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desaceleração da sociedade

8 MANEIRAS DE ENSINAR MEDITAÇÃO PARA CRIANÇAS

meditação para crianças

Meditação para crianças – Como podemos ensinar?

Já discutimos aqui que a infância pede calma. Entretanto nos dias de hoje as agendas das crianças estão lotadas de compromissos, prejudicando o que há de mais importante para os primeiros anos de vida – o tempo do brincar.

 

 meditação para crianças

Criança quer ser criança, mas isso não tem sido nada fácil na atualidade. As crianças enfrentam hoje vários tipos de estresses. Além do estresse causado pelo excesso de atividades, existe ainda o cansaço devido as cobranças por resultados na escola, questões como bullying, excesso do mundo tecnológico, o que vem acarretando dificuldades de atenção, concentração, e a desconexão da criança consigo mesma, uma vez que o excesso de estímulos gera distração.

 

BENEFÍCIOS DA MEDITAÇÃO PARA CRIANÇAS 

Como a meditação pode ajudar a criança?

Mas afinal o que é meditação? Meditar é colocar toda a atenção em um único ponto. Oras, não é isso que a criança faz ao brincar?

Quando brinca a criança concentra toda a sua atenção na brincadeira, se entrega de corpo e alma. Conectada com seu mundo interior, ela inventa enredos de brincares repetidos, se enchendo de vitalidade.

meditação para crianças

Acervo Território do Brincar

Ao brincar a criança se esvazia de suas inquietações e ansiedades. Brincando, resolve conflitos interiores, elabora e dilui suas angústias. E assim ela aquieta o coração, a respiração se acalma, e consequentemente, de um jeito natural, lúdico e  prazeroso, ela medita. Simples assim.

Então, como podemos ensinar meditação para crianças?

Mostraremos 8 maneiras de ensinar meditação para crianças, a número 5 é minha favorita:

 

  1. Deitar-se sobre o gramado e olhar a movimentação das nuvens no céu, que arrastadas pelas oscilações dos ventos, assumem formas variadas, criando diferentes desenhos – um pássaro que se transforma em navio, que instantes depois vira uma tromba de elefante. E nesta alternância de direções dos ventos, muitos desenhos vão se configurando no céu. Concentrada a criança busca identificar as mais diversas formas das nuvens.
  1. Observar e acompanhar uma fileira de formigas carregadeiras. O olhar cuidadoso segue o fio escuro no chão, na parede. O longo caminho traçado, numa fiel peregrinação das formigas, por vezes parece não ter fim. Instante bem desfrutado com vocação de eternidade.

 meditação para crianças

3.Com pés apoiados na terra, de olhos fixo no céu, segurando firme o carretel de linha nas mãos para que a pipa alcance lonjuras. O colorido da pipa enfeita o céu azul. Entre nuvens de algodão voa a pipa. Passam-se minutos, horas,  nesta brincadeira com o vento, e a criança contemplando a imensidão do espaço.

 

4.Jogar pedrinhas na água – poça d’água, lagoa, ou riacho. Ouvidos ligados no efeito sonoro da pedra ao tocar a superfície da água. O observar atento dos círculos concêntricos que vão aos poucos se formando. Fenômenos naturais que ressoam no íntimo do ser, fazendo perceber que a mesma natureza que está fora, pulsa dentro.

 

meditação para crianças

5.Com as mãos seguras nas cordas do balanço, na alternância do olhar para o alto e o olhar para o chão, a respiração acompanha o ritmo do balanço que vai e vem – o inspirar seguido do expirar, e o corpo aos poucos se desfaz da rigidez das tensões e relaxa, percebendo a sutileza da brisa que acaricia a pele.

6.Contemplar a paisagem natural pela janela de um veículo – carro, ônibus, trem, etc. Pela janela “passa boi, passa boiada, passa galho de ingazeira debruçada no riacho”*. Durante o percurso da viagem vê-se árvores, campos, águas. Pode-se admirar belas paisagens que descortinam verdadeiros espetáculos da natureza.

 

meditação para crianças

7.Contemplar o fogo, a dança das labaredas de uma fogueira, de uma vela. As chamas crescem alto e se espalham, as faíscas brilham e fascinam. No silêncio da alma, ouvindo o estalar dos gravetos e a própria respiração, a criança permanece um bom tempo desfrutando este cenário encantador.

8.De mãos unidas e posicionadas na altura do peito, em atitude de reverência ao sagrado que habita a criança, e de olhos fechados, a oração de gratidão vai preenchendo o espaço interior com brandura.

 

NATUREZA – IDEAL PARA ENSINAR MEDITAÇÃO PARA CRIANÇAS

Quando os olhos de uma criança se enchem de natureza, os batimentos cardíacos e a respiração se harmonizam, e a calma interior se instala. A natureza é o ambiente perfeito para uma infância sem pressa.

meditação para crianças

 

PROMOÇÃO DE LANÇAMENTO DO LIVRO ‘A TURMA DA FLORESTA-UMA BRINCADEIRA PUXA OUTRA

 

Pois bem, brincando as crianças meditam, conquistam equilíbrio, foco e concentração. Imaginou que fosse tão fácil assim ensinar meditação para crianças?

Experimente as 8 maneiras de ensinar meditação para crianças, e se tiver outras sugestões testadas e aprovadas de meditação infantil, compartilhe com a gente.

Juntos lutamos pela desaceleração da infância, pela desaceleração da sociedade. Não deixe de baixar gratuitamente o e-book Brincando com os quatro elementos da natureza.

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

*Trecho da canção ‘Trem de ferro’, de Tom Jobim.

INFÂNCIA PEDE CALMA. VAMOS DESACELERAR?

Vamos desacelerar?  A infância pede calma. O tempo da criança pede desaceleração. As crianças estão a todo o momento fazendo um convite para sairmos de nosso mundo duro e árido, sem tempo para a vida. Elas nos convidam a cada instante para bailarmos em suas cirandas de leveza, simplicidade e alegria.

de calma. Vamos desacelerar?

Imagem do acervo do Educador Roque Antônio Juaquim da Carretel Consultoria

Quem tem o privilégio de conviver com elas, sabe do que estou falando. Elas nos chamam para participar de suas brincadeiras e risadas. Convidam a cantar a vida, a contar histórias – nossas próprias histórias, que nos reaproximam de nossa criança interior.

Com seus apelos despretensiosos e insistentes, elas nos chamam a celebrar a vida. E muitas vezes somos surdos aos apelos. Quase sempre mostramos uma rigidez impenetrável. Amortecidos, acabamos por fazer movimento contrário: trazemos a criança ao mundo endurecido das horas que voam em afazeres infindáveis.

 

 

 

Assim, interrompemos suas cantigas de roda, inibimos suas perguntas curiosas. Segurando suas mãozinhas, as puxamos para o mundo adulto onde não existe tempo para o ócio, para um olhar demorado para as coisas corriqueiras que nos cercam no dia-a-dia – para observar a peregrinação das formigas carregadeiras, para apanhar uma flor no caminho, admirar um passarinho que pousa e tantas outras belezuras da vida, para descobrir a própria sombra projetada no chão em uma manhã ensolarada no quintal, ou jogar uma pedrinha na poça d’água do caminho.

Quantas vezes dizemos à elas:  -Anda logo, estou com pressa! Lembro uma ocasião em que depois de mais um dia longo e cansativo de trabalho, chamei meu filho que estava esparramado no chão da sala brincando, para escovar os dentes para dormir, depois de já ter chamado para o banho e para o jantar também. Ele parou a brincadeira, levantou os olhinhos, olhou bem para mim e disse: -Mãe, você só me chama para fazer as coisas! Uau! Aquelas palavras me disseram tantas coisas sobre a maneira que eu estava vivendo meus dias.

As crianças são presentes do céu, que nos cutucam, despertam e encantam. Precisamos respeitar o tempo da criança e desacelerar, estar junto, olhar na mesma direção e da mesma altura que elas, olhar nos olhos, escutar – permitir-nos entrar num tempo onde a calma e o vagar abrem espaço para a imaginação, onde o silêncio fantasia e o encontro acontece magicamente.

É Gandhy Piorski,  teólogo brasileiro, pesquisador da antropologia do imaginário e autor do livro Brinquedos do chão, quem nos diz que “imaginação querer espaço, folga, lugares de contemplação, devaneios, solidão, convívio, lugares desafiadores. Todas as coisas que tiram esse direito das crianças são excessos”.

 

A INFÂNCIA PEDE CALMA 

 

A infância é curta demais para querer acelerar qualquer coisa. Que tal caminhar no tempo da criança? Mas que tempo é esse?

É um tempo que corre devagar, se esparrama feito água, flui lentamente. Infância é  tempo de encantamento, de descobertas, de explorar o mundo e principalmente fazer perguntas, levantar hipóteses.

Pressa não combina com a criança, a infância pede calma. As crianças não sentem a urgência que nos move a todo momento fazendo com que estejamos sempre preocupados com o que está por vir. Criança vive o presente, que demanda um tempo maior para ser desfrutado, para as vivências serem  introjetadas.

Pare e reflita um pouco na complexidade das agendas infantis hoje em dia.  Muitas crianças mantêm a agenda cheia, como de um executivo. Elas são levadas de um compromisso a outro, de segunda-feira à sábado. Suas agendas estão lotadas de cursos extracurriculares –  do balé para o inglês, mandarin, da yoga para o Kumon, e também  natação, judô, música, até mesmo aula de meditação. Criança medita no balanço do parque, no tanque de areia, fazendo bolinhos, enchendo e esvaziando potinhos d’água.

 

AGENDA LOTADA  CRIANÇA ESTRESSADA

de calma. Vamos desacelerar?O que pretendemos com tudo isso? Formar uma  super geração competitiva? Prepará-los  para o sucesso? A superestimulação promovida pelos adultos tem  levado as crianças ao esgotamento. Estímulo demais, concentração de menos. Estamos adoecendo nossas crianças.

Esquecemos que elas desde cedo tem no próprio ambiente familiar e no mundo natural, estímulos suficientes para seu desenvolvimento. Os estímulos externos criados artificialmente pelos adultos com o intuito de acelerar o desenvolvimento, prejudicam o que a criança tem de mais precioso que é sua motivação interna, alimentada pela curiosidade inata.

O não fazer nada para a criança é muito importante, é o momento que ela faz de conta, inventa brincadeiras, cria seus brinquedos. O tempo livre, o “ócio”, nada mais é que a oportunidade da criança entrar em contato consigo mesma, estimular o pensamento, a fantasia e a concentração. O tempo em que a criança está à toa, num aparente “tédio”, é o tempo em que ela está conectada com ela mesma, num processo de autoregulação.

CONTRA O TEMPO DA PRESSA

Contra o tempo da pressa o remédio é um olhar contemplativo, demorado e lento. Contra o tempo da pressa recomenda-se o ócio, o vazio.

O filósofo e escritor sul-coreano radicado na Alemanha, Byung-Chul Han, em seu mais recente ensaio (2016) Aroma do tempo,  afirma que “a demora contemplativa concede tempo, dá amplidão ao ser, o que é algo mais do que estar ativo. Quando recupera a capacidade contemplativa, a vida ganha tempo e espaço, duração e amplidão”

Precisamos nos refinar na arte da demora. Precisamos devolver ao tempo a sua condição de instante, rompendo com o percurso horizontal e transformando-o numa profundidade vertical – é o que adverti o filósofo.

Quando nasceu minha filha, seis anos após a primeira gravidez, eu resolvi desacelerar. Foi uma experiência de maternidade muito mais consciente. Fui uma mãe mais presente e pude viver e respeitar o tempo da infância. Certa vez voltando da escola, minha filha me convidou para uma brincadeira que ela gostava muito. Ela cantarolava a melodia de uma canção e me perguntava: – Mãe, que música é essa? E eu tinha que continuar, e cantar a letra. Passávamos um tempo largo brincando assim, numa cantoria gostosa.

CONHEÇA O LANÇAMENTO DO LIVRO: A TURMA DA FLORESTA – UMA BRINCADEIRA PUXA OUTRA

 

CRIANÇA QUER SER CRIANÇA

Para examinar atentamente o mundo da criança na atualidade, recomendo a leitura do livro Sob pressão do jornalista escocês Carl Honoré, conhecido como um dos arautos do Slow movement, que prega a desaceleração da sociedade, autor também da publicação Devagar.

Em Sob pressão, além de uma análise sobre o gerenciamento do tempo da criança pelos adultos, o autor traz outros temas importantes que precisam ser discutidos por pais e educadores, tais como a medicalização infantil, a infância monitorada, os excessos de cuidados, etc. Temas que estão todos interligados.

Honoré foi quem cunhou o termo “Educação de helicóptero”  e “Pais helicópteros” – quando os pais estão sempre pairando acima da cabeça dos filhos, se derramando em superproteção e pretensa supereducação.

Destaco um trecho do livro que reitera o que foi dito até aqui – A infância pede calma.

de calma. Vamos desacelerar?

“As crianças se desenvolvem quando têm o tempo e o espaço para respirar, para ficar à toa e se aborrecer algumas vezes, para relaxar, assumir riscos e cometer erros, sonhar e ter prazer com suas próprias coisas, e até mesmo para fracassar. Se quisermos restaurar a alegria não só da infância, mas também dos pais, chegou a hora dos adultos se retirarem um pouco e permitirem que as crianças sejam elas mesmas.”

 

Por aqui temos movimentos como o SlowKids, Slow Parenting, que lutam pela desaceleração da infância. Vale a pena conhecer.

É o que defendemos em Educando Tudo Muda também. Então, vamos desacelerar para promover o desenvolvimento saudável de nossas crianças? A infância pede calma, pede alma, um pouco mais de paciência, como diz a canção de Lenine. Vamos abrir espaços de ócio nas agendas das crianças. Lembrem-se: “a primeira infância é a que fica e fica para a vida toda” – Dr. João Figueiró

Já viu o infográfico sobre estresse infantil que Educando Tudo Muda preparou para seus leitores?

Abraço carinhoso

Ana Lúcia Machado

Crédito foto: a imagem em destaque é do acervo do educador Roquinho, um dos membros da Carretel Consultoria

Crédito música: Lenine e Dudu Falcão