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Brincar na natureza – brincadeiras de criança

Brincar na natureza

Brincar na natureza como potência de vida

Talvez você não saiba, mas o melhor brinquedo do mundo para as crianças é a própria natureza – brinquedo bom, bonito, barato e ao alcance de todos. Além do mais, brincar na natureza é essencial para a saúde e o desenvolvimento integral da criança.

Mas parece que estamos esquecidos do quão relaxados ficamos quando colocamos os pés na terra, tomamos sol, sentimos o vento no rosto ouvindo o canto dos pássaros e o farfalhar das folhas secas enquanto caminhamos.

Nos encontramos tão afastados do contato com o mundo natural que brincar na natureza virou até recomendação médica. Hoje pediatras receitam natureza para seus pequenos pacientes – doses diárias de exposição a ambientes naturais, passeios em parques e praças, banho de sol e brincadeiras ao ar livre.

devolvam o tempo de brincar na educação infantilEstá comprovado que crianças que brincam na natureza têm menos riscos de sofrer de ansiedade, depressão, problemas cardiovasculares e respiratórios, obesidade, diagnósticos de TDAH, dislexia, entre outros.

Atividades corporais livres e espontâneas como correr, pular, saltar, rolar, escorregar, girar, subir e descer morros, trepar em árvores, etc, são essenciais nos primeiros anos de vida que correspondem ao desenvolvimento do sistema sensório-motor.

Brincar é um impulso da criança, como uma força da natureza. Brincando a criança se desenvolve de forma integral, conhece sobre si, o outro e o mundo.

” Brincar é a maneira pela qual as crianças adquirem estrutura física, emocional, intelectual e social. Ao brincar é possível praticar as habilidades que serão necessárias para a vida adulta” – Peter Gray 

O QUE POTENCIALIZA O BRINCAR?

  • Brincar livre – não direcionado por adultos
  • Brincar na natureza – parque, praça, jardim
  • Brincar com elementos naturais – gravetos, folhas, sementes, pedras, etc

A qualidade do brincar na natureza é carregada de significado e incomparável, pois a energia viva advinda do mundo natural impregna a organização corpórea da criança gerando saúde e bem estar.

Brincar substrato para a vidaEm contato com o mundo natural as crianças brincam ao mesmo tempo que aprendem sobre ciclos de vida e morte, fluxos vivos, ritmos e processos dinâmicos, e sobretudo criam vínculo afetivo com a mãe Terra, tornando-se cuidadores do meio ambiente.

Richard Louv, uma das maiores autoridades mundiais no tema criança e natureza, autor do livro ‘A última criança na natureza’, afirma que se quisermos promover a saúde e bem estar da nossa espécie precisaremos equilibrar a balança entre o tempo que passamos em ambientes fechados, de frente para as telas, e o tempo que dedicamos a atividades ao ar livre, em contato direto com a natureza.

Louv, cunhou o termo ‘transtorno de déficit de natureza’ para ALERTAR sobre o estilo de vida contemporâneo que está levando as crianças a crescer distantes do meio ambiente e de seus processos de vida, gerando vários problemas físicos e mentais.

 

BRINCADEIRA DE CRIANÇA

Uma das brincadeiras de criança mais gostosas é a de fazer comidinhas com elementos naturais – flores, folhas, sementes, misturado com terra e um pouquinho de água.

Saia com elas à procura dos ingredientes num passeio descontraído pelo parque ou praça recolhendo folhas, flores, sementes, soltas pelo chão. Tenha à mão alguns potes e deixe as crianças livres para fazer bolos, tortas e muitas comidinhas saborosas!

Esta brincadeira, que faz parte da cultura da infância, foi registrada pela educadora e roteirista Renata Meirelles. Ela rodou o Brasil pesquisando as brincadeiras das nossas crianças que resultou num lindo livro – ‘Cozinhando no quintal’.

Biblioteca verdeO livro revela a potência do brincar na natureza e como as crianças utilizam os elementos naturais na brincadeira de fazer comidinha – com fotos e receitas feitas com flores caídas no chão, grama picada e sal de fim de churrasco, entre muitos outros ingredientes.

Desejo muitas brincadeiras divertidas para vocês!

 

Abraço e saúde

Ana Lúcia Machado

 

RESPEITO À CULTURA DA INFÂNCIA

cultura da infância

O respeito à cultura da infância está relacionado com o respeito ao tempo de ser criança. Exercer a parentalidade consciente  é  priorizar o que realmente importa no dia a dia: o convívio familiar, a escuta, o afeto e valorizar as coisas simples da vida.

Existe uma ordem natural das coisas na vida das crianças. Antecipar aprendizados não tornará a criança mais inteligente. Acelerar o seu desenvolvimento não resultará em melhor desempenho acadêmico. Assim como na natureza, nada deve ser apressado na infância. Devemos partir do natural, do simples, do que está perto, do pequeno, para aos poucos alcançar o maior, o distante, o abstrato, o complexo.

Então vamos esclarecer algumas questões:

 

RESPEITO À CULTURA DA INFÂNCIA

Você sabia que antes de calçar o bebê, colocar aquele tênis colorido em seus lindos pezinhos,  a criança precisa sentir e conhecer o  mundo pela sola dos pés?

Antes de ouvir Bach, Vivaldi, Mozart, ou quaisquer compositores de música, a criança precisa escutar a voz humana, as canções de ninar entoadas pela mãe, pai, avós. A voz humana propicia calma e confiança à criança.

Antes de ler histórias de belos livros ilustrados, a criança tem necessidade de ouvir os pais contarem suas memórias de infância – como brincavam,  suas travessuras,  além  de contarem  as histórias que ouviam de seus pais antes de irem para a cama quando meninos. Isto traz um sentimento de raiz.

Antes de falar inglês ou qualquer outro idioma estrangeiro, a criança aprende a falar a língua materna ouvindo a voz doce da mãe e as conversas ao seu redor. A língua materna traz segurança, conforto, sentimento de pertencimento.

Antes de colocar a criança no judô, capoeira ou balé, role com ela no tapete da sala, girem, escorreguem, corram na grama do parque , na areia da praia, no quintal, em movimentos livres e espontâneos. Dancem – crianças são excelentes dançarinas!

Antes de levá-la para comer  fora de casa, leve-a para a cozinha  e juntos façam uma refeição caseira, gostosa. Ela poderá te ajudar a descascar, lavar, misturar, amassar e poderá sentir o delicioso aroma dos temperos enquanto a comida está sendo preparada. A cozinha é o lugar de aprendizado da vida social. É um espaço de partilhas e trocas.

Antes de oferecer à criança a imagem pronta das telas, permita que ela imagine, crie, desenhe suas histórias. A capacidade imaginativa da criança vai se enfraquecendo aos poucos frente às telas, porque os filmes e desenhos sonham e fantasiam pela criança causando um empreguiçamento na alma infantil.

Antes de dar um brinquedo industrializado que fala, que gira, que faz tudo e torna a criança apenas expectadora, dê à ela a oportunidade de criar seus próprios brinquedos, inventar suas próprias brincadeiras. O brincar que satisfaz é aquele que vem de dentro da criança.

Antes de dar de presente um brinquedo eletrônico caro, compre umas varetas de bambu e algumas folhas coloridas de papel de seda e faça com ela uma pipa para empinar na rua de casa, ou no parque.

Será pouco provável que na fase adulta uma pessoa se lembre do tablet que ganhou no Dia das Crianças. Mas sem dúvida, não se esquecerá da pipa colorida rasgando o céu azul,  da força do vento na  linha do carretel em suas mãos e de você ao seu lado ensinando as manobras necessárias para a pipa voar longe.

Antes de planejar uma viagem distante, programe pequenos passeios ao ar livre, pelo bairro, para conhecer parques e praças do entorno, apropriando-se dos espaços públicos, estimulando a vida comunitária e o contato com a natureza. Ensine a criança a andar de bicicleta e passeiem juntos.

Antes do movimento preciso e delicado das mãos para pegar no lápis e escrever,  a criança precisa movimentar o corpo inteiro –  pular num pé só, pular corda, amarelinha, virar cambalhota, subir em árvore. E precisa de você ao lado para incentivar, dizer que ela é capaz. É preciso entender que o brincar é fundamental  no processo de aprendizagem e aquisição de habilidades nos primeiros anos de vida. Nessa fase a criança precisa se movimentar e ter diferentes experiências sensoriais. O movimento corporal é pré-requisito necessário para o desenvolvimento da fala e posteriormente da leitura e da escrita.

LEIA TAMBÉM:  VOCÊ CONHECE A FORÇA DA SUA INFÂNCIA?

 

Antes de uma criança começar a falar, ela canta. Antes de escrever, ela desenha. No momento que consegue ficar de pé, ela dança. Arte é fundamental para a expressão humana. – Phylicia Rashad

 

O respeito à cultura da infância é fundamental. A infância pede calma, precisa de proximidade, do calor do colo, e de atenção. Vamos respeitar o processo natural das coisas, o processo do desenvolvimento infantil. A infância é curta demais para querer ter pressa  e acelerar o tempo da criança.

A estabilidade da vida adulta tem suas raízes no começo da vida. É na infância que enchemos o nosso baú de tesouros para no decorrer  da existência lançarmos mão de riquezas.

Abraço caloroso

Ana Lúcia Machado

 

 

INFÂNCIA AMEAÇADA – O QUE VEM ADOECENDO AS CRIANÇAS? ALERTA À SOCIEDADE AOS DESAFIOS DA PRIMEIRA INFÂNCIA

 

Infância ameaçada – um alerta à sociedade. O que vem adoecendo as crianças? O cenário atual da Primeira Infância apresenta muitos desafios para toda a sociedade.

A Infância vive um momento de grande complexidade e se encontra no centro das incertezas desta época, expondo as crianças precocemente às mesmas angústias que os adultos estão sujeitos.

As mudanças sociais ocorridas nas últimas décadas alteraram de forma considerável a estrutura da vida familiar e seus reflexos podem ser observados nitidamente na vida da criança.

Os hábitos cotidianos transformaram-se significativamente, modificando o ritmo e a rotina dos pequenos, com estilos de vida mais individuais, sedentários, que desfavorecem o convívio social, atividades físicas, o exercício imaginativo, e a autonomia infantil.

A crescente urbanização, associada ao medo pelo aumento da violência, ergueu muros, produziu isolamento e contribuiu para uma cultura de confinamento.

Além disso, valores da sociedade de consumo tomaram conta do universo da criança, que exposta intensamente a conteúdos de natureza mercadológica e seduzida por apelos do mundo moderno com suas novas tecnologias, vê seu tempo e espaço lúdico invadido e reduzido.

No mundo da criança, a tecnologia passou a ocupar um lugar de destaque. As telas estão roubando um tempo precioso da criança – o tempo do  brincar, uma atividade fundamental para o desenvolvimento infantil em todos os aspectos, físico, emocional, cognitivo, social e espiritual.

E mais, a cultura escolar atual com seus testes, ranqueamentos e índices, tem sido a causa de grande ansiedade para as famílias e crianças.

A consciência intelectual adulta que é hoje imposta, sob pressão, na Primeira Infância, vai contra a natureza da criança. É desrespeitosa ao desenvolvimento integral infantil, isto é : o desenvolvimento intelectual, emocional , social e cultural.

A infância pede tempo e espaço para a ludicidade, a fantasia e imaginação. O aprendizado nesta fase se dá por meio de interações sociais afetivas e no contato com o mundo natural.

Onde poderá desembocar uma infância pobre em interações sociais, pressionada precocemente pelo sucesso acadêmico e competição, e ainda exageradamente tecnológica?

 

Leia também: SABOTADORES DA INFÂNCIA – DA ESCASSEZ AO EXCESSO

 

INFÂNCIA AMEAÇADA

O modus vivendi da sociedade contemporânea com seus excessos, vem adoecendo as crianças, a infância está ameaçada. Querem cedo demais tirar a criança do seu tempo e espaço natural de desenvolvimento. Querem cedo demais intelectualizar, adultizar, atrofiar os sentidos, limitar a curiosidade e vontade da criança de explorar e vivenciar o mundo livremente, empobrecendo assim sua imaginação e criatividade.

O que estamos fazendo com a infância?

Dados mundiais apresentados pelo psicólogo Peter Gray na 20ª Reunião Internacional da Associação Internacional do Brincar – IPA, que aconteceu em setembro do ano passado em Calgary – Canadá, revelam que a depressão infantil já é de 7 a 10 vezes maior que nos anos 60, os transtornos de ansiedade entre as crianças cresceu até 18 vezes e as taxas de suicídios até 15 anos estão 4 vezes maiores. Ao mesmo tempo, o brincar livre das crianças vem diminuindo significativamente desde 1955. Tudo isso indica que a infância está ameaçada.

O que podemos fazer para promover mudanças?
Qual a nossa responsabilidade perante essa geração de crianças estressadas? Que futuro estamos projetando para elas?

O crítico social americano, Neil Postman (1931-2003), em seu livro O desaparecimento da Infância, publicado originalmente em 1982, analisa o cenário social da época e profetiza os rumos assustadores da infância a partir da conexão da infância com a comunicação. Postman aponta as condições niveladoras do acesso a informações entre adultos e crianças, cada dia mais intensa, como um dos responsáveis pelo desaparecimento da infância e diz

“Se despejarmos sobre as crianças uma vasta quantidade de material adulto da pesada, a infância não poderá sobreviver”.

Não é o que temos feito? Este livro é leitura obrigatória para quem deseja se aprofundar nas questões sociais da infância.

 

UM CONVITE

Somos muitos preocupados com este cenário, o que nos confere poder para defender essa causa e batalhar pelo direito da criança viver sua infância sem opressão.

Convidamos pais, educadores, e  profissionais das mais diversas áreas que lidam com a Primeira Infância e que estejam nessa mesma inquietação,  a  se juntar  a nós.

Temos a responsabilidade de desenvolver uma consciência que entenda a cultura da infância como uma etapa particular do processo de iniciação do humano, de forma a garantir a sobrevivência de nossa espécie. Nossa capacidade de viver neste planeta depende de soluções inovadoras e do olhar atento ao começo da vida, à garantia da saúde da Infância.

Compartilhe este texto e deixe seu comentário para que possamos refletir sobre mudanças que favoreçam a vida das crianças na atualidade.

Entre em contato com o Educando Tudo Muda caso sua escola ou comunidade tenha interesse em nossas palestras a respeito desse  tema.

Infância ameaçada – conscientizar e questionar, eis os  primeiros passos para quebra de paradigmas e transformação do mundo.

 

Abraço esperançoso

Ana Lúcia Machado