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Educando

POR QUE NÃO ALFABETIZEI MEUS FILHOS ANTES DOS SETE ANOS E AS 6 CONSEQUÊNCIAS DA ALFABETIZAÇÃO PRECOCE

alfabetização precoce

Este é um relato sobre o por que não alfabetizei meus filhos antes dos sete anos e as 6 consequências da alfabetização precoce.

Tenho dois filhos. O mais velho, entrou na universidade este ano e a caçula está às vésperas de começar o ensino médio. O que me confere o distanciamento necessário para uma avaliação consciente do resultado das opções que fizemos em relação à  educação deles. Uma das opções, vou relatar aqui, por que não alfabetizei meus filhos antes dos sete anos, e apontar algumas das consequências da alfabetização precoce.

Quando o primogênito nasceu, caiu em minhas mãos um livro intitulado “Como ensinar os bebês a ler”. Como sou uma leitora contumaz, logo dei conta de conhecer o  método de alfabetização de bebês proposto nessa publicação.

Confesso que fiquei chocada e ainda depois de tantos anos, me lembro da sensação desconfortante que essa leitura me causou. No final do livro, havia textos poéticos de crianças alfabetizadas em tenra idade pelo método. Eram poemas que denotavam tal densidade, tamanha angústia nas entrelinhas, uma visão cinzenta do mundo, que me assustou e me fez perceber quão nefasta é a alfabetização precoce na vida de uma criança.

E logo entendi a verdadeira linguagem da criança pequena, e a forma como ela apreende e aprende o mundo. Quando o meu olhar e do meu bebê se encontravam, e um sorriso iluminado se abria em seu rostinho, com sons e aquele balbuciar característico dos bebês, ficou claro para mim que o ser humano é um ser brincante e que seu desenvolvimento e aprendizado está fundamentado numa linguagem lúdica.

Lembro também da minha irmã caçula, mais nova que eu 17 anos. Ela foi uma criança tão brincante! Levava tão a sério seu ofício de brincar! Passava horas e horas concentrada, criando brincadeiras, construindo seus brinquedos. Quando chegou a hora de ir para o 1º ano escolar e ser alfabetizada, seu desejo por brincar ainda era tão gritante, que minha mãe, em sua sabedoria foi até a escola e pediu para a diretora deixá-la  mais um ano na pré-escola. E assim foi que feliz da vida ela pôde amadurecer e se preparar para a alfabetização no ano seguinte, sem prejuízo algum à sua vida escolar.

consequências da alfabetização precoce

Foi observando o quanto as crianças precisam correr, pular, rolar, rodar, rir, e o quanto elas são curiosas, ávidas a explorar tudo que as cercam, que tive a certeza de que para meus filhos se desenvolverem de forma natural e saudável, o melhor a fazer seria favorecer o brincar. E desta forma optei por uma pré-escola com foco no brincar livre na natureza. O início do processo de alfabetização de ambos, só ocorreu a partir dos 7 anos, quando eles estavam prontos e maduros para as atividades intelectuais.

 

 

A NATUREZA COMO ESCOLA DA VIDA

A natureza é uma grande mestra e criança aprende brincando. O brincar é uma atividade espontânea e nata em toda criança. O brincar ensina tudo o que os pequenos precisam aprender. Paulo Freire diz: “Primeiro a criança lê o mundo para depois ler as letras.” No contato com a natureza a criança aprende o que não pode ser ensinado nem pelos pais, nem por professores. A necessidade da criança de movimento é imensa e constante, isto a leva a conhecer e explorar o mundo que a cerca.  As vivências e brincadeiras ao ar livre proporcionam  inúmeras conquistas:

-Autonomia e segurança

-Conhecimento do próprio corpo,

-Habilidades motoras, destreza e equilíbrio corporal

-Florescimento da imaginação e fantasia

-Interesse e encantamento pelo mundo

-Vitalidade e saúde

 

Olhar uma criança brincando é reaprender a dimensão do humano. Quando brinca, a criança está inteira na brincadeira. Ela brinca com todo o seu ser.

alfabetização precoce

Entretanto, o livre brincar está em declínio na sociedade contemporânea. Infelizmente a Educação Infantil está cada dia mais parecida com o Ensino Fundamental, por causa da ênfase na alfabetização. Atividades que requerem que a criança seja capaz de se sentar em uma mesa e completar uma tarefa usando lápis e papel, que antes estavam restritas às crianças de 5 e 6 anos de idade, são agora dirigidas às crianças ainda mais novas, que não têm habilidades motoras e não têm a capacidade de concentração para isso, com exigências de que devem concluir seus trabalhos e atividades, antes que possam ir brincar. O sistema escolar tradicional tem produzido crianças completamente desinteressadas pela escola.

As consequências da pressão escolar e alfabetização precoce são muito sérias e devemos estar atentos a elas:

alfabetização precoce

 

1)Desvitalização  do organismo,

2)Empobrecimento da capacidade imaginativa e criativa

3)Apatia, desinteresse pelo mundo

4) Dificuldades  nos relações sociais

5) Agressividade

6)Stress infantil

 

 

Crianças que são tolhidas na sua necessidade de brincar terão dificuldades de decodificar o mundo. Stuart Brown, psiquiatra americano, pioneiro na pesquisa sobre o brincar, em seus estudos profundos sobre histórias de vida de assassinos e alcoólatras, descobriu a ausência do brincar na vida dessas pessoas. Seus anos de prática clínica comprovam que brincar bastante na infância gera adultos felizes e bem sucedidos e a capacidade de continuar nutrindo este ser brincante que somos, nos mantém joviais e saudáveis ao longo da vida. Brincar é vital.

alfabetização precoce

Brincar, como disse Albert Einstein, é a forma mais plena de fazer ciência, de explorar e investigar as coisas.

Sei que remar contra a maré é mais difícil, mas neste caso vale a pena. Vale questionar o sistema, questionar a alfabetização precoce e defender o direito das crianças viverem a infância como deve ser, com respeito, em sua plenitude, encanto e beleza. Como tão bem versejou Fernando Pessoa,

Quando as crianças brincam

E eu as oiço brincar,

Qualquer coisa em minha alma

Começa a se alegrar.

E toda aquela infância

Que não tive me vem,

Numa onda de alegria

Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,

E quem serei visão,

Quem sou ao menos sinta

Isto no coração.

Abraço

Ana Lúcia Machado

TRANSTORNO DO DEFICIT DE NATUREZA, NÃO SABE O QUE É ?

Transtorno de Déficit de Natureza, não sabe o que é? Você vai conhecer agora:

Estatísticas mostram que 80% da população brasileira vive em cidades e que as crianças que moram nos grandes centros urbanos passam 90% do seu tempo em locais fechados, dentro de casa,  em frente da televisão, jogando vídeo games, ou nas escolas dentro de salas de aula. Quando saem com os pais vão ao shopping, restaurante ou cinema.

Ao longo dos anos, com a crescente urbanização do ser humano, espaço e tempo diminuíram. Valores da sociedade de consumo tomaram conta do tempo e lugar do brincar, do universo da criança. Com menos de 03 anos de idade, as crianças  já sabem  usar smartphones, brincam com tablets,  jogam games, mas poucas sabem amarrar os cadarços do tênis, pular cordas, subir em árvores, etc.

O uso excessivo da tecnologia na infância pode prejudicar o desenvolvimento infantil, causando dificuldade de concentração, má qualidade do sono, sedentarismo, problemas de saúde mental, atraso de aprendizagem, entre outros distúrbios, é o que muitos estudos científicos tem demonstrado.

As crianças brasileiras, segundo dados do relatório Children & Nature Network, estão entre aquelas que tem menos contato com a natureza. Doenças que passaram a ser comuns entre as crianças nos dias de hoje, tais como  transtorno de hiperatividade, déficit de atenção, depressão, pressão alta e diabetes, estão diretamente ligadas com a falta de natureza.

TRANSTORNO DE DEFICIT DE NATUREZA

Um movimento mundial de retorno à natureza está se espalhando e já chegou ao Brasil, chamado Criança e Natureza. Um movimento de reconectar as crianças com ambientes ao ar livre. Um novo termo está circulando e sendo usado  por pediatras, psicólogos, educadores, trata-se da expressão  “Transtorno do Deficit de Natureza”.  Uma pesquisa recente mostrou que 40% das crianças brasileiras passam uma hora ou menos ao ar livre. Um número inexpressivo.

O que a falta de natureza somado ao estresse da vida urbana pode causar?

-obesidade infantil, associada a maus hábitos alimentares

-musculatura fraca, pela falta de atividade física

-falta de equilíbrio, pelo predomínio de pisos lisos, cimentados que oferecem pouca oportunidade de instabilidade na movimentação corporal

-deficiência de vitamina D

-aumento de incidência de miopia

-menor uso dos sentidos

-ansiedade

A primeira tarefa da educação é ensinar a ver. Através do olhar estabelecemos contato com a exuberância e beleza que há no mundo. A conexão com a natureza gera alegria e reverência. Traz a consciência de pertencimento, de que estamos ligados ao todo. Homem e natureza – uma coisa só.

A natureza deve ser a 1ª leitura de mundo da criança. Além de aprendizado por si só, ela é também benéfica para o desenvolvimento infantil integral e saudável. Infância e natureza estão intimamente ligadas.

A criança tem um espírito exploratório. Brincando e descobrindo a natureza, a criança aprende. E aprende de uma forma tão descontraída e prazerosa, que nem parece aprendizado. A criança precisa de experiências na natureza, este contato é muito produtivo, pacificador, restaurador para ela. A natureza provoca um equilíbrio interno, autorregulador na criança.

Transtorno de Déficit de Natureza

No Brasil, médicos já estão prescrevendo natureza para as crianças. A Sociedade Brasileira de Pediatria planeja aprovar pesquisas científicas sobre este tema para adotar padrões de tratamento.

Em recente livro publicado no Brasil, “A última criança na natureza”,  Richard Louv fala de um  estudo realizado pela Universidade de Illinois que mostrou redução dos transtornos de ansiedade entre crianças de 7 à 13 após o aumento de tempo em contato com a natureza. Outro estudo feito em Massachussets em escolas, constatou que alunos tiveram aumento de desempenho e resultados satisfatórios depois de ficarem mais tempo ao ar livre.

Os benefícios da natureza já estão comprovados. Mais tempo ao ar livre regula hormônios, reduz a agressividade, hiperatividade e obesidade. Sucesso vem sendo obtido no tratamento de transtorno de déficit de atenção, depressão, e até mesmo quadros alérgicos, pois o contato com os antígenos naturais no campo ou na praia  fortalece o organismo. Além disso, aumenta  a capacidade cognitiva, e  as crianças ficam mais focadas e criativas.

Devemos criar oportunidades frequentes para as crianças brincarem  ao ar livre.  Na verdade as crianças são a natureza tornando-se humana. Este convívio com o qual a criança sente proximidade e ligação, a coloca em contato com fluxos vivos, que se encontram em constante mudança, assim como a própria criança também está. O diálogo da criança com estes processos vivos promove harmonia, vitalidade e alegria.

Um novo termo está circulando e sendo usado por pediatras, psicólogos, educadores, trata-se da expressão “Transtorno do Deficit de Natureza”.Um passeio na mata, uma caminhada no parque, praça ou jardim, num lugar bonito com pássaros, árvores, plantas, flores, terra úmida e insetos, aguça a curiosidade infantil. Cheiros novos, sons de pássaros, do vento, das folhas secas, formas diferentes de folhas, cores variadas de flores, observar formigas, lagartas, minhocas, musgos, líquens, diversos seres vivos fascinantes para a natureza exploratória da criança. Andar na lama, na chuva, acompanhar borboletas, subir em árvores, correr entre elas ou se esconder, colher frutos, pegar pedras. Tudo isso são possibilidades encantadoras de brincar com a natureza e perceber que o mundo é bom, belo e verdadeiro.

Agora você já sabe o que é o Transtorno de Déficit de Natureza e o que você pode fazer para pela saúde da infância.

abraço afetuoso

Ana Lúcia Machado

 

O MUNDO É BOM!

Reverencio essa roda que com maestria prossegue trazendo em si a força do uno, do individual e igualmente carrega o ímpeto e o poder do todo, do ligamento e da interdependência existente entre os seres. Abençoadas sejam as cirandas infantis, que como  sementes se espalham e se depositam em solo novo e fértil; adormecidas parecem nada significar, porém em tempo certo manifestam-se como poderosa fonte de vida. Abençoadas sejam as rodas formadas por meninas e meninos que compõe um colorido diversificado e harmonioso e que trazem em si o sentimento de que o mundo é bom.

Feliz a criança que em sua infância pode fazer parte de uma ciranda e entoar as cantigas de rodas que a marcará para sempre. Enquanto se formarem cirandas nos quintais das casas, nos pátios de escolas, em praças e parques; enquanto crianças derem-se as mãos em grandes ou pequenos círculos, haverá a confiança de que o mundo é bom, e a esperança de transformação do ser humano e de suas relações.

O mundo é bom

À essa ciranda devo o sentimento de valorização de minha própria existência e o de respeito ao outro. Respeito aos meus pais, meus irmãos, respeito à todos que mesmo de passagem deixaram uma marca indelével em minha história. Profundo respeito aos meus mestres que me ensinaram o mistério oculto em cada ser vivente e a nossa total interligação e interdependência na sustentação da vida. À todos esses mestres minha eterna gratidão.

Carrego em mim a ESPERANÇA de um mundo bom, justo e verdadeiro, e a responsabilidade de revelá-lo às novas gerações através desta lente. Este é nosso dever enquanto pais e educadores, este é o dever da NOVA ESCOLA, com a qual eu sonho todas as noites.

Apresentemos à criança um mundo BOM para que ela adquira autoconfiança e possa ter fé na humanidade e em suas infinitas possibilidades. Proporcionemos à elas vivências que suscitem gratidão pela VIDA. Criemos um ÚTERO EMOCIONAL para essa criança recém chegada a este mundo com o intuito de preservá-la e protegê-la durante a primeira infância até que possa caminhar com confiança.

O mundo é bom

“A infância não é uma coisa que morre em nós e seca uma vez cumprido o seu ciclo. Não é uma lembrança. É o mais vivo dos tesouros e continua a nos enriquecer sem que o saibamos.” – Franz Hellens

Abraço
Ana Lúcia Machado

Brincadeiras Infantis

Sempre tenho  vários livros na minha cabeceira.  Degusto um pouquinho aqui, outro pouquinho ali. Nunca falta a poesia, ora Fernando Pessoa, ora Adélia Prado, entre outros. Passeio por romances, crônicas, etc.  Acabo de ler  “Minha vida de menina” de Helena Morley, pseudônimo de Alice Dayrell Caldeira Brant (1880-1970).

Tendo como pano de fundo o Brasil  pós  abolição da escravatura e proclamação da República, Helena narra seu dia-a-dia em sua cidade natal, Diamantina, entre 1893 e 1895. O livro foi publicado pela primeira vez em 1942. Através do diário da adolescente, tomamos conhecimento sobre os costumes da sociedade da época, a estrutura familiar e todo o universo que cerca essa garota, com seus conflitos, temores e sonhos.

Em 2004 o livro foi adaptado para o cinema e dirigido por Helena Solberg. Foi assim que descobri o livro. Fiz o inverso do que estou habituada a fazer: primeiro vi o filme. Gosto de criar as minhas próprias imagens para depois  me expor às imagens construídas por terceiros. Mas isso não vem ao caso.

O que pretendo compartilhar e comentar aqui, é um trecho do livro que me chamou muito a atenção. Certa vez Helena sofreu uma queda de um cavalo e machucou o joelho, o que lhe obrigou a ficar em repouso, presa dentro de casa. Com relação a este episódio, ela tece o seguinte comentário: “Como é horrível ficar presa num rancho, sabendo que há tanta coisa boa para a gente fazer! Quando eu penso que podia estar no córrego pescando ou mesmo atrás das frutas do mato, dos ninhos de passarinho, armando arapuca e tudo…” Ela continua a se lamentar e diz que só voltará  a se sentir feliz quando estiver novamente lá fora.

Passados aproximadamente 117 anos, quanta coisa mudou! Não poderia ser diferente. Mas constatar que hoje a realidade de nossas crianças é completamente oposta, causa-me espanto. Atualmente nossas crianças não sabem mais o que  fazer do lado de fora. Não apenas as crianças que vivem nos grandes centros urbanos. E  mesmo essas, em férias no campo ou na praia, não conseguem explorar todas as possibilidades que o mundo fora de casa  pode proporcionar.

Apesar de morar em São Paulo, vivi minha infância num tempo que ainda era possível brincar na rua. Andávamos de bicicleta, brincávamos de pega-pega, esconde-esconde, duro ou mole, queimada, etc…tudo na rua.

A crescente violência  aos poucos fez com que levantássemos muros, nos isolássemos. Com o tempo vários fatores modificaram os brinquedos e as brincadeiras infantis. Hoje uma criança que machuque uma perna, não se importará com isso tanto quanto Helena Morley.  A criança de hoje lamentará na mesma proporção que Helena, se ferir seus olhos ou mãos.

Não se trata de saudosismo, quero apenas destacar a necessidade de equilíbrio entre o dentro e fora. Quero ressaltar também a importância da busca por uma vida mais integrada à natureza.

BRINCADEIRAS INFANTIS

A tela do pintor holandês Pieter Bruegel (1525-1569)  intitulada “Brincadeiras Infantis”mostra muitas crianças brincando. Rubem Alves, poeta, filósofo brasileiro, diz que já enumerou 60 brincadeiras nesse quadro. A maioria das brincadeiras de Bruegel, são do lado de fora.

Brincadeiras Infantis
Que possamos nos inspirar e brincar mais!

Abraço ,
Ana Lúcia Machado

Como fazer do meu filho um futuro leitor?

Como fazer do meu filho um futuro leitor? Esta é uma inquietação recorrente em muitas famílias. Não existe uma fórmula milagrosa. É uma construção diária. Acompanhe minha experiência.

Uma das lembranças preciosas da infância que guardo no coração é quando eu sentava no colo de minha mãe e ela lia histórias para mim. Adorava esse momento! Lembro me da história “A casa que Pedro fez”, os chamados contos cumulativos. Pedia para ela repetir, duas, três vezes. Sabe aquela frase conhecida da criança: “de novo”?  Quem tem filhos, sobrinhos, netos, alunos pequenos, sabe o que eu estou dizendo. As crianças não se cansam das histórias. As histórias são alimento para a alma infantil e para a nossa também.

Amo os livros, as palavras! Saboreio-as como a um bom prato. Umas são picantes, outras  suaves. Algumas calam fundo e ficam lá dentro da gente, ressoando por muito tempo. Algumas são extremamente sonoras e sinto prazer ao pronunciá-las, são melodiosas como uma canção.

Certos livros às vezes me despem, deixam minha alma nua. Revelam o mais íntimo do meu ser e chego a perguntar como não fui eu que escrevi tais palavras? Mário Quintana declarou que Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente e não a gente a ele”.

Como fazer do meu filho um futuro leitor?

A leitura é aventura, diversão, é estímulo para a imaginação. Ler nos alimenta, traz alento, consolo, auto conhecimento. Leio na sala de espera do dentista, na fila do banco, no trânsito, no cabeleireiro. Na cabeceira da cama tenho vários títulos, ora leio poesia, ora um romance.

Ler é transformador e libertador. A história do ex-presidiário Luiz Alberto Mendes é surpreendente. Ele passou mais de 30 anos encarcerado. Foi na prisão que descobriu o prazer pela leitura e isso mudou toda a sua história. Ele relata que lia dentro da cela lotada, com todas as condições desfavoráveis para qualquer tipo de atividade produtiva. De leitor, passou a autor. Escreveu e publicou seu primeiro livro Memórias de um sobrevivente. É hoje um homem livre. Vale a pena conhecer a história desse guerreiro.

Li muito para meus filhos quando eram pequeninos. Lia contos de fadas. Os contos de fadas falam em uma linguagem simbólica, universal. Há nos contos de fadas uma riqueza infinita  e não é necessário explicar nada à criança porque  ela assimila e digere de acordo com a necessidade da sua alma.

Como fazer do meu filho um futuro leitor?

Às vezes os pais perguntam: quando começar a ler para meu filho? Como fazer do meu filho um futuro leitor? Simplesmente leia. Sinta prazer na leitura e seu filho também sentirá. Ame os livros e ele também amará. Não deixe essa responsabilidade inteiramente nas mãos da escola. Muitas vezes a consciência da importância da leitura chega tarde demais, na época do vestibular, quando o jovem será  obrigado a ler Machado de Assis, Graciliano Ramos, entre outros. Essa história começa em casa:

“Era uma vez um pai e uma mãe que todas as noites contavam uma história para o filho… E a criança cresceu, aprendeu a ler. Leu seu primeiro livro, depois o segundo e nunca mais parou de ler livros.”

Deixo aqui a história que minha mãe contava para mim todas as noites e ainda a indicação de livros para as famílias e educadores para cultivar o hábito da leitura:

Esta é a casa que Pedro fez

Este é o trigo
Que está plantado no quintal da casa que Pedro fez
Este é o rato
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
Este é o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
Este é o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
Esta é a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
Esta é a moça mal vestida,
Que ordenhou a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez .
Este é o moço todo rasgado,
Noivo da moça toda mal vestida,
Que ordenhou a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
Este é o padre de barba feita,
Que casou o moço todo rasgado,
Com aquela moça toda mal vestida,
Que ordenhava a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo,
Que está na casa que Pedro fez.
Este é o galo que cantou de manhã,
Para acordar o padre de barba feita,
Que casou o moço todo rasgado,
Com a moça toda mal vestida,
Que ordenhava a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez.
Este é o fazendeiro que colheu o milho,
Para dar ao galo que cantou de manhã,
Para acordar o padre de barba feita,
Que casou o moço todo rasgado,
Com a moça toda mal vestida,
Que ordenhava a vaca de chifre torto,
Que atacou o cão,
Que espantou o gato,
Que matou o rato,
Que comeu o trigo
Que está na casa que Pedro fez .

Indicação de livros:

A Magia da Leitura

A Família Leitora 

Manual de Leitura em Voz Alta

Faça-os Ler

Abraço
Ana Lúcia Machado

Um novo olhar

Recentemente assisti o filme “Como estrelas na Terra”, uma produção de 2007 do diretor indiano Aamir Khan. O filme provocou uma reflexão profunda a respeito da necessidade de desenvolvermos um novo olhar para as crianças, para cada individualidade.

O filme conta a história de um menino que sofre de dislexia. Relata seu sofrimento na escola, entre amigos e no ambiente familiar. Até o dia em que um professor substituto de Artes entra em sala de aula e olha para o menino. Com um olhar sensível e um plano pedagógico, ele consegue resgatar a alegria de viver do menino e sua vontade de aprender.

novo olhar

 

Ao ver o filme me perguntei: qual a linha pedagógica desse professor? Sócio-construtivista? Sócio-interacionista? Montessoriana ou Waldorf?
A linha pedagógica praticada por esse professor é a Pedagogia do Amor. Um tipo de abordagem milenar, idealizada e difundida por Jesus Cristo, que em toda sua trajetória de vida mostrou compaixão e ofereceu um olhar atento e individualizado à todos que dele se aproximavam.

A história do menino Ishaan muito me fez lembrar uma frase de Goethe: “Trate um homem como ele é e ele permanecerá como é; trate-o como ele deve ser e ele será como pode e deve ser” e outra de José Saramago no Ensaio sobre a cegueira, “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

Qual a qualidade do olhar daqueles que educam as crianças? Certas crianças encontram-se prisioneiras de um olhar cristalizado e estigmatizante. Um olhar viciado, que enxerga as mesmas coisas sempre.

O olhar que alcança a essência da criança é o tipo de olhar fluídico, aquele que não se fixa em um único ponto, é penetrante e tem longo alcance. O olhar que enxerga a necessidade da criança é um olhar livre de preconceitos, que se renova a cada dia, criando uma nova possibilidade de vir a ser.

Assim Cristo olhava seus discípulos, com um olhar profético, tipo de olhar que alcança o futuro, independente das circunstâncias adversas do momento presente. Um olhar que vê além das aparências e comportamento em si. Esse é o olhar crístico que devemos almejar. Assistam o filme. Vale muito a pena.

“Aquele que muda de olhar, muda de mundo.”  –  Jean-Yves Leloup

Em tempo: Bendito sejam os professores substitutos que chegam como uma possibilidade de renovação do olhar para individualidades ofuscadas e imprimem uma dinâmica diferenciada para o coletivo!

Boas reflexões, abraço
Ana Lúcia Machado