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COMO PROTEGER NOSSOS FILHOS DO CONSUMISMO INFANTIL

Como proteger nossos filhos do consumismo infantil

Proteger nossos filhos do consumismo infantil é um dos grandes desafios da atualidade.

Esta semana uma leitora do Educando Tudo Muda, mãe de dois filhos pequenos,  entrou em contato comigo pedindo ajuda para uma ideia que deseja implementar  em sua cidade a partir de uma percepção que teve a respeito da relação dos filhos com os brinquedos.

Como proteger nossos filhos do consumismo infantilEm sua  mensagem  ela conta que observou  que muitos dos brinquedos que seus filhos pedem  é mais pelo prazer de ter aquilo que aparece no comercial de televisão e que os amigos tem, do que propriamente a vontade de brincar. Ela diz que “eles brincam uma ou duas semanas e daqui a pouco deixam de lado”.

Foi pensando no relato desta mãe que resolvi reforçar o tema do consumismo infantil  aqui no Educando Tudo Muda.  

Já ultrapassei a fase  dos filhos pequenos. Sei  bem dos desafios da educação das crianças nesse período  e entendo o que o relato dessa mãe significa.

Na maioria das vezes nos sentimos impotentes frente à avidez da indústria aliada ao aprimoramento  da persuasão  dos especialistas da propaganda e do marketing.  A publicidade tem um alvo bem específico: o lado emocional do ser humano. Os  apelos dos comerciais atingem diretamente nossos corações. Se até nós, adultos, somos fortemente seduzidos e temos dificuldades de colocar freio nos impulsos de compras, imagine como uma criança, em sua vulnerabilidade  é impactada!

Os olhos gananciosos da indústria de brinquedos, alimentos, vestuário, estão cada vez maiores em cima das crianças, no potencial consumidor que esses gigantes industriais enxergam na infância.

O  mercado brasileiro de brinquedos  vem crescendo ano após ano  mesmo em situação de crise econômica. Ele apresenta a cada ano mais e mais lançamentos: brinquedos em geral, colecionáveis e educativos, jogos, pelúcias, artigos para festas, fantasias, etc.

LEIA TAMBÉM: MENOS BRINQUEDOS MAIS IMAGINAÇÃO (mais…)

RESPEITO À CULTURA DA INFÂNCIA

cultura da infância

O respeito à cultura da infância está relacionado com o respeito ao tempo de ser criança. Exercer a parentalidade consciente  é  priorizar o que realmente importa no dia a dia: o convívio familiar, a escuta, o afeto e valorizar as coisas simples da vida.

Existe uma ordem natural das coisas na vida das crianças. Antecipar aprendizados não tornará a criança mais inteligente. Acelerar o seu desenvolvimento não resultará em melhor desempenho acadêmico. Assim como na natureza, nada deve ser apressado na infância. Devemos partir do natural, do simples, do que está perto, do pequeno, para aos poucos alcançar o maior, o distante, o abstrato, o complexo.

Então vamos esclarecer algumas questões:

 

RESPEITO À CULTURA DA INFÂNCIA

Você sabia que antes de calçar o bebê, colocar aquele tênis colorido em seus lindos pezinhos,  a criança precisa sentir e conhecer o  mundo pela sola dos pés?

Antes de ouvir Bach, Vivaldi, Mozart, ou quaisquer compositores de música, a criança precisa escutar a voz humana, as canções de ninar entoadas pela mãe, pai, avós. A voz humana propicia calma e confiança à criança.

Antes de ler histórias de belos livros ilustrados, a criança tem necessidade de ouvir os pais contarem suas memórias de infância – como brincavam,  suas travessuras,  além  de contarem  as histórias que ouviam de seus pais antes de irem para a cama quando meninos. Isto traz um sentimento de raiz.

Antes de falar inglês ou qualquer outro idioma estrangeiro, a criança aprende a falar a língua materna ouvindo a voz doce da mãe e as conversas ao seu redor. A língua materna traz segurança, conforto, sentimento de pertencimento.

Antes de colocar a criança no judô, capoeira ou balé, role com ela no tapete da sala, girem, escorreguem, corram na grama do parque , na areia da praia, no quintal, em movimentos livres e espontâneos. Dancem – crianças são excelentes dançarinas!

Antes de levá-la para comer  fora de casa, leve-a para a cozinha  e juntos façam uma refeição caseira, gostosa. Ela poderá te ajudar a descascar, lavar, misturar, amassar e poderá sentir o delicioso aroma dos temperos enquanto a comida está sendo preparada. A cozinha é o lugar de aprendizado da vida social. É um espaço de partilhas e trocas.

Antes de oferecer à criança a imagem pronta das telas, permita que ela imagine, crie, desenhe suas histórias. A capacidade imaginativa da criança vai se enfraquecendo aos poucos frente às telas, porque os filmes e desenhos sonham e fantasiam pela criança causando um empreguiçamento na alma infantil.

Antes de dar um brinquedo industrializado que fala, que gira, que faz tudo e torna a criança apenas expectadora, dê à ela a oportunidade de criar seus próprios brinquedos, inventar suas próprias brincadeiras. O brincar que satisfaz é aquele que vem de dentro da criança.

Antes de dar de presente um brinquedo eletrônico caro, compre umas varetas de bambu e algumas folhas coloridas de papel de seda e faça com ela uma pipa para empinar na rua de casa, ou no parque.

Será pouco provável que na fase adulta uma pessoa se lembre do tablet que ganhou no Dia das Crianças. Mas sem dúvida, não se esquecerá da pipa colorida rasgando o céu azul,  da força do vento na  linha do carretel em suas mãos e de você ao seu lado ensinando as manobras necessárias para a pipa voar longe.

Antes de planejar uma viagem distante, programe pequenos passeios ao ar livre, pelo bairro, para conhecer parques e praças do entorno, apropriando-se dos espaços públicos, estimulando a vida comunitária e o contato com a natureza. Ensine a criança a andar de bicicleta e passeiem juntos.

Antes do movimento preciso e delicado das mãos para pegar no lápis e escrever,  a criança precisa movimentar o corpo inteiro –  pular num pé só, pular corda, amarelinha, virar cambalhota, subir em árvore. E precisa de você ao lado para incentivar, dizer que ela é capaz. É preciso entender que o brincar é fundamental  no processo de aprendizagem e aquisição de habilidades nos primeiros anos de vida. Nessa fase a criança precisa se movimentar e ter diferentes experiências sensoriais. O movimento corporal é pré-requisito necessário para o desenvolvimento da fala e posteriormente da leitura e da escrita.

LEIA TAMBÉM:  VOCÊ CONHECE A FORÇA DA SUA INFÂNCIA?

 

Antes de uma criança começar a falar, ela canta. Antes de escrever, ela desenha. No momento que consegue ficar de pé, ela dança. Arte é fundamental para a expressão humana. – Phylicia Rashad

 

O respeito à cultura da infância é fundamental. A infância pede calma, precisa de proximidade, do calor do colo, e de atenção. Vamos respeitar o processo natural das coisas, o processo do desenvolvimento infantil. A infância é curta demais para querer ter pressa  e acelerar o tempo da criança.

A estabilidade da vida adulta tem suas raízes no começo da vida. É na infância que enchemos o nosso baú de tesouros para no decorrer  da existência lançarmos mão de riquezas.

Abraço caloroso

Ana Lúcia Machado

 

 

UMA MENSAGEM DE ESPERANÇA

UMA MENSAGEM DE ESPERANÇA

Minha filha concluiu o Ensino Médio este ano. Naturalmente isso me deixou muito feliz  por mais uma etapa de dedicação e êxito. Na noite da cerimônia de formatura, o que parecia ser um evento comum, foi marcado pelo discurso dirigido aos pais feito pela aluna Christine Magri Garabosky, eleita por sua turma de sala como oradora. Fui impactada pela lucidez e força das palavras dessa jovem.

As transformações que queremos ver no mundo passam por mudanças em diferentes escalas – vão desde ações coletivas até individuais. Envolvem o despertar da consciência e consequente mudanças de atitudes. Christine representa uma geração conhecedora da extensão dos problemas da sociedade brasileira e consciente do seu papel social.

Quero deixar aqui seu discurso e desejar à todos estes jovens, que sigam confiantes em sua capacidade transformadora, que tracem caminhos pensando na construção de um mundo melhor, de uma sociedade para todos. Que esta chama não se apague, que não se contentem apenas com o sucesso pessoal.

Para vocês, uma mensagem de esperança:

 

Uma mensagem de esperança

Christine e sua mãe

“Boa noite a todas e a todos. Boa noite famílias. Boa noite famílias de dois pais, famílias de duas mães, famílias de um pai e uma mãe, famílias só de mãe, famílias só de pai, famílias de tio, tia, avó, avô, irmã, irmão, madrasta, padrasto, cachorro e gato. Há 13 anos, minha família fez uma escolha bem importante: me colocar no Colégio Santa Maria. E como toda boa escolha, ela gerou uma série de consequências. Entre elas, acordar às 7 horas da manhã no sábado, pelo menos umas 15 vezes por ano, para me levar na missa do dia dos pais, missa do dia das mães, missa do dia das crianças, missa de natal, evento da semana do padre Moreau, festa junina, apresentação de música, apresentação de teatro, apresentação de circo e assim por diante. Mas não importa o quão cedo fosse e o quão chato, minha família sempre estava lá. Mesmo quando a gente tinha que sair cedinho de casa, parar o carro lá no extra, vir correndo, encontrar o prédio certo, afinal essa escola é bem pequena, e tudo para ver eu ler UM VERSO de um poema. Porém, pra mim, a principal consequência dessa escolha, que todas as famílias aqui presentes fizeram, foi que eu e os meus colegas tivemos a incrível oportunidade de estudar em uma escola onde passar no vestibular não é o único propósito de educação. Mas, possibilita que seus alunos desenvolvam um pensamento autônomo e um senso crítico perante as injustiças sociais, a desigualdade, o preconceito, a intolerância, o autoritarismo e a crise ambiental, que tanto permeiam a realidade brasileira. Obrigada, famílias, por terem optado por essa escola. Obrigada por terem optado por oferecer um futuro de transformação social, compaixão e solidariedade a muitos de nós. Obrigada por terem se empenhado tanto para nos dar uma educação que ultrapassa os limites das provas, alcançando o âmbito do compromisso social com o outro e de uma visão mais ampla da sociedade. Mas, principalmente, obrigada por estarem ao nosso lado durante esses anos de descobertas, crescimento, indignações, revoltas e sonhos.

Sendo assim, após tantos anos de estudos, experiências e aprendizados que vocês nos proporcionaram, o que me resta é uma forte esperança. Esperança  de que a partir de agora, todos nós, alunos, possamos usar de nossas características singulares, formadas com a ajuda de nossas famílias, amigos, professores e funcionários, para melhorar a nossa sociedade. Esperança de que a gente saia daqui visando mudar o mundo. Esperança de que a gente consiga. Todos vocês já mudaram o meu mundo. E espero que, com essa mudança, eu possa devolver todo o amor, conhecimento e informação que ajudaram a construir minha identidade, para causar uma transformação significativa e alterar a realidade desse país, que mais do que nunca precisa muito de pessoas como muitos de nós, para lutar por um futuro onde todos tenham a oportunidade e o direito, assim como vocês, de escolher escolas como o Colégio Santa Maria. Obrigada”

Feliz Ano Novo! Desejo um novo ciclo de entusiasmo, que nossos corações sejam guiados pela esperança para ações transformadoras no mundo.

Abraço fraterno

Ana Lúcia Machado

 

 

 

 

INVESTIMENTO PARA O PRÓXIMO ANO – PRIORIDADE ABSOLUTA

Onde investir em 2018?

Quer uma super dica de investimento para o próximo ano? Diante de um cenário de tantas incertezas e turbulências, onde investir? O mercado oferece várias alternativas de investimentos: ouro, ações, tesouro direto, bitcoin, etc.

Investimento para o próximo ano

 

Entretanto há um investimento apontado por estudos recentes que mostram que investir nos primeiros anos de vida traz um alto retorno econômico e social. Como um estudo da Nova Zelândia publicado no final de 2016 que avaliou 1037 neozelandeses dos 3 aos 38 anos de idade, e que concluiu que os 20% de adultos que tiveram uma infância difícil, com restrições econômicas, descuido e negligência, foram responsáveis por 57% das internações hospitalares, 66% dos pedidos de benefícios sociais e 81% das condenações criminais.

Pesquisas revelam que o começo da vida, a Primeira Infância, tem um forte impacto na vida de um indivíduo e que o desenvolvimento saudável de uma criança, levando em conta  boa alimentação, cuidados com a saúde física e emocional, competências sociais e capacidades cognitivas, forma a base da prosperidade econômica e justiça social de uma nação.

O economista James Heckman, professor emérito na Universidade de Chicago e ganhador do Nobel de Economia no ano 2000, afirma que crianças submetidas desde cedo a bons estímulos, aumentam suas chances de ter mais sucesso na vida adulta e que investir na Primeira Infância é o caminho para o país crescer.

Entrevistado por Monica Weinberg,  da revista Veja, Dr. Heckman diz 

 

“cada dólar gasto com uma criança pequena trará um retorno anual de mais 14 centavos durante toda a sua vida. É um dos melhores investimentos que se podem fazer — melhor, mais eficiente e seguro do que apostar no mercado de ações americano”.

 

Investir no capital humano é e sempre será o melhor investimento. A quantia gasta em educação e saúde, resultará em economia ao longo da vida, em serviço social e sistema prisional.

SAIBA MAIS mais sobre a importância dos primeiros anos de vida. Baixe gratuitamente o Caderno Globo Primeira Infância AQUI

 

Onde investir em 2018?

Acompanhe os trechos principais da entrevista:

Por que os estímulos nos primeiros anos de vida são tão decisivos para o sucesso na idade adulta? É uma fase em que o cérebro se desenvolve em velocidade frenética e tem um enorme poder de absorção, como uma esponja maleável. As primeiras impressões e experiências na vida preparam o terreno sobre o qual o conhecimento e as emoções vão se desenvolver mais tarde. Se essa base for frágil, as chances de sucesso cairão; se ela for sólida, vão disparar na mesma proporção. Por isso, defendo estímulos desde muito cedo.

Quão cedo? Pode parecer exagero, mas a ciência já reuniu evidências para sustentar que essa conta começa no negativo, ou seja, com o bebê ainda na barriga. A probabilidade de ele vir a ter uma vida saudável se multiplica quando a mãe é disciplinada no período pré-natal. Até os 5, 6 anos, a criança aprende em ritmo espantoso, e isso será valioso para toda a vida. Infelizmente, é uma fase que costuma ser negligenciada — famílias pobres não recebem orientação básica sobre como enfrentar o desafio de criar um bebê, faltam boas creches e pré-escolas e, sobretudo, o empurrão certo na hora certa.

Qual é o preço dessa negligência? Altíssimo. Países que não investem na primeira infância apresentam índices de criminalidade mais elevados, maiores taxas de gravidez na adolescência e de evasão no ensino médio e níveis menores de produtividade no mercado de trabalho, o que é fatal. Como economista, faço contas o tempo inteiro. Uma delas é especialmente impressionante: cada dólar gasto com uma criança pequena trará um retorno anual de mais 14 centavos durante toda a sua vida. É um dos melhores investimentos que se podem fazer — melhor, mais eficiente e seguro do que apostar no mercado de ações americano.

Se isso é tão claro, por que a primeira infância não está na ordem do dia de quem tem a caneta na mão para decidir? Há ainda uma substancial ignorância sobre o tema. Algumas décadas atrás, a própria ciência patinava no assunto. A ideia que predominava, e até hoje pesa, é que a família deve se encarregar sozinha dos primeiros anos de vida dos filhos. A ênfase das políticas públicas é na fase que vem depois, no ensino fundamental. E assim se perde a chance de preparar a criança para essa nova etapa, justamente quando seu cérebro é mais moldável à novidade.

A classe política também evita olhar para a primeira infância por achar que esse é um investimento menos visível a curto prazo? Os políticos podem, sim, considerar isso, mas estão redondamente enganados. Crianças pequenas respondem rápido aos estímulos de qualidade. Para quem tem o poder de decidir, deixo aqui a provocação: não investir com inteligência nesses primeiros anos de vida é uma decisão bem pouco inteligente do ponto de vista do orçamento público. Basta usar a matemática.

 

onde investir em 2018?O que mostra a matemática? Vamos pegar o exemplo da segurança pública. Há ao menos dois caminhos para mantê-la em bom patamar. Um deles é contratar policiais, que devem zelar pelo cumprimento da lei. O outro é investir bem cedo nas crianças, para que adquiram habilidades, como um bom poder de julgamento e autocontrole, que as ajudarão a integrar-se à sociedade longe da violência. Pois a opção pela primeira infância custa até um décimo do preço. Recaímos na velha questão: prevenir ou remediar? Como se vê, é muito melhor prevenir.

Que tipo de política pública de primeira infância tem surtido mais efeito? O grande impacto positivo vem de programas que conseguem envolver famílias pobres, creches e pré-­escolas, centros de saúde e outros órgãos que, integrados, canalizam incentivos à criança — não só materiais, evidentemente. O programa americano Perry, da década de 60, é um exemplo clássico de que o investimento em uma boa pré-escola produz ótimos resultados.

Por que esse modelo é bom? Ele envolve ativamente os alunos em projetos de sala de aula, lapidando habilidades sociais e cognitivas, sob a liderança de professores altamente qualificados. A família mantém um estreito elo com a escola. Temos de ter sempre certeza de que a família está a bordo, qualquer que seja a iniciativa.

Não é irrealista esperar tanto de famílias que vivem na pobreza, como no Brasil?Um bom programa de primeira infância consegue ajudar a família inteira, fazendo chegar até ela informações, boas práticas e valores essenciais, como a importância do estudo para a superação da pobreza.

Acesse a entrevista completa AQUI

Estão todos convocados, governo, organizações, sociedade e famílias, a fazer este investimento no próximo ano!

Feliz ano novo!

Abraço fraterno

Ana Lúcia Machado

A EDUCAÇÃO ECOLÓGICA COMEÇA COM A EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS – CRIANÇA E NATUREZA

A educação ecológica começa com a educação dos sentidos

A educação ecológica começa com a educação dos sentidos  no decorrer da infância.

Estamos diante de uma geração de analfabetos ecológicos – crianças cada vez mais afastadas do mundo natural, que desconhecem a procedência dos alimentos que levam à boca. Acham que o leite vem da embalagem Tetra Pack. Não sabem que o bifinho é a carne do boi abatido de forma violenta. Não sabem nem identificar as frutas e legumes comuns da culinária do dia a dia.

A educação ecológica começa com a educação dos sentidos

Esta é uma geração que passa a maior parte do dia confinada em ambientes fechados, distantes da luz do sol, do contato com a natureza e que conhece o reino mineral, vegetal e animal por meio das telas de cristal líquido.

O documentário Muito além do peso de 2012, disponível na plataforma  *Videocamp,  aborda o tema da obesidade infantil  e aponta a ignorância das crianças em relação aos alimentos produzidos pela terra.  O fime mostra como as crianças confundem mamão com abacate, beringela com rabanete, e não são capazes de identificar uma abobrinha, um pimentão, uma beterraba, etc.

Entretanto ao apresentar à elas as embalagens de “alimentos” ultraprocessados, reconhecem de imediato as marcas e logo dizem o nome desses produtos, chegando ao absurdo de identificarem a batata apenas pelo pacote de salgadinho frito.

No livro Desemparedamento da infância, uma professora da Educação Infantil da cidade de Novo Hamburgo (RS), relata uma história alarmante. Ela e sua turma, por falta de área verde na escola, passaram  a frequentar um espaço arborizado da igreja vizinha à instituição educacional. Assim que começaram a desfrutar do amplo gramado repleto de árvores frutíferas, era a época final do ciclo das frutas e haviam muitas caídas de maduras pelo chão. As crianças ao verem as laranjas espalhadas pelo gramado, ficaram indignadas e perguntaram: -Quem jogou as laranjas no chão? Elas não fizeram relação entre a laranjeira e as laranjas caídas no gramado.

Será que não chegamos ao ápice da desconexão com a vida?

A educação ecológica começa com a educação dos sentidosVivemos como nunca antes um distanciamento entre homem e natureza, e consequente ruptura com processos de vida. Até 2050, segundo dados da ONU, 66% da população mundial se concentrará em centros urbanos. No Brasil este percentual já está na ordem de 84%. Um dos resultados desse êxodo rural é que vivemos como se não fizéssemos parte da natureza e como se dela não dependesse nossa sobrevivência.

 

 

LEIA TAMBÉM:

BRINCANDO COM OS QUATRO ELEMENTOS DA NATUREZA

BRINCAR NA NATUREZA – PROJETO PLAYOUTSIDE

 

EDUCAÇÃO DOS SENTIDOS VERSUS EDUCAÇÃO ECOLÓGICA

A natureza é o espaço de pertencimento da criança, de suas raízes com a Terra.  A partir da relação com o mundo natural,  um mundo que exala aromas, floresce, frutifica e emite sons nativos, por meio do próprio corpo e sentidos, a criança apreende os princípios que regem a vida na Terra – seus ciclos de nascimento e morte,  fluxos, processos dinâmicos, e aprende brincando, na linguagem da infância.

Como podemos reaproximar a infância ao mundo natural? 

Estimular todos os sentidos da criança com formas primordiais, substancias vivas, e materiais orgânicos é fundamental para restabelecer esta conexão.

A educação ecológica começa com a educação dos sentidos

Essa reaproximação pode iniciar pela boca, por meio de uma alimentação saudável. Comece substituindo as idas ao supermercado com as crianças nos fins de semana pelas compras em feiras livres. Sim aquelas  onde os feirantes anunciam aos berros os preços promocionais das baciadas de chuchus, mandioquinhas, pimentões e que gentis oferecem  generosas fatias de melancia, abacaxi, melão, para degustação. Ali as crianças aprenderão de forma divertida, com a simpatia dos feirantes, os nomes das frutas e legumes e experimentarão alimentos que em casa recusam dizendo não gostar sem nunca ter provado.

Depois troque o pedido de comida por aplicativo no sábado à noite pela ocupação da cozinha por toda a família. A cozinha é lugar de encantamento, de memórias afetivas e de riqueza de estímulos sensoriais – as formas e texturas, as cores dos alimentos, os aromas e sabores.

Convide as crianças para ajudar a preparar as refeições. Elas poderão descascar, lavar, misturar, amassar  e sentir o delicioso aroma dos temperos enquanto a comida está no fogo. Dá mais trabalho? Leva mais tempo? Sim, com certeza, mas o resultado torna compensador todo o esforço.

ONDE A VIDA PULSA E ACONTECE AO VIVO

Proporcionar e incentivar o brincar livre das crianças em áreas verdes é  também fundamental para a relação da criança com a natureza. É algo simples, acessível, custa pouco, gera alegria  e um profundo sentimento de ligação  e interdependência entre os seres viventes. Brincar na natureza em contato com os elementos é em essência criar raízes com a Terra.

Experimente levá-las ao parque e fazer uma caminhada atentos ao assobio do vento, ao canto dos pássaros. Aos poucos isso gera uma quietude que permite até ouvir a própria respiração, o ar que entra e sai dos pulmões. Que outros sons é possível escutar? Talvez o barulho dos passos das crianças ao pisar em folhas secas. Permita também que elas fiquem descalças para sentir a energia natural da terra. Que sensação tudo isso traz?

Caminhe de olhos bem abertos deixando que cada investigação das crianças, cada minúcia do percurso se transforme em assombro, em suspiros de encantamento.

Rubem Alves  disse que “o ato de ver não é coisa natural, precisa ser aprendido”. O olhar precisa ser apurado para permitir que a alma infantil registre as imagens grandiosas da vida que pulsa. Para que elas possam ir além dos limites dos matizes dos lápis do estojo escolar.

Saiba que toda criança é um pequeno cientista. O contato com a natureza propicia a observação de formigas, lagartas, minhocas, musgos, líquens – diversos seres vivos fascinantes para a essência curiosa e exploratória das crianças. Dê à elas a oportunidade de colher pelo caminho folhas, flores, sementes, galhos, pedras, e com esses achados inventar brinquedos e brincadeiras divertidas.

A educação ecológica começa com a educação dos sentidosDevemos ser zelosos quanto ao mundo que apresentamos às crianças. Raffi Cavoukian, ativista da infância, fundador do Centre for Child Honouring, fala que “nenhuma tela de computador vai dar a criança uma brisa suave de verão nem o aroma da primavera, e nenhum toque que realmente emocione virá de representações artificiais do mundo.

Como experimentar a sensação refrescante de uma árvore depois de horas ao sol se não de maneira real, sentido na pele a alternância do quente para o frio?  Como apreciar  o cheiro de terra molhada se não andarmos sobre ela após a chuva? Como conhecer o aroma do eucalipto se não partirmos um galho com as mãos? Experienciar  no mundo real é primordial para uma aprendizagem positiva e verdadeira.

Daí  advém a atitude ética do cuidado com o meio ambiente. A criança em contato com o mundo natural é o potencial cuidador e preservador  da natureza porque em seu corpo haverá registros dessa interação.

A primeira infância é o período mais importante para o trabalho educativo de base.  A verdadeira educação ecológica tem início nesta etapa da vida. Dá-se por meio de experiências vivas e reais em ambientes ricos em áreas verdes.

A educação ecológica está diretamente ligada à educação dos sentidos. Acontece à luz do sol, ao contemplar do arco-íris depois de uma forte chuva de verão, no comer das frutas colhidas no pé, no alcançar o galho mais alto de uma árvore, sentindo a aspereza do seu tronco, e a lisura das suas folhas, no chapinar das poças d’água, no sentir a força do vento ao colocar no alto a pipa colorida.

A educação ecológica começa com a educação dos sentidos

Projeto Playoutside – alegria de brincar na natureza

Pouco podemos esperar de um adulto que não teve contato com a natureza na infância em termos de consciência de preservação ambiental, pois só cuidamos e amamos aquilo que conhecemos, com o qual temos algum vínculo de afeto.

Devemos nos conscientizar de que tanto a família quanto a escola desempenham um papel fundamental no  estabelecimento e incentivo da conexão das novas gerações  com a natureza.

 

 

 

Vivenciar o mundo natural de maneira lúdica e artística, é o caminho para a educação ecológica  e da formação de uma nova geração de guardiões da natureza. Todo empenho no sentido da preservação ambiental será em vão caso não se restabeleça a relação da infância com a natureza e se cultive uma existência harmônica entre todas as espécies viventes.

 

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Quer  ser o primeiro a receber as novidades do Educando Tudo Muda e ainda ganhar um lindo ebook de presente?

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Abraço caloroso

Ana Lúcia Machado

*É possível baixar o arquivo do filme bastando se cadastrar na plataforma e organizar sua sessão.

 

 

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CADERNO GLOBO PRIMEIRA INFÂNCIA – PRIORIDADE ABSOLUTA

Caderno Globo Primeira Infância

O Caderno Globo Primeira Infância acaba de ser lançado num evento na sede da Rede Globo em São Paulo.

Caderno Globo Primeira Infância

Este projeto é uma parceria entre a Fundação Maria Cecília Souto Vidigal e a Responsabilidade Social da Rede Globo, com o objetivo de conscientizar a sociedade sobre a importância dos primeiros anos de vida da criança.

Desde a criação do Educando Tudo Muda falo sobre os cuidados da infância e insisto na valorização do começo da vida. Esta fase é de construção da base sob a qual cada indivíduo erguerá sua existência. Tudo o que for vivenciado na infância terá impacto a vida toda.

LEIA TAMBÉM: OS SABOTADORES DA INFÂNCIA – DA ESCASSEZ AO EXCESSO

CADERNO GLOBO PRIMEIRA INFÂNCIA

O caderno apresenta entrevistas, artigos, infográficos com dados atuais sobre saúde, educação, nutrição,  políticas públicas, e uma reflexão fundamental sobre a relevância dos primeiros 6 anos de vida para o desenvolvimento humano e para a construção de uma sociedade para todos.

O primeiro artigo da publicação é o de  Anna Chiesa, professora da USP e uma das curadoras do caderno. Chiesa chama a atenção para as descobertas científicas do final da década de 90 que revelaram que as conexões neurais se formam numa velocidade incrível –  1 milhão de novas conexões por segundo, sendo que  90% dessas conexões ocorrem até os 6 anos de idade. Ela diz que “conversar, demonstrar carinho e afeto são peças fundamentais para moldar a arquitetura cerebral do bebê”.

Caderno Globo Primeira Infância

Já o artigo do advogado Pedro Hartung, coordenador do Programa Prioridade Absoluta do Instituto Alana, adverte que a criança só será o futuro da nação,  se  garantirmos à ela  direito às políticas públicas hoje. Cuidar da infância no presente, é cuidar do futuro da humanidade, afirma o advogado.

O Caderno Globo é uma publicação periódica, com edições temáticas voltadas a aprofundar o debate e estimular a reflexão sobre assuntos importantes para a sociedade. Esta é a 17ª edição do Caderno.

É um material de alta qualidade, com um conteúdo riquíssimo para todos os profissionais que trabalham com a primeira infância, seja na área da educação, cultura, ou saúde.

A publicação está disponível online. Para baixar o material acesse  AQUI

 

Debater  a  infância é ampliar a discussão a respeito da preservação  da vida e da sustentação planetária.

Boa leitura e reflexão. Vamos colocar a mão na massa. Afinal, somos a mudança que queremos ver no mundo, não é mesmo?

Abraço caloroso

Ana Lúcia Machado

 

VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? – COTIDIANIDADES

Você tem fome de quê?

VOCÊ TEM FOME DE QUÊ? – De noite na cama

O sono parecia ter desaparecido no meio da noite. Permaneci de olhos fechados, sem me revirar na cama, afinal não queria perturbar o sono da casa toda.

Não sei que horas eram, nem quanto tempo fiquei ali tentando adormecer de novo.  Nenhuma preocupação aparente, nenhum pensamento perturbador, nem dor.

No silêncio da madrugada os pequenos ruídos, tornam-se enormes barulhos – o pingo de água na pia do banheiro, a respiração do companheiro ao lado, os movimentos do cachorro do vizinho pelo jardim.

Nesta escuta atenta, me pareceu possível ouvir até o sangue circulando pelas veias. Com certeza um exagero, uma fantasia, mas sem dúvida pude ouvir o ronco do meu estômago.

Fome, foi que o pensei de imediato. Será que estou com fome e por isso não consigo dormir? Levantei, pé ante pé. Fui até a cozinha. Abri a porta do armário e olhei o que poderia comer àquela hora da madrugada. Sim, torrada pensei, ao ver o pote cheio de torradas fresquinhas que havia preparado no dia anterior. Peguei o pote, requeijão na geladeira  e preparei um chá.

Me sentei à mesa e comecei a comer, olhando a escuridão da noite pela janela. Mas mal consegui comer uma torrada inteira. Não estava com fome, conclui. Levantei, apaguei a luz da cozinha.

Ao passar pela sala, parei em frente a estante de livros e meus olhos, como a me comandar, passearam pelas prateleiras, até que encontraram Cânticos, de Cecília Meireles.

Peguei o livro, acendi a luminária ao lado da poltrona e sentei. Abri em uma página aleatória. Li um cântico, li dois cânticos e pausei, a degustar  com vagar aqueles versos.

Prossegui  –  comi  mais um e mais outro, até esvaziar o pote.  Fiz mais uma pausa e de repente bocejei. Aí  percebi  que a fome,  sim,  foi o que me fez despertar no meio da noite. A fome da alma, que saciada e silenciosa,  adormeceu comigo.

 

VOCÊ TEM FOME DE QUÊ?  Pelo que anseia a sua alma? Que alimento você oferece à ela?

Você tem fome de quê?Finalizo com dois Cânticos:

Não digas onde acaba o dia.
Onde começa a noite.
Não fales palavras vãs.
As palavras do mundo.
Não digas onde começa a Terra,
Onde termina o céu
Não digas até onde és tu.
Não digas desde onde és Deus.
Não fales palavras vãs.
Desfaze-te da vaidade triste de falar.
Pensa,completamente silencioso,
Até a glória de ficar silencioso,
Sem pensar.

Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro.
Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo.

Este livro me acompanha e nutri minha alma desde 2000. Já presenteei muitas amigas e amigos queridos com ele. Há uma edição mais atualizada, veja AQUI, mas adoro a capa dessa edição da Editora Moderna.  São 26 poemas,  escritos em 1927, quando Cecília Meireles ainda não era uma celebridade literária. Eles tem uma relação com o Oriente. Pesquisadores da obra da autora falam que ela leu e estudou a poesia oriental do indiano Rabindranath Tagore. Vale a pena tê-lo sempre à mão.

Abraço

Ana Lúcia Machado