BLUMENAU – MAIS UMA TRAGÉDIA

Blumenau – esta é mais uma tragédia – menos de 10 dias após uma escola em São Paulo ser alvo de um aluno de 13 anos que matou uma professora a facada. Desde 2011, mais de 10 escolas foram atacadas. O que estas tragédias querem dizer? Não sei. Tenho tantas perguntas!

Estamos vivendo uma crise da família, do modelo ultrapassado de Educação, crise das instituições que se denominam religiosas, etc. Enfim, crise de todas as instituições que deveriam apoiar e sustentar de forma saudável a nossa sociedade; sociedade que se encontra gravemente doente, na UTI.

É o momento de perguntarmos e identificarmos onde estamos falhando com nossas crianças e nossos jovens. Como educadores, pais, sacerdotes, médicos e terapeutas, devemos perguntar qual a nossa parcela de responsabilidade neste tipo de tragédia que tem nos assolado. Que modelo de ser humano estamos espelhando para as novas gerações?

Nelson Rodrigues tem uma citação famosa que afirma que “O caos não se improvisa, ele é obra de séculos”. O cenário atual caótico que está diante de nós não surgiu de repente, não se fez ontem; já vem sendo tecido dia a dia nas tramas de nosso silêncio, de nossa omissão e falta de indignação frente a eventos que muitas vezes julgamos pequenos e que aos poucos revelam proporções que passam a escapar ao nosso controle.

Um exemplo disso são os casos de bullying.  Essa prática abominável cresce a cada dia no seio da sociedade, nas escolas, entre nossas crianças, nossos filhos, e deveria ser tratada com total atenção pelas escolas e famílias. O bullying é uma incubadora do caos social.

UMA CRIANÇA QUE NÃO SEJA ABRAÇADA POR SUA TRIBO, QUANDO ADULTO, QUEIMARÁ A ALDEIA PARA SENTIR CALOR – provérbio africano

Esta tragédia hedionda é consequência do descuido humano e desamor que se generalizou. Assistimos a mais sangrenta guerra travada nas trincheiras de nossa própria estagnação. Há quem afirme que o ser humano é um projeto que não deu certo, será isso mesmo?

Quando despertaremos deste sono de morbidez e nos atentaremos para a realidade da dependência que temos um do outro, para a necessidade de cuidarmos uns dos outros? Leonardo Boff em sua obra “Saber cuidar”, analisa a fábula-mito do Cuidado, que coloca o cuidado na essência do humano, como um fenômeno que é a base possibilitadora da existência humana enquanto humana. Se negligenciarmos essa base, caminharemos para nossa própria extinção.

afeto é o que sustenta a vida humana. Ele é essencial no desenvolvimento integral da criança e garante a formação de um indivíduo com melhores condições de lidar consigo mesmo e com os outros.

O caminho que temos a nossa frente deverá ser percorrido na comunhão, com a consciência que estamos no mesmo barco. Ou salvamos todos, ou nos perderemos como humanidade. Quem ainda tem o mínimo de lucidez tem que arregaçar as mangas e trabalhar em prol da humanidade, a partir de si mesmo em primeiro lugar, por meio do autoconhecimento e da autoeducação. Temos muito trabalho pela frente no sentido de transmitir valores humanos sólidos que garantam a continuidade da história da humanidade.

Hoje eu choro pelas vidas ceifadas destas crianças em Blumenau, por estas mães, estes pais e pelas professoras. Que de alguma maneira possam ser acolhidos, consolados e que possamos agir em prol da saúde da nossa sociedade.

É lamentável, é doloroso, é inaceitável. É urgente atuar em todas as frentes para sanar toda esta vulnerabilidade. Um fato como este nos faz concluir que falhamos enquanto constituição de seres humanos e organismo social.

Às vésperas da Páscoa clamamos por um nascer de novo, pela ressurreição da humanidade, pela fraternidade entre irmãos, pelo lugar ao sol de cada ser vivente, por uma aliança pela infância e pelo direito a uma vida plena.

Para finalizar quero recomendar a leitura do livro “Bullying – mentes perigosas nas escolas” de Ana Beatriz Barbosa Silva. Um dos livros mais importantes na abordagem deste tema.

abraço afetuoso

Ana Lúcia Machado

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