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MEU GUARDA CHUVA E A MULHER DE LÓ

Meu guarda chuva e a mulher de Ló

A correria da vida moderna acaba muitas vezes gerando ótimas histórias. Quero  contar  uma dessas, a  história do Meu guarda chuva e a mulher de Ló.

Quem vive em grandes centros urbanos, principalmente numa cidade como São Paulo, sabe o nível de stress a que estamos expostos todos os dias. É o trânsito caótico, a violência das ruas, o desrespeito, a falta de gentileza, e muito mais. Além da sensação de estarmos sempre correndo e atrasados.

Foi assim que cheguei a uma reunião esta semana: apressada, com a respiração curta e sentindo me sobrecarregada, segurando bolsa, pasta, casaco e meu guarda-chuva, pois a iminência de chuva era grande.

Ao sair da reunião, já atrasada para outro compromisso, precisava antes ir ao toalete. Sabia que o caminho seria longo e demorado. Já na rua, próximo ao local onde estacionei o carro, percebi que estava faltando alguma coisa em minha mão. Era meu guarda-chuva, que havia esquecido no banheiro. Ah! Meu guarda-chuva! – foi o lamento naquela hora. E no mesmo momento veio a lembrança de quando o ganhei e  quem me deu aquele lindo guarda-chuva.

Numa fração de segundos, meu corpo quis fazer um movimento de giro para voltar ao prédio e resgatar o guarda-chuva. Porém reagi rapidamente contrariando aquele gesto instintivo. Meu olhar convicto e meus passos firmes, avançaram em direção ao carro. Prossegui certa de que aquilo era o melhor a fazer, pois se eu voltasse, não chegaria a tempo para o compromisso seguinte que estava diretamente relacionado a um novo projeto de vida.

Enquanto dirigia o carro rumo ao futuro, fui refletindo sobre o significado e valor daquela atitude tão resoluta. Por um instante eu não me reconheci. A mulher que sempre fui, com certeza retornaria para pegar seu pertence, não se desapegaria tão facilmente daquela história, pois os objetos tem história. A mulher que sempre fui não assumiria a perda, não correria o risco de ser censurada mais tarde por não ter tomado a atitude correta. Mas ali estava uma outra mulher, uma reinvenção de mim mesma. Uma mulher mais confiante, decidida, e focada.

 

Lembrei nesta hora da passagem bíblica sobre a mulher de Ló. Ló era sobrinho do grande pai Abraão, e teve que deixar às pressas a cidade onde morava, Sodoma, que havia sido condenada à destruição. Ele, sua mulher e suas filhas tiveram que deixar a casa onde viviam. Provavelmente tiveram que abandonar amigos queridos, deixar para trás uma vida estável e de conforto, para começar uma nova história em outro lugar, numa cidade desconhecida. Sem levar nada do que lhes pertencia, e sem olhar para trás, saíram correndo apressados rumo ao futuro. Porém, a mulher de Ló hesitante, querendo talvez olhar mais uma vez para sua casa, para as flores do seu belo jardim, virou se para um derradeiro olhar. E todos nós sabemos o que aconteceu a ela. No instante que olhou para trás, a mulher de Ló foi transformada em estátua de sal.

Como é difícil em fase de transição, confiarmos no que está por vir sem hesitação! Como é difícil desapegarmos do que é conhecido, familiar, sairmos da zona de conforto e seguirmos rumo ao incerto, em direção ao nosso vir a ser! Como é difícil confiar que seremos capazes de enfrentar novos desafios.

Todo o processo de mudança necessita de tempo para se consolidar.  Ele é composto de três fases, como explica Willian Bridges, renomado consultor americano, especialista em gerenciamento de transição:

 

-Fase de encerramento de um ciclo: onde abandonamos antigos hábitos, modo de pensar e de agir. Deixamos para trás o que não nos serve mais. É uma fase de incerteza, pois não sabemos o que vem pela frente.

“Concentre-se no que está buscando, não no que está deixando para trás.” – Alan Cohen

 

-Fase neutra: é o período das maiores dúvidas, pois a impressão é de que nada está acontecendo. O novo parece não se configurar diante dos nossos olhos. Olhamos para o horizonte e não enxergamos nada.

“Não se descobre novas terras sem consentir perder de vista a praia durante muito tempo.” – André Gide

 

-Fase de reinício: é quando ultrapassamos o período de transição dentro de nós mesmos e começamos a vislumbrar as primeiras mudanças fora de nós, no ambiente externo.

“Apenas aqueles que se arriscam a ir muito longe possivelmente conseguirão descobrir quão longe se pode ir.”- T.S.Eliot

 

Em momentos de transição quatro coisas são fundamentais:

CLAREZA DE PROPÓSITO

“Uma visão sem uma tarefa, é apenas um sonho. Uma tarefa sem uma visão, é somente um trabalho árduo. Mas, uma visão com uma tarefa, pode mudar o mundo.” – Declaração de Mount Abu Projeto Cooperação Global para um Mundo Melhor” – Universidade Brahma Kumaris-1988/1990.

 

AUTO-CONFIANÇA

“Os seus diamantes não estão em montanhas longínquas, nem em mares distantes; estão no seu próprio quintal, desde que você se disponha a extraí-los.” – Russell H. Conwell

 

FOCO

“Algumas pessoas acham que foco significa dizer SIM para a coisa em que você irá se focar. Mas não é nada disso. Significa dizer NÃO às centenas de outras boas ideias que existem. Você precisa selecionar cuidadosamente.”- Steve Jobs

 

CORAGEM

“O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.”- João Guimarães Rosa

 

Esses quatro requisitos estão ligados entre si e precisam caminhar juntos ao longo de todo o processo de transição até a consolidação das mudanças. Um propósito bem definido elimina as dúvidas, promove a autoconfiança e ajusta o foco. E uma vez confiantes e focados, a coragem vem como co-piloto nos apoiando em todo o trajeto rumo ao futuro. Assim tornar-se-á mais fácil renunciar aos “guarda-chuvas” que insistem em nos paralisar pelo caminho como aconteceu com a mulher de Ló. Vamos em frente!

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Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado