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Educação ambiental – quando e como começar

Educação ambiental, quando e como começar

Precisamos refletir à cerca do impacto que nós, seres humanos, causamos neste organismo vivo que é a Terra, repensado nossa maneira de ser e estar no mundo.

Estamos diante do esgotamento do planeta devido a exploração de seus recursos naturais por meio de demandas cada vez maiores de bens de consumo, excesso de produção de resíduos, poluição do ar, dos rios, mares e envenenamento do solo.

educação ambientalVivemos uma crise civilizacional generalizada e sem precedentes. O que acontecerá à Terra se continuarmos consumindo e explorando seus recursos? Essa não é a pergunta correta. Devemos sim perguntar: o que acontecerá ao ser humano?

Essa resposta já foi dada em 1854 pelo cacique Noah Sealth da tribo Duwanaish quando dirigiu-se ao então presidente dos EUA Franklin Pierce que insistia em querer comprar as terras de seu povo indígena, dizendo:

 

“O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra. O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um dos fios. Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.”

 

O chefe Sealth num documento legendário disse mais:

“Esta terra é sagrada para nós. Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida do meu povo…”

 

Na ‘Conferência Mundial sobre a Educação para o Desenvolvimento Sustentável’ que aconteceu online em maio, a UNESCO, depois de ter analisado os currículos de educação de 50 países, apelou a todos os participantes que coloquem a Educação Ambiental no centro dos currículos escolares até 2025, uma vez que os atuais currículos não abordam a mudança climática, e apenas 19% deles tratam sobre biodiversidade.

O estudo da UNESCO, Aprender pelo nosso planeta, mostrou que a educação tradicional não tem preparado os alunos para  atuarem em um mundo onde as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade se apresentam como uma das maiores ameaças à vida humana.

A diretora geral da Unesco, Aidrey Azoulay  afirmou que  “A educação deve preparar os alunos para compreenderem a atual crise ambiental […]. Para salvar o planeta, devemos transformar a nossa forma de viver, produzir, consumir e interagir com a natureza.”

Educação ambiental, quando e como começar

educação ambientalA verdadeira educação ambiental se dá por meio do experienciar. Acontece quando oportunizamos às crianças interações diretas com a natureza.

Falar sobre a preservação do meio ambiente entre quatro paredes, dentro da sala de aula, não despertará o interesse das crianças pelo mundo natural.

Nas palavras do poeta e romancista indiano Rabindranath Tagore, em seu livro Meditações, ele diz:

 

“roubamos da criança esta terra, que é dela, para lhe ensinar geografia; roubamos sua linguagem, para lhe ensinar gramática. Ela tem fome do épico, e não lhe damos mais que crônicas de acontecimentos e datas…Todos nós sabemos que as crianças amam a terra; seu corpo e sua mente estão, como as flores, sedentos de luz, de sol, de ar. Elas jamais se sentem inclinadas a deixar de ouvir os constantes convites que o universo faz a seus sentidos para que se estabeleça uma comunicação direta entre eles.”

 

A este sentimento das crianças de afinidade inata com a natureza, chamamos biolifia.

A infância é o período mais importante para o trabalho educativo de base.  A educação ambiental deve iniciar nesta etapa da vida por meio de experiências vivas e reais em ambientes ricos em áreas verdes. Daí advém a atitude ética do cuidado com o meio ambiente.

educação ambientalO cuidado está na essência do humano. Ele é a base possibilitadora da existência humana enquanto humana, como afirma Leonardo Boff. Se negligenciarmos essa base, caminharemos para nossa própria extinção. Precisamos resgatar essa essência. Boff atribui a falta de cuidado à desconexão com o TODO, ao desconhecimento de que todas as coisas estão ligadas umas às outras.

No final da década de 70, um professor da Universidade Estadual de Iowa, Thomas Tanner, investigou a vida de ambientalistas na tentativa de identificar o que os havia atraído para o ativismo ambiental, e descobriu que a influência mais significativa foi a experiência vivida na natureza, em zonas rurais ou lugares de natureza selvagem.

Em 2006, Nancy Wells e Kristi S. Lekies, pesquisadoras da Universidade de Cornell, desenvolveram estudos para investigar a influência da infância na formação de ambientalistas. Cerca de duas mil pessoas com idades entre 18 e 90 anos foram entrevistadas com o intuito de averiguar a possível relação entre o grau de exposição da criança à natureza e o nível de consciência ambiental na idade adulta.

A preocupação dos adultos pelo meio ambiente e o comportamento que isto gera, tem relação direta com a participação em atividades na natureza selvagem nos primeiros anos de vida. O estudou sugeriu ainda que o brincar livre na natureza é muito mais efetivo do que atividades comandadas por adultos.

Uma década depois, a pesquisadora Catherine Broom da Universidade de British Columbia concluiu em seus estudos que, quanto mais uma criança cresce em contato com áreas verdes, maior a sua chance de apreciar e cuidar do meio ambiente na fase adulta. Oitenta e sete por cento das pessoas participantes da pesquisa que tiveram oportunidades de brincar ao ar livre em contato com o mundo vivo, durante a infância, ainda mantinham o afeto pela natureza quando adultos, e oitenta e quatro por cento desses jovens disseram que cuidar do meio ambiente é uma prioridade para eles.

Diante de tudo isso, se quisermos garantir uma nova geração de cuidadores do meio ambiente, precisaremos resgatar os vínculos das crianças com a natureza e investir na formação de um reservatório de experiências vivas e reais nos primeiros anos de vida, estimulando a apreciação e o respeito pela natureza e por todos os seres vivos.

Apreço pela naturezaA literatura infantil também tem se ocupado com a questão do meio ambiente. Os livros podem despertar o apreço pela natureza. Uma boa história de aventura em ambientes naturais pode influenciar de maneira positiva as crianças e incentivar o interesse pelo mundo vivo.

O clássico  O menino do dedo verde de Maurice Druon, publicado originalmente em 1957, considerada uma obra inovadora por ser a primeira a tratar de ecologia, é um bom exemplo de uma história inspiradora que desperta o olhar para a natureza. Druon apresenta um menino que rompe os muros da escola para conhecer o mundo na prática, aprender com a vida real – a melhor escola.

Já o livro ‘O quintal da minha casa’, recém lançado pela Editora Companhia das Letrinhas, fala sobre seres vivos e imaginários que habitam nosso quintal – muitas plantas e bichos. Nele tem céu estrelado, sol, chuva e muitas pessoas diferentes. Acontece que andaram mexendo no nosso quintal e tudo passou a desandar- o que deveria ser preservado, começou a ser destruído. Essa obra convida a refletir sobre o meio ambiente e como estamos cuidando de nosso planeta

Pouco podemos esperar de um adulto que não teve contato com a natureza na infância em termos de consciência de preservação ambiental. Atitude pró-ambiental na fase adulta resultará de crianças que criaram vínculos de afeto com a natureza pois cuidamos daquilo que amamos, e amamos aquilo que conhecemos.

‘Dê às crianças a chance de amar a Terra antes de pedir que elas a salvem’, é o que diz sabiamente David Sobel, professor norte americano da Universidade de New England.

Abraço carinhoso e saúde

Ana Lúcia Machado

NARRATIVAS PROVOCATIVAS PARA EVITAR O FIM DO MUNDO – HISTÓRIAS QUE TRANSFORMAM

Narrativas provocativas

Narrativas provocativas para evitar o fim do mundo –  histórias que transformam. Selecionei aqui 6 livros para você pensar a respeito da atual condição da humanidade sobre a Terra.

O impacto que nós, seres humanos, causamos neste organismo vivo que é a Terra, deve ser repensado e nossa maneira de ser e estar no mundo precisa ser transformada.

Estamos diante do esgotamento do planeta devido a exploração de seus recursos naturais por meio de demandas cada vez maiores de bens de consumo, excesso de produção de resíduos, poluição do ar, dos rios e mares e envenenamento do solo.

Estima-se que até 2050 a população mundial terá alcançado o patamar de 9,7 bilhões de habitantes (ONU). Isso significa que serão quase 2 bilhões a mais de pessoas consumindo uma variedade de produtos e serviços.

Vivemos uma crise civilizacional generalizada e sem precedentes. O que acontecerá à Terra se continuarmos consumindo e explorando seus recursos? Essa não é  a  pergunta correta.  Devemos sim perguntar o que acontecerá com o ser humano.

A  Terra em sua história passou por grandes cataclismas e sobreviveu. Ela  é poderosa e apesar dos enormes danos causados pelo estilo de vida da humanidade,  encontrará modos de superar  os abusos sofridos. O risco é do ser humano não sobreviver em condições ambientais tão adversas.

A Terra é a nossa única casa e neste exato momento estamos sendo convocados a cuidar dela. Comecemos por habitar de forma ética o nosso próprio corpo, depois a nossa casa com a mudança de hábitos cotidianos por meio do consumo consciente e responsabilidade sobre o ciclo dos materiais. Com certeza cada pequena atitude irá refletir no outro e por conseguinte no meio ambiente. Então vamos lá.

LEIA TAMBÉM: Como proteger nossos filhos do consumismo infantil

NARRATIVAS PROVOCATIVAS PARA EVITAR O FIM DO MUNDO

Estas  6 narrativas provocativas tem o intuito de despertar a consciência, instigar o olhar, e provocar novas ações no mundo. Você acredita no poder das histórias? Já se sentiu provocado por alguma narrativa? Eu acredito. Muitas histórias já provocaram em mim grandes reviravoltas, verdadeiras revoluções. Por isso pare, leia estas histórias, reflita sobre estas narrativas e sinta-se instigado a fazer mudanças no seu modo de vida:

 Narrativas provocativas1.A caverna e o forno

Numa  caverna fria e escura habitavam os homens, até que Prometeu – um semideus, ofereceu o fogo aos habitantes da caverna, advertindo-os para que não deixassem o fogo morrer, pois desconhecia como fazer o fogo.  O homem com sua inteligência  foi além: descobriu a arte de fazer fogo, desafiando os deuses, e ambicioso inventou muitas coisas em nome do progresso, transformando a caverna, sua casa, num lugar quente, poluído e fétido.  A caverna, como uma metáfora do planeta Terra, é apresentada pelo autor como um organismo sem ânus. Todo organismo, para viver, tem de ter meios para colocar para fora de si  seus resíduos tóxicos. Sem esfíncteres que realizem essa função excretória, o organismo morre. O que acontecerá com a Terra se não assumirmos a função de reciclagem dos resíduos que produzimos?

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2.Arca de Ninguém

Esta é uma releitura da história da Arca de Noé que relata de forma bem humorada a dificuldade que Noé teve para convencer os bichos sobre a catástrofe que estava por abater a Terra e assim entrarem na arca.  Só que a água foi subindo, subindo e os animais que até então resistiam entrar na arca juntos defendendo interesses pessoais,  não tiveram outra saída senão esquecerem suas diferenças e entrarem com urgência na arca. Quanto tempo nós, seres humanos, demoraremos a perceber que a água já está na altura dos nossos pescoços?

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3.Lolo Barnabé

O livro conta a história de Lolo e sua família que viviam no tempo das cavernas . Lolo era um sujeito inteligente e criativo. Ele, sua mulher e seu filho, foram inventando coisas para facilitar a vida e conquistar a felicidade. Porém a cada invenção tecnológica, precisavam trabalhar mais para satisfazer novas necessidades.  Até o dia que foram obrigados a repensar aquele modo de vida. Como ser feliz com tantos objetos sem tempo para o convívio familiar e distantes das coisas elementares da vida? Como fazer o caminho de volta aos valores essenciais da existência humana? Essas são algumas das questões que Lolo e sua família nos instigam a  refletir.

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Narrativas provocativas4.O Jardim Curioso

Uma história para refletir sobre a ética do cuidado. O livro conta a história de uma cidade sem nenhum tipo de vegetação – sem árvores e jardins. Liam, um menino curioso, acaba descobrindo uma passagem que dá acesso aos trilhos de uma antiga estação de ferro. Lá, ele faz uma descoberta que desperta sua vocação de jardineiro. Passa então a cuidar deste espaço e a partir disso transforma a realidade cinzenta da cidade. Por suas mãos cuidadosas uma nova cidade começa a renascer. E se cada pessoa fosse um jardineiro a cultivar um canto de sua cidade?

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Narrativas provocativas5.De flor em flor

Este livro-imagem revela o olhar curioso de uma menina em suas andanças pela cidade ao lado de seu pai. Ela caminha de olhos atentos as bonitezas do entorno e faz dos achados do caminhos presentes especiais. Não seria este o olhar que deveríamos cultivar para dar um novo sentido a existência humana sobre a Terra?

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Narrativas provocativas6.A Turma da Floresta uma brincadeira puxa outra

Este livro conta as aventuras de um grupo de crianças que se reúne num parque do bairro para brincar. No decorrer da tarde essa turminha inventa muitas brincadeiras com o que a própria natureza lhe oferece.

João é a primeira criança a chegar no parque e enquanto espera a Turma da Floresta, caminha pela mata até tropeçar num graveto. O menino apanha o graveto do chão e assim tem início uma tarde cheia de brincadeiras divertidas.

A história da Turma da Floresta propõe a reflexão de  questões relativas à infância na contemporaneidade. Questiona a condição de confinamento das crianças e  vislumbra um tempo de liberdade e de reconexão das crianças com o mundo vivo para a formação de uma nova geração de guardiões da natureza.

SAIBA MAIS

Bem, aí estão as 6 narrativas provocativas para evitar o fim do mundo. Qualquer semelhança com essas histórias não é mera coincidência, é a mais pura realidade do que estamos enfrentando. Que essas histórias ajudem a promover as mudanças que precisamos ver no mundo.

Há braços fortes

Ana Lúcia Machado