NOVOS PARADIGMAS PARA A EDUCAÇÃO – SEGUNDA PARTE

novos paradigmas para a educação

"Trate um homem como ele é e ele permanecerá como é; trate-o como ele deve ser e ele será como pode e deve ser" - Wolfgang von Goethe

Diante da crise atual do sistema educacional brasileiro, vivemos um  momento de grandes revisões e busca por novos paradigmas para a educação.

A necessidade de aprofundamento e compreensão da extensão dessa crise, tem como ponto de partida a análise de três premissas:

  1. Visão do ser humano integral
  2. Origem da palavra  Educar
  3. Autoconhecimento e Autoeducação

A primeira parte deste artigo, leia aqui,  apontou  a importância da ampliação da visão do ser humano para  estabelecimento de  bases e práticas que atendam sua integralidade na Educação.  Não se deve pautar a Educação apenas no desenvolvimento cognitivo da criança, uma vez que o ser humano é constituído de um corpo físico, emocional e espiritual.

Dando continuidade a análise proposta, passemos agora para a compreensão da palavra educar.

Apreender verdadeiramente seu significado nos colocará num patamar mais elevado de entendimento da grandiosidade do papel da Educação.

NOVOS PARADIGMAS PARA A EDUCAÇÃO

Etimologicamente educar vem do verbo latim educare, que significa conduzir para fora, ou seja, despertar no homem o que nele se acha dormente. Desta forma, educar não é incutir algo, mas sim propiciar que venha à superfície o que existe dentro.

Paulo Freire diz que: “Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Freire cunhou o termo: educação bancária, para denunciar a prática do educador como detentor dos conteúdos que simplesmente são depositados nos educandos.

Esta temática já recorrente, pode ser observada nas citações de outros autores, a exemplo de Plutarchus9 (1844, p.38): “O espírito (a cabeça) não é como uma jarra que se enche. Semelhante às matérias combustíveis, ela tem, antes, necessidade de um alimento que o sacie, que aqueça suas faculdades e anime o espírito para a busca da verdade”.

Johann Heinrich Pestalozzi, educador suíço (1746-1827), também discorre a respeito dizendo que o educando não é semelhante a “um vaso vazio que se deve encher” acrescenta ainda que o educando é: “uma força real, viva, ativa por si mesma que, desde o primeiro momento da sua existência age no sentido de um corpo orgânico sobre seu próprio desenvolvimento” (PESTALOZZI, 2009, p. 160). Esta afirmação abre uma janela importante que deve ser explorada reconhecendo que cada ser humano carrega em si potencialidades, e são com essas potencialidades que o educador trabalhará, no sentido de despertá-las e trazê-las para fora.

Da mesma forma que Rohden (2005, p.13) diz: “ …dentro de cada um de nós existe algo maior e melhor do que aquilo que existe fora de nós. O homem é muito mais aquilo que pode vir a ser e deseja ser do que aquilo que é no plano histórico da sua vida. O homem é a sua permanente e silenciosa atitude interna, e não os seus ruidosos atos externos e transitórios. O homem é a sua eterna potencialidade, e não apenas a sua atualidade temporal”.

 

QUAL A QUALIDADE DO OLHAR QUE PRECISAMOS DESENVOLVER PARA ENXERGAR E CONFIAR NA ESSÊNCIA NÃO MANIFESTA DE UMA CRIANÇA?

NOVOS PARADIGMAS PARA A EDUCAÇÃO

Tomemos como referência a vida de Cristo que em toda sua trajetória demonstrou compaixão e ofereceu um olhar atento e individualizado a todos que dele se aproximavam. Qual a qualidade do olhar de Cristo?

Um olhar capaz de alcançar a essência do ser humano, um olhar fluídico, que não se fixa em um único ponto. Um olhar penetrante, de longo alcance, livre de julgamentos e preconceitos, que enxerga a necessidade humana individualizada. Um olhar que se renova a cada dia, criando novas possibilidades de vir a ser. Um olhar profético, capaz de alcançar o futuro, independente das circunstâncias adversas do momento presente, que vê além das aparências e comportamento em si.

Certas crianças encontram-se prisioneiras de um olhar cristalizado e estigmatizante, um olhar viciado, que enxerga as mesmas coisas sempre, e que, portanto, não estimula, não favorece a manifestação de suas potencialidades, pelo contrário, reforça atos externos que não expressam sua essência interior.

Cabe aqui uma citação de Wolfgang von Goethe que demonstra a relevância da relação que deve ser estabelecida com o que ainda não se manifestou:

“Trate um homem como ele é e ele permanecerá como é; trate-o como ele deve ser e ele será como pode e deve ser”.

Existe ainda uma frase de Jean Piaget que ajuda a lapidar o olhar do educador:

“Quando olho uma criança ela me inspira dois sentimentos, ternura pelo que é, e respeito pelo que pode ser”.

Como educadores, seja em sala de aula, ou em casa com os filhos, é necessário levar em conta que a criança não é uma página em branco, ela traz em si uma essência. Caberá aos educadores a tarefa de nutrir o solo para que brote a semente e floresça as potencialidades individuais de cada ser.

Novos paradigmas para a educação

 

No próximo artigo será analisada a terceira e última premissa proposta:  autoconhecimento e autoeducação.

O texto original e completo deste artigo está publicado na Revista Interespe, nº 8 – jun 2017, da  PUC de São Paulo  e  disponível pelo link:

http://www.pucsp.br/interespe/revistas/downloads/revista-8-interespe-jun-2017.pdf

 

Espero seu comentário.

Cadastre-se no site e receba as atualizações.

 

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

LEAVE A COMMENT

RELATED POSTS