Palavras também podem ser brinquedo na boca das crianças. Que tal experimentar brincar com palavras?
Então vamos lá. Chamem as crianças e peçam para elas repetirem esta frase:
Três doidos tentam deitar dentro de três tendas
Acharam fácil? E esta?
Tatu bola matuto batuca um batuque em Botucatu
Esses são os trava-línguas, jogo verbal que consiste em dizer de forma rápida e clara, versos ou frases que contenham semelhança sonora das suas sílabas. Trata-se de rimas infantis da cultura popular, transmitida de geração em geração.
O fato de terem de ser ditas com rapidez, faz com que o jogo se torne uma brincadeira desafiante e divertida, inclusive para os adultos. Crianças na faixa entre 6 e 8 anos gostam bastante dessa brincadeira. Além de diversão, é um excelente recurso para o desenvolvimento linguístico.
Na escola podem se tornar um projeto interdisciplinar muito interessante envolvendo a família, com a participação inclusive dos avós para enriquecer o repertório. Ainda, pode-se estimular a turma a criar seus próprios trava-línguas.
Até mesmo em casa, os pais também podem elaborar com as crianças um caderno de trava-línguas e juntos se divertirem muito.
Este foi o que criamos em casa quando as crianças eram pequenas. Meus filhos adoravam brincar com palavras. Demos boas risadas brincando assim! Aliás, este foi um jogo que me ajudou bastante em momentos que precisava entreter as crianças, como em salas de espera de consultórios médicos, no carro em viagens longas, etc.
Mas foi muito além. Pude perceber o quanto foi benéfico para o processo de letramento deles, pois os trava-línguas estimulam a atenção e concentração, melhoram a dicção, desenvolvem naturalmente a questão do ritmo, o que ajuda na absorção da divisão silábica e leitura oral.
Quer uma sugestão de um livro de trava-línguas para começar a brincar com palavras? Deixo aqui a dica do livro da jornalista Ciça, autora de outras publicações do gênero linguagem lúdica, e com ilustrações do jornalista e cartunista mineiro Zélio Alves Pinto – ‘O livro do trava-língua’.
Viu quantos benefícios? O que está esperando para começar a brincar com palavras?
Esta é uma maneira natural, saudável e lúdica de ajudar as crianças no processo de aprendizado da escrita e leitura. Temos discutido muito aqui no Educando Tudo Muda as questões sobre a pressão escolar, a importância de respeitar o tempo de amadurecimento cognitivo de cada criança e o espaço do brincar – base da infância.
Profissionais de várias áreas que trouxemos para debater este tema foram unânimes quanto à necessidade de compreender a criança como um ser integral, considerando no aprendizado formal os aspectos físicos, emocionais, cognitivos e sociais da criança.
É assim que pensa também o odontólogo Dr. Saulo Teles¹, nosso convidado para contar um pouco a respeito de sua experiência e observações no consultório no atendimento às crianças.
UM OLHAR INTEGRAL
“Procuro sempre olhar meu paciente como um todo, como propõe o paradigma holístico. Observamos a repercussão do social/emocional naquele paciente.
Em tese, a criança estaria preparada para alfabetização por volta dos 7 anos quando ocorre a mielinização de certos nervos o que vem proporcionar a plasticidade corporal, os ritmos, a pinça, a oposição do polegar, segurança para se afastar da mãe, etc
Avaliamos a postura bucal, as maloclusões, ocorrência de dentes fora da posição adequada, mordida cruzada, sobre mordidas, retrusão maxilar e/ou mandibular, posição da língua, se faz o vedamento labial eficiente, se mastiga bilateralmente, etc.
Observamos também a postura da cabeça, dos olhos, dos ombros, da coxofemural, joelhos, tornozelos, da forma como pisa, da marcha, do seu eixo postural, o desempenho escolar, como interage socialmente, relação com pai e mãe, histórico de saúde, entre outros.
O QUE SINALIZA O AMADURECIMENTO DA CRIANÇA PARA O PROCESSO DE LETRAMENTO?
Geralmente a criança dá sinais de prontidão. A presença dos incisivos laterais é um sinal forte da sua demanda social/escolar. A pinça, a oposição do polegar, marcha mais refinada. A própria criança pede para ir à escola.
A infância, como uma estação do ano, se dá entre 0 a 7 anos. Esse é o tempo destinado para estar em família brincando, correndo, gritando, aprendendo a interagir, vivendo os afetos, se semialfabetizando através do contar estórias, etc. Tudo que se opõe a esses aspectos antecipa, acelera, gera fortes tensões nas cadeias musculares, podendo provocar enfermidades variadas.
Leia também: Por que não alfabetizei meu filho antes dos 7 anos e as 6 consequências da alfabetização precoce
Se educa a personalidade, se educa o ego, de forma que na ausência daquele, não há nada a educar. Afastar a cria da mãe antes do momento adequado pode ser desastroso. Amamentação interrompida, filhos terceirizados nas escolas. Geralmente apresentam sintomas tais como falta de vedamento labial, dentes tortos, mandíbula retraída, problemas cognitivos, hiperatividade, distúrbios de personalidade, autismo, postura corporal inadequada, etc.
É um assunto extenso que geralmente é tratado dentro de uma ótica sistêmica, com um sentido filogenético que vem a sustentar a ontogenia de cada ser. A biologia com seu código genético, pede expressão funcional no meio, de forma que se houver oposição a esta expressão poderá ocorrer sintomas. É importante lembrar que cada espécie tem suas formas e funções”.
Agradecemos a participação do Dr. Saulo Teles que deixa claro a importância de olhar a criança em todos os seus aspectos para que ela possa se desenvolver de maneira harmoniosa, equilibrada, com saúde, pois na organização do ser humano tudo está interligado e funciona em cadeia. Desta forma, nada pode ser visto isoladamente quando se fala em desenvolvimento integral do ser humano.
Vale também salientar que hoje muitos profissionais da área de saúde defendem a necessidade de um período maior de licença maternidade e paternidade para o cuidado da criança nos primeiros anos e o estreitamento dos vínculos afetivos, vitais para o desenvolvimento infantil.
Recomendo a leitura do livro “A criança terceirizada”, do Dr. José Martins Filho e também o TED do Dr. Daniel Becker. Ambos bem esclarecedores sobre o valor das relações familiares nos dias de hoje.
Voltando à questão do brincar com palavras, espero que tenha despertado o interesse por essa brincadeira tão gostosa. Para finalizar, fica mais um desafiante trava-línguas:
Quando eu digo Diogo, eu não digo Digo. Quando eu digo Digo, eu não digo Diogo
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Abraço caloroso
Ana Lúcia Machado
¹- Graduado em Odontologia em 1980
– Atualização em Ortopedia Funcional dos Maxilares
– Atualização em Bio Cibernetica Bucal
– Pós em Saude Coletiva
– Pós em Ortodontia
– Pós graduando em DTM
– Processo Fisher Hoffman da Quadrinidade
– Eneagrama da Personalidade
– Fundacion Rio Abierto Movimento e expressão
– Terapia Craniossacral