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Halloween Sustentável -Ideias de Brincadeiras Ecológicas e Criativas

Halloween Sustentável: Dicas de brincadeiras ecológicas para um Dia das Bruxas criativo e consciente usando elementos naturais gerando muita conexão com a natureza.

O Halloween, celebrado em 31 de outubro, é uma tradição com fortes raízes nos Estados Unidos, Canadá e Irlanda, que se popularizou globalmente.  Aqui no Brasil a data foi disseminada pelas escolas de língua estrangeira há mais de duas décadas e tornou-se tão popular quanto o Carnaval movimentando um mercado de artigos decorativos, fantasias, e festas temáticas.

Embora o Halloween seja associado a símbolos sombrios, como bruxas, morcegos, vampiros, aranhas, fantasmas, gatos pretos,  ele também pode ser uma oportunidade para criar atividades divertidas que incentivem o contato com a natureza e promovam a sustentabilidade.

Em vez de incentivar o consumo de itens descartáveis e comprados prontos, podemos criar brincadeiras e decorações que utilizem elementos naturais, promovendo uma celebração sustentável e criativa.

Podemos também despertar o olhar das crianças para a natureza e ainda incentivar o desenvolvimento de habilidades criativas por meio do fazer manual. Explore ideias de atividades ecológicas para um Halloween sustentável,  divertido e consciente! Confira aqui:

HALLOWEEN SUSTENTÁVEL

BRUXINHAS COM A FLOR ESPATÓDEA

Esta flor já nasceu com vocação para bruxa, naturalmente ela tem a forma perfeita de uma bruxinha, basta apenas acrescentar um pedaço fino de graveto atravessado por dentro da pétala para dar a ideia de uma vassoura e pronto, a bruxa está solta! Com umas seis dessas flores está formada uma convenção de bruxas!

 


MORCEGUINHO COM FOLHA PATA DE VACA

Para fazer um morceguinho com esta folha é só fazer um recorte na folha com as próprias mãos,  para formar a cabeça, depois dobrar a folha, segurar as duas faces na parte baixa e movimentar o cabinho da folha. Acompanhe no vídeo:


FOLHAS DECORATIVAS

As crianças também podem criar monstrinhos divertidos usando folhas naturais como “papel”. Depois de recolher folhas de formatos variados caídas pelo parque ou jardim, basta usar canetas de gel para desenhar olhos e bocas assustadoras ou engraçadas, transformando cada folha em um monstrinho único. Elas podem experimentar, com cores vibrantes, adicionar detalhes criativos, como cicatrizes, dentes e até cabelos arrepiados. Essa atividade simples não só evita o desperdício de papel, como incentiva o contato com a natureza e a imaginação. Depois, os monstrinhos podem decorar o espaço de Halloween de forma original e ecológica!

 


TEIA DE ARANHA

Para fazer uma teia de aranha com gravetos e barbante, junte três ou quatro gravetos formando um asterisco e amarre-os firmemente no centro. Com um barbante branco ou preto, comece a teia amarrando-o no centro e passando-o em torno dos gravetos em círculos, alternando entre eles. Você pode continuar até a borda, deixando interrupções irregulares para um visual mais natural. Fixe a ponta do barbante no final. Pendure a teia na parede ou porta para dar um toque assustador e autêntico à decoração.

 


POÇÕES MÁGICAS

Para um Halloween sustentável e criativo, as crianças podem criar “poções mágicas” com elementos naturais recolhidos por elas em um parque – folhas secas, pedrinhas, flores e galhos finos são ingredientes perfeitos! Num recipiente pode-se combinar água colorida usando papel crepon, com flores e folhas. Incentive as crianças a  inventar nomes e poderes mágicos para cada poção, estimulando a imaginação. Essa brincadeira saudável conecta as crianças à natureza e evita o uso de materiais sintéticos e descartáveis, proporcionando uma experiência mágica, divertida e ecológica!


SOMBRAS NA PAREDE

Para criar sombras assustadoras na parede, use uma lanterna ou abajur para projetar luz em uma superfície lisa. Com as mãos, faça formas como garras, morcegos ou rostos; mova os dedos lentamente para dar vida à sombra. Use também objetos domésticos: uma escova de cabelo pode parecer dentes, um garfo pode virar dedos finos e uma garrafa, uma cabeça fantasmagórica. Experimente diferentes ângulos para intensificar o efeito. Crianças e adultos podem inventar histórias assustadoras enquanto brincam, criando um ambiente misterioso e cheio de suspense perfeito para todos!


FANTASMINHA COM LENÇOL

Para uma fantasia pegue um lençol velho branco que cubra a criança completamente. Marque os locais dos olhos com cuidado, recortando ou desenhando os contornos. Para dar um toque divertido adicione uma “boca” com marcador preto. Ajuste o comprimento para evitar tropeços, cortando as pontas se necessário. Finalize com um cinto ou faixa na cintura para firmar o lençol. Essa fantasia simples e clássica é perfeita para um Halloween sustentável e dá um toque de mistério e diversão!


Veja esta outra ideia criativa – uma vassoura de bruxa, que tal fazer uma igual usando folhas de palmeira seca?

É encantador como a natureza pode se transformar em brinquedo, e muitas brincadeiras envolventes, não é mesmo? Então, e se você promovesse  um passeio com as crianças para procurar por elementos naturais que remetam aos símbolos do Halloween para comemorar a data de maneira sustentável?

Para complementar um Halloween sustentável, a leitura de livros de histórias de bruxas é uma atividade encantadora e fascinante. Mergulhar em contos mágicos despertam a curiosidade e a imaginação! Histórias sobre bruxas e criaturas fantásticas proporcionam aventuras emocionantes e podem inspirar muito mais atividades criativas!

FICA A DICA: 24 livros sobre histórias de bruxa

HALLOWEEN SUSTENTÁVEL

Com o Halloween sustentável, transformamos essa data em uma oportunidade de criatividade e respeito ao meio ambiente. Ao incorporar elementos naturais e reutilizar materiais, incentivamos as crianças a explorarem a natureza e usarem sua imaginação, criando memórias divertidas e ecológicas. Essa abordagem reduz o consumismo e reforça valores importantes, como o cuidado com o planeta. Com pequenas adaptações, comemoramos o Halloween de maneira consciente, inspirando atitudes sustentáveis ​​que podem ser levadas para toda a vida.

Não nos interessa vincular esta data ao sentido comercial, mas sim resgatar o significado ancestral celta de celebração da colheita, dos ciclos da natureza.

Gostou das sugestões de brincadeiras para um Halloween Sustentável? Compartilhe estas ideias com quem você sabe que irá curtir este conteúdo e ajude a espalhar maior consciência para um mundo sustentável.

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

BLUMENAU – MAIS UMA TRAGÉDIA

Blumenau – esta é mais uma tragédia – menos de 10 dias após uma escola em São Paulo ser alvo de um aluno de 13 anos que matou uma professora a facada. Desde 2011, mais de 10 escolas foram atacadas. O que estas tragédias querem dizer? Não sei. Tenho tantas perguntas!

Estamos vivendo uma crise da família, do modelo ultrapassado de Educação, crise das instituições que se denominam religiosas, etc. Enfim, crise de todas as instituições que deveriam apoiar e sustentar de forma saudável a nossa sociedade; sociedade que se encontra gravemente doente, na UTI.

É o momento de perguntarmos e identificarmos onde estamos falhando com nossas crianças e nossos jovens. Como educadores, pais, sacerdotes, médicos e terapeutas, devemos perguntar qual a nossa parcela de responsabilidade neste tipo de tragédia que tem nos assolado. Que modelo de ser humano estamos espelhando para as novas gerações?

Nelson Rodrigues tem uma citação famosa que afirma que “O caos não se improvisa, ele é obra de séculos”. O cenário atual caótico que está diante de nós não surgiu de repente, não se fez ontem; já vem sendo tecido dia a dia nas tramas de nosso silêncio, de nossa omissão e falta de indignação frente a eventos que muitas vezes julgamos pequenos e que aos poucos revelam proporções que passam a escapar ao nosso controle.

Um exemplo disso são os casos de bullying.  Essa prática abominável cresce a cada dia no seio da sociedade, nas escolas, entre nossas crianças, nossos filhos, e deveria ser tratada com total atenção pelas escolas e famílias. O bullying é uma incubadora do caos social.

UMA CRIANÇA QUE NÃO SEJA ABRAÇADA POR SUA TRIBO, QUANDO ADULTO, QUEIMARÁ A ALDEIA PARA SENTIR CALOR – provérbio africano

Esta tragédia hedionda é consequência do descuido humano e desamor que se generalizou. Assistimos a mais sangrenta guerra travada nas trincheiras de nossa própria estagnação. Há quem afirme que o ser humano é um projeto que não deu certo, será isso mesmo?

Quando despertaremos deste sono de morbidez e nos atentaremos para a realidade da dependência que temos um do outro, para a necessidade de cuidarmos uns dos outros? Leonardo Boff em sua obra “Saber cuidar”, analisa a fábula-mito do Cuidado, que coloca o cuidado na essência do humano, como um fenômeno que é a base possibilitadora da existência humana enquanto humana. Se negligenciarmos essa base, caminharemos para nossa própria extinção.

afeto é o que sustenta a vida humana. Ele é essencial no desenvolvimento integral da criança e garante a formação de um indivíduo com melhores condições de lidar consigo mesmo e com os outros.

O caminho que temos a nossa frente deverá ser percorrido na comunhão, com a consciência que estamos no mesmo barco. Ou salvamos todos, ou nos perderemos como humanidade. Quem ainda tem o mínimo de lucidez tem que arregaçar as mangas e trabalhar em prol da humanidade, a partir de si mesmo em primeiro lugar, por meio do autoconhecimento e da autoeducação. Temos muito trabalho pela frente no sentido de transmitir valores humanos sólidos que garantam a continuidade da história da humanidade.

Hoje eu choro pelas vidas ceifadas destas crianças em Blumenau, por estas mães, estes pais e pelas professoras. Que de alguma maneira possam ser acolhidos, consolados e que possamos agir em prol da saúde da nossa sociedade.

É lamentável, é doloroso, é inaceitável. É urgente atuar em todas as frentes para sanar toda esta vulnerabilidade. Um fato como este nos faz concluir que falhamos enquanto constituição de seres humanos e organismo social.

Às vésperas da Páscoa clamamos por um nascer de novo, pela ressurreição da humanidade, pela fraternidade entre irmãos, pelo lugar ao sol de cada ser vivente, por uma aliança pela infância e pelo direito a uma vida plena.

Para finalizar quero recomendar a leitura do livro “Bullying – mentes perigosas nas escolas” de Ana Beatriz Barbosa Silva. Um dos livros mais importantes na abordagem deste tema.

abraço afetuoso

Ana Lúcia Machado

AFETO E INFÂNCIA NA ERA DA COMPLEXIDADE

O afeto é o que sustenta a vida humana. Ele é essencial no desenvolvimento integral da criança e garante a formação de um indivíduo com melhores condições de lidar consigo mesmo e com os outros.

Vivemos um momento de grande complexidade e a infância se encontra no centro das incertezas desta época.  As mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas alteraram de forma considerável a estrutura da vida familiar e seus reflexos podem ser observados nitidamente na vida da criança.

Os hábitos cotidianos transformaram-se significativamente, modificando o ritmo e a rotina dos pequenos, que agora têm estilos de vida mais individual e são sedentárias, o que desfavorece o convívio social, as atividades físicas, a imaginação, e a autonomia infantil.

A dinâmica imposta por essas  mudanças  gerou isolamento  e adultização  das crianças,  expondo-as, assim, às mesmas angústias e estresses a que os adultos estão sujeitos, e causando, em muitos casos, males físicos e psicológicos.

O processo de urbanização acelerado e não planejado, associado ao medo pelo aumento da violência, ergueu muros e contribuiu para uma cultura de confinamento. Além disso, valores da sociedade de consumo tomaram conta do universo da criança. Ela é intensamente exposta  a conteúdos que incentivam o consumismo e seduzida por apelos do mundo moderno, repleto de inovações tecnológicas, e tem seu tempo e espaço lúdico invadidos e reduzidos.

Esse é o panorama da infância da atualidade, um cenário que não favorece o desenvolvimento saudável da criança nessa etapa tão importante da vida. A infância é o período no qual edificamos as bases que sustentarão tudo o que virá depois – chão firme que apoiará os passos futuros na juventude, na maturidade e até mesmo no envelhecimento. É a fase em que a qualidade das interações sociais é fundamental para a construção de memórias afetivas cheias de significado, que contribuirão para a formação de sujeitos éticos, resilientes, empáticos, cooperativos e próativos na sociedade.

A infância não é  uma etapa que fica para trás depois que nos tornamos adultos, pois é um ciclo vivo, que volta, e se renova. Ecos da criança que fomos continuam a ressoar dentro de nós no decorrer da vida.

Nas palavras do pediatra  e professor titular da Universidade de Brasília,  Márcio Lisboa: “tudo se forma nos primeiros anos de vida.[…] Como adultos, somos, do ponto de vista da personalidade, o que éramos aos 6 anos. O que significa que nossa estrutura se forma nos primeiros anos de vida. […] Tudo o que acontece neste período reflete na vida adulta sob o ponto de vista físico, emocional e social.”

O nascimento é a primeira grande experiência vivida pelo ser humano e o primeiro obstáculo a ser superado no processo de desenvolvimento. Ao deixar a segurança e proteção do útero materno, o bebê tem que enfrentar os desafios de um mundo desconhecido, o que exige adaptações físicas e psicológicas.

O bebê tem uma relação íntima e praticamente simbiótica com a mãe, e desde os primeiros instantes de vida é ela quem exerce forte influência no desenvolvimento e na formação da sua personalidade.

 

Hoje, sabemos que a qualidade dos cuidados parentais que as crianças recebem é de fundamental importância para a estruturação do cérebro infantil e sua saúde mental futura.  As experiências vividas  por elas têm impacto duradouro na arquitetura cerebral. Nos anos iniciais de vida, formam-se de 700 a 1.000 conexões cerebrais por segundo, que constroem a base para o desenvolvimento cognitivo, emocional e relacional.

Os gestos do adulto na hora de alimentar, dar banho, ninar a criança, trocar sua fralda e seus sentimentos em relação a ela vão provocar reações agradáveis ou não. É necessário que a criança tenha a vivência de uma relação afetuosa, prazerosa e estável com sua mãe –  ou com o cuidador que a substitua –  para a formação do apego e do vínculo, que são a base para o desenvolvimento da personalidade, do caráter e da saúde mental do indivíduo.

Todo o ambiente que envolve a criança e os estímulos sensoriais que ela recebe devem ser amigáveis a ela – texturas, aromas, imagens  e sons que proporcionem vivências genuinamente humanas por meio da expressão facial,  olhar e sorriso, do toque, do tom da voz, e gesto lúdico.

Durante muito tempo, a criança é totalmente dependente de outros seres humanos para sua alimentação, cuidados com higiene, proteção, apoio emocional e estímulos, que são essenciais para o seu desenvolvimento biopsicossocial.

Do ponto de vista das relações humanas, a doutora e psicanalista infantil Julieta Jerusalinsky  avalia a importância dos primeiros anos de vida da criança como um  momento basilar na constituição psíquica, pois se trata da apropriação do próprio corpo e da relação consigo  e com os outros.

 

A CONSTRUÇÃO DO AFETO NA INFÂNCIA

Ao nascer, a criança é entregue à família, que possui o papel de “útero social”, dividido posteriormente com a escola e a comunidade.  Trata-se da segunda gestação, que agora, por meio de relações de afeto com pais, irmãos, avós, tios, professores, amigos e outras crianças, e também do contato com a natureza, vai proteger a criança emocionalmente durante os primeiros anos até que ela possa seguir com confiança e autonomia. O enfrentamento de obstáculos, conflitos, críticas, pela criança, em um ambiente permeado pela afetividade, auxiliará no fortalecimento da sua estrutura psíquica e cognitiva.

A autoestima da criança se constrói durante a infância, tendo como alicerce a afetividade. Uma criança que recebe afeto se desenvolve com muito mais segurança e confiança. A afetividade interferirá na maneira como as pessoas veem as situações e como reagem a elas. É como uma raiz – sustenta a vida emocional da criança, promove sua autoestima e autoconfiança, gera bem-estar e influencia o comportamento humano.

Por afetividade entende-se a qualidade ou caráter de quem é afetivo; o conjunto de fenômenos psíquicos que são experimentados e vivenciados na forma de emoções e sentimentos; a tendência ou capacidade individual de reagir facilmente aos sentimentos e emoções; emocionalidade. Dicionário Houaiss,2009.

Afeto diz respeito àquilo que afeta, ao que mobiliza, por isso reporta à sensibilidade, às sensações. Podemos, ainda, referir afeto como ser tomado por, atravessado, perspassado, quer dizer: afetado. (GOMES e MELLO, 2010.

O afeto se manifesta por meio de sentimentos, atitudes, ações positivas e afirmativas, na interação entre pais, cuidadores e professores e a criança, favorecendo seu amadurecimento. Afeto é a expressão respeitosa que se escolhe em resposta a dificuldades, contrariedades e desafios diante das etapas de desenvolvimento da criança. É a maneira  amorosa de reagir e enfrentar as dores cotidianas naturais, as frustrações decorrentes das vontades que nem sempre podem ser satisfeitas, e a ansiedade pelo tempo de espera das coisas.

O RESPEITO ÀS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Apesar de a nossa cultura ter a tendência de querer eliminar as sensações desagradáveis, como a dor, é importante compreender que elas contribuem para o desenvolvimento da percepção, controle e domínio  das emoções pela criança. Quem não tem a oportunidade de fortalecer-se com as vivências dolorosas comuns do dia a dia, mais tarde tenderá  escapar dos sofrimentos inevitáveis da vida de modo inadequado para o viver  em sociedade.

A educação da criança, tanto no âmbito familiar quanto escolar, precisa de bases sólidas que a sustentem. Compreender a natureza da criança, suas características e necessidades biopsicossociais e  espirituais frente  às etapas do seu desenvolvimento  é o ponto de partida para trilhar de maneira segura o caminho da desafiadora  tarefa da educação nos dias de hoje.

É importante respeitar todas as  etapas do desenvolvimento infantil para a formação de indivíduos saudáveis e autônomos, compreendendo que cada fase serve como base para a próxima, e todas elas exigem um trabalho interno da criança, além de estímulos saudáveis do mundo externo.

É necessário entender que a criança apreende o mundo e aprende de forma gradual, de acordo com seu nível de sua compreensão, segundo uma ordem interna de prioridades, ordenadas pelos conhecimentos já assimilados por ela. Portanto, é fundamental respeitar o ritmo da criança, sem antecipação e sem pressa.

Espera-se que pais e educadores atuem como facilitadores desse processo, pois o ser humano depende do ambiente em que vive, do incentivo que recebe e da interação com outros seres humanos para se desenvolver. Na concepção do psicólogo russo Vygotsky, o ser humano não se constrói ser humano se o outro não estiver presente. O humano existe na interação com seus pares. O papel do outro é atribuir significado às experiências e vivências da criança e ser exemplo do modo de ser e estar no mundo de maneira ética.

Além disso, a criança precisa sentir que é capaz de atrair a atenção daqueles que a rodeiam  e perceber que seus gestos, expressões, e necessidades, podem provocar reações no outro, alterando o seu estado. O efeito produzido no adulto também afeta a criança, retroalimentando assim o importante jogo de ação e reação, a influência mútua a que chamamos interação – convívio e comunicação que geram intimidade.

E não é somente na primeira infância que um ambiente de afeto é fundamental. A partir dos sete anos, e à medida que as crianças avançam para a pré-adolescência e a puberdade, a presença, a atenção, a conversa, a mediação e, principalmente, o modo de viver dos pais são de extrema importância para atravessar essa fase em que os adolescentes buscam externamente referências e identificações.

Nesse momento, a rede social formada por familiares e amigos, criada e cultivada durante os anos anteriores, poderá funcionar como uma ponte segura para atravessar essa fase de transição.

Esse é o ideal de educação que queremos alcançar, pautado por disponibilidade ao outro, interesse genuíno, escuta atenta, encontros autênticos e relacionamento profundo. Contudo, não vivemos em um mundo ideal e cada época impõe seus desafios. Dessa forma, convém questionarmos  quais são os desafios da contemporaneidade.

É certo que avançamos de maneira positiva em relação ao fortalecimento dos vínculos parentais a partir de valiosas mudanças. Hoje ao nascer o bebê é imediatamente colocado no peito materno; é feito o alojamento conjunto nas maternidades; estimula-se a amamentação, a livre demanda do leite materno, e a colocação do bebê no quarto dos pais nos primeiros meses. Além disso, a ampliação da licença maternidade e a criação da licença paternidade, ainda que não totalmente satisfatórias, por trata-se de um período curto, são consideradas  conquistas importantes para a promoção da proximidade do bebê à mãe e ao pai. Entretanto percebe-se que as políticas públicas são insuficientes para que essas medidas sejam efetivadas com sucesso. Sabemos que muitas mães são pressionadas a retornar ao trabalho antes do cumprimento total da licença e que algumas optam espontaneamente por encurtar esse período. O que as levam a escolher retornar ao trabalho antecipadamente?

Em 2012 a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal  solicitou ao IBOPE uma pesquisa intitulada “A visão da sociedade sobre o desenvolvimento da Primeira Infância”, com o objetivo de identificar percepções e práticas da sociedade no tocante ao desenvolvimento integral da criança. Em resposta a pergunta ‘o que é importante para o desenvolvimento da criança de 0 a 3 anos?’, a pesquisa apontou baixos percentuais atribuídos à tópicos relativos à afetividade, tais como: conversar com a criança (19%) , receber atenção dos adultos (18%), receber carinho e afeto (12%), conforme pode ser visto abaixo. Esse resultado insatisfatório, demonstra o tamanho do desafio que a sociedade tem que enfrentar.

Afeto e infância

Um estudo feito com 14.000 crianças dos Estados Unidos, concluiu que 40% delas não têm vínculos emocionais fortes com seus pais. Os pesquisadores descobriram que essas crianças são mais propensas a enfrentar problemas de aprendizagem e de comportamento.

Outra questão desafiadora que se impõe atualmente  é que as crianças vão para a escola cada vez mais cedo, devido ao fato de pai e mãe trabalharem fora. Esse afastamento precoce do ambiente familiar e consequente antecipação da vida escolar, acaba complicando os limites de atuação entre a família e a escola. Como fica a educação de base até então de responsabilidade da família?  O psiquiatra Içami Tiba (Quem ama educa, 2002)  avalia que “a escola sozinha não é responsável pela formação da personalidade, mas tem papel complementar ao da família”.

A PRESENÇA E A ATENÇÃO DOS PAIS SÃO MUITO IMPORTANTES

É preciso levar em conta que muitas famílias estão desestruturadas. Muitos pais esquecem sua responsabilidade em dar amor, apoio emocional, educar os filhos e participar de suas vidas ativamente. Quais as consequências da carência afetiva na vida da criança?

No livro “A criança terceirizada”, o pediatra Dr. José Martins Filho,  usa o termo “terceirização” para referir-se à transferência das funções paternas e maternas para outras pessoas e relata casos de pais que passam a semana sem ver os filhos, pois, ao saírem de casa muito cedo, eles ainda estão dormindo e ao retornarem, à noite, já estão na cama.  No atendimento em seu consultório, frequentemente ele se vê diante de pacientes que  chegam acompanhados pelas avós, e muitas vezes apenas pelas babás. Que efeito essa ausência parental produzirá na formação da personalidade dessas crianças?

Na visão do Dr. Márcio Lisboa, a tendência à agressividade e ocorrências de comportamentos anti-sociais cada vez mais frequentes, podem ser explicadas pela falta do aprendizado de valores, limites, disciplina,  baixa autoestima, e privação materna durante a primeira infância. Ele apresenta  estudos que  analisam  a biografia de indivíduos portadores de distúrbios comportamentais e que apontam evidências de transtornos afetivos graves com origem na primeira infância, permitindo a conclusão que a semente da violência é implantada na criança em seus primeiros anos de vida pela carência de relações de afeto.

Em 2017 a mídia noticiou uma escola de educação infantil na cidade de São Paulo que oferece uma variedade de serviços que vão além da esfera educacional, o que causou grande polêmica por suscitar uma importante discussão a cerca dos limites de atuação da escola e a responsabilidade das famílias na participação da vida dos filhos. Com o objetivo de aliviar as obrigações dos pais com as atividades domésticas do dia a dia e com isso proporcionar tempo de qualidade  com seus filhos, a instituição oferece um amplo cardápio de facilidades às famílias: lavagem  dos uniformes usados pelas crianças, todas as refeições, inclusive o jantar com opção de compra de comida congelada para os fins de semana, a possibilidade de contratação de professoras como babás, e ainda o serviço de corte de cabelo das crianças na escola. Tais facilidades sugerem uma desconexão com a própria vida, a medida que entrega nas mãos das crianças tudo pronto, sem que elas possam perceber as etapas de feitura das coisas e vivenciar processos.

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A constante transferência de responsabilidades em relação aos cuidados e atenção que uma criança exige, além de estar sendo repassada para as escolas, também tem sido  entregues aos meios digitais. As crianças têm ficado cada vez mais tempo entretidas com TVs, jogos eletrônicos, smartphones, tablets, e o tempo disponibilizado para essas atividades têm sido maior que o convívio com outras crianças  e com a família, levando ao isolamento social.

A Dra. Jerusalinsky  alerta quanto ao acesso precoce e uso excessivo desses dispositivos digitais pelas crianças, ressaltando os perigos que ameaçam a infância pelo uso de forma inadvertida e a importância da riqueza da experiência interativa presencial nos anos iniciais de vida.

Entre os perigos apontados encontram-se a ausência psíquica dos pais, que muitas vezes estão de corpo presente mas ausentes psiquicamente em relação àqueles que estão ao lado; a linguagem fragmentada, fria e de isolamento produzida por esses aparelhos, que emitem sequências sonoras mas não estabelecem um diálogo, e a falta de mediação dos adultos em relação as informações acessadas pelas crianças via internet – informações descontextualizadas, desprovidas das experiências vivenciadas dos adultos, sem a transmissão de valores culturais.

Não se trata de negar os diversos benefícios das inovações tecnológicas  ou  classificá-las  como maléficas, mas de refletir sobre as influências  e consequências  desta revolução digital na vida das crianças em fase de formação. Profissionais da área da saúde, especializados na Primeira Infância, tais como a Dra. Julieta Jerusalinsky, a Dra. Ilana Katz, estão questionando que modelo do que é ser humano é oferecido às crianças hoje. Uma vez que elas veem adultos conectados 24 horas, o que elas estão assimilando a cerca de como acontecem as relações humanas? O que é estar com o outro numa relação de afetividade? Existe relação sem celular?

afeto e infânciaAdultos e crianças estão sendo sugados para seus próprios mundos digitais e as consequências disso para a infância são danosas, pois interfere no convívio social, na interação e na qualidade dos relacionamentos, restringe a comunicação, o olhar, o toque, interrompe momentos de intimidade familiar a cada novo toque dos aparelhos.

É essencial estabelecer limites seguros e coerentes de tempo de uso das telas pelas crianças e, sobretudo, examinar  nossas próprias condutas em relação ao uso que fazemos desses aparelhos. É preciso rever o mundo que apresentamos às crianças na atualidade e instituir  princípios  e valores éticos capazes de  nortear a educação delas.

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AFETO E INFÂNCIA – COMO PODEM ACONTECER AS DEMONSTRAÇÕES DA AFETIVIDADE?

Somos seres sociais, precisamos construir vínculos afetivos. Sem afeto, não podem existir nem família nem outras relações sociais de proximidade, e nessa situação uma criança não consegue se desenvolver de forma saudável. O afeto é uma força que atrai, que busca proximidade, ligação  e intimidade. É como um óleo lubrificante, facilitador das relações humanas e dinâmicas sociais.

No mundo material, o afeto é invisível, impalpável. De natureza etérea, ele pode ser percebido em sutilezas. Está presente no brilho do olhar e na luminosidade do sorriso, na temperatura da pele e calor do toque. Está no ar – na entonação da voz, no ritmo da canção de ninar e no tom da conversa. Está no aroma e sopro quente do hálito de quem conta uma história bem de perto. O afeto vive nos lábios do beijo de boa noite. Vive em cada micro segundo das tarefas cotidianas que fazemos junto com os filhos. Manifesta-se  na capacidade de estar disponível para compartilhar com eles acontecimentos corriqueiros do dia, descobertas, decepções, frustrações, etc. Expressa-se na convicção  e transmissão de princípios e valores éticos, na clareza dos limites estabelecidos, na firmeza ao dizer “não” quando necessário, e na sensação de acolhimento do riso, da alegria, do choro e da dor comuns do viver.

Pais, educadores e todos os profissionais que atendem à criança, são  os maiores responsáveis por desenvolver uma consciência que entenda a cultura da infância como uma etapa particular do processo de iniciação do humano, de forma a garantir a sobrevivência da espécie. Nossa capacidade de viver neste planeta de maneira digna, depende de soluções inovadoras e do olhar atento ao começo da vida, à garantia da saúde da infância.  A esse cuidado e olhar atento dá-se o nome de afeto.

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Abraço caloroso

Ana Lúcia Machado