Infância ameaçada – um alerta à sociedade. O que vem adoecendo as crianças? O cenário atual da Primeira Infância apresenta muitos desafios para toda a sociedade.
A Infância vive um momento de grande complexidade e se encontra no centro das incertezas desta época, expondo as crianças precocemente às mesmas angústias que os adultos estão sujeitos.
As mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas alteraram de forma considerável a estrutura da vida familiar e seus reflexos podem ser observados nitidamente na vida da criança.
Os hábitos cotidianos transformaram-se significativamente, modificando o ritmo e a rotina dos pequenos, com estilos de vida mais individuais, sedentários, que desfavorecem o convívio social, atividades físicas, o exercício imaginativo, e a autonomia infantil.
A crescente urbanização, associada ao medo pelo aumento da violência, ergueu muros, produziu isolamento e contribuiu para uma cultura de confinamento.
Além disso, valores da sociedade de consumo tomaram conta do universo da criança, que exposta intensamente a conteúdos de natureza mercadológica e seduzida por apelos do mundo moderno com suas novas tecnologias, vê seu tempo e espaço lúdico invadido e reduzido.
No mundo da criança, a tecnologia passou a ocupar um lugar de destaque. As telas estão roubando um tempo precioso da criança – o tempo do brincar, uma atividade fundamental para o desenvolvimento infantil em todos os aspectos, físico, emocional, cognitivo, social e espiritual.
E mais, a cultura escolar atual com seus testes, ranqueamentos e índices, tem sido a causa de grande ansiedade para as famílias e crianças.
A consciência intelectual adulta que é hoje imposta, sob pressão, na Primeira Infância, vai contra a natureza da criança. É desrespeitosa ao desenvolvimento integral infantil, isto é : o desenvolvimento intelectual, emocional , social e cultural.
A infância pede tempo e espaço para a ludicidade, a fantasia e imaginação. O aprendizado nesta fase se dá por meio de interações sociais afetivas e no contato com o mundo natural.
Onde poderá desembocar uma infância pobre em interações sociais, pressionada precocemente pelo sucesso acadêmico e competição, e ainda exageradamente tecnológica?
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INFÂNCIA AMEAÇADA
O modus vivendi da sociedade contemporânea com seus excessos, vem adoecendo as crianças, a infância está ameaçada. Querem cedo demais tirar a criança do seu tempo e espaço natural de desenvolvimento. Querem cedo demais intelectualizar, adultizar, atrofiar os sentidos, limitar a curiosidade e vontade da criança de explorar e vivenciar o mundo livremente, empobrecendo assim sua imaginação e criatividade.
O que estamos fazendo com a infância?
Dados mundiais apresentados pelo psicólogo Peter Gray na 20ª Reunião Internacional da Associação Internacional do Brincar – IPA, que aconteceu em setembro do ano passado em Calgary – Canadá, revelam que a depressão infantil já é de 7 a 10 vezes maior que nos anos 60, os transtornos de ansiedade entre as crianças cresceu até 18 vezes e as taxas de suicídios até 15 anos estão 4 vezes maiores. Ao mesmo tempo, o brincar livre das crianças vem diminuindo significativamente desde 1955. Tudo isso indica que a infância está ameaçada.
O que podemos fazer para promover mudanças?
Qual a nossa responsabilidade perante essa geração de crianças estressadas? Que futuro estamos projetando para elas?
O crítico social americano, Neil Postman (1931-2003), em seu livro O desaparecimento da Infância, publicado originalmente em 1982, analisa o cenário social da época e profetiza os rumos assustadores da infância a partir da conexão da infância com a comunicação. Postman aponta as condições niveladoras do acesso a informações entre adultos e crianças, cada dia mais intensa, como um dos responsáveis pelo desaparecimento da infância e diz
“Se despejarmos sobre as crianças uma vasta quantidade de material adulto da pesada, a infância não poderá sobreviver”.
Não é o que temos feito? Este livro é leitura obrigatória para quem deseja se aprofundar nas questões sociais da infância.
UM CONVITE
Somos muitos preocupados com este cenário, o que nos confere poder para defender essa causa e batalhar pelo direito da criança viver sua infância sem opressão.
Convidamos pais, educadores, e profissionais das mais diversas áreas que lidam com a Primeira Infância e que estejam nessa mesma inquietação, a se juntar a nós.
Temos a responsabilidade de desenvolver uma consciência que entenda a cultura da infância como uma etapa particular do processo de iniciação do humano, de forma a garantir a sobrevivência de nossa espécie. Nossa capacidade de viver neste planeta depende de soluções inovadoras e do olhar atento ao começo da vida, à garantia da saúde da Infância.
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Entre em contato com o Educando Tudo Muda caso sua escola ou comunidade tenha interesse em nossas palestras a respeito desse tema.
Infância ameaçada – conscientizar e questionar, eis os primeiros passos para quebra de paradigmas e transformação do mundo.
Abraço esperançoso
Ana Lúcia Machado