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Infância digital

INFÂNCIA DIGITAL – O PERIGO DA DESCONEXÃO COM A VIDA

Infância digital - o perigo da desconexão com a vida

Frente ao panorama da infância digital e o perigo da desconexão com a vida, me pus outro dia a imaginar como agiria com meus filhos se eles fossem pequenos hoje.

Foi como entrar num túnel do tempo e me ver no carro cantando para acalmar meu bebê sentado no banco traseiro durante longos trajetos, ou em uma sala de espera para a consulta médica contando histórias para ele, ou ainda na mesa do restaurante desenhando enquanto aguardávamos a refeição.

Havia tantas opções de nos divertirmos juntos que confesso que é difícil pensar na redução a uma apenas – um aparelho tecnológico. Hoje a pressão da sociedade, das relações interpessoais, da indústria do entretenimento e lazer, conduz ao reducionismo do mundo tecnológico.

Infância digital - o perigo da desconexão com a vida

De acordo com levantamento da Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações, hoje temos 242,1 milhões de linhas celulares em operação para uma população de 208,2 milhões de brasileiros (IBGE), o que comprova a incorporação da tecnologia na vida das pessoas e alerta quanto à dimensão da revolução social e complexidade dos tempos atuais.

 

Não há como voltar atrás nos avanços tecnológicos e na sua inserção em todas as esferas da vida moderna. Sua influência torna-se cada dia mais forte e sua utilização essencial para a sociedade.

Existem aspectos altamente positivos na análise desses novos tempos e outros ainda sombrios que levam a muitos questionamentos e evidências de efeitos nocivos.

O uso precoce e excessivo da tecnologia é um fenômeno recente no cenário da infância. Pouco se conhece a respeito de suas consequências a médio e longo prazo. Por esta razão tem sido alvo de pesquisas e estudos para investigação dos impactos e repercussões sobre a dinâmica familiar, desenvolvimento, comportamento e aprendizado infantil.

Hoje com menos de 3 anos de idade, as crianças já sabem  usar smartphones, brincam com tablets, jogam games, entretanto, poucas  são capazes de amarrar os cadarços do tênis, pular corda, amarelinha, subir em árvores, etc.

Infância digital - o perigo da desconexão com a vida

Os vários gadgets tornaram-se uma extensão das mãos das crianças. Dedinhos cada vez menores deslizam pelas telas touchscreen  e pelas teclas  dos computadores, notebooks e controles remotos da TV.

Quais os efeitos da iniciação precoce ao mundo digital para a saúde física e psíquica das crianças? Quais as influências que essas tecnologias exercem no comportamento infantil durante a fase de formação e desenvolvimento? Quais os impactos das mudanças sociais para a cultura da infância?

 

 

O QUE MOSTRAM AS PESQUISAS

De acordo com a pesquisa TIC Kids online Brasil 2015 –  feita com os pais de crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos de idade,  do universo de 29,7 milhões nesta faixa etária, 80% são usuárias da Internet. O uso diário é intenso, corresponde a 84%, sendo que 68% acessam a Internet mais de uma vez ao dia – um aumento em relação a levantamento de 2014.

Com relação à média de idade do primeiro acesso, 44% acessam até os 9 anos, sendo que o telefone celular se tornou o principal dispositivo de acesso a internet, seguido do computador de mesa e tablet. Dados que mostram diminuição do acesso por computador de mesa e crescimento do acesso por tablet em comparação com resultados anteriores.

A residência continua a se apresentar como o principal local de acesso à internet por crianças e adolescentes, seguido pela casa de outra pessoa, escola e lanhouses.

Segundo o estudo americano Zero to Eight: Children’s Media Use in America de 2013, publicado pelo Common Sense Media, que desenvolve estudos sobre o impacto da mídia e das novas tecnologias sobre as crianças, entre 2011 e 2013 o acesso a mídias móveis pelas crianças americanas estourou. Neste período o número de crianças menores de 8 anos com acesso a tablets quintuplicou pulando de  8% para 40%. Em 2013, 38% das crianças com menos de 2 anos utilizavam um gadget, ante 10% em 2011. Entre 2 a 4 anos a taxa subiu de 39% para 80% e entre 5 e 8 anos, de 52% para 83%.

As pesquisas demonstram que crianças e adolescentes tem acesso cada vez mais cedo ao mundo tecnológico e permanecem conectadas por mais tempo. Trata-se de um fenômeno global.

 

O QUE DIZEM OS ESPECIALISTAS

Profissionais da área da saúde e educação alertam quanto aos efeitos que de alguma maneira tem sido relacionados ao uso precoce e abusivo das tecnologias digitais pelas crianças:

-Dificuldade de concentração

-Distúrbios do sono

-Obesidade 

-Alterações da visão

-Riscos auditivos

-Disfunções posturais e articulares

-Dificuldades de socialização

-Atraso de aprendizagem

-Agressividade

-Bullying

-Radiação

-Dependência

 De acordo com o Dr. Cristiano Nabuco de Abreu, psicólogo e coordenador do Grupo de Dependência Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do  Hospital das Clínicas de São Paulo, a situação é preocupante. Ele tem atendido casos de crianças viciadas em smartphones, videogames e tablets, incapazes de se relacionar sem ser virtualmente, de manter a concentração e até mesmo dar sequência a um raciocínio lógico.

Em sua experiência clínica, tem atendido casos de crianças com pouco mais de 2 anos de idade que não comem, nem vão para a cama se não tiverem o aparelho ao lado.

 

Por que pais e educadores devem ficar atentos ao acesso tecnológico precoce e abusivo?

O Dr. Abreu explica que o processo de amadurecimento cerebral  é  finalizado somente após os 21 anos. Ele adverte que

Existem operações mentais que precisam naturalmente ser feitas e o grau de estimulação de um tablet desrespeita essa ‘ecologia’, essa natureza de desencadeamento da lógica. Quanto mais a criança ficar exposta a tecnologia, piores serão suas funções cognitivas, como a memória e desenvolvimento da atenção.

 

Por que pais estão colocando crianças cada vez mais novas em frente às telas por períodos cada vez mais longos?

Quem faz essa pergunta é o Dr. Michael Rich – pediatra americano, que em resposta à preocupação de pais a respeito do preparo de seus filhos para a competição no mundo digital, esclarece que

 As crianças aprendem muito rapidamente a navegar e a usar mídias de tela interativa, mais rapidamente do que os adultos, que precisam desaprender hábitos pré-digitais. A interface entre usuário e tela está se tornando cada vez mais intuitiva, o que torna ainda mais fácil para os nativos digitais a usarem.

Na visão do Dr. Rich, o tempo gasto com as mídias digitais pela criança está tomando o lugar de atividades mais importantes ao estímulo e desenvolvimento do cérebro infantil e impedindo que a criança vivencie um tempo de inatividade (tédio), necessário para a organização psicológica e a criatividade.

As telas estão roubando um tempo precioso da criança – o tempo do  brincar, uma atividade fundamental para o desenvolvimento infantil em todos os aspectos, físico, emocional, cognitivo, social e espiritual.

 

O QUE AS CRIANÇAS NOS DIZEM

Considerando o cérebro da criança ainda em desenvolvimento perante a velocidade e variação de estímulos que o uso de dispositivos digitais provoca ao mesmo tempo, é importante frisar que cada etapa de desenvolvimento da criança exige elaboração e organização interna e que estímulos externos excessivos podem provocar desordem pela aceleração e/ou antecipação daquilo que a criança ainda não está pronta para vivenciar. A criança tem um limite de capacidade de absorção de sensações e estímulos.

Infância digital - o perigo da desconexão com a vida

Para a criança pequena é muito mais adequado e saudável receber estímulos naturais como ouvir o pai ou a mãe contando histórias. O trabalho em absorver a história é muito maior, exige que a criança construa suas próprias imagens, e faça conexões para atribuir significado ao que está ouvindo. Isso torna a criança  mais ativa na situação em comparação com a passividade gerada pelo olhar fixo na tela, seja vendo um filme ou jogando.

Diante das telas, corpo e imaginação ficam inativos. As imagens estão prontas diante da criança, não deixando espaço para a imaginação criativa.

Outro aspecto a ser abordado é que as mídias de telas interativas têm sido fortemente usadas por adultos para promover distração nas crianças, ocupá-las, e mais do que isso, hoje são usadas como “chupetas eletrônicas” com o intuito de acalmá-las nas mais variadas situações do dia a dia – durante as refeições, para ir ao banheiro, adormecer mais facilmente, em passeios de carro, em salas de espera, restaurantes, procedimentos médicos, etc. As crianças estão vivendo um estado de anestesiamento diante da vida real.

Julieta Jerusalinsky, psicanalista infantil propõem importantes questionamentos quanto a este estado de alienação a que as crianças estão submetidas na atualidade, os quais devemos refletir:

 

– Que registro a criança vai fazer do próprio corpo se ela come olhando para a tela de um celular?

– Que apropriação do corpo a criança tem nessa situação ou em inúmeras outras onde ela é levada a fazer coisas do dia-a-dia de forma inconsciente, anestesiada, “distraída de si”, do que ela realmente está fazendo?

Sob o ponto de vista das relações sociais a Dra. Jerusalinsky observa que:

– Vivemos em tempos que podemos estar de corpo presente, mas psiquicamente ausente em relação àqueles que nos rodeiam. De corpo presente, mas sempre olhando para uma janela virtual, vamos nos situando como um sujeito “fora do espaço”.

– Os aparelhos emitem sequências sonoras, mas não conversam, não produzem uma matriz dialógica em que os lugares sejam subjetivados, eles oferecem fragmentariamente uma linguagem, mas não sustentam uma função. Emitir sequências sonoras é bem diferente de dar lugar a que o sujeito possa se representar na linguagem […] Para isso precisamos, pelo menos no início da vida, estar uns com os outros, e não com gadgets eletrônicos.

-Os pais e educadores se encontram com uma forma de transmissão das informações que não é mais mediada pelos adultos próximos. Na medida em que a criança tem acesso à internet, tem acesso a esta informação “desencarnada”, uma informação não mediada”.

Há um perigo muito grande nessa ausência de mediação. Máquinas “falam” com as crianças por horas todos os dias de maneira fria, impessoal, descontextualizada, desprovida das experiências vivenciadas dos adultos, sem a transmissão de valores culturais. A linguagem dos smartphones e tablets é uma linguagem de isolamento.

Infância digital - o perigo da desconexão com a vida

Foto Shutterstock

A Dra. Jerusalinsky avalia a importância dos três primeiros anos de vida da criança como um “tempo primordial da constituição psíquica, fase que está em jogo a constituição de si, a apropriação do próprio corpo e a relação consigo mesmo, além do estabelecimento das relações com o outro”.

Refletindo sobre a influência dessa revolução digital que crianças já em tenra idade estão sofrendo, outras indagações podem ser levantadas: Que modelo do que é ser humano é oferecido às crianças de hoje? Uma vez que elas veem adultos conectados 24 horas, o que elas estão assimilando a cerca de como acontecem as relações humanas? O que é estar com o outro? Existe relação sem celular? Os dispositivos digitais necessariamente nos acompanham a todos os lugares e em todos os momentos?

Diante de tantas dúvidas e incertezas percebe-se que há muitas peculiaridades nesses novos comportamentos que necessitam atenção e cuidado. Adultos e crianças estão sendo sugados para seus próprios mundos digitais. Isso não é sem consequência, interfere no convívio social, na interação e qualidade dos relacionamentos, restringe a comunicação, o olhar, o toque, suprime a separação de tempo de trabalho e tempo de lazer e família, e interrompe o momento presente a cada nova mensagem que chega, a cada toque do celular.

Como pais e educadores podem orientar suas condutas em relação ao uso de dispositivos digitais pelas crianças?  Onde podem se ancorar de maneira segura e coerente para limitar o tempo de tela das crianças?

Para rever o mundo que hoje é apresentado à criança e orientar este cenário de tantas inquietações e incertezas que temos testemunhado, é preciso estabelecer  princípios  e procedimentos éticos capazes de  nortear o processo educativo da criança.

A educação infantil tanto no âmbito familiar quanto escolar, precisa de bases sólidas onde se sustentar. Compreender a natureza da criança, suas características e necessidades biopsicossociais  espirituais frente  às etapas do seu desenvolvimento, é o ponto de partida proposto para trilhar de maneira segura o caminho da desafiadora  tarefa da educação da criança nos dias de hoje.

É importante respeitar as etapas do desenvolvimento infantil para a formação de indivíduos saudáveis e autônomos, compreendendo que cada fase é base para a próxima, e todas elas exigem um trabalho interno da criança, além de estímulos saudáveis do mundo externo.

É necessário entender que a criança apreende o mundo e aprende  de forma gradual, ao nível de sua compreensão, segundo uma grandeza interna de prioridades, ordenadas pelos conhecimentos já assimilados por ela.

A infância é um período de desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social. A criança trabalha intensamente para a construção do seu vir a ser diante do mundo.

Infância digital - o perigo da desconexão com a vida

Espera-se que pais e educadores atuem como facilitadores desse processo, pois o ser humano depende do ambiente em que vive, do incentivo que recebe e da interação com outros seres humanos para se desenvolver.

Dessa forma o ambiente, constituído por tudo aquilo que traz estímulo aos cinco sentidos, deve ser amigável à criança, passando pelo tato, no toque de objetos naturais, até aromas, imagens, sons, que não agridam a criança e que a façam vivenciar experiências genuinamente humanas.

Raffi Cavoukian, ativista da infância, fundador do Centre for Child Honouring, diz que nenhuma tela de computador vai dar a criança uma brisa suave de verão, isso é impossível. O aroma da primavera não vai vir da tela. Nenhum toque que realmente emocione virá de representações artificiais do mundo. Aprender no mundo real é primordial para uma experiência positiva e formativa.

Infância digital - o perigo da desconexão com a vida

Foto Raphael Bernadelli

Os estímulos advindos do mundo digital, artificial, são pobres frente à diversidade e qualidade de estímulos que a criança necessita.

A criança aprende melhor e de forma mais eficiente com brincadeiras e interagindo com os pais, cuidadores, professores e amigos no mundo real e tridimensionalSe ela passar um tempo muito extenso em atividades tecnológicas, poderá comprometer habilidades sociais, de comunicação e a inteligência comportamental.

Lembremo-nos, na ausência do outro, o homem não se constrói homem. Somos os maiores responsáveis pelo estabelecimento do elo emocional entre a geração de nativos digitais e o mundo vida, e igualmente responsáveis por desenvolver uma consciência que entenda a cultura da infância como uma etapa particular do processo de iniciação do humano de forma a garantir a sobrevivência da nossa espécie.

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

INFÂNCIA HIPERDIGITALIZADA


Infância hiperdigitalizada foi assunto do programa ‘Região em Foco’ da Rádio Ondas FM97,7 (Região dos Lagos -RJ), apresentado pelo jornalista Leandro França. Fui convidada para falar sobre o excesso do mundo digital na vida das crianças depois de ter publicado um artigo sobre o aumento do tempo em frente as telas pelos pequenos.

A entrevista está no meu canal do Youtube e foi transcrita para compartilhar aqui no Educando Tudo Muda, confira:

Infância Hiperdigitalizada nas ondas do rádio

Infância hiperdigitalizadaTivemos acesso ao artigo “Infância Hiper Digitalizada” e trazer este assunto aqui na pauta do nosso programa é interessante, já que as telas invadiram de vez a vida dos pequenos. Quais as influências que essas tecnologias exercem no comportamento infantil durante a fase de formação e desenvolvimento?  Nós vivemos sob a influência de uma  revolução tecnológica há muito tempo, e   agora com a COVID 19 o mundo inteiro  se rendeu  às telas.  Fomos todos sugados para dentro dos nossos próprios mundos digitais.  As telas representam hoje educação à distância,  socialização com familiares e amigos,  entretenimento e estão sendo usadas até mesmo para consultas médicas.

Mas em relação às crianças , temos que considerar as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria que orienta que  crianças de até dois anos de idade não sejam expostas a telas e que as de até cinco anos tenham contato por menos de uma hora por dia.  Para este período de quarentena a recomendação é que aos menores de 2 anos, seja  liberado apenas para o uso afetivo, gerenciado pelos pais. O que é o uso afetivo? É aquela chamada com vídeo para ver os avós, tios e primos, amiguinhos da escola. Nas outras idades é importante combinar um tempo mínimo para isto, sempre com algum  monitoramento.  Por quê essas  orientações? E aí eu respondo a sua pergunta:

Para se constituir como um ser humano,  a criança depende do ambiente em que vive, dos estímulos que recebe e da interação e convívio com outros seres humanos.  Os primeiros anos de vida correspondem a um tempo primordial da constituição psíquica da criança, da apropriação do próprio corpo por meio dos sentidos, da relação consigo mesma, e das relações com o outro, e tudo isso depende de experiências de  vida no mundo real, de estímulos sensoriais  capazes de  afetar o corpo da criança, e que permita a ela perceber variados cheiros, sons, sabores, impressões táteis.  O mundo virtual não oferece à criança as impressões do mundo natural e a dimensão do humano em suas relações.

Os fenômenos, as manifestações de vida, os processos, não podem ser absorvidos por meio de visualizações, emojis e curtidas. A vida é apreendida pela criança, e as aprendizagens ocorrem na interação com o mundo real, nas relações de afeto, na presença, no olho no olho, no calor do toque.

 

Como os Pais devem estar atentos ao conteúdo exposto aos seus filhos? As crianças estão expostas a uma variedade de conteúdo pela internet. Os pais precisam conhecer o que os filhos estão acessando e vendo. Por trás dos Youtubers e Influencers que as crianças e adolescentes seguem, existe  um forte apelo mercadológico e consumista. Existe o perigo de conteúdos inadequados, as fakenews e ainda o risco de armadilhas de pedofilia. Os pais devem atuar como mediadores, e monitores da vida online das crianças e também negociar os limites de tempo de uso.

 

Muitos pais acabam recorrendo aos eletrônicos para entreter os filhos e conseguir dar conta das tarefas de casa. Há algum jeito de fugir desse roteiro? A linguagem dos smartphones e tablets é uma linguagem de isolamento. Há um perigo muito grande nessa ausência de mediação.  As máquinas “falam” com as crianças de maneira fria, impessoal, descontextualizada, desprovida das experiências vivenciadas dos adultos, sem a transmissão de valores culturais.

As crianças precisam ser participantes da vida da casa. Este é o momento de fazermos juntos. Incluir as crianças nas tarefas que precisam ser executadas, delegar algumas  tarefas de acordo com a faixa etária das crianças. Compartilhar de forma lúdica as atividades do dia a dia como  preparar as refeições, lavar a louça, arrumar a cama, regar as plantas, dar comida para os animais domésticos, etc. Tudo é aprendizagem, talvez até muito mais significativa e também capaz de trabalhar a autonomia e autoestima da criança.

Para fazer diferente, a partir da realidade de cada família, é importante  organizar uma rotina que respeite e contemple todos os tempos. Tempo de promoção da saúde com horas adequadas de sono, atividade física, banho de sol. Tempo para as aulas online e atividades escolares. Tempo offline para o brincar livre para as crianças menores e no caso das  mais velhas, para  atividades  em que possam expressar sua subjetividade por meio de desenhos, colagens, trabalhos manuais, jardinagem, fotografia, música.  Tempo de ócio, momentos de  não fazer nada para que permita que a criatividade floresça, e por fim tempo de convívio salutar – um jogo em família à noite, contação de histórias para os pequenos e o que mais fizer sentido de acordo com o contexto de cada família, não existe um manual, uma receita pronta.

 

É possível identificar quando o mundo virtual começa a fazer mal para alguma criança? De acordo com o Dr. Cristiano Nabuco de Abreu, psicólogo e coordenador do Grupo de Dependência Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do  Hospital das Clínicas de São Paulo, a situação é preocupante. Ele tem atendido casos de crianças viciadas em smartphones, videogames e tablets, incapazes de se relacionar sem ser virtualmente, de manter a concentração e até mesmo dar sequência a um raciocínio lógico.  Em sua experiência clínica, tem atendido casos de crianças com pouco mais de 2 anos de idade que não comem, nem vão para a cama se não tiverem um aparelho digital ao lado.

A Dra. Julieta Jerusalinsky, psicanalista especializada em primeira infância, adverte  que estão chegando ao  consultório crianças que diante de algo da realidade que as pertubam, fazem um gesto de passar o dedo sobre uma superfície como se no movimento do touchpad, elas pudessem alterar a realidade. Estão chegando crianças  repetindo fragmentos sonoros extraídos da internet, que não fazem o menor sentido para ela mesma e para os pais, pois os dispositivos digitais  emitem sequências sonoras, mas são incapazes de sustentar uma comunicação efetiva, um diálogo com a criança. Esses são sinais dos impactos negativos do mundo virtual na vida das crianças.

Por outro lado, com as escolas fechadas, a opção dos professores é ministrar aulas online. Como as crianças devem se adaptar e se comportar para acompanhar essa nova modalidade de aprendizado?Estamos todos tateando frente ao novo. Mas é inegável que as aulas online precisam estar  atreladas a um contexto de realidade da criança e permitir que a partir dos conteúdos apresentados ela faça relações com  experiências vividas,  reais.  As crianças apreendem o mundo e aprendem por meio dos estímulos sensoriais, mediante o contato com a materialidade, com o concreto.

Qual o papel da literatura na infância neste momento de isolamento social? A literatura neste momento pode ser uma janela para o mundo exterior. Diferente dos desenhos animados e filmes, os livros não apresentam um cenário pronto ou uma paisagem fixa.  O trabalho em absorver uma história exige que a criança construa suas próprias imagens, e faça conexões para atribuir significado ao que está lendo ou ouvindo no caso de uma contação de história. Isso torna a criança  mais ativa na situação em comparação com a passividade gerada pelo olhar fixo nas telas. Diante das telas, corpo e imaginação ficam inativos,  ao passo que ao ler, ou ouvir uma história, a imaginação é despertada e capaz de percorrer mundos.

Algum registro, mensagem ou consideração final? Para finalizar quero dizer que a reconexão da infância com a natureza, é o que vai fazer o contraponto a este mundo para vez mais digital. A  relação da criança com o mundo natural  é o que vai garantir a formação de uma nova geração de guardiões da natureza e por consequência  a sustentabilidade do planeta Terra.

OBs.: a entrevista aconteceu no dia 28 de maio de 2020.

Abraço caloroso

Ana Lúcia Machado

 

Uso excessivo do digital

Este artigo fala sobre o uso excessivo do digital pelas crianças e traz 13 motivos para afastar as crianças das telas. Apresenta os efeitos negativos e impactos que o uso prolongado das telas pode ter na saúde mental, no desenvolvimento cognitivo, social, emocional da criança, além de problemas físicos relacionados.

Nas últimas décadas, o uso de dispositivos digitais tornou-se uma parte integral da vida moderna. Com o aumento da acessibilidade a smartphones, tablets e computadores, crianças têm cada vez mais contato com essas tecnologias desde a primeira infância.

A cada dia cresce o número de pais que liberam o uso dos celulares e tablets para bebês e crianças, para entretê-los e/ou mantê-los quietos. Mas já parou para observar como as crianças ficam quando estão em frente às telas?  – olhos esbugalhados fixos na tela, boca semi-aberta, cabeça baixa, postura corporal curvada, surdas ao seu entorno, num estado semelhante a hipnose.

Quais os prejuízos que o uso excessivo do digital pode acarretar ao desenvolvimento infantil? O que nós adultos, responsáveis pelas crianças e adolescentes, podemos fazer? Confira aqui:

USO EXCESSIVO DO DIGITAL 

13 MOTIVOS PARA AFASTAR AS CRIANÇAS DAS TELAS

 1.Impacto na Saúde Mental e Bem-Estar Psicológico

O aumento do uso do digital por crianças tem sido associado a um declínio no bem-estar psicológico. Crianças que passam mais de uma hora por dia em frente a telas digitais apresentam maior risco de desenvolver problemas emocionais, como ansiedade e depressão, (Twenge e Campbell, 2018). Este risco é ainda mais elevado em crianças que utilizam dispositivos sem supervisão e limites adequados.

Os dispositivos digitais podem induzir um estado de hipervigilância, onde as crianças estão constantemente expostas a estímulos visuais e auditivos. Isso não apenas interfere na capacidade de relaxar e descontrair, mas também aumenta os níveis de estresse. A comparação social, facilitada pelas redes sociais, também contribui para a diminuição da autoestima em crianças e adolescentes, que muitas vezes se sentem inadequados ao compararem suas vidas com as idealizações vistas online.

Exposição ao Estresse e Diminuição do Bem-Estar

Crianças pequenas, que ainda estão em processo de formação emocional, podem não estar preparadas para lidar com a pressão social e a constante exposição a conteúdos inadequados ou irreais. Assim, o tempo excessivo em telas pode criar barreiras para o desenvolvimento emocional saudável, levando à irritabilidade, problemas de controle emocional e maior vulnerabilidade a oscilações de humor.

 

2.Prejuízos no Desenvolvimento Cognitivo

O desenvolvimento cognitivo das crianças, especialmente na primeira infância, depende de estímulos variados, como brincadeiras ao ar livre em contato com a natureza, interação com outras crianças e exploração do ambiente. Elas precisam de atividades que estimulem o pensamento crítico, a resolução de problemas e a criatividade. O consumo passivo de conteúdo digital oferece pouco nesse sentido, limitando o desenvolvimento de habilidades cognitivas essenciais.

Crianças que passam muito tempo em telas digitais podem ter o desenvolvimento da substância branca do cérebro – crucial para a linguagem e o letramento – comprometido, (Hutton et al.,2019).

Diminuição da Atenção e Raciocínio Lógico

Além disso, sabemos que crianças que passam muito tempo em frente às telas apresentam maior risco de desenvolver sintomas de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), (Sahin e Ozdemir, 2018). A constante troca de estímulos em dispositivos digitais, como vídeos curtos e jogos rápidos, pode prejudicar a capacidade da criança de se concentrar por períodos prolongados, afetando o desenvolvimento de habilidades de raciocínio lógico e planejamento.

Dispositivos Digitais vs. Aprendizado Tradicional

Comparativamente, crianças que são incentivadas a participar de atividades que envolvem exploração prática, principalmente atividade feitas em ambientes naturais, além de leitura e interação social, tendem a desenvolver melhor suas capacidades cognitivas. O uso prolongado de dispositivos digitais muitas vezes retira a oportunidade de experimentação e aprendizagem ativa, trocando-a por um consumo passivo de conteúdo que empobrece a vida da criança.

 

3.Problemas Comportamentais e Sociais

O impacto do uso excessivo do digital também se estende ao comportamento e às interações sociais – provocando um aumento de comportamentos desafiadores, como hiperatividade e falta de controle emocional (Salo e Puntanen, 2020). Isso ocorre porque os dispositivos digitais proporcionam estímulos instantâneos e recompensas rápidas, incentivando comportamentos impulsivos e a busca constante por gratificação imediata.

Isolamento Social e Dificuldades de Socialização

Também foi observado que o uso excessivo do digital entre crianças de 2 a 5 anos está correlacionado com dificuldades na interação social, (Kostyrka-Allchorne et al., 2017),  dificuldade em estabelecer conexões emocionais com seus pares, o que pode prejudicar a socialização a longo prazo.

A falta de interações face a face, e de experiências compartilhadas impede a construção de habilidades sociais importantes, como empatia, capacidade de negociação e cooperação. Além disso, adolescentes que passam muito tempo online podem preferir a interação virtual em vez de conversas presenciais, o que pode isolá-los socialmente.

Redução do Convívio Social

As telas dão falsa sensação de convivência e vínculo. Convívio é olho no olho, é presença. E a falta de convivência física pode levar ao desenvolvimento de problemas de comunicação, como dificuldade em interpretar expressões faciais e linguagem corporal. O equilíbrio entre o uso de telas e as interações presenciais é crucial para um desenvolvimento social saudável.

A Influência do Ambiente Familiar

A falta de mediação parental no uso de dispositivos digitais pode exacerbar esses problemas comportamentais, (Shin e Li, 2017). Crianças que não têm limites adequados no uso da tecnologia estão mais propensas a se tornarem emocionalmente dependentes dos dispositivos, o que pode levar a comportamentos desafiadores, como resistência às regras,  impulsividade e até mesmo agressividade.

 

4.Dificuldades no Controle Executivo

O tempo excessivo de tela também afeta negativamente o desenvolvimento das funções executivas das crianças, como controle inibitório, flexibilidade cognitiva e planejamento, (Radesky e Christakis, 2016). As funções executivas são essenciais para que as crianças aprendam a controlar impulsos, gerenciar o tempo e resolver problemas de maneira eficaz.

Crianças que são expostas a uma grande quantidade de estímulos digitais rápidos podem ter mais dificuldade em desenvolver essas habilidades, especialmente se comparadas àquelas que participam de atividades que exigem maior atenção, paciência, como jogos de tabuleiro, leitura, montagem de quebra-cabeças, ou atividades que requerem um estado de contemplação, como visitas a museus ou passeios na natureza.

5.Comprometimento do Desenvolvimento Emocional

O acesso precoce e uso excessivo do digital pode comprometer o desenvolvimento emocional das crianças. Isso ocorre porque esses aparelhos muitas vezes substituem as interações sociais diretas, limitando a capacidade das crianças de desenvolver empatia, compreender os sentimentos dos outros e gerenciar suas próprias emoções.

Dificuldade em Lidar com Frustrações

Além do que, a constante busca por gratificação imediata proporcionada pelos jogos e aplicativos pode diminuir a tolerância à frustração. Crianças que se acostumam com recompensas rápidas podem ter dificuldade em lidar com situações que exigem paciência ou que envolvem resultados não imediatos.

 

6.Sedentarismo, aumento da inatividade corporal

Nossas crianças estão se movendo menos do que qualquer outra geração na história da humanidade; o tempo em ambientes fechados e o tempo de tela aumentaram assustadoramente. Enquanto recorremos com mais frequência a soluções cômodas baseadas em tecnologia, muitas tarefas que antes exigiam movimentação corporal agora são feitas com um simples toque dos dedos. Eliminamos assim o movimento do corpo, do qual nossa saúde física/mental depende, mas não eliminamos a necessidade de exercitação do nosso organismo.

Esse estilo de vida sedentário pode levar a problemas como obesidade, doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos. Crianças que passam mais de duas horas por dia em telas têm maior risco de desenvolver sobrepeso e complicações associadas. Ademais, a inatividade pode impactar negativamente o desenvolvimento motor, afetando a coordenação e a força muscular.

Para combater o sedentarismo, é fundamental incentivar atividades físicas regulares, como brincadeiras ao ar livre em ambientes naturais, prática de esportes, exercícios em família, promovendo um estilo de vida mais ativo e saudável.

 

7.Obesidade infantil

A inatividade corporal cria um ambiente propício para o ganho de peso excessivo. O consumo de alimentos não saudáveis, muitas vezes associado ao uso de dispositivos, agrava a situação. Crianças que assistem a programas de televisão ou jogam videogames tendem a consumir mais lanches calóricos e refrigerantes, exacerbando o risco de obesidade.

As consequências da obesidade infantil vão além do peso, incluindo problemas de saúde como diabetes tipo 2, hipertensão e distúrbios psicológicos. Para combater essa epidemia, é fundamental limitar o tempo de tela, colocar o corpo em movimento e incentivar hábitos alimentares saudáveis, criando um estilo de vida equilibrado.

 

8.Distúrbio do Sono Infantil

A saúde e desenvolvimento infantil sofrem impactos negativos com o excesso de telas e causam distúrbios significativos no sono das crianças, A exposição prolongada às telas, especialmente antes de dormir, interfere na produção de melatonina, o hormônio que regula o sono. A luz azul emitida por smartphones, tablets e computadores suprime a liberação dessa substância, dificultando o adormecimento, a qualidade e a duração do sono.

De mais a mais o conteúdo estimulante consumido pelas crianças, como jogos ou vídeos, pode mantê-las mentalmente ativas, prolongando o estado de alerta, causando problemas como insônia, dificuldade para manter um sono contínuo e gerando sonolência diurna.

Esses distúrbios do sono prejudicam o rendimento escolar, afetam o humor e aumentam o risco de problemas de saúde, como obesidade e déficit de atenção. Para garantir um sono saudável, é fundamental limitar o uso de telas, principalmente durante as horas que antecedem o momento de dormir.

 

CONFIRA ENTREVISTA no meu canal do Youtube –  Infância hiperdigitalizada  

 

9.Dependência 

O uso abusivo do digital é viciante, pode levar à dependência em crianças, um fenômeno cada vez mais observado por profissionais que atendem as crianças. O design de muitos aplicativos, jogos e redes sociais é criado para manter os usuários engajados por longos períodos, o que pode gerar um ciclo de uso compulsivo e dificuldades para limitar o tempo de tela.

Crianças que passam horas diárias em dispositivos digitais podem desenvolver sinais de dependência, como irritabilidade quando afastadas das telas, falta de interesse por outras atividades e dificuldades em socializar. Além disso, o uso excessivo de dispositivos digitais pode interferir no desenvolvimento emocional e cognitivo, uma vez que o cérebro em formação se adapta à gratificação imediata oferecida pelos jogos e vídeos online.

 

10.Alterações da Visão

O acesso precoce e uso excessivo do digital tem sido associado ao aumento de problemas de visão em crianças, como a miopia. A exposição prolongada a telas pode forçar os olhos a focarem objetos próximos por longos períodos, o que pode alterar o desenvolvimento ocular e resultar em miopia. Esse problema tem se tornado mais comum entre crianças que passam várias horas por dia em smartphones, tablets ou computadores, principalmente em ambientes fechados e com pouca luz natural.

Além da miopia, o tempo excessivo em dispositivos pode causar fadiga ocular digital, caracterizada por sintomas como visão embaçada, secura nos olhos e dores de cabeça. Isso ocorre porque a falta de pausas adequadas e a exposição prolongada à luz azul emitida pelas telas sobrecarregam os músculos oculares. Limitar o tempo de tela e incentivar atividades ao ar livre pode ajudar a prevenir esses problemas de visão.

 

11.Disfunções Posturais e Articulares

O uso excessivo do digital por crianças pode levar a disfunções posturais e articulares, um problema crescente na era digital. Passar longos períodos em frente a telas, muitas vezes em posturas inadequadas, como curvar-se sobre tablets ou smartphones, pode resultar em problemas como a “síndrome do pescoço de texto”, caracterizada por dor no pescoço e ombros devido à posição inclinada da cabeça.

Além disso, o uso prolongado de dispositivos em posições estáticas contribui para dores nas costas e desalinhamento da coluna, especialmente durante fases importantes do desenvolvimento físico. Crianças também podem desenvolver disfunções articulares nos punhos e mãos, como tendinites, devido ao uso repetitivo de teclados e telas sensíveis ao toque.

Esses problemas posturais podem afetar o crescimento saudável e causar dores crônicas a longo prazo. Incentivar pausas regulares, o uso de mobiliário ergonômico e a prática de atividades físicas pode ajudar a prevenir essas disfunções posturais e articulares.

 

LEIA TAMBÉM: INFÂNCIA DIGITAL – O PERIGO DA DESCONEXÃO COM A VIDA

12.Riscos Auditivos

A exposição prolongada a fones de ouvido e o volume elevado de músicas, vídeos e jogos podem causar danos permanentes à audição. Crianças que ouvem música em volumes excessivos têm maior probabilidade de desenvolver perda auditiva precoce e zumbido.

A falta de consciência sobre o volume seguro pode levar a um comportamento negligente, pois as crianças muitas vezes não percebem o dano que estão causando aos seus ouvidos. Os danos auditivos podem ser cumulativos e não apresentarem sintomas imediatos, dificultando a percepção do problema.

Para proteger a audição das crianças, é crucial estabelecer limites no volume dos dispositivos e incentivar o uso moderado de fones de ouvido. Promover pausas regulares durante o uso de dispositivos digitais também é fundamental para garantir a saúde auditiva e prevenir complicações a longo prazo.

 

13.Excesso de radiação

A exposição excessiva a dispositivos digitais levanta preocupações quanto aos possíveis efeitos da radiação eletromagnética emitida por esses aparelhos. Embora ainda existam debates sobre os impactos a longo prazo, algumas pesquisas indicam que crianças são mais vulneráveis à radiação, pois seus cérebros e corpos estão em fase de desenvolvimento, absorvendo uma quantidade maior de ondas eletromagnéticas em comparação aos adultos.

A exposição prolongada à radiação dos dispositivos digitais pode estar associada a possíveis problemas de saúde, como alterações no padrão de sono, dificuldades cognitivas e, em casos mais graves, riscos aumentados para doenças como tumores cerebrais a longo prazo.

Especialistas recomendam a limitação do tempo de uso de dispositivos por crianças, incentivando o uso moderado e adotando medidas de segurança, como manter os aparelhos longe da cabeça e do corpo.

 

USO EXCESSIVO DO DIGITAL

O EQUILÍBRIO É O CAMINHO

Embora a tecnologia ofereça benefícios, o acesso precoce e uso excessivo do digital pode ter consequências negativas para o desenvolvimento físico, mental e emocional das crianças e dos adultos também.

O uso excessivo do digital vai além da questão do tempo demasiado de telas. Inclui também aspectos como: algoritmo viciante, vídeos curtos que prejudicam o desenvolvimento cerebral, e ainda conteúdos inadequados tais como discursos de ódio, apostas online, pornografia, etc.

Fica claro que o acesso precoce e uso excessivo do digital impacta de forma  negativa o desenvolvimento das crianças prejudicando a saúde mental, o desenvolvimento cognitivo e as interações sociais, além de contribuir para problemas comportamentais, físicos e emocionais.

Portanto, é crucial que pais, educadores, terapeutas e cuidadores possam ajudar as crianças a navegar nesse mundo digital de forma saudável, estabelecendo limites claros para o uso de dispositivos digitais por crianças. Isso inclui promover a mediação parental adequada, monitorar o conteúdo acessado, reduzir o tempo de tela, incentivar a vida offline com atividades ao ar livre em contato com a terra, a água, plantas,  e animais.

Ao estabelecer um equilíbrio saudável entre o mundo digital e o físico, ajudamos nossas crianças a crescerem mais felizes, saudáveis e emocionalmente equilibradas. Colocar mais natureza no dia a dia das crianças é um excelente caminho. A natureza atua na vida da criança de maneira inteligente, executando um trabalho de excelência e ainda por cima gratuito! Você pode confiar!


Recomendações para aprofundamento do tema

Se você está preocupado com os impactos do acesso precoce e uso excessivo do digital, o documentário O Dilema das Redes Sociais” é uma recomendação essencial. Ele explora como as redes sociais são projetadas para manipular nossa atenção, moldar comportamentos e até afetar a saúde mental, destacando os perigos para crianças, adolescentes e adultos. O filme reúne especialistas em tecnologia que explicam como algoritmos criam um ciclo viciante de uso.

Outra dica é o programa Café Filosófico ‘Intoxicações Eletrônicas na Primeira Infância’., com a Dra. Julieta Jerusalinsky, psicanalista e especialista em desenvolvimento infantil. O programa traz uma reflexão  sobre os desafios que a tecnologia impõe na primeira infância e alerta para os riscos das chamadas “intoxicações eletrônicas”.

Para uma análise mais profunda, recomendo a leitura do livro Crescer saudavelmente no mundo das mídias digitais – Um guia de orientação para pais, professores e todos os demais responsáveis por crianças e jovens, de Michaela Glöckler. Um manual de orientações e esclarecimentos quanto aos perigos e riscos do uso indiscriminado das mídias digitais por crianças e jovens.

Indico também estes outros livros:

Fábrica de Cretinos Digitais, de Michel Desmurget

Geração Ansiosa, de Jonathan Haidt

Liberdade e Resistência na Economia da Atenção, de James Williams

Tanto Desmurget como Haidt abordam como a exposição precoce e excessiva às telas está prejudicando o desenvolvimento intelectual das crianças, enquanto Williams discute como a economia da atenção afeta nossa liberdade de pensamento e ação. Ele alerta sobre a existência de uma indústria inteira empenhada em capturar aquilo que cada um de nós tem de mais precioso: nosso tempo e nossa atenção. Esta indústria faz uso de técnicas sofisticadas de inteligência artificial, para nos manter conectado por muito mais tempo.

Esses são livros que trazem reflexões urgentes sobre o uso consciente da tecnologia e o impacto da economia digital nas futuras gerações.

Gostou deste post? Compartilhe suas experiências nos comentários e me diga como você tem equilibrado o uso da tecnologia com outras atividades para as crianças.

 

Abraço afetuoso

Ana Lúcia Machado

 

 

 

AFETO E INFÂNCIA NA ERA DA COMPLEXIDADE

O afeto é o que sustenta a vida humana. Ele é essencial no desenvolvimento integral da criança e garante a formação de um indivíduo com melhores condições de lidar consigo mesmo e com os outros.

Vivemos um momento de grande complexidade e a infância se encontra no centro das incertezas desta época.  As mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas alteraram de forma considerável a estrutura da vida familiar e seus reflexos podem ser observados nitidamente na vida da criança.

Os hábitos cotidianos transformaram-se significativamente, modificando o ritmo e a rotina dos pequenos, que agora têm estilos de vida mais individual e são sedentárias, o que desfavorece o convívio social, as atividades físicas, a imaginação, e a autonomia infantil.

A dinâmica imposta por essas  mudanças  gerou isolamento  e adultização  das crianças,  expondo-as, assim, às mesmas angústias e estresses a que os adultos estão sujeitos, e causando, em muitos casos, males físicos e psicológicos.

O processo de urbanização acelerado e não planejado, associado ao medo pelo aumento da violência, ergueu muros e contribuiu para uma cultura de confinamento. Além disso, valores da sociedade de consumo tomaram conta do universo da criança. Ela é intensamente exposta  a conteúdos que incentivam o consumismo e seduzida por apelos do mundo moderno, repleto de inovações tecnológicas, e tem seu tempo e espaço lúdico invadidos e reduzidos.

Esse é o panorama da infância da atualidade, um cenário que não favorece o desenvolvimento saudável da criança nessa etapa tão importante da vida. A infância é o período no qual edificamos as bases que sustentarão tudo o que virá depois – chão firme que apoiará os passos futuros na juventude, na maturidade e até mesmo no envelhecimento. É a fase em que a qualidade das interações sociais é fundamental para a construção de memórias afetivas cheias de significado, que contribuirão para a formação de sujeitos éticos, resilientes, empáticos, cooperativos e próativos na sociedade.

A infância não é  uma etapa que fica para trás depois que nos tornamos adultos, pois é um ciclo vivo, que volta, e se renova. Ecos da criança que fomos continuam a ressoar dentro de nós no decorrer da vida.

Nas palavras do pediatra  e professor titular da Universidade de Brasília,  Márcio Lisboa: “tudo se forma nos primeiros anos de vida.[…] Como adultos, somos, do ponto de vista da personalidade, o que éramos aos 6 anos. O que significa que nossa estrutura se forma nos primeiros anos de vida. […] Tudo o que acontece neste período reflete na vida adulta sob o ponto de vista físico, emocional e social.”

O nascimento é a primeira grande experiência vivida pelo ser humano e o primeiro obstáculo a ser superado no processo de desenvolvimento. Ao deixar a segurança e proteção do útero materno, o bebê tem que enfrentar os desafios de um mundo desconhecido, o que exige adaptações físicas e psicológicas.

O bebê tem uma relação íntima e praticamente simbiótica com a mãe, e desde os primeiros instantes de vida é ela quem exerce forte influência no desenvolvimento e na formação da sua personalidade.

 

Hoje, sabemos que a qualidade dos cuidados parentais que as crianças recebem é de fundamental importância para a estruturação do cérebro infantil e sua saúde mental futura.  As experiências vividas  por elas têm impacto duradouro na arquitetura cerebral. Nos anos iniciais de vida, formam-se de 700 a 1.000 conexões cerebrais por segundo, que constroem a base para o desenvolvimento cognitivo, emocional e relacional.

Os gestos do adulto na hora de alimentar, dar banho, ninar a criança, trocar sua fralda e seus sentimentos em relação a ela vão provocar reações agradáveis ou não. É necessário que a criança tenha a vivência de uma relação afetuosa, prazerosa e estável com sua mãe –  ou com o cuidador que a substitua –  para a formação do apego e do vínculo, que são a base para o desenvolvimento da personalidade, do caráter e da saúde mental do indivíduo.

Todo o ambiente que envolve a criança e os estímulos sensoriais que ela recebe devem ser amigáveis a ela – texturas, aromas, imagens  e sons que proporcionem vivências genuinamente humanas por meio da expressão facial,  olhar e sorriso, do toque, do tom da voz, e gesto lúdico.

Durante muito tempo, a criança é totalmente dependente de outros seres humanos para sua alimentação, cuidados com higiene, proteção, apoio emocional e estímulos, que são essenciais para o seu desenvolvimento biopsicossocial.

Do ponto de vista das relações humanas, a doutora e psicanalista infantil Julieta Jerusalinsky  avalia a importância dos primeiros anos de vida da criança como um  momento basilar na constituição psíquica, pois se trata da apropriação do próprio corpo e da relação consigo  e com os outros.

 

A CONSTRUÇÃO DO AFETO NA INFÂNCIA

Ao nascer, a criança é entregue à família, que possui o papel de “útero social”, dividido posteriormente com a escola e a comunidade.  Trata-se da segunda gestação, que agora, por meio de relações de afeto com pais, irmãos, avós, tios, professores, amigos e outras crianças, e também do contato com a natureza, vai proteger a criança emocionalmente durante os primeiros anos até que ela possa seguir com confiança e autonomia. O enfrentamento de obstáculos, conflitos, críticas, pela criança, em um ambiente permeado pela afetividade, auxiliará no fortalecimento da sua estrutura psíquica e cognitiva.

A autoestima da criança se constrói durante a infância, tendo como alicerce a afetividade. Uma criança que recebe afeto se desenvolve com muito mais segurança e confiança. A afetividade interferirá na maneira como as pessoas veem as situações e como reagem a elas. É como uma raiz – sustenta a vida emocional da criança, promove sua autoestima e autoconfiança, gera bem-estar e influencia o comportamento humano.

Por afetividade entende-se a qualidade ou caráter de quem é afetivo; o conjunto de fenômenos psíquicos que são experimentados e vivenciados na forma de emoções e sentimentos; a tendência ou capacidade individual de reagir facilmente aos sentimentos e emoções; emocionalidade. Dicionário Houaiss,2009.

Afeto diz respeito àquilo que afeta, ao que mobiliza, por isso reporta à sensibilidade, às sensações. Podemos, ainda, referir afeto como ser tomado por, atravessado, perspassado, quer dizer: afetado. (GOMES e MELLO, 2010.

O afeto se manifesta por meio de sentimentos, atitudes, ações positivas e afirmativas, na interação entre pais, cuidadores e professores e a criança, favorecendo seu amadurecimento. Afeto é a expressão respeitosa que se escolhe em resposta a dificuldades, contrariedades e desafios diante das etapas de desenvolvimento da criança. É a maneira  amorosa de reagir e enfrentar as dores cotidianas naturais, as frustrações decorrentes das vontades que nem sempre podem ser satisfeitas, e a ansiedade pelo tempo de espera das coisas.

O RESPEITO ÀS ETAPAS DO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

Apesar de a nossa cultura ter a tendência de querer eliminar as sensações desagradáveis, como a dor, é importante compreender que elas contribuem para o desenvolvimento da percepção, controle e domínio  das emoções pela criança. Quem não tem a oportunidade de fortalecer-se com as vivências dolorosas comuns do dia a dia, mais tarde tenderá  escapar dos sofrimentos inevitáveis da vida de modo inadequado para o viver  em sociedade.

A educação da criança, tanto no âmbito familiar quanto escolar, precisa de bases sólidas que a sustentem. Compreender a natureza da criança, suas características e necessidades biopsicossociais e  espirituais frente  às etapas do seu desenvolvimento  é o ponto de partida para trilhar de maneira segura o caminho da desafiadora  tarefa da educação nos dias de hoje.

É importante respeitar todas as  etapas do desenvolvimento infantil para a formação de indivíduos saudáveis e autônomos, compreendendo que cada fase serve como base para a próxima, e todas elas exigem um trabalho interno da criança, além de estímulos saudáveis do mundo externo.

É necessário entender que a criança apreende o mundo e aprende de forma gradual, de acordo com seu nível de sua compreensão, segundo uma ordem interna de prioridades, ordenadas pelos conhecimentos já assimilados por ela. Portanto, é fundamental respeitar o ritmo da criança, sem antecipação e sem pressa.

Espera-se que pais e educadores atuem como facilitadores desse processo, pois o ser humano depende do ambiente em que vive, do incentivo que recebe e da interação com outros seres humanos para se desenvolver. Na concepção do psicólogo russo Vygotsky, o ser humano não se constrói ser humano se o outro não estiver presente. O humano existe na interação com seus pares. O papel do outro é atribuir significado às experiências e vivências da criança e ser exemplo do modo de ser e estar no mundo de maneira ética.

Além disso, a criança precisa sentir que é capaz de atrair a atenção daqueles que a rodeiam  e perceber que seus gestos, expressões, e necessidades, podem provocar reações no outro, alterando o seu estado. O efeito produzido no adulto também afeta a criança, retroalimentando assim o importante jogo de ação e reação, a influência mútua a que chamamos interação – convívio e comunicação que geram intimidade.

E não é somente na primeira infância que um ambiente de afeto é fundamental. A partir dos sete anos, e à medida que as crianças avançam para a pré-adolescência e a puberdade, a presença, a atenção, a conversa, a mediação e, principalmente, o modo de viver dos pais são de extrema importância para atravessar essa fase em que os adolescentes buscam externamente referências e identificações.

Nesse momento, a rede social formada por familiares e amigos, criada e cultivada durante os anos anteriores, poderá funcionar como uma ponte segura para atravessar essa fase de transição.

Esse é o ideal de educação que queremos alcançar, pautado por disponibilidade ao outro, interesse genuíno, escuta atenta, encontros autênticos e relacionamento profundo. Contudo, não vivemos em um mundo ideal e cada época impõe seus desafios. Dessa forma, convém questionarmos  quais são os desafios da contemporaneidade.

É certo que avançamos de maneira positiva em relação ao fortalecimento dos vínculos parentais a partir de valiosas mudanças. Hoje ao nascer o bebê é imediatamente colocado no peito materno; é feito o alojamento conjunto nas maternidades; estimula-se a amamentação, a livre demanda do leite materno, e a colocação do bebê no quarto dos pais nos primeiros meses. Além disso, a ampliação da licença maternidade e a criação da licença paternidade, ainda que não totalmente satisfatórias, por trata-se de um período curto, são consideradas  conquistas importantes para a promoção da proximidade do bebê à mãe e ao pai. Entretanto percebe-se que as políticas públicas são insuficientes para que essas medidas sejam efetivadas com sucesso. Sabemos que muitas mães são pressionadas a retornar ao trabalho antes do cumprimento total da licença e que algumas optam espontaneamente por encurtar esse período. O que as levam a escolher retornar ao trabalho antecipadamente?

Em 2012 a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal  solicitou ao IBOPE uma pesquisa intitulada “A visão da sociedade sobre o desenvolvimento da Primeira Infância”, com o objetivo de identificar percepções e práticas da sociedade no tocante ao desenvolvimento integral da criança. Em resposta a pergunta ‘o que é importante para o desenvolvimento da criança de 0 a 3 anos?’, a pesquisa apontou baixos percentuais atribuídos à tópicos relativos à afetividade, tais como: conversar com a criança (19%) , receber atenção dos adultos (18%), receber carinho e afeto (12%), conforme pode ser visto abaixo. Esse resultado insatisfatório, demonstra o tamanho do desafio que a sociedade tem que enfrentar.

Afeto e infância

Um estudo feito com 14.000 crianças dos Estados Unidos, concluiu que 40% delas não têm vínculos emocionais fortes com seus pais. Os pesquisadores descobriram que essas crianças são mais propensas a enfrentar problemas de aprendizagem e de comportamento.

Outra questão desafiadora que se impõe atualmente  é que as crianças vão para a escola cada vez mais cedo, devido ao fato de pai e mãe trabalharem fora. Esse afastamento precoce do ambiente familiar e consequente antecipação da vida escolar, acaba complicando os limites de atuação entre a família e a escola. Como fica a educação de base até então de responsabilidade da família?  O psiquiatra Içami Tiba (Quem ama educa, 2002)  avalia que “a escola sozinha não é responsável pela formação da personalidade, mas tem papel complementar ao da família”.

A PRESENÇA E A ATENÇÃO DOS PAIS SÃO MUITO IMPORTANTES

É preciso levar em conta que muitas famílias estão desestruturadas. Muitos pais esquecem sua responsabilidade em dar amor, apoio emocional, educar os filhos e participar de suas vidas ativamente. Quais as consequências da carência afetiva na vida da criança?

No livro “A criança terceirizada”, o pediatra Dr. José Martins Filho,  usa o termo “terceirização” para referir-se à transferência das funções paternas e maternas para outras pessoas e relata casos de pais que passam a semana sem ver os filhos, pois, ao saírem de casa muito cedo, eles ainda estão dormindo e ao retornarem, à noite, já estão na cama.  No atendimento em seu consultório, frequentemente ele se vê diante de pacientes que  chegam acompanhados pelas avós, e muitas vezes apenas pelas babás. Que efeito essa ausência parental produzirá na formação da personalidade dessas crianças?

Na visão do Dr. Márcio Lisboa, a tendência à agressividade e ocorrências de comportamentos anti-sociais cada vez mais frequentes, podem ser explicadas pela falta do aprendizado de valores, limites, disciplina,  baixa autoestima, e privação materna durante a primeira infância. Ele apresenta  estudos que  analisam  a biografia de indivíduos portadores de distúrbios comportamentais e que apontam evidências de transtornos afetivos graves com origem na primeira infância, permitindo a conclusão que a semente da violência é implantada na criança em seus primeiros anos de vida pela carência de relações de afeto.

Em 2017 a mídia noticiou uma escola de educação infantil na cidade de São Paulo que oferece uma variedade de serviços que vão além da esfera educacional, o que causou grande polêmica por suscitar uma importante discussão a cerca dos limites de atuação da escola e a responsabilidade das famílias na participação da vida dos filhos. Com o objetivo de aliviar as obrigações dos pais com as atividades domésticas do dia a dia e com isso proporcionar tempo de qualidade  com seus filhos, a instituição oferece um amplo cardápio de facilidades às famílias: lavagem  dos uniformes usados pelas crianças, todas as refeições, inclusive o jantar com opção de compra de comida congelada para os fins de semana, a possibilidade de contratação de professoras como babás, e ainda o serviço de corte de cabelo das crianças na escola. Tais facilidades sugerem uma desconexão com a própria vida, a medida que entrega nas mãos das crianças tudo pronto, sem que elas possam perceber as etapas de feitura das coisas e vivenciar processos.

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A constante transferência de responsabilidades em relação aos cuidados e atenção que uma criança exige, além de estar sendo repassada para as escolas, também tem sido  entregues aos meios digitais. As crianças têm ficado cada vez mais tempo entretidas com TVs, jogos eletrônicos, smartphones, tablets, e o tempo disponibilizado para essas atividades têm sido maior que o convívio com outras crianças  e com a família, levando ao isolamento social.

A Dra. Jerusalinsky  alerta quanto ao acesso precoce e uso excessivo desses dispositivos digitais pelas crianças, ressaltando os perigos que ameaçam a infância pelo uso de forma inadvertida e a importância da riqueza da experiência interativa presencial nos anos iniciais de vida.

Entre os perigos apontados encontram-se a ausência psíquica dos pais, que muitas vezes estão de corpo presente mas ausentes psiquicamente em relação àqueles que estão ao lado; a linguagem fragmentada, fria e de isolamento produzida por esses aparelhos, que emitem sequências sonoras mas não estabelecem um diálogo, e a falta de mediação dos adultos em relação as informações acessadas pelas crianças via internet – informações descontextualizadas, desprovidas das experiências vivenciadas dos adultos, sem a transmissão de valores culturais.

Não se trata de negar os diversos benefícios das inovações tecnológicas  ou  classificá-las  como maléficas, mas de refletir sobre as influências  e consequências  desta revolução digital na vida das crianças em fase de formação. Profissionais da área da saúde, especializados na Primeira Infância, tais como a Dra. Julieta Jerusalinsky, a Dra. Ilana Katz, estão questionando que modelo do que é ser humano é oferecido às crianças hoje. Uma vez que elas veem adultos conectados 24 horas, o que elas estão assimilando a cerca de como acontecem as relações humanas? O que é estar com o outro numa relação de afetividade? Existe relação sem celular?

afeto e infânciaAdultos e crianças estão sendo sugados para seus próprios mundos digitais e as consequências disso para a infância são danosas, pois interfere no convívio social, na interação e na qualidade dos relacionamentos, restringe a comunicação, o olhar, o toque, interrompe momentos de intimidade familiar a cada novo toque dos aparelhos.

É essencial estabelecer limites seguros e coerentes de tempo de uso das telas pelas crianças e, sobretudo, examinar  nossas próprias condutas em relação ao uso que fazemos desses aparelhos. É preciso rever o mundo que apresentamos às crianças na atualidade e instituir  princípios  e valores éticos capazes de  nortear a educação delas.

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AFETO E INFÂNCIA – COMO PODEM ACONTECER AS DEMONSTRAÇÕES DA AFETIVIDADE?

Somos seres sociais, precisamos construir vínculos afetivos. Sem afeto, não podem existir nem família nem outras relações sociais de proximidade, e nessa situação uma criança não consegue se desenvolver de forma saudável. O afeto é uma força que atrai, que busca proximidade, ligação  e intimidade. É como um óleo lubrificante, facilitador das relações humanas e dinâmicas sociais.

No mundo material, o afeto é invisível, impalpável. De natureza etérea, ele pode ser percebido em sutilezas. Está presente no brilho do olhar e na luminosidade do sorriso, na temperatura da pele e calor do toque. Está no ar – na entonação da voz, no ritmo da canção de ninar e no tom da conversa. Está no aroma e sopro quente do hálito de quem conta uma história bem de perto. O afeto vive nos lábios do beijo de boa noite. Vive em cada micro segundo das tarefas cotidianas que fazemos junto com os filhos. Manifesta-se  na capacidade de estar disponível para compartilhar com eles acontecimentos corriqueiros do dia, descobertas, decepções, frustrações, etc. Expressa-se na convicção  e transmissão de princípios e valores éticos, na clareza dos limites estabelecidos, na firmeza ao dizer “não” quando necessário, e na sensação de acolhimento do riso, da alegria, do choro e da dor comuns do viver.

Pais, educadores e todos os profissionais que atendem à criança, são  os maiores responsáveis por desenvolver uma consciência que entenda a cultura da infância como uma etapa particular do processo de iniciação do humano, de forma a garantir a sobrevivência da espécie. Nossa capacidade de viver neste planeta de maneira digna, depende de soluções inovadoras e do olhar atento ao começo da vida, à garantia da saúde da infância.  A esse cuidado e olhar atento dá-se o nome de afeto.

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Abraço caloroso

Ana Lúcia Machado

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O USO DO MUNDO DIGITAL PELAS CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS

O uso do mundo digitalpelas crianças de 0 a 3 anos

O uso do mundo digital pelas crianças de 0 a 3 anos pode trazer prejuízos? A criança de 0 a 3 anos precisa das mídias digitais para se desenvolver bem? Quando uma criança deve ser exposta a mídias digitais?

Essas e outras perguntas são respondidas neste artigo pela Psicóloga, Psicanalista, Doutora em Psicologia Clínica USP-SP – Claudia Mascarenhas Fernandes, pela Professora Associada de Pediatria e Clinica de Adolescentes da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Evelyn Eisenstein, e pelo Médico Neuro Pediatra da Metaclinica e Neuro Fisiologista do Hospital Universitário Pedro Ernesto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Eduardo Jorge Custódio da Silva.

A CRIANÇA DE 0 A 3 ANOS E O MUNDO DIGITAL

Qual a idade para uma criança começar a ter acesso online a jogos, vídeos ou filmes? O smartphone pode ser considerado “brinquedo” ou ser usado como “distração”? Quais são as consequências a curto e longo prazo no desenvolvimento cerebral e mental de crianças que tem acesso às telas de televisões, computadores, notebooks ou celulares? Qual a importância do “tempo de telas” para crianças que estão na fase mais importante de seu crescimento e no início das descobertas do mundo à sua volta? Estas são algumas das questões mais urgentes de discussão entre os profissionais de saúde que cuidam de crianças e muitos pais que não sabem como se adaptar aos tempos das novas tecnologias na vida cotidiana junto com seus filhos, algo que iremos descrever neste artigo, como um início de conversa a ser aprofundada por cada um.

O uso do mundo digitalpelas crianças de 0 a 3 anos

Os três primeiros anos de vida constituem uma janela de oportunidades à promoção da saúde. É um período critico do desenvolvimento, quando observamos a fase de maior plasticidade cerebral (capacidade do sistema nervoso de se reorganizar e adaptar as redes neuronais em resposta às exigências ambientais/externas ou orgânicas/internas), ou seja, uma capacidade aumentada do cérebro em se remodelar em função das experiências da criança na descoberta do mundo à sua volta.

As funções cognitivas encontram-se localizadas nas áreas específicas do encéfalo. E para o desenvolvimento da maioria dos processos cognitivos, a interação afetiva positiva e a cooperação de neurônios nas conexões neuronais é fundamental.

No córtex cerebral é possível distinguir varias áreas de associação: Áreas pré-frontal (motora), córtex de associação parieto-temporo-occipital (sensorial), e o córtex de associação límbico (emocional).

Para que o desenvolvimento neuro-psicomotor, e nossas redes neurais se formem corretamente, o ser humano tem etapas a serem cumpridas, com os estímulos adequados a cada faixa etária. O apego positivo e a relação amorosa que a criança estabelece com a sua mãe, seu pai e sua família, ao seu redor, irmãos, tios, avós são fundamentais para o desenvolvimento do prazer nos relacionamentos futuros e a prevenção de muitos transtornos comportamentais e outras psicopatologias, mais tarde. É a formação do binômio mãe-filho e dos vínculos fundamentais para o conceito de família. Ser o “centro da atenção” com suas necessidades básicas é o aprendizado inicial da socialização, mas também das regras básicas da empatia e das respostas que surgirão às questões de convivência e sobrevivência. Por isso, insistimos na proteção familiar e social como fundamento essencial para o crescimento e desenvolvimento saudável dos primeiros anos de vida.

A psicanálise trabalha com a premissa de que “o Sujeito se constitui na sua relação ao Outro”. A psicologia perinatal trabalha com a idéia de que de 0 a 3 anos é momento da vida onde, mesmo que se queira, não se consegue separar corpo e psiquismo. A psicologia do desenvolvimento indica que até os 3 anos se espera que a criança fale na primeira pessoa, “eu”, pois está desenvolvendo a noção que não só existe, mas é uma pessoa muito importante pois quer ser reconhecida e demanda atenção total “do outro” mesmo sendo no caso uma criança. Essas três vertentes fazem levantar algumas questões sobre o uso do mundo digital pelas crianças de 0 a 3 anos.

Uma conseqüência dessa premissa inicial é que todo tipo de relação da criança com o mundo, para ser positiva e favorecer seu desenvolvimento global, precisa passar em alguma instância, pelas relações humanas que a envolvem e que começam a desenvolver com as pessoas da família com quem convive. A relação da criança com o corpo, com os objetos e com os seus semelhantes, está em todos os aspectos, sob esse envoltório maior de um mundo de desejo, de olhar, de palavra, dessa dependência inicial do humano a outro humano, e do espelho das ações dos outros à nossa volta, e que irá marcar as relações humanas, o início da sociabilização.

O USO DO MUNDO DIGITAL PELAS CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS

Algumas conseqüências da exposição de crianças de 0 a 3 anos às telas e mídias digitais:

O CORPO ESTÁ FORA DA AÇÃO

Para uma criança conhecer o mundo e portanto se desenvolver, sua motricidade precisa estar engajada nesse projeto: de modo concreto, implica deslocamentos, movimentações, coordenações sensoriais, manipulações. É a inteligência sensório-motora. Até 2 anos, a pura imagem, além de não lhe ensinar nada (pois se traduz unicamente por movimentos em frente aos seus olhos) dificulta-lhe a aprendizagem quando economiza ou evita o engajamento do corpo no projeto de conhecer o mundo, começar a movimentar o corpo, engatinhar, andar, tocar objetos e alcançar com suas pernas e braços o mundo ao redor.

O CORPO FICA SEM SENTIR

De todos os sistemas sensoriais, a visão é o sistema mais complexo. No começo da vida, o sistema visual precisa de outros sistemas sensoriais para checar, confirmar e construir as percepções multissensoriais : sensações do tato, da audição, do calor/frio, além do gosto/paladar estão em formação, no desenvolvimento cerebral e mental.

Os sons são vibrações do meio externo que se transmitem ao órgão receptor da audição (ouvido), para o processamento no sistema auditivo e cerebral, e a localização espacial do som, é a identificação no espaço da fonte sonora, o que ajuda na atenção e na memória.

A visão e audição por si só não são suficientes para o desenvolvimento completo das habilidades de: alerta e atenção; motoras, cognitivas; regulação emocional; comunicação e interação social; organização do comportamento e do movimento..

Para um Corpo sentir e o psiquismo poder representar o mundo que entra pelas sensações, é preciso que todas as sensações (visão, audição, olfato, paladar, vestibular, propriocepção, tato) sejam percebidas, organizadas e interpretadas. Se a visão e a audição, se sobrepõem às demais, haverá um processamento deficitário e que poderá desenvolver sérios problemas para integrar todas essas sensações, e portanto, dificuldades em se desenvolver de modo integral, a seguir.

A VIDA LÁ FORA

Os hábitos familiares ligados aos aspectos cotidianos como dormir, comer, passear, estão sofrendo modificações a partir do uso das mídias digitais. A cena de encontrar em restaurantes as crianças com um tablet ou celular, ambos usados como entretenimento na hora da refeição, ou mesmo sendo usados quando os pais se deslocam no transito para que a criança não tenha qualquer incômodo, são alguns exemplos do que estamos vendo atualmente.

Em relação à alimentação, sem sentir fome ou saciedade, os alimentos penetram na boca da criança sem que o gosto, o sabor, o cheiro, o olhar, as pausas, as conversas ocorram e sem desejos ou vontades, como se tudo fosse no “automático” ou com distorções de imagens dos alimentos vistos nas telas.

Passear de carro, viajar de ônibus ou mesmo ficar no carrinho de bebê, deixam de ser vivenciados quando se coloca qualquer imagem de telas à frente da criança: os deslocamentos, os barulhos, as conversas, os problemas, as chatices, as esperas, a tolerância, as relações dos comportamentos dos que estão em volta, as filas… nada disso é percebido pela criança. Ela não experimenta o que se passa nessas situações, pois está absorvida pela tela.

O que entra em jogo nestas e noutras situações é uma adulteração das relações entre demanda/necessidade/prazer/satisfação. A criança vidrada na tela durante esses acontecimentos cotidianos, faz com que não haja espaço entre a demanda e a satisfação, portanto, também para desenvolver a criatividade nesse espaço (o que faço nesse momento de espera, de tédio, de buraco?), consequentemente, nessa impossibilidade de administrar o tempo e as realidades à volta, ocorrem desequilíbrios entre as frustrações e a tolerância necessária que as relações exigem, tanto com o “outro” e consigo mesma.

O uso do mundo digitalpelas crianças de 0 a 3 anos

O BEBÊ VIDRADO

É enganoso também evocar a autoridade do cérebro para justificar o uso de computadores ou eletrônicos para o desenvolvimento de uma criança em sua primeira infância. Em seus dois primeiros anos de vida um estímulo prioritário e muito forte pode prejudicar o que se chama fenômeno de habituação, capacidade do bebê em se desvencilhar de um estímulo excessivo e que não lhe agrada (prazer/dor) ou que lhe amedronta (medo/insatisfação).

Uma das principais características do mundo digital é o seu poder de super estimulação visual em detrimento de todos os outros sentidos. A luminosidade que emana, seu super colorido e os movimentos de seus objetos e personagens, impõem à criança uma dificuldade maior também para se desligar dessa super estimulação. É a criança “vidrada”, “fascinada” que é bem diferente da criança “atenta”. A audição normalmente fica submetida a musicas em tempo binários e movimentos acelerados e bidimensionais que muito mais ajudam a criança ficar “mais vidrada”, e do modo algum se configuram como uma sonoridade que facilite a discriminação auditiva, excluindo portanto a relação com o prazer musical.

SEM DIMENSÕES ESPAÇO TEMPORAIS

A não experimentação do corpo (desde o seu rolamento aos 4 meses) e a falta da tridimensionalidade das experiências também afetarão na percepção do seu próprio corpo e na construção da imagem corporal, o que influenciará na construção das representações do tempo, espaço e de profundidade. As conseqüências podem ser, desde dificuldades de orientações espaciais até as dificuldades na aprendizagem da matemática. Ex: movimentação do corpo em blocos ou a lateralidade (a criança nas suas movimentações, não consegue separar um lado do outro lado, membros inferiores e superiores, dentre outras coisas, o que vai impactar em quase todas as suas tarefas diárias, pois toda criança é ambidestra até os 6 anos, quando irá se estabelecer a dominância do hemisfério cerebral e por isso é preciso que a criança aprenda a se movimentar e ativamente), analfabetismo corporal (a criança não consegue realizar tarefas que exigem coordenações mais elaboradas, por exemplo: calçar o sapato), inseguranças (por não experimentar as coordenações espaço temporais, a insegurança também pode aparecer de modo impeditivo, não brinca de correr, não desce uma escorregadeira, não joga bola ou futebol, prefere começar a dizer “não gosto de fazer isso”, portanto não constrói a noção espacial e temporal consequentemente, e começa a ter medo de explorar o mundo externo à sua volta.

INTERAÇÃO SEM RESPOSTA

Um bebê que olha um adulto, precisa de tempo para conseguir fazê-lo. E ele precisa olhar com cuidado nos detalhes para se relacionar, imitar, ter afetos, aprender pois trata-se de um diálogo afetivo e postural. O adulto recebe do bebê ações que o convocam quase sempre a proteger e acolher a cada vez de modo diferente, promovendo diferentes sentidos. A repetição de imagens que independam das ações do bebê prejudicam seus processos de identificações, podendo torná-lo rígido e estereotipado nas relações. Além do que, o ritmo, nas relações com as telas, quase sempre é determinado pelas telas e por seus personagens, nada que a criança faça ou sinta ou expresse com seu sorriso ou choro, modificará as reações dos personagens.

A VIDA SEM LIMITES

O uso das telas para que os adultos não precisem dar limites, dizer “não”, acompanhar e educar, tem trazido prejuízos à construção das bordas e limites corporais e também das relações com autoridade. A criança “quieta” porque está distraída, entretida ou fascinada com uma imagem, não é uma criança educada, é somente uma criança passiva em frente às telas. Da mesma maneira uma criança “agitada” é somente uma criança que está tentando chamar atenção mesmo que negativa sobre si mesma, pois essa “agitação” é também aprendida nas imagens em movimento acelerado nas telas. Não existem pausas e nem descanso para o relaxamento e as mudanças entre o que é o começo e o que é o final de qualquer tarefa das rotinas diárias (a diferença nas brincadeirinhas e nas rotinas entre o “acabou” e o “de novo”)

Desde bebê, esse tipo de uso impede que a criança apreenda e experimente quais são seus próprios limites corporais e o que não pode fazer e diferencie do que é permitido fazer.

O limite é dado artificialmente por uma entidade externa aos cuidadores importantes da criança e não existe um “NÂO” ou só existe quando o equipamento é desligado ou desconectado da “fonte de energia”, mas nenhuma criança é “on-off” como se fosse uma máquina.

UM BEBÊ SOZINHO

Os cuidadores principais, mãe, pai, avós, irmãos, familiares e as pessoas do convívio contínuo, para além dos cuidados de sobrevivência, oferecem os afetos e os significados necessários para que um bebê possa fazer as leituras e aprender a descobrir sobre o mundo à sua volta.

Sem palavras e sem intermediação do outro, as crianças “de fraldas” expostas às telas, como uma babá eletrônica ou robotizada, experimentam somente relações que passam a ser investidas por imagens impessoais, sem afeto e que como são padronizadas, serão invasivas e sempre presentes na vida da criança, sem as flexibilidades ou regulações comuns das relações humanas. É tudo ou nada (tela ligada x tela desligada).

CADÊ O CUIDADOR

Os cuidadores que ficam também ocupados diante das telas da televisão ou do smartphone, por exemplo, durante as refeições ou nos finais-de-semana, sem “prestar atenção” à criança, não compartilham, não afirmam ou mostram gosto ou desgosto com as experiências e atividades das crianças, os bebês e as crianças menores, que precisam compartilhar em busca do “assentimento” adulto, passam a “desistir” de ganhar esta atenção.

Filmagens de crianças que viram totem idealizados ou mesmo monetizados (como objetos de lucro) para serem “postadas” como fetiches ou idealizadas em sua inocência ou mesmo abusadas e exploradas sexualmente ou violentadas, muitas vezes distorcidas em imagens produzidas ou “fake” (sorrisos agora para as telas) e que perdem a espontaneidade do momento. Assistimos ao gozo com o sofrimento, que pode ir desde a indiferença aos maus tratos nos cuidados com a criança.

SEM FALTAS

Super presença das telas no cotidiano, com muitas horas “ligadas” (duração e frequência no meio de rotinas como nas horas de refeições ou antes das horas de dormir) compromete o simbólico (que é construído pelo par presença/ausência), e desenvolve a crença que o outro está sempre disponível ali na frente ou no toque dos dedos ao deslizar das telas e imagens no celular. Isolamento e redução dos laços sociais: o outro digital não me oferta nada no par amar-ser amado. (Dunkan, 2017). Importante também enfatizar o início dos problemas como os transtornos de sono, pois o tempo para dormir, descansar e acalmar não é respeitado com as telas ligadas, com ruídos altos, movimentos e cores brilhantes que nunca desligam ou são desligadas.

CONCLUINDO

O uso do mundo digital por crianças de 0 a 3 anos de idade num período fundamental de crescimento e desenvolvimento cerebral e mental é prejudicial e, portanto, não se recomenda o oferecimento de telefone celular ou smartphone como um “brinquedo” ou “distração” segundo os autores e em concordância com as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Academia Americana de Pediatria (AAP).

Leia também: INFÂNCIA DIGITAL – O PERIGO DA DESCONEXÃO COM A VIDA

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

 

COMO PROTEGER NOSSOS FILHOS DO CONSUMISMO INFANTIL

Como proteger nossos filhos do consumismo infantil

Proteger nossos filhos do consumismo infantil é um dos grandes desafios da atualidade.

Esta semana uma leitora do Educando Tudo Muda, mãe de dois filhos pequenos,  entrou em contato comigo pedindo ajuda para uma ideia que deseja implementar  em sua cidade a partir de uma percepção que teve a respeito da relação dos filhos com os brinquedos.

Como proteger nossos filhos do consumismo infantilEm sua  mensagem  ela conta que observou  que muitos dos brinquedos que seus filhos pedem  é mais pelo prazer de ter aquilo que aparece no comercial de televisão e que os amigos tem, do que propriamente a vontade de brincar. Ela diz que “eles brincam uma ou duas semanas e daqui a pouco deixam de lado”.

Foi pensando no relato desta mãe que resolvi reforçar o tema do consumismo infantil  aqui no Educando Tudo Muda.  

Já ultrapassei a fase  dos filhos pequenos. Sei  bem dos desafios da educação das crianças nesse período  e entendo o que o relato dessa mãe significa.

Na maioria das vezes nos sentimos impotentes frente à avidez da indústria aliada ao aprimoramento  da persuasão  dos especialistas da propaganda e do marketing.  A publicidade tem um alvo bem específico: o lado emocional do ser humano. Os  apelos dos comerciais atingem diretamente nossos corações. Se até nós, adultos, somos fortemente seduzidos e temos dificuldades de colocar freio nos impulsos de compras, imagine como uma criança, em sua vulnerabilidade  é impactada!

Os olhos gananciosos da indústria de brinquedos, alimentos, vestuário, estão cada vez maiores em cima das crianças, no potencial consumidor que esses gigantes industriais enxergam na infância.

O  mercado brasileiro de brinquedos  vem crescendo ano após ano  mesmo em situação de crise econômica. Ele apresenta a cada ano mais e mais lançamentos: brinquedos em geral, colecionáveis e educativos, jogos, pelúcias, artigos para festas, fantasias, etc.

LEIA TAMBÉM: MENOS BRINQUEDOS MAIS IMAGINAÇÃO (mais…)

Ebook Livro do Educador brincando com a natureza

Para compra do livro digital acesse aqui: Ebook

Este livro é um convite à  prática de um brincar vivo e ecológico no dia a dia com as crianças; um convite à defesa do exercício imaginativo , da saúde da infância e do planeta. Brincar em espaços naturais nos coloca diante da vocação lúdica da natureza e  expõe a criança à riqueza e diversidade dos elementos naturais, abrindo um leque de possibilidades de brincadeiras e invenção dos próprios brinquedos pela criança, tendo a natureza como matéria-prima.

O livro incentiva o brincar em contato com a natureza  inspirado na história da Turma da Floresta – uma brincadeira puxa outra,  primeira obra infantil publicada pela autora, especializada na primeira infância, e que agora, no Livro do Educador, oferece inúmeras maneiras de explorar a história da Turma da Floresta ensinando a fazer brinquedos com elementos da natureza, além de divertidas brincadeiras que nutrem a imaginação da criança e estimulam a criatividade.