cada espécie tem suas  formas e funções”.

Agradecemos a participação do Dr. Saulo Teles que deixa claro a importância de olhar a criança em todos os seus aspectos para que ela possa se desenvolver de maneira harmoniosa, equilibrada, com saúde, pois na organização do ser humano tudo está interligado e funciona em cadeia. Desta forma, nada pode ser visto isoladamente quando se fala em desenvolvimento integral do ser humano.

Vale também salientar que hoje muitos profissionais da área de saúde defendem a necessidade de um período maior de licença maternidade e paternidade para o cuidado da criança nos primeiros anos e o estreitamento dos vínculos afetivos, vitais para o desenvolvimento infantil.

Brincar com palavras

Recomendo a leitura do livro “A criança terceirizada”, do Dr. José Martins Filho e também o TED do Dr. Daniel Becker. Ambos bem esclarecedores sobre o valor das relações familiares nos dias de hoje.

Voltando à questão do brincar com palavras, espero que tenha despertado o interesse por essa brincadeira tão gostosa. Para finalizar, fica mais um desafiante trava-línguas:

Quando eu digo Diogo, eu não digo Digo. Quando eu digo Digo, eu não digo Diogo

Participe você também desta reflexão deixando seu comentário. Fique por dentro de temas atuais ligados a infância cadastrando-se no site, e ainda receba um lindo e-book gratuitamente.

Abraço caloroso

Ana Lúcia Machado

¹- Graduado em Odontologia em 1980

– Atualização em Ortopedia Funcional dos Maxilares

– Atualização em Bio Cibernetica Bucal

– Pós em Saude Coletiva

– Pós em Ortodontia

– Pós graduando em DTM

– Processo Fisher Hoffman da Quadrinidade

– Eneagrama da Personalidade

– Fundacion Rio Abierto Movimento e expressão

– Terapia Craniossacral

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA FONOAUDIOLOGIA

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA FONOAUDIOLOGIA

Entender o processo de alfabetização sob a perspectiva da Fonoaudiologia é uma maneira de ampliar o olhar para as necessidades da criança na primeira infância.

A criança nos primeiros anos de vida tem diante de si enormes desafios, desde colocar-se na posição vertical e andar até assumir a sua própria individualidade. Este é um dos períodos de maior aprendizado na vida da criança.

Entre tantas conquistas desafiantes, temos o aprendizado da leitura e escrita, que deve ser entendido como um processo respeitoso à individualidade e o tempo de cada criança.

Para elucidar o processo de alfabetização convidamos a fonoaudióloga Viviane Gilg¹,  à frente da Clínica Expressão Fonoaudiologia desde 2009, que apontará aspectos importantes a serem observados por pais e educadores.

 

DESAFIOS DA CRIANÇA, AMBIENTE  E INTERAÇÃO DOS MEDIADORES

A linguagem oral representa uma das aquisições mais significativas na vida de uma criança, é um dos marcos de desenvolvimento. A incapacidade e/ou dificuldade em se expressar e se comunicar por meio da fala pode gerar experiências frustrantes, colocando o indivíduo em provável desvantagem de desenvolvimento (por exemplo, nas habilidades psicossociais, de linguagem e de aprendizagem).

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA FONOAUDIOLOGIA

O desenvolvimento da linguagem acontece mesmo antes do bebê emitir palavras, por meio de vocalizações, olhares e gestos, e por meio da discriminação dos sons da fala do outro. Posteriormente, com a aquisição dos primeiros sons e por meio da interação, inicia-se a fase linguística (sons com significado). Esse processo, contínuo e complexo, também depende de condições neurobiológicas e ambientais apropriadas.

 

 

Assim, sabemos que, em geral, as crianças irão pronunciar as primeiras palavras ao redor dos 12 a 18 meses, aumentarão seu vocabulário entre 18 a 24 meses (respeitando as variações individuais). Aos 4 anos, espera-se que as crianças consigam construir frases sem muitos erros gramaticais.

Nessa mesma idade, muitas crianças são capazes de memorizar letras, escrever o próprio nome, até mesmo reproduzirem palavras inteiras. O que não significa maturidade para compreender a linguagem escrita e sim a habilidade de memória já desenvolvida.

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA FONOAUDIOLOGIA

Considerando que o processo de desenvolvimento da linguagem é contínuo, se dá por meio da combinação entre aspectos neurobiológicos, ambientais, ao acesso ao conhecimento e pela interação, sabe-se que a criança começa a ter oportunidades de construir conhecimentos importantes a respeito da linguagem escrita mesmo antes de saber formalmente a ler e escrever, por exemplo, ao conviver com pessoas que leem e escrevem e também ao ter acesso a materiais de leitura e escrita. Especificamente o desenvolvimento motor e linguístico irá desempenhar papel importante no processo formal de aprendizagem da leitura e da escrita, sabemos que a alfabetização é um processo bastante complexo.

A inserção da criança ao mundo formal de alfabetização permite um questionamento importante: ela está “preparada” para a alfabetização? Do ponto de vista do desenvolvimento da linguagem, sabemos que nem toda criança de 6 anos possui uma comunicação eficiente, sua estrutura de linguagem oral pode ainda estar contaminada por substituições, omissões por exemplo. Sua capacidade de construir frases complexas também. Contudo, temos exemplos de crianças com 4 anos que já apresentam domínio da linguagem oral.

 

O QUE CONTRIBUI PARA O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO?

O estímulo ao desenvolvimento de habilidades e competências para desenvolver a leitura e escrita nos parece uma forma mais respeitosa ao nível de desenvolvimento da criança e consegue respeitar as características singulares, individuais e ambientais de cada uma. Crianças em idade pré-escolar estão em pleno desenvolvimento, exercitar a compreensão dessa complexidade que é a linguagem oral, estimular a leitura como algo prazeroso desde cedo, são atitudes importantes que enriquecerão e trarão mais chances de sucesso ao processo de alfabetização e, inclusive, de constituição do sujeito.

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA FONOAUDIOLOGIA

Entre os quatro e seis anos é possível despertar o interesse da criança pela leitura e escrita, o que proporcionará um início do processo de alfabetização mais natural, com o letramento do aprendiz ocorrendo em seguida, sem necessariamente haver uma alfabetização formal.

Antes dos seis anos, é comum a criança não diferenciar letras de desenhos, ao passo que aos sete, oito anos já percebe até mesmo a presença da nasalidade dos sons e aí já é possível conseguir diferenciá-los na grafia. Essa distinção entre letras e desenhos é uma possível pista de “prontidão” para aprendizagem (embora muitos autores não concordem com o termo “prontidão”).

Conforme descrito por VERONEZI² (2011): “com esse desenvolvimento completo da oralidade infantil, a criança está pronta para adentrar o universo da escrita e tentar simbolizar a fala e seus pensamentos por meio de grafemas da língua escrita, aprendendo a operar com suas regras e elementos limitadores da tão rica expressão verbal”.

 

O QUE A PRESSÃO E ACELERAÇÃO AO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO PODE ACARRETAR?

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA FONOAUDIOLOGIA

Observamos que inserir a criança antecipadamente em um processo formal de alfabetização pode ser, no mínimo, desrespeitoso à ela, pois etapas importantes de seu desenvolvimento (cognitivo, sensório motor, de linguagem e da audição) serão suprimidas e como consequências, recebemos nos consultórios clientes com as mais variadas queixas: fracasso escolar, incapacidade de acompanhar o aprendizado, confusão de letras, dispersão, por exemplo. Também está presente o risco de rotular precocemente a criança sendo portadora, por exemplo, de Dislexia, Transtorno e Déficit de Atenção e Hiperatividade (problemas esses que são reais, desde que diagnosticados de maneira adequada).

Leia também: Por que não alfabetizei meu filho antes dos 7 anos e as 6 consequências da alfabetização precoce

É importante que o trabalho educativo com crianças em idade pré-escolar, do ponto de vista do desenvolvimento da linguagem, considere para além da idade cronológica da criança, considere seu desenvolvimento psicobiológico, proporcione e estimule as habilidades como consciência fonológica, atividades lúdicas de fala e linguagem, atenção sustentada, memória operacional, relações entre codificação e decodificação de sons e memória auditiva, por exemplo.

 

 

Respeitar o desenvolvimento da criança

PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO SOB A PERSPECTIVA DA FONOAUDIOLOGIA

proporciona à ela e ao seu processo de aprendizagem o fortalecimento de autoconfiança, segurança em executar tarefas, capacidade de observar e entender o erro e tentar sua (re)construção, evitando que esse período seja de frustrações e de sentimentos de incapacidade, o que pode interferir negativamente em seu desenvolvimento futuro.

 

 

 

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

 

¹VIVIANE GILG DA SILVA GONZALEZ  –  Graduada em Fonoaudiologia pela PUC/SP, pós-graduada em Voz. Experiência de mais de 18 anos em Fonoaudiologia Clínica. Atuação em Treinamento e Desenvolvimento em Comunicação Humana, planejamento e atuação em palestras, oficinas, treinamentos.

 

² A ALFABETIZAÇÃO PRECOCE E PROBLEMAS DE APRENDIZAGEM DA LÍNGUA ESCRITA – Ana Mirtiz Veronezi  –  PUC Paraná

 

 

 

É TEMPO DE BRINCAR – UM CHAMAMENTO

 

É tempo de brincar

Chamem as crianças nas casas

Conclamem a infância prás ruas

Pois é tempo de brincar

é tempo de brincar

Imagem: criancaenatureza.org.br

Diz o poeta

Quando as crianças brincam

E as ouço brincar

Qualquer coisa em minha alma

Começa a se alegrar

 

Convoquem grandes e pequenos

Para a alegria contagiante

Das brincadeiras e cantigas de roda

Esconde-esconde, pega-pega

 

é tempo de brincar

É tempo de brincar

É tempo de iluminar becos e praças

Com olhos de crianças curiosas

Com sorrisos de descobertas

 

 

É tempo de brincar

É tempo de comungar com a vida

Que pulsa incessante pelo meio fio

E fazer da infância um fio inteiro

 

Anunciem aos quatro ventos

Que criança é ser brincante

É ter pés descalços

Prá pisar no mundo da Lua

 

é tempo de brincar

É ver tromba de elefante

Se transformar em roda gigante

Na imensidão do céu azul

 

 

 

 

 

Invadam as vilas, tragam as crianças

Libertem seus corpos brincantes

Do mundo quadrado, dos quartos fechados

Das telas, das celas de aula

 

Resgatem-as para serem protagonistas

Num palco de terra,

Num cenário verde, de flores

De aromas, cores e texturas reais

 

é tempo de brincar

Imagem: bikeélegal.com

Devolvam à infância o gosto bom

Da aventura e da liberdade

De crescer solta

De mãos dadas com outras crianças

 

Antes que seja tarde

Antes que a última criança feneça

E não acredite mais

Que o mundo é bom, belo e verdadeiro

 

devolvam o tempo de brincar na educação infantil

 

Sinto me profundamente tocada com o cenário atual da infância. As mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas alteraram a estrutura da vida familiar e a vida da criança. A crescente urbanização associada ao medo da violência, geraram isolamento e contribuíram para uma cultura de confinamento. Os hábitos de vida de hoje desfavorecem o convívio social, atividades físicas ao ar livre, a imaginação e autonomia da criança.

Estamos adoecendo a infância. Dados apresentados pelo psicólogo Peter Gray na 20ª Reunião Internacional da Associação Internacional do Brincar em 2017 – IPA,  revelam que a depressão infantil já é de 7 a 10 vezes maior que nos anos 60, os transtornos de ansiedade entre as crianças cresceu até 18 vezes e as taxas de suicídios em crianças de até 15 anos, estão 4 vezes maiores. Ao mesmo tempo, o brincar livre das crianças vem diminuindo significativamente desde 1955.

Não é preciso muito esforço para correlacionar estes dados e concluir que trata-se de causa e efeito. Por esta razão é que fazemos este apelo: devolvam à infância o tempo e espaço de brincar livre.

 

Brincar é condição indispensável para que a criança se desenvolva de maneira saudável. Brincar é potência de crescimento humano, tanto quanto falar e andar.

 

Leia também: DEVOLVAM O TEMPO DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Educando Tudo Muda participou a semana passada do I Encontro Natureza e (des) Medicalização. Em pauta muitos temas que precisam ser debatidos pela sociedade, entre eles o aumento da medicalização infantil e de toda a sociedade, a necessidade de uma escola mais aberta e verde, uma cidade que acolha a criança, e uma comunidade responsável pela infância.

Apresentamos neste evento o projeto Playoutside – alegria de brincar na natureza, que tem como proposta realizar encontros de crianças e seus familiares em parques públicos, com o intuito de restabelecer o vínculo emocional das pessoas com o mundo natural para promover saúde e bem estar.

Como pais e educadores, temos a responsabilidade de desenvolver uma consciência que entenda a cultura da infância como uma etapa particular do processo de iniciação do humano, de forma a garantir a sobrevivência de nossa espécie.

Se você se inquieta com estas questões, compartilhe este texto e deixe seu comentário para que possamos refletir sobre mudanças que favoreçam a vida das crianças na cidade.

Fica aqui a continuidade do poema de Fernando Pessoa

E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no coração.

5-9-1933
Poesias. Fernando Pessoa.
Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). – 166

Abraço esperançoso

Ana Lúcia Machado

 

 

 

EDUCAÇÃO INFANTIL E AS CEM LINGUAGENS DA CRIANÇA

Educação Infantil e as cem linguagens da criança

A Educação Infantil deve ser um espaço e tempo de liberdade para o desenvolvimento das cem linguagens da criança, entre elas, o brincar – linguagem universal da infância.

Temos debatido sobre o processo de aprendizagem na Educação Infantil desde a publicação do artigo DEVOLVAM O TEMPO DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL, leia aqui.

Educação Infantil e as cem linguagens da criança

Dando continuidade as discussões, esta semana Educando Tudo Muda entrevistou Raquel Franzim, pedagoga e especialista em Educação Infantil. Raquel trabalhou por quase 15 anos na rede municipal de educação da cidade de SP em cargos de docência, gestão e formação de educadores. Atualmente é assessora pedagógica no Instituto Alana, na área de educação e cultura da infância e coordena junto com a Ashoka o Programa Escolas Transformadoras no Brasil.

 

Quando uma criança está preparada para dar início ao processo de alfabetização sob o ponto de vista do desenvolvimento integral?

Depende do que se entende por alfabetização. Se entendermos alfabetização apenas como a decodificação de letras, há um consenso de que a criança inicia esse processo lá pelos seis ou sete anos. No entanto, se entendermos alfabetização como um processo amplo de interpretação e construção de sentido sobre o mundo e às marcas gráficas, contínuo em toda vida humana, podemos dizer que esse processo inicia-se ainda na vida intrauterina e termina ao morrermos.

Toda criança, desde seu nascimento, vive em uma cultura repleta de símbolos gráficos, do mundo letrado. Mesmo sem ainda ler e escrever tal como o convencionado socialmente, crianças pequenas atribuem significado e reconstroem a seu modo as marcas orais e escritas do mundo.

Educação Infantil e as cem linguagens da criança

Imagem: Avante.org.br

Portanto, não há momento específico para iniciar esse processo, mas todo o cuidado deve se ter para que a linguagem verbal, seja ela escrita ou oral, não sejam as únicas linguagens exploradas pela escola. Loris Mallaguzzi, educador italiano, por exemplo, defendia que a criança tem muitas linguagens, diversas formas de se expressar, de compreender e de reinventar o mundo.

 

Na sua visão, o que é a alfabetização precoce? O que você considera antecipação e aceleração desse processo?

As práticas educativas que desconsideram a infância como um período muito ativo por parte da criança e com diferentes formas de expressão, aprendizagem, interação com e sobre o mundo. A criança é construtora de culturas, de formas de ser, pensar e estar no mundo. Isso é uma coisa.

Educação Infantil e as cem linguagens da criança

Outra coisa é a escola privilegiar o tempo de vida da criança na escola apenas para a exploração da linguagem verbal (escrita e oral), uma das muitas linguagens da criança. Mais problemático é se a escola organiza as experiências de linguagem verbal sem relação nenhuma com a vida e com as práticas sociais de ouvir, falar, ler, escrever.

Certa vez, ouvi uma terapeuta ocupacional falar da linha de desenvolvimento humano. Foi a melhor explicação que já ouvi! Bebês e crianças pequenas se desenvolvem em um movimento céfalo-caudal (da cabeça aos pés, não  à toa bebês levam um tempo para sustentar a cabeça e depois conquistar a marcha, o caminhar) e próximo-distal (ou seja, do centro do corpo, partindo do coração, dos afetos, passando pelos movimentos amplos do corpo até a parte mais fina – os dedos e os movimentos de pinça). Ignorar isso é ignorar a ciência e muitas oportunidades das crianças se desenvolverem de corpo e alma, integralmente.

 

Quais os efeitos da alfabetização precoce?

Desconheço pesquisas que retratem isso. E muitas professoras e professores de educação infantil sabem, pela experiência viva, que crianças necessitam de vivência, relação e muito tempo e espaço para brincar. No entanto, a pressão social pelo aprendizado da linguagem escrita é muito forte. A maioria das famílias compreende a escola como um espaço para ‘aprender’ e não para brincar.

É difícil reconhecer o quanto as crianças aprendem outras coisas nessa fase da vida. Por isso, é papel de toda escola ajudar a família a aprender a olhar a experiência da criança pequena. E entender que ela não é pequena ou menor que outras experiências que virão mais para frente.

Também faz-se necessário dar mais visibilidade a pais e educadores pesquisas que evidenciam a importância do desenvolvimento integral e integrado nessa fase da vida e o impacto nos anos seguintes e na vida como um todo.

Temos a vida toda para aprender a ler e escrever formalmente, mas apenas 6, 7 anos para explorar intensamente toda a nossa capacidade física, sensorial, simbólica, gestual, comunicativa e criativa.

 

Qual a essência do trabalho na Educação Infantil?

Educação Infantil e as cem linguagens da criança

O essencial na educação infantil é a possibilidade da criança interagir com uma comunidade maior que suas próprias famílias. Ampliar os horizontes sociais e culturais. Se sentir pertencente a uma comunidade, participando ativamente dela. Toda a experiência nos 7 primeiros anos de vida é extremamente marcada pelo afeto aprendido e construído nas e pelas relações, pelo desenvolvimento das emoções, do sentir e se relacionar com diversos sentimentos. Junto com outras crianças da mesma idade e de diferentes idades, poder construir suas próprias narrativas, sejam elas corporais, simbólicas, orais, musicais etc.

 

O brincar, na primeira infância, não é apenas uma forma da criança aprender o mundo. É especialmente sua principal linguagem e meio de criação e reinvenção da vida. Não há fase na vida com tamanha intensidade como essa.

 

O que irá mudar na Educação Infantil a partir das discussões sobre a Base Nacional Comum Curricular ?

As audiências públicas realizadas nas 4 regiões do país e no Distrito Federal mostraram que a educação infantil é marcada historicamente pela compreensão de uma escola preparatória para o ensino fundamental. Isso traz graves consequências ao desenvolvimento integral das crianças, por privilegiar apenas a linguagem verbal na relação de ensino e aprendizagem. Imagine, como as crianças são podadas em sua criatividade e construção de conhecimento, sentimento e fazeres se apenas um dos aspectos delas? Contudo, a Base ainda aguarda a deliberação do Conselho Nacional de Educação e a homologação da versão, com o parecer do Conselho. Ademais, acredito que as escolas, educadores e famílias que acreditam que a educação infantil é um espaço plural não deixarão de o fazer, mesmo se a Base trouxer uma abordagem contrária.

Um alerta é o crescente apelo comercial do mercado editorial para padronização dos processos de ensinar e aprender na educação infantil, por meio de apostilas e materiais didáticos. Isso significa que há um enorme interesse de grupos econômicos em vender material para essa fase da vida – tolhendo a criatividade e autonomia não apenas de educadores, mas do potencial criador e criativo das crianças.

 

Para finalizar, deixamos aqui o poema de Loris Mallaguzi , educador a quem Raquel faz referência:

Educação Infantil e as cem linguagens da criança

Ao contrário, as cem existem

A criança é feita de cem.
A criança tem cem mãos
cem pensamentos
cem modos de pensar
de jogar e de falar.
Cem sempre cem
modos de escutar
de maravilhar e de amar.
Cem alegrias para cantar e compreender.
Cem mundos para descobrir.
Cem mundos para inventar
Cem mundos para sonhar.
A criança tem cem linguagens
(e depois cem cem cem)
mas roubam-lhe noventa e nove.
A escola e a cultura
lhe separam a cabeça do corpo.
Dizem-lhe:
de pensar sem mãos
de fazer sem a cabeça
de escutar e de não falar
de compreender sem alegrias
de amar e de maravilhar-se
só na Páscoa e no Natal.
Dizem-lhe:
de descobrir um mundo que já existe
e de cem roubaram-lhe noventa e nove.
Dizem-lhe:
que o jogo e o trabalho
a realidade e a fantasia
a ciência e a imaginação
o céu e a terra
a razão e o sonho
são coisas
que não estão juntas.
Dizem-lhe enfim:
que as cem não existem.
A criança diz:
ao contrário, as cem existem.

 

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

ESCOLARIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

ESCOLARIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

A escolarização na Educação Infantil é um tema que tem causado inquietação em pais e educadores. O que estamos fazendo com a infância? O modus vivendi da sociedade contemporânea com seus excessos, têm adoecido as crianças. Querem cedo demais tirá-las do seu tempo e espaço natural de desenvolvimento. Querem cedo demais intelectualizar, atrofiando os sentidos, limitando a curiosidade e vontade da criança de explorar e vivenciar o mundo livremente.

Em julho o Educando Tudo Muda propôs discutir esta questão por meio do artigo DEVOLVAM O TEMPO DO BRINCAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL leia aqui, que obteve mais de 37.000 acessos.

Com o objetivo de ampliar e enriquecer esta reflexão, convidamos a coordenadora pedagógica Katherine Stravogiannis¹, para compartilhar  sua visão a cerca do sentido do aprendizado nos primeiros anos escolares.

Katherine dá início as suas considerações destacando uma citação de Tomás de Aquino “a admiração é o desejo de conhecimento!”, e fazendo as seguintes perguntas:

-Como deixar que as crianças revelem seus estupores e deslumbramentos diante da vida, permitindo-lhes a continuidade destes na própria escola?

-Como podemos questionar o real sentido de aprendizado?

 

PENSANDO NA IMAGEM DE CRIANÇA IMPREVISÍVEL, CRÍTICA E QUESTIONADORA,

Colecionadora de infâncias

uma educação adequada deve levar em consideração o contexto como sustentáculo educativo, e não mero cenário burocrático. Além disso, há de se atentar aos relacionamentos, valorizando como as crianças aprendem, ao contrário de enaltecer aquilo que desconhecem. O foco também deve voltar-se às oportunidades, não somente expectativas adultas, que por sua vez ignoram a compreensão profunda e epistemológica de como aprendem, muito além dos cenários prescritivos e circunscritos que, por sua vez, desconsideram os complexos caminhos de mobilização interna.

Os pequeninos já nascem com a capacidade de maravilhar-se com a beleza da realidade, necessária para aprender, porque o próprio cérebro humano está preparado para conectar-se às experiências sensoriais e interpessoais, não pelos estridentes discursos e explicações, mas pela mobilização da própria curiosidade.

Durante muitos anos, o modelo mecanicista triunfou por determinar socialmente onde cada criança necessita chegar e, atualmente, questionando o sistema educacional, precisamos repensar sobre quais as necessidades reais de nossas crianças, devolvendo-lhes o coprotagonismo na aprendizagem. Em primeiro lugar, torna-se necessário minimizar o espaço para os resultados pré-formulados, classificatórios e sistemáticos, que caracterizam um currículo especificamente voltado para fins, e não processos contínuos. Quando vislumbramos a criança em uma nova perspectiva, compreendemos a Educação Infantil como um rico ambiente para compartilharmos a vida cotidiana, que se inicia em espaços de referência como a própria sala, e criam enredos em outros locais, conectando-as, por exemplo, à própria natureza.

ESCOLARIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Para isso, precisamos fazer escolhas de consciência ética e política, apoiando as crianças nas suas experiências genuínas, considerando que o corpo todo se envolve no aprendizado, e não apenas as mãos e os olhos. O conhecimento deve ser vivenciado em condições de maior vivacidade e entusiasmo cultural, considerando, por exemplo, princípios citados por Morin, como transdisciplinaridade e co-participação, que não combinam com a aprendizagem solitária reduzida a papeis.

Nesse sentido, pensando especificamente na Educação Infantil, quando tomamos a nova Base Nacional Comum Curricular como referência, pode-se dizer que os campos de experiência possivelmente representem um avanço na valorização às relações e ludicidade, quando confrontadas às atuais áreas de conhecimento, que supostamente apresentam uma visão fragmentada de como as aprendizagens, nos tempos suspensos, rarefeitos e não lineares, se conectam. Não há mudança efetiva quando não se repensam as concepções, e isto implica em formação continuada, bem como valorização dos fazeres, e não das programações que inviabilizam a construção de cotidianidade. Em outras palavras, em nada valerá alterar um documento formal em cada escola tendo a Base como norte, se os educadores não buscam ressignificar a qualidade das próprias experiências escolares, questionando-as sucessivamente. É importante ter o documento como norte formal, mas o caminho compete ao campo escolar, de identidade intelectual própria.

Contudo, há muita inquietação quanto à conclusão do processo de alfabetização antecipado ao segundo ano do Ensino Fundamental, entendendo-se como uma fronteira com a Educação Infantil. Nesse sentido, a escola necessita cuidar da progressão curricular, atentando-se às rupturas, mas ao mesmo tempo acolhendo as necessidades socioemocionais das crianças em seus tempos próprios. A efetiva comunicação entre os níveis de ensino favorecerá que a experiência seja acolhedora, com desafios, mas ampla em oportunidades dialógicas.

 

ALFABETIZAÇÃO – O QUE DEMANDA ESTE PROCESSO?

Com a alfabetização, não é diferente. Antes de tudo, precisamos pensar que este é um processo que demanda condições cognitivas, um certo grau de maturação e de abstração, que são características de um pensamento mais reversível e, portanto, operatório. As crianças não podem ser classificadas como aptas ou não, dependendo de sua história, carregada de informações biológicas, maturacionais e motivacionais. Atualmente, não podemos pensar num processo de alfabetização com data determinada para a súbita estreia, mas consideramos o processo de letramento que respeita as experiências de vida e significância letrada desde que a criança é concebida. E essa criança deseja estar em contato com o mundo e conhecer seus códigos comunicativos.

 

ALFABETIZAÇÃO PRECOCE E SUAS CONSEQUÊNCIAS

Uma alfabetização precoce pode ser entendida como aquela que desconsidera desde a creche os momentos de cada criança, compreendendo-a como um mecanismo unicamente transmissivo, não afetivo, externo, que não considera os tempos da infância, suas hipóteses e interrogações, mas insiste em determinar o que deve ser internalizado. Muitas vezes essas práticas podem ser observadas em exercícios repetitivos, sem sentido, com alto grau de abstração, distanciando-se do próprio universo infantil e desconsiderando a arquitetura do seu desenvolvimento e pensamento sincrético e autocentrado. E a aceleração traz implicações na própria aprendizagem, pois etapas anteriores e estruturantes podem ser suprimidas, interferindo diretamente na motivação e autoestima. Quando silenciamos as linguagens da criança, anulamos seus percursos de aprendizagem, podendo correr o risco de dificultar a potência de seu aprendizado.

A criança é naturalmente ávida por crescer, desenvolver-se, e o desenho, a arte, é sua primeira forma de comunicação escrita e registrada. A criatividade qualifica seu pensamento, e a ludicidade, a repertoria simbolicamente.


 

Para escrever, ela necessita de um discurso elaborado, para que a função comunicativa da linguagem, cerne da escrita, se preserve. Por isso, muitos sistemas mecanicistas verificam crianças alfabéticas, mas sem referenciais verdadeiramente letrados prévios, sem repertório literário amplo. E, outras, pequeninas, com amplo discurso, repleto de conectores, surpresas vocabulares, não são formalmente alfabéticas, mas demonstram competência discursiva e conhecimento letrado admirável.

 

O QUE É PRECISO OBSERVAR

Então, para que escrevam, há de se atentar a etapas prévias, como o próprio desenho e o simbolismo do pensamento, bem como a ampliação dos gêneros e tipologias literárias. Textos coletivos, bilhetes, convites, acesso a adultos escribas de rico vocabulário, literatura qualificada, ambiente letrado são exemplos de encorajadores do discurso, fortalecedores do significado real da necessidade de escrever. E, aos poucos, a criança desejará registrar seu nome, que é um texto estável, referencial potente para sustentar outras regularidades de escrita, comparando-o a de seus colegas, questionando sobre as letras similares, tentando representar sons que lhes são familiares. Neste momento, há indícios de que a escrita lhe interessa verdadeiramente, e que intervenções construtivas são favoráveis para o conflito cognitivo.

 

DEVEMOS NOS RECORDAR QUE A EDUCAÇÃO INFANTIL É

ESCOLARIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

uma etapa que deve caracterizar a interrogação da própria vida, com pesquisa, encantamento, sentido e, principalmente, evidenciando o papel privilegiado do brincar, vivida plenamente, sem transformar-se num cenário adultocêntrico, mas sim, num espaço relacional e altamente educativo.

Necessitamos ajudar nossas crianças a compreender o mundo e a si mesmas neste universo, dando-lhes amplas oportunidades de aprendizagens significativas, cercando-as de beleza.

 

Nossos agradecimentos a participação de Katherine Stravogiannis.

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Abraço caloroso

Ana Lúcia Machado

 

[1] É coordenadora pedagógica, acompanhando a formação docente, desenvolve cursos e assessorias pedagógicas, atua na Educação Infantil há mais de 15 anos. Licenciada em Letras, alemão e português pela USP, pedagoga e psicopedagoga pela CEUCLAR, especialista em Educação Infantil pela FACEI, em relações interpessoais e autonomia moral na escola pela UNIFRAN, em Neuropsicopedagogia e mestranda em Ciências da Educação pela UNIGRENDAL. Já participou de diversos cursos de extensão na área do bilinguismo e educação contemporânea, bem como formações continuadas no Brasil e exterior, mantendo o site educacional Pedagogia e Infância (www.pedagogiaeinfancia.com.br)

NOVOS PARADIGMAS PARA A EDUCAÇÃO- ÚLTIMA PARTE

O IMPACTO DE UM PAI NA VIDA DE UM FILHO from GUILHERME GIMENEZ on Vimeo.

A crise atual do sistema educacional brasileiro requer reflexão, revisões  e a busca por novos paradigmas para a educação.

Propõe-se aqui um aprofundamento e compreensão da extensão dessa crise  a partir da análise de algumas premissas, sendo que as duas primeiras foram apresentadas em artigos anteriores.

  1. Visão do ser humano integral (acesse aqui)
  2. Origem da palavra  Educar (acesse aqui)
  3. Autoconhecimento e Autoeducação

Passamos agora a abordar a necessidade do trabalho apurado de autoconhecimento e autoeducação por aqueles que se dispõem ao exercício da docência.

Para a compreensão da relevância da autoeducação, analisemos o pensamento de Rudolf Steiner, filósofo e educador austríaco (1861-1925):

 


Não há, basicamente, em nenhum nível, uma outra educação que não seja a auto-educação. […] Toda educação é autoeducação e nós, como professores e educadores, somos, em realidade, apenas o entorno da criança educando-se a si própria. Devemos criar o mais propício ambiente para que a criança eduque-se junto a nós, da maneira como ela precisa educar-se por meio de seu destino interior.


Novos paradigmas da educação

Podemos entender ‘destino interior’ como a essência central distinta, individual do ser humano.

Paulo Freire também fala que é necessário se educar para educar, e que se educar é impregnar de sentido cada momento da vida, cada ato do cotidiano.

Portanto, eu educo o outro, educando a mim mesmo, e o que faço enquanto educador, é criar o ambiente favorável em volta da criança, proporcionando assim condições por meio das quais a própria criança se revele.

 

 

Novos paradigmas para a educação

Como um jardineiro, nossa tarefa é encontrar as condições adequadas para cada tipo de semente, o tipo certo de solo, o adubo adequado, a proteção e irrigação corretas, achar os ingredientes apropriados que darão suporte e força a semente, para que ela brote, surja para fora, emerja sua natureza e cresça formosa.

 

Levando em conta que uma das características marcantes da criança é sua capacidade imitativa, podemos ressaltar a importância de modelos adequados de homens e mulheres em torno da criança como espelhamento de seres humanos íntegros. A criança não repete apenas a fala, o movimento e gestual do adulto, ela é capaz de assimilar o que o educador é, e assim reproduzir sua maneira de viver. E mais tarde, quando adolescente, de forma contumaz, procurará a veracidade nos educadores, tutores e pais, por meio da comparação entre o que esses falam e suas ações, seu jeito de se colocar no mundo, de ser e viver.

Por esta razão o educador, como referencial para a criança, adolescente e jovem, tem grande responsabilidade, pois atua no campo ético moral. Daí a importância do seu trabalho constante de autoconhecimento, como instrumento de revisão, aprimoramento e desenvolvimento humano, como processo de construção de si mesmo, num contínuo explorar-se, conhecer-se, transformar-se.

Enquanto educadores, precisamos nos tornar modelos mais adequados para as novas gerações que iniciam seus processos de construção de seres humanos no mundo.

 

A ARTE COMO CAMINHO DE REENCANTAMENTO DA EDUCAÇÃO

A educação convencional que vem se perpetuando, está fundamentada numa concepção materialista, cientificista, mecanicista, pautada na transmissão de conhecimento e informação. Vem privilegiando o desenvolvimento do lado cognitivo, deixando em segundo plano o corpo e a alma da criança. Isto porque o homem moderno tem endeusado a abstração, a fórmula, a quantificação e os avanços tecnológicos.

NOVOS PARADIGMAS PARA A EDUCAÇÃO - PRIMEIRA PARTE

A partir da concepção do ser humano integral, não podemos mais fundamentar o sistema educacional levando em conta apenas uma parte do que é o homem. Precisamos educar na/para inteireza.

Precisamos educar para a vida, abarcar o coração do homem no processo educativo, considerando seus sentimentos, emoções, relações. É necessário trazer para a educação temas essenciais, como o amor, a alegria, solidariedade, gentileza, temas estes que a racionalidade moderna não comporta por não conseguir explica-los cientificamente.

Precisamos reencantar a educação, com uma linguagem que fale à alma da criança, por meio de vivências artísticas, estéticas. A arte é o caminho que permite o desenvolvimento harmônico da criança, porque é a linguagem do coração. Ela permeia a razão e a conecta com o lado anímico da criança, fortalecendo a sua vontade, o seu fazer no mundo, e suas interações com o mundo.

cabeça humana escola waldorf

A expressão artística, seja pela pintura, modelagem, dança, teatro, poesia, música, etc., desperta a consciência do mundo interior de cada ser, faz a ponte entre o lado intelectual humano e sua capacidade de ação, possibilita a criação de algo resultante da sua imaginação e fantasia.

Rudolf Steiner afirma que: “A pedagogia não pode ser uma ciência – deve ser uma arte”. Educação é arte. Que possamos nos sentir inspirados para fazer uma nova escola, fundamentada no respeito à totalidade do ser humano, na confiança do desenvolvimento e aprimoramento das potencialidades humanas.

Como síntese desta reflexão, fica aqui a poesia do Profº Ruy Cezar do Espírito Santo:

 

A Grande Transformação

Buscar a fonte da inspiração artística

É dirigir-se ao mais dentro do Homem

À Fonte única que de forma original

Derrama o fruto da sua percepção

 

Novos paradigmas para a educação

Encontrar essa Fonte

É desvelar a possibilidade do Amor

É trazer o Homem novamente aos dez anos,

De onde se afastou pelo que chamamos de “educação”…

 

 

O Amor dissipou-se no instante em que o “jovem de 10 anos”

Sentiu-se perdido nos labirintos escolares,

Onde cabeças sem coração são “formadas”

Sem a presença da Arte…

 

Novos paradigmas para a educação

Assim, resgatar a Arte

É redescobri a Fonte interior de Alegria e Amor…

É voltar aos dez anos, desta vez

Ciente do sentido e da significação da existência.

 

 

 

O texto original e completo deste artigo está publicado na Revista Interespe, nº 8 – jun 2017, da  PUC de São Paulo  e  disponível pelo link:

http://www.pucsp.br/interespe/revistas/downloads/revista-8-interespe-jun-2017.pdf

 

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Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado