Mês da Primeira Infância – Agosto Verde

Etapa essencial para o desenvolvimento infantil, a primeira infância recebe destaque neste mês com a chegada do Agosto Verde, o Mês da Primeira Infância.

Este é o segundo ano de celebração do Mês da Primeira Infância – Agosto Verde, data que foi oficializada pela lei 14.617, de julho de 2023.

A data visa dar ênfase em ações e políticas que promovam vínculos afetivos, nutrição saudável, importância da imunização, do direito de brincar e de prevenção de acidentes e doenças. Um mês focado na conscientização da sociedade sobre a importância da atenção integral às gestantes, às crianças e suas famílias em todo o território nacional.

A primeira infância, que vai do 0 aos 6 anos de idade, é uma etapa fundamental para o desenvolvimento humano, período em que a criança está muito sensível aos cuidados e estímulos ambientais.

O Brasil tem cerca de 20,6 milhões de crianças nessa faixa etária  segundo dados de 2021 do DataSUS. Os anos iniciais da vida de uma criança são considerados uma janela de oportunidade para o desenvolvimento integral. As experiências e as interações que acontecem nessa fase geram impactos para toda a vida.

Compreender e respeitar as etapas de desenvolvimento infantil e valorizar toda a cultura da infância é fundamental para a formação de indivíduos saudáveis e aptos a atuar na sociedade.

LEIA TAMBÉM: Respeito à Cultura da Infância

Diversas evidências demonstram que investir nos primeiros anos de vida é uma maneira efetiva de combater as desigualdades e romper o ciclo de pobreza que atravessa gerações. Pesquisas revelam que o começo da vida, tem um forte impacto na vida de um indivíduo e que o desenvolvimento saudável de uma criança, levando em conta boa alimentação, cuidados com a saúde física e emocional, competências sociais e capacidades cognitivas, forma a base da prosperidade econômica e justiça social de uma nação.

Um estudo da Nova Zelândia publicado no final de 2016 que avaliou 1037 neozelandeses dos 3 aos 38 anos de idade,  concluiu que os 20% de adultos que tiveram uma infância difícil, com restrições econômicas, descuido e negligência, foram responsáveis por 57% das internações hospitalares, 66% dos pedidos de benefícios sociais e 81% das condenações criminais.

O economista James Heckman, professor emérito na Universidade de Chicago e ganhador do Nobel de Economia no ano 2000, diz que crianças submetidas desde cedo a bons estímulos, aumentam suas chances de ter mais sucesso na vida adulta e que investir na Primeira Infância é o caminho para o país crescer.

O Dr. Heckman afirma que “cada dólar gasto com uma criança pequena trará um retorno anual de mais 14 centavos durante toda a sua vida. É um dos melhores investimentos que se podem fazer — melhor, mais eficiente e seguro do que apostar no mercado de ações americano”.

Confira as principais ideias defendidas pelo Dr. Heckman  numa entrevista concedida à revista Veja:

Por que os estímulos nos primeiros anos de vida são tão decisivos para o sucesso na idade adulta? É uma fase em que o cérebro se desenvolve em velocidade frenética e tem um enorme poder de absorção, como uma esponja maleável. As primeiras impressões e experiências na vida preparam o terreno sobre o qual o conhecimento e as emoções vão se desenvolver mais tarde. Se essa base for frágil, as chances de sucesso cairão; se ela for sólida, vão disparar na mesma proporção. Por isso, defendo estímulos desde muito cedo.

Quão cedo? Pode parecer exagero, mas a ciência já reuniu evidências para sustentar que essa conta começa no negativo, ou seja, com o bebê ainda na barriga. A probabilidade de ele vir a ter uma vida saudável se multiplica quando a mãe é disciplinada no período pré-natal. Até os 5, 6 anos, a criança aprende em ritmo espantoso, e isso será valioso para toda a vida. Infelizmente, é uma fase que costuma ser negligenciada — famílias pobres não recebem orientação básica sobre como enfrentar o desafio de criar um bebê, faltam boas creches e pré-escolas e, sobretudo, o empurrão certo na hora certa.

Qual é o preço dessa negligência? Altíssimo. Países que não investem na primeira infância apresentam índices de criminalidade mais elevados, maiores taxas de gravidez na adolescência e de evasão no ensino médio e níveis menores de produtividade no mercado de trabalho, o que é fatal. Como economista, faço contas o tempo inteiro. Uma delas é especialmente impressionante: cada dólar gasto com uma criança pequena trará um retorno anual de mais 14 centavos durante toda a sua vida. É um dos melhores investimentos que se podem fazer — melhor, mais eficiente e seguro do que apostar no mercado de ações americano.

Se isso é tão claro, por que a primeira infância não está na ordem do dia de quem tem a caneta na mão para decidir? Há ainda uma substancial ignorância sobre o tema. Algumas décadas atrás, a própria ciência patinava no assunto. A ideia que predominava, e até hoje pesa, é que a família deve se encarregar sozinha dos primeiros anos de vida dos filhos. A ênfase das políticas públicas é na fase que vem depois, no ensino fundamental. E assim se perde a chance de preparar a criança para essa nova etapa, justamente quando seu cérebro é mais moldável à novidade.

A classe política também evita olhar para a primeira infância por achar que esse é um investimento menos visível a curto prazo? Os políticos podem, sim, considerar isso, mas estão redondamente enganados. Crianças pequenas respondem rápido aos estímulos de qualidade. Para quem tem o poder de decidir, deixo aqui a provocação: não investir com inteligência nesses primeiros anos de vida é uma decisão bem pouco inteligente do ponto de vista do orçamento público. Basta usar a matemática.

O que mostra a matemática? Vamos pegar o exemplo da segurança pública. Há ao menos dois caminhos para mantê-la em bom patamar. Um deles é contratar policiais, que devem zelar pelo cumprimento da lei. O outro é investir bem cedo nas crianças, para que adquiram habilidades, como um bom poder de julgamento e autocontrole, que as ajudarão a integrar-se à sociedade longe da violência. Pois a opção pela primeira infância custa até um décimo do preço. Recaímos na velha questão: prevenir ou remediar? Como se vê, é muito melhor prevenir.

Que tipo de política pública de primeira infância tem surtido mais efeito? O grande impacto positivo vem de programas que conseguem envolver famílias pobres, creches e pré-­escolas, centros de saúde e outros órgãos que, integrados, canalizam incentivos à criança — não só materiais, evidentemente. O programa americano Perry, da década de 60, é um exemplo clássico de que o investimento em uma boa pré-escola produz ótimos resultados.

Por que esse modelo é bom? Ele envolve ativamente os alunos em projetos de sala de aula, lapidando habilidades sociais e cognitivas, sob a liderança de professores altamente qualificados. A família mantém um estreito elo com a escola. Temos de ter sempre certeza de que a família está a bordo, qualquer que seja a iniciativa.

Não é irrealista esperar tanto de famílias que vivem na pobreza, como no Brasil? Um bom programa de primeira infância consegue ajudar a família inteira, fazendo chegar até ela informações, boas práticas e valores essenciais, como a importância do estudo para a superação da pobreza.


Mês da Primeira Infância – Agosto Verde

Quer ser ativa (o) e contribuir para despertar a consciência sobre a importância do começo da vida? Leia e compartilhe estes 4 artigos, que representam uma síntese sobre esta etapa da vida:

  1. Afeto e Infância na Era da Complexidade
  2. Infância Pede Calma
  3. Respeito à Cultura da Infância
  4. Você conhece a força da sua Infância

A celebração do Mês da Primeira Infância é muito importante, nos convida a espalhar essa mensagem debatendo o tema com a sociedade e mobilizando a classe política. Se você é um profissional da área da educação ou saúde, se você tem filhos pequenos, ou se tem vínculos de afeto com alguma criança, saiba que você pode fazer a diferença na vida das crianças. Reflita, discuta por meio de conversas, trocas de opiniões, acerca da importância da infância com amigos e familiares. Cobre do poder público ações efetivas em prol da saúde da infância.

Não se esqueça que a infância é para a vida toda e que se mudarmos o começo da história de um indivíduo, mudaremos a história toda!

Abraço afetuoso

Ana Lúcia Machado

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