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NOVOS PARADIGMAS PARA A EDUCAÇÃO- ÚLTIMA PARTE

O IMPACTO DE UM PAI NA VIDA DE UM FILHO from GUILHERME GIMENEZ on Vimeo.

A crise atual do sistema educacional brasileiro requer reflexão, revisões  e a busca por novos paradigmas para a educação.

Propõe-se aqui um aprofundamento e compreensão da extensão dessa crise  a partir da análise de algumas premissas, sendo que as duas primeiras foram apresentadas em artigos anteriores.

  1. Visão do ser humano integral (acesse aqui)
  2. Origem da palavra  Educar (acesse aqui)
  3. Autoconhecimento e Autoeducação

Passamos agora a abordar a necessidade do trabalho apurado de autoconhecimento e autoeducação por aqueles que se dispõem ao exercício da docência.

Para a compreensão da relevância da autoeducação, analisemos o pensamento de Rudolf Steiner, filósofo e educador austríaco (1861-1925):

 


Não há, basicamente, em nenhum nível, uma outra educação que não seja a auto-educação. […] Toda educação é autoeducação e nós, como professores e educadores, somos, em realidade, apenas o entorno da criança educando-se a si própria. Devemos criar o mais propício ambiente para que a criança eduque-se junto a nós, da maneira como ela precisa educar-se por meio de seu destino interior.


Novos paradigmas da educação

Podemos entender ‘destino interior’ como a essência central distinta, individual do ser humano.

Paulo Freire também fala que é necessário se educar para educar, e que se educar é impregnar de sentido cada momento da vida, cada ato do cotidiano.

Portanto, eu educo o outro, educando a mim mesmo, e o que faço enquanto educador, é criar o ambiente favorável em volta da criança, proporcionando assim condições por meio das quais a própria criança se revele.

 

 

Novos paradigmas para a educação

Como um jardineiro, nossa tarefa é encontrar as condições adequadas para cada tipo de semente, o tipo certo de solo, o adubo adequado, a proteção e irrigação corretas, achar os ingredientes apropriados que darão suporte e força a semente, para que ela brote, surja para fora, emerja sua natureza e cresça formosa.

 

Levando em conta que uma das características marcantes da criança é sua capacidade imitativa, podemos ressaltar a importância de modelos adequados de homens e mulheres em torno da criança como espelhamento de seres humanos íntegros. A criança não repete apenas a fala, o movimento e gestual do adulto, ela é capaz de assimilar o que o educador é, e assim reproduzir sua maneira de viver. E mais tarde, quando adolescente, de forma contumaz, procurará a veracidade nos educadores, tutores e pais, por meio da comparação entre o que esses falam e suas ações, seu jeito de se colocar no mundo, de ser e viver.

Por esta razão o educador, como referencial para a criança, adolescente e jovem, tem grande responsabilidade, pois atua no campo ético moral. Daí a importância do seu trabalho constante de autoconhecimento, como instrumento de revisão, aprimoramento e desenvolvimento humano, como processo de construção de si mesmo, num contínuo explorar-se, conhecer-se, transformar-se.

Enquanto educadores, precisamos nos tornar modelos mais adequados para as novas gerações que iniciam seus processos de construção de seres humanos no mundo.

 

A ARTE COMO CAMINHO DE REENCANTAMENTO DA EDUCAÇÃO

A educação convencional que vem se perpetuando, está fundamentada numa concepção materialista, cientificista, mecanicista, pautada na transmissão de conhecimento e informação. Vem privilegiando o desenvolvimento do lado cognitivo, deixando em segundo plano o corpo e a alma da criança. Isto porque o homem moderno tem endeusado a abstração, a fórmula, a quantificação e os avanços tecnológicos.

NOVOS PARADIGMAS PARA A EDUCAÇÃO - PRIMEIRA PARTE

A partir da concepção do ser humano integral, não podemos mais fundamentar o sistema educacional levando em conta apenas uma parte do que é o homem. Precisamos educar na/para inteireza.

Precisamos educar para a vida, abarcar o coração do homem no processo educativo, considerando seus sentimentos, emoções, relações. É necessário trazer para a educação temas essenciais, como o amor, a alegria, solidariedade, gentileza, temas estes que a racionalidade moderna não comporta por não conseguir explica-los cientificamente.

Precisamos reencantar a educação, com uma linguagem que fale à alma da criança, por meio de vivências artísticas, estéticas. A arte é o caminho que permite o desenvolvimento harmônico da criança, porque é a linguagem do coração. Ela permeia a razão e a conecta com o lado anímico da criança, fortalecendo a sua vontade, o seu fazer no mundo, e suas interações com o mundo.

cabeça humana escola waldorf

A expressão artística, seja pela pintura, modelagem, dança, teatro, poesia, música, etc., desperta a consciência do mundo interior de cada ser, faz a ponte entre o lado intelectual humano e sua capacidade de ação, possibilita a criação de algo resultante da sua imaginação e fantasia.

Rudolf Steiner afirma que: “A pedagogia não pode ser uma ciência – deve ser uma arte”. Educação é arte. Que possamos nos sentir inspirados para fazer uma nova escola, fundamentada no respeito à totalidade do ser humano, na confiança do desenvolvimento e aprimoramento das potencialidades humanas.

Como síntese desta reflexão, fica aqui a poesia do Profº Ruy Cezar do Espírito Santo:

 

A Grande Transformação

Buscar a fonte da inspiração artística

É dirigir-se ao mais dentro do Homem

À Fonte única que de forma original

Derrama o fruto da sua percepção

 

Novos paradigmas para a educação

Encontrar essa Fonte

É desvelar a possibilidade do Amor

É trazer o Homem novamente aos dez anos,

De onde se afastou pelo que chamamos de “educação”…

 

 

O Amor dissipou-se no instante em que o “jovem de 10 anos”

Sentiu-se perdido nos labirintos escolares,

Onde cabeças sem coração são “formadas”

Sem a presença da Arte…

 

Novos paradigmas para a educação

Assim, resgatar a Arte

É redescobri a Fonte interior de Alegria e Amor…

É voltar aos dez anos, desta vez

Ciente do sentido e da significação da existência.

 

 

 

O texto original e completo deste artigo está publicado na Revista Interespe, nº 8 – jun 2017, da  PUC de São Paulo  e  disponível pelo link:

http://www.pucsp.br/interespe/revistas/downloads/revista-8-interespe-jun-2017.pdf

 

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Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

 

 

PROFESSORES: REFÉNS DE UM TEMPO TAREFEIRO?

Diante da demanda crescente por medidores de eficiência na educação, e tantas cobranças, os professores encontram-se reféns de um tempo tarefeiro?

“É o final de um período de ensino e faço a retrospectiva que deve ser, ao mesmo tempo, a base para preparar o que vem a seguir. Acumularam-se muitas questões não resolvidas. Sinto que a classe precisaria de um novo impulso. (…)

(…) Certos acontecimentos que se repetem entre as crianças desencadeiam em mim antipatias previsíveis e reações rotineiras. E sei muito bem que tudo isso leva a bloqueios, contraria meus ideais de educação. (…)

(…) Surgiram situações em que reagi de maneira inadequada porque estava cansado. Minhas forças esvaíram-se totalmente no preparo de uma matéria nova para mim, que me exigiu em demasia. Não será mais fácil durante a próxima época de História. Os livros já se amontoam em minha escrivaninha. (…)

PROFESSORES: REFÉNS DE UM TEMPO TAREFEIRO?

(…) Enquanto leio o primeiro capítulo de uma obra de 300 páginas, logo percebo que ela pouco me ajudará para o ensino. Não obstante, continuo lutando enquanto o tempo se escoa, já sabendo que jamais conseguirei dar cabo da pilha de livros, apesar da certeza de que a obra decisiva se encontra ali na pilha. (…)

(…) Assumi minha tarefa com entusiasmo e idealismo, mas agora estou exausto… só estou reagindo às exigências externas e que, por isso, jamais consigo satisfazê-las.(…)”

 

 

 

 

O relato acima  é de autoria do Profº Heinz Zimmermann em sua obra “Forças que impulsionam a educação”, porém poderia ser o desabafo da maioria dos professores atuais. Nesse mesmo texto, mais adiante, Zimmermann conclui: “um professor assim é o oposto do que as crianças precisam”.  E como resultado de toda essa angústia, as seguintes perguntas são formuladas por ele:

 

PROFESSORES: REFÉNS DE UM TEMPO TAREFEIRO?

 

– Como posso ganhar tempo?

– Como chego a ideias pedagógicas?

– Como supero minha falta de forças e de coragem?

 

 

O trabalho de um professor não se limita àquelas horas em sala de aula com os alunos. As atribuições e exigências  extras  o período de ministração de aulas são enormes: desde a preparação das aulas em si, passando por tarefas burocráticas com preenchimento de formulários,  preparação de reuniões pedagógicas, reuniões de pais, correções de cadernos de alunos, organização de exposições pedagógicas e eventos culturais do calendário anual escolar, elaboração e correção de provas, e muito mais. Com tantas tarefas a executar e prazos a cumprir, o tempo tende a comprimir, pressionar até a exaustão, provocando sobrecarga, desgaste e até mesmo o adoecimento do professor.

Existe nesse fazer contínuo, a tendência a uma cegueira quanto ao que é essencial. Corre-se o risco de uma escravidão do fazer, que resulta em ações automáticas, como uma máquina. É o fazer pelo fazer sem um sentido real, desprovido de consciência.

 

O QUE LEVA A ESCRAVIDÃO DO FAZER?

PROFESSORES: REFÉNS DE UM TEMPO TAREFEIRO?

Quando rompemos a ligação existente do fazer com o ser, geramos ações desconexas, desintegradas de nós mesmos. Aquilo que somos não está mais presente na ação.

As energias se esgotam ao executarmos tarefas sem a inteireza do ser, sem o devido foco no aqui e agora.  Existe a tendência de nos fragmentarmos entre um tempo que já passou, num lamento ou nostalgia, e entre um tempo que ainda está por vir, onde projetamos nossas expectativas, sem sabermos que o único tempo que nos pertence onde podemos verdadeiramente atuar, é o tempo presente.

A falta de presença, de participação ativa nesse único tempo que nos é dado, impede o acesso a fontes de energia, pois o tempo sem o devido preenchimento de nossa consciência, interesse e envolvimento, escorre improdutivamente e mina nossas forças.

O que dá sentido ao fazer humano é seu trabalho autoral, de natureza criadora, criativa, que só pode se manifestar a partir do interesse, entusiasmo e paixão por aquilo que fazemos. Somente quando atuamos com interesse e inteireza, podemos ser capazes de insights – ideias inspiradoras – que auxiliarão na prática pedagógica.

Portanto dois pontos precisam ser revistos com maior rigor: o primeiro de natureza mais técnica, exige a capacitação do lidar com o tempo por meio da organização, planejamento e discernimento das prioridades diante das exigências. Esse tempo é o tempo do relógio.  Nesse aspecto a disciplina é da maior importância para o cultivo de uma relação saudável com o tempo tendo como objetivo produzir resultados satisfatórios. Porém necessitamos compreender também a existência do nosso tempo interior, que abriga nosso estado de espírito. Se entediados, o tempo passa devagar, se ansiosos, mais rápido, e se atentos ao presente, não vemos o tempo passar.

O escritor Raduan Nassar em seu romance “Lavoura  Arcaica” discorre sobre essa relação tão delicada do homem com o tempo dizendo que:

PROFESSORES: REFÉNS DE UM TEMPO TAREFEIRO?

“O equilíbrio da vida está essencialmente nesse bem supremo,  e quem souber com acerto a quantidade de vagar ou de espera que se deve pôr nas coisas, não corre nunca o risco ao buscar por elas e defrontar-se com o que não é. Pois só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas”.

 

O segundo ponto, requer uma análise mais apurada sobre a metamorfose da vontade humana geradora de nossas ações. Da ação instintiva (da qual o animal compartilha com o homem) à ação resoluta, há níveis que vão se elevando à medida que a consciência aumenta.  Quando ajo sem nenhuma consciência, estou sendo levado por meus instintos. Ainda distante de minha consciência, há o agir impulsivo. Chamo de aspiração, quando minha ação ainda não é motivada por uma direção específica. A partir de um comprometimento, segue minha intenção um pouco mais direcionada. E com a intensificação do meu compromisso, alcanço a resolução: a decisão de agir com uma direção determinada, específica que conduzirá à realização, à ação em si, plena de consciência. Quando faço algo motivado pelo mais elevado nível da vontade humana, essa ação está totalmente integrada ao ser, é de domínio do ser.  Torna-se portanto um fazer autêntico, imbuído de sentido e entusiasmo, vemos então uma total integração do fazer ao ser.

PROFESSORES: REFÉNS DE UM TEMPO TAREFEIRO?

Existe uma fonte renovadora de nossas energias. Ela pode ser encontrada nas pausas, na vivência do vazio e do silêncio penetrante, amoroso e absoluto. O silêncio se encontra entre os intervalos de nossa  inspiração e expiração. Nesse espaço de tempo vivemos a experiência de UNIDADE capaz de nos conectar ao TODO.

 

Que a partir dessa reflexão haja a busca para a libertação desse tempo escravo do fazer. A  todos os Professores,  boas férias.

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Abraço caloroso

Ana Lúcia Machado