O Dia das Crianças originalmente foi instituído com o intuito de discutir os problemas da infância. Criado em 1924, logo após o Congresso Sul-Americano da Criança, um grande evento no Rio de Janeiro que reuniu estudiosos da infância e políticos de vários países para debater temas relacionados à educação, alimentação e desenvolvimento infantil.
Este dia permaneceu inexpressivo, até que, a partir da década de 50 uma campanha de marketing criada por duas grandes empresas fabricantes de produtos infantis, chamou a atenção para essa data dando força à comemoração desse dia com o objetivo de alavancar suas vendas.
Desde então, com a aproximação do Dia das Crianças, este é o período em que cresce, nos meios de comunicação, a publicidade dirigida ao púbico infantil pelas empresas fabricantes de brinquedos e de outros produtos infantis. As crianças são alvo de estratégias mercadológicas e fortes campanhas publicitárias persuasivas, exigindo cada vez mais dos responsáveis diretos da criança, cuidados em relação à exposição excessiva às telas.
Elas são bombardeadas pelos apelos mercadológicos em canais por assinatura, TV aberta, vídeos no Youtube, etc. Como ainda não possuem o senso crítico estruturado, são presas fáceis desses apelos e do consumismo. Saem pedindo insistentemente aos pais os produtos anunciados.
Dados fornecidos pelo Programa Criança e Consumo do Instituto Alana, apontaram um aumento de 331% no quesito publicidade infantil durante o mês de outubro do ano passado, entre os canais infantis Cartoon Network, Discovery Kids e Gloob.
O mercado brasileiro de brinquedos chega a movimentar cerca de R$ 10,5 bilhões anuais, despejando regularmente novidades nas prateleiras das grandes redes varejistas, atraindo as crianças e despertando o desejo por novos brinquedos.
Sabemos que 90% desses brinquedos são feitos de plásticos e que impactam diretamente a saúde da criança e do planeta, pois as substâncias de determinados tipos de plásticos são tóxicas para as crianças. Além disso, é sabido que a decomposição de certos materiais pode demorar até 500 anos. Isto se torna um problema ambiental muito grave, uma vez que o oceano é o destino quando estes materiais são descartados.
Outro aspecto importante que precisamos levar em conta é que quando a criança brinca apenas com brinquedos industrializados, inibimos sua imaginação e sua capacidade de transformar em brinquedos, elementos do cotidiano que estão à sua volta.
O brinquedo pronto que damos de presente a elas, quebra o ciclo natural do brincar – formado pelas etapas do desejar, planejar, executar e desfrutar -, indo direto para a fase final do processo. Isto coloca a criança numa perspectiva de passividade, empobrece a brincadeira, não estimula a imaginação, a criação livre, e o trabalho de construção dos brinquedos por elas mesmas.
A ruptura desse ciclo leva a criança a perder rapidamente o interesse pelo brinquedo que lhe é dado. É possível observar uma redução nas interações com esses objetos, menor envolvimento e pouca concentração, pois a criança não se sente ativa no processo de criação dos brinquedos e brincadeiras.
MENOS BRINQUEDOS MAIS IMAGINAÇÃO
É o que constatou um estudo de 2017 da Universidade de Toledo (Ohio – EUA) intitulado “A influência do número de brinquedos no ambiente infantil”. Pesquisadores concluíram que ao disponibilizar menos brinquedos a uma criança, sua imaginação torna-se mais ativa e consequentemente a brincadeira fica mais criativa.
O estudo revelou que quando as crianças têm menos brinquedos no ambiente, brincam por períodos mais longos, e exploram diferentes maneiras de usá-los nas brincadeiras. Menos brinquedos eleva a qualidade do brincar das crianças e pode ajudar a criança a se concentrar melhor na brincadeira com mais criatividade.
REPENSANDO O SIGNIFICADO DO DIA DAS CRIANÇAS
Como sair do lugar comum e dar um novo sentido a esta data? De que forma podemos comemorar o Dia das Crianças sem ceder aos apelos mercadológicos?
Que tal olhar seu entorno e perceber a quantidade de materiais do cotidiano que podem virar brinquedos nas mãos das crianças – caixas de papelão, rolhas, caixinhas de fósforos, lenços, etc.
Que tal observar a natureza num passeio ao parque neste Dia das Crianças e descobrir o lúdico ao alcance das mãos – gravetos, sementes, folhas, pedrinhas, etc, que magicamente podem se transformar em alegres brincadeiras?
Já pensou como seria divertido organizar uma caça aos tesouros da natureza e depois propor às crianças a criação de um brinquedo ou brincadeira com esses achados?
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Vamos conectar a criança ao mundo vivo e olhar para a vocação lúdica da natureza. Vamos refletir sobre o que é um bom brinquedo, uma brincadeira potente, sobre a importância do brincar livre, o brincar em família, e possibilidades de viver o Dia das Crianças de um jeito diferente valorizando o que realmente importa para a saúde física e emocional das crianças.
Infância rica em vivências sensoriais e lúdicas não precisa de brinquedos industrializados e sim de experiências por meio do brincar livre em contato com o mundo natural.
Feliz Dia das Crianças!
Abraços
Ana Lúcia Machado
Dalila coutinho Moreira de Souza
Super importante,a valoriZaçào do brincar sem o apelo da indústria que mata a criatividade desses pequenos.O lúdico e mágico está ao alcance de todos criança,desde que seus cuidadores e ou responsáveis tenham esse olhar atento para o desenvolvimento do cognitivo, emocional e consequentemente crescimento por inteiro de indivíduos críticos conscientes do seu papel na qualidade de vida dessa e das futuras gerações.Cumpri meu papel como mãe,professora e hj avó, resgatando brincadeiras do meu tempo de infância .Acho que o caminho está a frente de quem quer enxergar , é só ousar e a mudança certamente vira ‘
Ana Lucia
Querida Dalila, muito bom seu comentário! Parabéns, pelo exemplo de mãe, professora e avó, fora da caixinha. Somos a mudança que queremos ver no mundo. Seguimos fazendo diferente até virar a ordem do sistema! abraço afetuoso