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BRINCAR VIVO: BRINCAR NA E COM A NATUREZA

A infância tem no brincar na e com a natureza a sua espinha dorsal. Ambientes ricos em áreas verdes são fonte de um brincar vivo e criativo. É no transitar lúdico telúrico, fazendo aliança e oposição ao chão, que se ergue o humano. No manuseio dos elementos da terra, emerge a essência de todas as coisas, o mistério sagrado e, a verdade primordial que tecerá a existência humana, é revelada à infância pela natureza.

Brincar em espaços naturais nos coloca diante da vocação lúdica e artística da natureza e expõe a criança à riqueza e diversidade dos elementos naturais, abrindo um leque de possibilidades de brincadeiras e invenção dos próprios brinquedos pela criança tendo a natureza como matéria-prima.

Um passeio na mata, uma caminhada no parque, praça, no pátio escolar, num local com árvores, terra, flores e insetos, aguça a curiosidade infantil. Possibilita o contato com aromas diferenciados; sons de pássaros, do vento, das folhas secas; formas diferentes de folhas; cores variadas de flores. Permite a observação de formigas, de lagartas, minhocas, líquens; a descoberta de diversos seres vivos fascinantes para a essência curiosa e exploratória da criança. Propicia andar na chuva; pisar em poças d’água; acompanhar borboletas; colher frutos; pegar pedras; subir em árvores e correr entre elas. Um brincar que provoca deslocamentos, que põe o corpo em movimento intenso.

BRINCAR VIVO – BRINCAR NA E COM A NATUREZA

Esse brincar mediado pela natureza, estabelece uma conexão com as forças vitais dos quatro elementos, com os ciclos de nascimento, vida e morte, fluxos vivos, ritmos e processos dinâmicos, revelando os princípios que regem a vida na Terra, aguçando os sentidos, a imaginação e o senso de pertencimento das raízes com a Terra e respeito a ela.

Tudo na natureza cresce num movimento e gesto repleto de vida. Cada elemento traz consigo, em sua essência e forma a pulsação da Terra, seu inspirar e expirar. Em contato com materiais orgânicos a criança é revitalizada e fortalecida em seu interior  pela identificação com os elementos formativos e processos comuns a ela mesma e à Terra.

A energia e as manifestações da natureza favorecem múltiplos brincares. O vento, a chuva, o sol, são aliados que atuam como forças canalizadoras do processo criativo de invenção de brinquedos e brincadeiras.

Se temos um dia de ventania, usamos o vento de modo que favoreça as brincadeiras com o elemento ar: cata-vento, pipa, biruta, etc. Se for um dia chuvoso, aproveitamos para encher potes de água, pisar nas poças d´água, fazer lama e tantas outras possibilidades com o elemento água. Nos dias ensolarados brincamos com as sombras, com as transparências das folhas contra a luz solar, nos apropriando do elemento fogo. No chão, peneirando a areia, enchendo e esvaziando baldinhos, nos alimentamos da vitalidade da terra.

Há um diálogo, uma troca potente entre os elementos naturais e a criança. Nesta relação direta com a terra, a criança reconhece na matéria o lúdico e transforma em brinquedo o que a natureza oferece.

Cada um dos elementos permite que a criança mobilize dentro de si forças imaginativas criadoras. Com os achados e coletas dos elementos naturais, galhos viram espadas ou varinhas mágicas; folhas e flores ora podem ser decoração de um lindo bolo, ora adorno de uma coroa na cabeça, evidenciando assim a lei da metamorfose que rege o universo lúdico infantil, em que uma coisa vira outra, num estado vigoroso de constante transformação.

Estes são os brinquedos da terra: árvores para trepar e se balançar, troncos tombados para se equilibrar, morro para escalar e escorregar, pedras para subir e depois pular, terra para escavar, etc. Esta é a magia do brincar na natureza e dos elementos naturais, que permitem infinitas possibilidades, algo sempre diferente e novo. Essa é a força interior das crianças em ação no ato do brincar livre – elas subvertem materiais, criam brinquedos e inventam histórias de acordo com o enredo de suas brincadeiras. Este é o brincar vivo.

Os elementos naturais têm como principais características a diversidade, simplicidade, plasticidade e longevidade. Pela variedade de formas, tamanhos, pesos, texturas, aromas, sons e cores, produzem estímulos multissensoriais. São acessíveis, encontrados pelas crianças facilmente soltos pelo chão, em parques, praças, ruas arborizadas, etc.

Os elementos naturais são “abertos”, isto é, permitem ser moldados pelas mãos das crianças e atendem à necessidade de suas brincadeiras. São materiais não estruturados, flexíveis e versáteis. Por não terem uma função específica, e não entregarem algo pronto para a criança, dão espaço e liberdade para a atuação imaginativa sendo usados de modos diversos, aumentando o envolvimento, o tempo de permanência e o interesse da criança pelos brinquedos e brincadeiras inventadas com gravetos, pedras, sementes, folhas e flores.

brincar vivo

A materialidade desse brincar amplia o repertório da infância, nutre o imaginário e  enriquece a capacidade de criação. Os elementos naturais tocam o corpo por meio dos sentidos – tato, olfato, audição, visão, paladar, acordando a imaginação. E assim, a imaginação se torna o melhor brinquedo, o mais rico, completo e profundo. A imaginação inventa as mais incríveis brincadeiras.

O brincar livre em contato com a natureza acompanha o ritmo natural da criança – são doses de inputs sob medida para cada individualidade. A criança é exposta a uma rica variação de estímulos na qual experimenta e avança de acordo com sua necessidade e prontidão, isto é, seu amadurecimento físico e psicológico. A natureza desafia e a criança responde de acordo com a etapa de desenvolvimento em que se encontra.

A natureza disponibiliza um ambiente livre e empático. Oferta à criança o que a brincadeira pede. Por meio de seus elementos, oportuniza experiências para que a criança possa desfrutar vivências que alavancam seu desenvolvimento integral.

Este brincar vivo atua numa camada profunda da constituição do ser, ampliando todos os sentidos e imprimindo registros nas entranhas do ser criança. Os efeitos provocados pela natureza na organização corpórea e anímica, não podem ser reproduzidos por nenhum brinquedo industrializado ou atividades dirigidas por um adulto. O não pronto ativa a vontade interior de completar coisas inacabadas.

Além disso, este é um brincar ecológico, em que a criança brinca com o que a natureza oferece e ao término da brincadeira, em uma autêntica logística reversa, tudo pode retornar para a terra sem causar nenhum dano ao meio ambiente.

Vamos então defender as condições essenciais para o brincar vivo: ambientes naturais, tempo, liberdade para a criança brincar livre e acesso aos elementos naturais.

Brincar na e com a natureza é uma forma de expressão autêntica da criança, uma maneira de fazer arte, honrar a infância, intensificar e respeitar a vida, e promover a sustentabilidade planetária. Esse brincar vivo é um direito da criança para a garantia de uma infância plena.

Este artigo foi originalmente publicado pela Aliança Pela Infância em comemoração a Semana Mundial do Brincar 2023. Baixe a publicação virtual AQUI e acesse outros artigos.

abraço afetuoso

Ana Lúcia Machado

EDUCAÇÃO AMBIENTAL – FORMAÇÃO PARA UM MUNDO SUSTENTÁVEL

A Educação Ambiental é fundamental na formação de crianças e jovens para um mundo sustentável.

Vivemos como nunca antes um distanciamento entre homem e natureza, e sua consequente ruptura com processos de vida. Até 2050, segundo dados da ONU, 66% da população mundial se concentrará em centros urbanos. No Brasil este percentual já chegou a 84%. Esse afastamento faz com que vivamos como se não fizéssemos parte da natureza, como se dela não dependesse nossa sobrevivência. Não nos reconhecemos mais como parte de um ciclo contínuo e interdependente de vida.

Enfrentamos uma crise civilizacional generalizada e sem precedentes com o esgotamento do planeta, devido ao estilo de vida incompatível com a exploração dos recursos naturais finitos, com demandas cada vez maiores de bens de consumo, excesso de produção de resíduos, poluição do ar, dos rios, mares e envenenamento do solo.

Precisamos refletir à cerca do impacto que nós, seres humanos, temos causado à este organismo vivo que é a Terra. Temos que repensar nossa maneira de ser e estar no mundo. O que acontecerá ao planeta se continuarmos consumindo e explorando seus recursos? Será possível sobrevivermos às mudanças climáticas? O que acontecerá com a humanidade?

Em maio de 2021, por ocasião da ‘Conferência Mundial sobre a Educação para o Desenvolvimento Sustentável’, a UNESCO elaborou um relatório mostrando que a educação formal não tem preparado os alunos para atuarem em um mundo onde as mudanças climáticas e a perda da biodiversidade se apresentam como uma das maiores ameaças à vida humana.

Depois de ter analisado os currículos de educação de 50 países, a UNESCO apelou para que a Educação Ambiental seja colocada no centro dos currículos escolares até 2025. Nas palavras de Aidrey Azoulay, diretora geral da instituição, “a educação deve preparar os alunos para compreenderem a atual crise ambiental […]. Para salvar o planeta, devemos transformar a nossa forma de viver, produzir, consumir e interagir com a natureza.”

A Educação Ambiental frente ao contexto global de degradação devido a ação predatória do homem, deveria ser pauta prioritária de todos os líderes mundiais.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL, O QUE É AFINAL?

Por que essa abordagem é fundamental em nossos dias?

A verdadeira Educação Ambiental se dá por meio do experienciar. Acontece quando criamos oportunidade para que os seres humanos tenham interações diretas com a natureza, quando promovemos a conexão e a relação de cada indivíduo com o meio em que vive e orientamos ações pró-ambientais, a partir de uma visão sistêmica, despertando a consciência da ligação e interdependência entre todos os seres viventes e os elementos naturais, como a terra, a água e o ar.

Quanto mais expostas e integradas aos ambientes naturais as pessoas estiverem, maiores as oportunidades de experiências e vivências positivas com a natureza. Estas experiências vão aguçar o senso de pertencimento, e a consciência sobre o cuidado que devemos ter com cada ser vivente, seja ele um outro ser humano, um vegetal, um animal, um rio, o mar, ou o próprio ar que respiramos.

Quando conhecemos a natureza por meio de experiências diretas, nos responsabilizamos pelas relações que estabelecemos com ela. Daí advém a ética do cuidado. O cuidado está na essência do humano. Ele é a base possibilitadora da existência humana enquanto humana, como afirma o teólogo Leonardo Boff.

Se negligenciarmos essa base, caminharemos para nossa própria extinção. Precisamos resgatar essa essência. Boff atribui a falta de cuidado à desconexão com o TODO, e ao desconhecimento de que todas as coisas estão ligadas umas às outras.

Educação Ambiental está diretamente relacionada à educação dos sentidos. Ela acontece à luz do sol, ao contemplar o arco-íris depois de uma forte chuva de verão e exalar o cheiro de terra molhada. Ao comer frutas colhidas do pé e entender de onde vem os alimentos. Ao sentir o vento no rosto e perceber que todos respiramos o mesmo ar. Ao ouvir o farfalhar das folhas secas debaixo de nossos pés e captar nossa ligação com o solo. Ao constatar a importância do frescor da sombra de uma árvore num dia quente de verão.

Vivências no mundo natural criam memórias afetivas em relação à natureza, imprimem registros sensoriais pelo corpo.

Talvez nossas crianças e nossos jovens saibam muito mais sobre a natureza de ouvir os professores, de pesquisar em livros e assistir documentários. Não que esse conhecimento não tenha valor, entretanto essas informações não são suficientes para causar encantamento e estabelecer um vínculo de afeto e cuidado com a natureza.

Tampouco falar nas escolas, entre quatros paredes, sobre temas como o aquecimento global, biodiversidade, a extinção de espécies, e a preservação do meio ambiente, despertará o interesse dos alunos pelo mundo vivo.

“Se quisermos que as crianças se desenvolvam de uma maneira saudável, temos que lhes dar tempo para entrar em contato com a Natureza e amar a terra, antes de pedir que elas salvem o planeta”

David Sobel

EDUCAÇÃO PELA NATUREZA

A relação direta com a natureza, essa sim, tem o potencial de tocar o coração, suscitar emoções positivas e ser muito mais efetiva em termos de despertar a consciência sobre a importância da preservação ambiental, pois só cuidamos e amamos aquilo que conhecemos de maneira concreta, no mundo real, tridimensional.

Isto é o que capacitará as novas gerações com habilidades, conhecimento prático, atitudes e valores para agir pelo planeta e enfrentar os desafios globais nos âmbitos sociais, econômicos e ambientais, que urgem nos nossos dias.

Integrar-se à natureza, permitindo que ela exerça sua vocação educadora na construção coletiva de conhecimento, produz um aprendizado significativo com poder de mudar nossa perspectiva e a partir disso transformar nossas ações no mundo.

Se quisermos preservar nossa própria existência será preciso discutir as interrelações humanas, buscarmos uma alimentação saudável, praticarmos o consumo consciente, a economia circular, e revermos nosso conceito de felicidade. Todas essas questões abrangem a educação ambiental.

Para garantir cidadãos cuidadores do planeta, precisaremos resgatar os vínculos de crianças, jovens e adultos com a natureza e principalmente investir na formação de um reservatório de experiências vivas e reais desde o começo da vida, estimulando a apreciação e o respeito pela terra e por todos os seres vivos.

Zelar pela saúde e sustentabilidade planetária é cuidar de quem somos e seremos!

Abraço afetuoso

Ana Lúcia Machado

BLUMENAU – MAIS UMA TRAGÉDIA

Blumenau – esta é mais uma tragédia – menos de 10 dias após uma escola em São Paulo ser alvo de um aluno de 13 anos que matou uma professora a facada. Desde 2011, mais de 10 escolas foram atacadas. O que estas tragédias querem dizer? Não sei. Tenho tantas perguntas!

Estamos vivendo uma crise da família, do modelo ultrapassado de Educação, crise das instituições que se denominam religiosas, etc. Enfim, crise de todas as instituições que deveriam apoiar e sustentar de forma saudável a nossa sociedade; sociedade que se encontra gravemente doente, na UTI.

É o momento de perguntarmos e identificarmos onde estamos falhando com nossas crianças e nossos jovens. Como educadores, pais, sacerdotes, médicos e terapeutas, devemos perguntar qual a nossa parcela de responsabilidade neste tipo de tragédia que tem nos assolado. Que modelo de ser humano estamos espelhando para as novas gerações?

Nelson Rodrigues tem uma citação famosa que afirma que “O caos não se improvisa, ele é obra de séculos”. O cenário atual caótico que está diante de nós não surgiu de repente, não se fez ontem; já vem sendo tecido dia a dia nas tramas de nosso silêncio, de nossa omissão e falta de indignação frente a eventos que muitas vezes julgamos pequenos e que aos poucos revelam proporções que passam a escapar ao nosso controle.

Um exemplo disso são os casos de bullying.  Essa prática abominável cresce a cada dia no seio da sociedade, nas escolas, entre nossas crianças, nossos filhos, e deveria ser tratada com total atenção pelas escolas e famílias. O bullying é uma incubadora do caos social.

UMA CRIANÇA QUE NÃO SEJA ABRAÇADA POR SUA TRIBO, QUANDO ADULTO, QUEIMARÁ A ALDEIA PARA SENTIR CALOR – provérbio africano

Esta tragédia hedionda é consequência do descuido humano e desamor que se generalizou. Assistimos a mais sangrenta guerra travada nas trincheiras de nossa própria estagnação. Há quem afirme que o ser humano é um projeto que não deu certo, será isso mesmo?

Quando despertaremos deste sono de morbidez e nos atentaremos para a realidade da dependência que temos um do outro, para a necessidade de cuidarmos uns dos outros? Leonardo Boff em sua obra “Saber cuidar”, analisa a fábula-mito do Cuidado, que coloca o cuidado na essência do humano, como um fenômeno que é a base possibilitadora da existência humana enquanto humana. Se negligenciarmos essa base, caminharemos para nossa própria extinção.

afeto é o que sustenta a vida humana. Ele é essencial no desenvolvimento integral da criança e garante a formação de um indivíduo com melhores condições de lidar consigo mesmo e com os outros.

O caminho que temos a nossa frente deverá ser percorrido na comunhão, com a consciência que estamos no mesmo barco. Ou salvamos todos, ou nos perderemos como humanidade. Quem ainda tem o mínimo de lucidez tem que arregaçar as mangas e trabalhar em prol da humanidade, a partir de si mesmo em primeiro lugar, por meio do autoconhecimento e da autoeducação. Temos muito trabalho pela frente no sentido de transmitir valores humanos sólidos que garantam a continuidade da história da humanidade.

Hoje eu choro pelas vidas ceifadas destas crianças em Blumenau, por estas mães, estes pais e pelas professoras. Que de alguma maneira possam ser acolhidos, consolados e que possamos agir em prol da saúde da nossa sociedade.

É lamentável, é doloroso, é inaceitável. É urgente atuar em todas as frentes para sanar toda esta vulnerabilidade. Um fato como este nos faz concluir que falhamos enquanto constituição de seres humanos e organismo social.

Às vésperas da Páscoa clamamos por um nascer de novo, pela ressurreição da humanidade, pela fraternidade entre irmãos, pelo lugar ao sol de cada ser vivente, por uma aliança pela infância e pelo direito a uma vida plena.

Para finalizar quero recomendar a leitura do livro “Bullying – mentes perigosas nas escolas” de Ana Beatriz Barbosa Silva. Um dos livros mais importantes na abordagem deste tema.

abraço afetuoso

Ana Lúcia Machado

BRINCADEIRA DE COMIDINHA – UM CLÁSSICO DA INFÂNCIA DE TODOS OS TEMPOS

A brincadeira de comidinha é um clássico da infância que atravessa gerações de diferentes culturas e lugares do mundo. Basta um pedacinho de chão de terra, num parque, praça, no pátio da escola, no quintal de casa ou até mesmo a terra de um vaso de planta da varanda ou da sala.

É preciso também uma pá para escavar e recolher a terra, recipientes e água, para que então, as crianças coloquem a mão na massa no preparo de tortas, bolos e bolinhos. Suas mãozinhas hábeis não só imitam o ato de cozinhar assimilado pelo que veem na família e na escola, como usam a imaginação e criatividade para inventar novos formatos para as criações culinárias.

O bolo pode ser de aniversário, todo decorado, o preferido das crianças, mas também pode ser um bolo comum, apenas para o lanche da tarde, em um faz de conta cheio de encantamento.

Cada criança tem a sua receita. Algumas delas misturam uma medida de terra para meia medida de água. Se a consistência da massa ficar muito mole, elas acrescentam mais terra, ou se ficar muito seca, colocam mais água.

Algumas receitas incluem outros ingredientes, uma vez que na natureza a criança encontra à disposição uma gama de elementos naturais para enriquecer a brincadeira – folhas viram cobertura, sementes e flores viram decoração, gravetos viram vela para soprar na hora de cantar parabéns. E toda essa diversidade de materialidade da terra é estímulo multissensorial – diferentes texturas, cores, aromas, temperaturas e formas.

BRINCADEIRA DE COMIDINHA E SUA RESSONÂNCIA

É desta maneira simples que acontece a brincadeira de comidinha. A profundidade da experiência que essa brincadeira propicia é fantástica, cheia de aprendizado! Com ela as crianças aprendem sobre medidas, quantidades, pesos, proporções, e reações de misturas. A variedade de experiências possíveis é enorme – inclui investigar, testar, repetir, experimentar, classificar, denominar, servir.

Imagem: Centro de Referência em Educação Integral

A brincadeira de comidinha estimula o movimento da criança e gera uma multiplicidade de ações. Por meio dela a criança irá recolher os materiais, encher recipientes de terra e água, irá transportar os recipientes de um lugar ao outro, irá misturar, medir, acrescentar, derramar a água, etc.

Além disso, a brincadeira de comidinha aguça a capacidade analítica da criança ao avaliar quando é necessário acrescentar determinado ingrediente para alcançar seu objetivo. É uma brincadeira que também promove interações sociais intensas nas parcerias, compartilhamentos, conversas e negociações feitas no decorrer da brincadeira.

A pesquisadora da infância, Renata Meirelles, mostra a brincadeira de comidinha em seu livro ‘Cozinhando no quintal’. Com fotos e receitas feitas com flores caídas no chão, grama picada, entre muitos outros ingredientes, a publicação reafirma a potência do brincar na e com a natureza.

Renata e seu marido, o documentarista David Reeks, percorreram o Brasil de norte à sul durante dois anos, coletando registros das nossas crianças em suas brincadeiras de comidinha. O livro é emocionante e inspirador!

Outra publicação que mostra a brincadeira de comidinha, é o livro recém lançado pela Editora Ameli: ‘Livro da Lama: como fazer tortas e bolos’, de John Cage (Autor), Lois Long (Ilustradora).

Neste livro, temos o modo de preparo de diferentes receitas de bolos e tortas feitos de lama. Para os autores, pessoas apaixonadas pela terra, fazer uma torta de lama é nos conectar com a arte em um ato singelo e de criação, que une todas as crianças em suas mais diversas culturas e diferenças – um instante presente e especial particular pertencente a infância de cada um de nós.

A brincadeira de comidinha é uma brincadeira completa, rica e de uma simplicidade ímpar! É uma brincadeira que conecta a criança à natureza, desenvolve um senso estético e cria memórias afetivas de contato com a terra.

Que adulto não tem no baú de recordações da infância a lembrança dessa brincadeira? Da cozinha de casa para o quintal, carregávamos panelas, colheres de pau, pratos de porcelana e toalhinhas de renda para dar vida a comidinha de ‘mentirinha’ – o pulsar da verdade da cultura da infância. E alí no cantinho quintaleiro, instalávamos no chão de terra a nossa cozinha para o preparo de pratos que saciavam a fome da alma.

Hoje, conscientes da importância desse tempo lúdico, precisamos oportunizar essa brincadeira mágica para nossas crianças e acreditar que a natureza é o melhor brinquedo. Precisamos disponibilizar tempo livre, ambiente natural e acesso a utensílios de cozinha que não usamos mais, como peneiras, funis, forminhas, para tornar a brincadeira mais divertida. Precisamos facilitar a relação criança e natureza!

Vamos lá, mão na massa e bom apetite!

Abraços

Ana Lúcia Machado

Dicas para brincar na primavera com as crianças em contato com a natureza

Confira as dicas para brincar na primavera com as crianças em contato com a natureza. É Primavera! Vamos brincar na natureza com as crianças? Vamos festejar a Primavera?

Depois de meses de adormecimento da terra, a luz do sol começa a se intensificar, os dias se tornam mais longos. É a natureza que volta a despertar. É a Primavera que chega no hemisfério sul.

Sabemos que as mudanças das estações do ano produzem efeitos em cada um de nós, interferem no nosso humor, no sono, apetite, ânimo e até mesmo na disposição ao aprendizado. Perceber as sutilezas dessas mudanças e como cada estação repercute dentro de nós, é uma maneira de nos conectarmos com nossa essência – a natureza que está fora se comunica com o que está dentro. Observar e sentir essas mudanças traz a consciência de que somos também natureza.

“Observe profundamente a natureza e você vai entender tudo melhor” – Albert Einstein

O que a Primavera traz de diferente? É tempo de renovação, de reflorescimento. Nos galhos secos, novos brotos começam a despontar e florescer. As paisagens ficam mais coloridas, alegres, e cheias de vida com a floração de diversas espécies. Cada planta, cada flor reafirma a força da natureza em suas manifestações de exuberância, beleza e de luminosidade crescente. Os pássaros cantam, os insetos e animais polinizadores entram em plena atividade.

Nós saímos da cama pela manhã com mais facilidade e mais dispostos. Nos sentimos com mais energia! As crianças agem como se também despertassem do sono do inverno. Elas desejam correr ao ar livre.  Animadas interagem umas com as outras em brincadeiras vigorosas. A nova estação, cheia de cores e aromas, é um convite ao movimento, às cantigas de roda, ao brincar com as flores e folhas!

BRINCAR NA PRIMAVERA – O QUE MUDA NAS BRINCADEIRAS DAS CRIANÇAS?

Um dos aspectos do Brincar Vivo, que apresento nas formações de professores que ministro, é este caráter sazonal. As crianças que brincam em ambientes naturais, ao ar livre, revelam prontamente em suas brincadeiras o pulsar da natureza nas qualidades peculiares de cada estação.

Podemos observar nas expressões, nos gestos e movimentos das crianças, a mudança da estação que se aproxima. Como nos ensina a mestra Maria Amélia Pereira, a Péo, os corpos infantis, conhecedores desta intimidade com a terra, comungam com ela em seus ciclos. E na Primavera brotam brincadeiras como expressão de um movimento de expansão do corpo, uma espécie de florescência de cada criança e do grupo, como afirma Péo.

 

BRINCAR NA PRIMAVERA

Selecionei aqui algumas atividades lúdicas para viver momentos de alegria e encantamento com as crianças. Experimente brincar na primavera em contato com a natureza!

Vamos começar recolhendo com as crianças flores e folhas de diferentes formatos e cores, no jardim, praça ou parque. O que podemos fazer com essa coleta?

MANDALA

Acervo Educando Tudo Muda

Encontre um local plano adequado para dispor os materiais coletados.  Escolha um dos elementos coletados como ponto central, e a partir dele distribua os demais materiais ao redor do ponto inicial de forma circular, harmônica, combinada e equidistantes do centro.

 

GUIRLANDA DE PORTA

Vamos enfeitar a casa com flores?

Comece pela base: um círculo de cipó que você mesmo poderá trançar se encontrar na natureza. Esse círculo é o que dará a estrutura para a guirlanda.  Essa base também poderá ser adquirida em lojas especializadas em fibras naturais: rattan, vime, etc. Este círculo deverá ser recoberto com as folhas e flores coletadas.

 

PULSEIRA OU BRACELETE

Vamos nos adornar de natureza?

Meça o pulso da criança ou o braço na altura que deseja usar o acessório. Corte uma tira de papelão ou papel cartão usando a medida do comprimento aferida com aproximadamente 3 cm de largura. Forme um círculo e passe fita dupla face em toda a circunferência. Fixe as flores e folhas sobre a fita adesiva.

 

BOLOS DE LAMA

Terra e água –  as crianças amam esta combinação. Depois de misturar bem e estruturar a massa com algumas leves batidinhas com a palma das mãos, basta enfeitar com alguns ingredientes recolhidos no quintal: flores, folhas e sementes.

E se tiver alguma dúvida sobre o modo de preparar este tipo de bolo ou torta, fica a dica da publicação Livro da Lama, de John Cage e Lois Long. Nele você encontrará o passo a passo para o bolo perfeito com as crianças.

Outro livro inspirador é o de Renata Meirelles, Cozinhando no Quintal, em que a autora e pesquisadora da infância, apresenta fotos incríveis de receitas feitas pelas crianças com flores caídas no chão, o livro mostra como as crianças utilizam os elementos ao seu redor na hora de brincar de comidinha.

 

COROA DE CABEÇA

Acervo Semente Jardim Waldorf SC

A mesma base também será necessária para a coroa de cabeça, mas neste caso o material poderá ser mais leve, como a corda de sisal, o cipó trançado, ou até mesmo arame, (neste caso muito cuidado para não deixar as pontas expostas). Meça a circunferência da cabeça da criança para cortar a corda no tamanho certo. Por segurança, corte com uma margem extra. Com a base pronta, é hora de colocar as flores e folhagens que serão presas à estrutura da coroa. 

Na escola Waldorf existe a tradicional Festa da Primavera, quando toda a comunidade escolar se reúne para comemorar a chegada da estação com canções e histórias primaveris, enfeitando as crianças com coroas de flores.


Criar rituais de celebração à cada nova estação é muito importante para o desenvolvimento infantil, é uma maneira de internalizar os ciclos da natureza, seus ritmos, repetições, e sua ordem. Isto traz para a vida das crianças confiança, segurança e serenidade.

Além disso, vivenciar as estações do ano é fundamental para a criação de vínculo com a terra. Não podemos nos esquecer que nós adultos somos os responsáveis por investir na formação de um reservatório de experiências vivas e reais para a vida das crianças, por apresentar a elas um mundo bom, belo e verdadeiro e assim garantir a formação de uma nova geração de guardiões da natureza.

Quer outras dicas de brincadeiras com elementos naturais? Confira AQUI!

Vamos então Brincar na Primavera em contato com a natureza?

Viva a chegada da  Primavera!

Abraços multicoloridos

Ana Lúcia Machado

O MAIOR BRINQUEDO DO MUNDO

maior brinquedo

Você conhece o maior brinquedo do mundo? Sabia que o graveto é considerado o maior brinquedo do mundo segundo uma pesquisa de 2013 da Universidade do Colorado? Quem nunca se deparou com uma criança brincando com gravetos num parque? Quem nunca voltou de um passeio ao ar livre com uma criança carregada de gravetos? Quem nunca brincou com gravetos na infância? Já parou para pensar em quantos brinquedos diferentes um simples graveto pode se transformar nas mãos das crianças?

Desde que publiquei o livro ‘A Turma da Floresta uma brincadeira puxa outra’, venho observando a relação das crianças com os gravetos em suas brincadeiras e pesquisando o potencial lúdico e artístico desse elemento natural. Na história da Turma da Floresta, os gravetos se transformam em espada, varinha mágica, cavalos, vara de pescar, e muitos outros brinquedos e brincadeiras nas aventuras da criançada no parque.

Quando falamos sobre as brincadeiras infantis, estamos falando da potência do agir da criança, falamos de uma criança ativa, criativa e protagonista. Brincar é algo dinâmico e para as crianças tudo pode ser brinquedo.

Quando falamos sobre brincar com gravetos, ampliamos as possibilidades do universo lúdico infantil. Aos olhos da criança o graveto não é um galho de árvore apenas. Como a criança vê o graveto?

Para as crianças os elementos da natureza são versáteis e podem ser transformados durante as brincadeiras, por meio do faz de conta, e da construção de brinquedos. É assim que elas conhecem a si mesmas, interagem com seus pares e apreendem o mundo. É desta forma que desenvolvem o pensar criativo também, fazendo dos materiais não estruturados laboratório de experimentos e pesquisas lúdicas.

O graveto é um material aberto, isto significa que ele pode assumir os mais variados usos e funções nas brincadeiras infantis. Aos olhos das crianças os gravetos são brinquedos! Eles estão sempre disponíveis para virarem outra coisa nas mãos delas.

Os gravetos são diferentes um do outro. De acordo com sua forma, espessura, comprimento, etc, as crianças vão atribuindo significados particulares a cada graveto encontrado. De bengala vira rapidamente um ponto de exclamação tornando se o maior brinquedo do mundo! É a natureza pedindo para entrar na brincadeira também!

O que faz do graveto um material tão atrativo aos olhos das crianças e tão mágico em suas mãos? Em contato com este material, a imaginação é alimentada, acionando a criatividade e desencadeando a produção de brinquedos e brincadeiras pelas crianças.

Além do potencial lúdico, o graveto aguça a sensibilidade para as possibilidades artísticas da natureza. Muitos artistas utilizam troncos de árvores e gravetos como matéria prima de suas obras, tais como o escultor sergipano Cícero Alves da Silva, conhecido como Véio, ou ainda a artista plástica Leani Ruschel, que aproveita a derrubada de árvores, a poda de plantas e faz deles a base de sua arte.

POR QUE O GRAVETO É O MAIOR BRINQUEDO DO MUNDO?

Em primeiro lugar pela facilidade de acesso a esse elemento da natureza e sua gratuidade, e ainda porque o graveto:

– permite que a criança seja ativa e não uma expectadora diante dele

– provoca a imaginação criadora da criança

– abre possibilidades de atuação da criança, com a criação de brinquedos e brincadeiras

Ele se transforma no que a criança quiser!

COMO BRINCAR COM O MAIOR BRINQUEDO DO MUNDO?

-Encontre um lugar para explorar: um parque, uma praça, um jardim

-Procure por gravetos

-Use-os para fazer círculos, espirais, criar padrões como de uma mandala, empilhar, etc

Você pode fazer uma coleção de gravetos e experimentar criar muitas brincadeiras e brinquedos. Confira algumas possibilidades:

JOGO DA VELHA

Um jogo popular muito antigo, datado do século XIV antes de Cristo, no Egito, que tem como objetivo posicionar as peças de modo que formem uma linha reta. É um jogo simples e rápido.

Formam-se duplas para a brincadeira. Os gravetos são dispostos em uma superfície plana de modo que formem três linhas e três colunas. Cada criança escolhe um único símbolo (pedrinhas ou folhinhas). Os espaços em branco dessas linhas e colunas serão preenchidos com o símbolo escolhido. O objetivo é preencher as linhas diagonais ou as horizontais ou as verticais com um mesmo símbolo e impedir que a criança parceira faça isso primeiro.

Materiais necessários: 4 pedaços de gravetos, 5 pedrinhas, 5 folhinhas

JOGO DE EMPILHAR

Um jogo divertido em que cada participante coloca um graveto sobre o outro para formar uma torre.

O jogo começa com uma dupla de gravetos sobre uma superfície plana dispostos um ao lado do outro numa distância de uns 5 cm. Cada criança deverá acrescentar um graveto com o objetivo de levantar uma torre. O desafio é colocar com cuidado cada graveto para que a torre não desmorone.

Materiais necessários: vários gravetos mais ou menos do mesmo comprimento e espessura.

PINTURA DE GRAVETOS

Criação de duendes guardiões da natureza para espalhar no ambiente externo da casa – na grama do jardim ou num pedacinho de terra do quintal, e também em vasos de plantas da área interna da casa

Materiais necessários: vários gravetos, tinta e pincel.


Então, vamos transformar gravetos em possibilidades brincantes? O graveto pode transcender o objeto e virar verbo, ação – vamos gravetar com as crianças? É só deixar a imaginação voar e desfrutar do maior brinquedo do mundo!

Aproveito para fazer um convite: dia 25/08 às 19h30 acontecerá o ESTUDO INFINITUDES DO GRAVETO – UM BRINQUEDO POR NATUREZA

Participe, faça sua inscrição até o dia 19/08 e aplique cupom promocional estudoetm

Eu espero você!

Abraços brincantes

Ana Lúcia Machado

BRINCAR COM A NATUREZA – IMPRESSÃO BOTÂNICA

Vamos brincar com a natureza? Você sabia que é possível imprimir a natureza no papel? Para isso basta recolher folhas de árvores de diferentes formatos, tamanhos, texturas, espessuras, e usá-las como carimbo. As folhas não podem ser muito fininhas, precisam ser mais encorpadas para resistir ao processo de manipulação, pintura e pressão sobre o papel.

Material necessário:

-Folhas de árvores

-Papel

-Tinta Guache

-Pincel

BRINCAR COM A NATUREZA – IMPRESSÃO BOTÂNICA

Vamos lá?

1.Comece com um passeio por um parque ou praça próximo de sua casa ou da escola para recolher folhas espalhadas pelo chão.

2.Passe a mão sobre as folhas, sinta sua textura, perceba suas saliências, e escolha uma folha com bastante nervuras.

3.Pinte, com uma camada fina de tinta guache, toda a superfície do lado de maior saliência da folha. Não use muita tinta.

4.Em seguida coloque sobre o papel o lado da folha com a tinta e pressione com cuidado a folha sobre o papel em toda a sua extensão

5.Depois retire a folha e se encante com o resultado. Se ainda houver tinta sobre a folha, você pode carimbar mais uma vez sobre o papel

Você pode carimbar sobre o papelão, sobre as capas de caderno para decorá-los. Pode fazer lindos marcadores de páginas, cartões de aniversário, etc. As invenções não tem limites.

Outro jeito de transferir a imagem da folha da árvore no papel, é utilizando a ‘Frotagem’ – uma técnica artística que consiste em esfregar o lápis ou giz de cera no papel colocado sobre a folha de árvore, obtendo a impressão da forma e da textura da folha, como um decalque.

Brincar na natureza, com os elementos naturais, estimula a criatividade infantil e permite que a criança dê asas à imaginação inventando muitos brinquedos e brincadeiras. Brincando com os elementos naturais as crianças tornam se mais criativas, autônomas e concentradas.

Oportunizar brincadeiras ao ar livre também é uma maneira de incentivar a relação da criança com a natureza e seu vínculo com a terra.

Gostou da ideia do carimbo com folhas? Vamos brincar na e com a natureza com as crianças?

Curta outras sugestões de brincadeiras com elementos naturais seguindo meu Instagram @educandotudomuda e não se esqueça de me marcar ao postar suas criações, vou curtir muito ver.

Conheça também o ‘Livro do Educador brincando com a natureza’ e ótimas brincadeiras!

Abraço e saúde

Ana Lúcia Machado