O tempo gasto em frente as telas aumentou no mundo inteiro desde as medidas de isolamento social. Todos nós estamos sendo sugados pelos dispositivos digitais – adultos, adolescentes e até mesmo as crianças.
Com a suspensão das aulas presenciais devido à pandemia, milhões de crianças estão vivendo cotidianamente num mundo muito mais digitalizado em frente as telas dos computadores, smartphones, tablets e também televisores. Os dispositivos digitais transformaram-se em ferramentas para a educação à distância, meio de socialização com familiares e amigos, e entretenimento.
As telas invadiram de vez a vida dos pequenos. Entretanto a exposição excessiva aos aparelhos tecnológicos pelas crianças deve ser evitada, como recomendam os especialistas.
Como lidar com os desafios do mundo ainda mais digital? Quais os efeitos do excesso tecnológico para a saúde física e psíquica das crianças? Quais as influências que essas tecnologias exercem no comportamento infantil durante a fase de formação e desenvolvimento? Há muito mais perguntas do que respostas neste momento, mas existem alguns norteadores para nos auxiliar nesta travessia.
O que precisamos refletir para proteger as crianças?
A recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria é que crianças de até dois anos de idade não sejam expostas a telas e que as de até cinco tenham contato por menos de uma hora por dia. Por quê essa orientação?
A Dra. Julieta Jerusalinsky, psicanalista em primeira infância e desenvolvimento infantil, autora do livro ‘Intoxicações eletrônicas o sujeito na era das relações‘, atribui aos três primeiros anos de vida da criança o sentido de um “tempo primordial da constituição psíquica, fase que está em jogo a constituição de si, a apropriação do próprio corpo e a relação consigo mesmo, além do estabelecimento das relações com o outro”. Assim entende-se que para tornar-se humano, a criança depende do ambiente em que vive, dos estímulos que recebe e da interação e convívio com outros seres humanos.
Questionada sobre como criar filhos neste mundo de telas, a Dra. Jerusalinsky responde que “a infância é um tempo da vida crucial para a formação, mas ela termina. Por isso precisamos pensar em como arrumar tempo e lugar para transmitir à criança aquilo que achamos que é decisivo para que ela se torne o adulto de amanhã. Dá muito trabalho, é verdade. Mas ao conviver com uma criança acabamos inventando brincadeiras e evocando passagens da nossa própria infância que, se não fosse pela criança, cairiam no esquecimento. Assim elas acabam por nos fazer um favor aos nos tirar do automatismo da vida adulta e nos convidar a construir uma brincadeira entre gerações. Costuma ser surpreendente o que pode acontecer quando desligamos as telas e abrimos lugar para o convívio”
Em tempo de quarentena, como manter um equilíbrio saudável entre a vida online e offline?
Pais não precisam virar professores e nem entreter as crianças o tempo todo, mas precisam organizar uma rotina familiar, fazer combinados com as crianças e adolescentes, impor limites de horas de uso das telas, permitir o ócio, incentivar outras atividades e atuar como mediadores entre a vida real e virtual.
O QUE FAZER COM AS CRIANÇAS EM CASA?
Organize o dia estabelecendo uma alternância entre períodos de expansão e contração, movimento e concentração, atividade e descanso. Essa oscilação pendular promoverá equilíbrio ao ambiente e harmonia nas relações familiares. Não se cobre demasiadamente tentando dar conta de tudo. Aprenda a observar as crianças. Elas dão muitas pistas de como agir com mais leveza e assertividade.
Lembre-se: crianças aprendem constantemente. Mesmo longe da escola elas não param de apreender o mundo e aprender.
COMO ESTIMULAR A CONEXÃO DA CRIANÇA COM A NATUREZA NO DIA A DIA
Este é um momento de fazer juntos, compartilhar de forma lúdica as atividades do dia a dia: preparar as refeições, lavar a louça, arrumar a cama, regar as plantar, dar comida para os animais domésticos, etc. Tudo é aprendizagem, talvez até muito mais significativa e também capaz de trabalhar a autoestima da criança.
No caso das crianças menores, da Educação Infantil, sabemos que a aula online é muito mais desafiadora. Alguns especialistas recomendam manter as lembranças da escola de forma “analógica” – recordando histórias, brincadeiras, canções aprendidas na escola, e revendo o portfólio das crianças do ano anterior.
Outras ideias cabem também aqui, tais como: troca de correspondências entre as famílias, troca de livros com desenhos feitos pelas crianças sobre a história, troca de brinquedos, e a confecção de um álbum de fotos dos amiguinhos da sala.
Considerações e cuidados importantes:
- Se as crianças já estão em frente às telas para as aulas online, o que elas podem fazer offline no seu tempo livre?
- Se os dispositivos digitais tornaram-se meios de educação, socialização e entretenimento, quais os limites para a exposição das crianças as telas?
- Conheça o conteúdo que as crianças estão acessando. Por trás dos Youtubers e Influencers que as crianças e adolescentes estão seguindo existe um forte apelo mercadológico e consumista.
- Cuidado com o efeito viciante dos vídeos games e séries.
- Incentive outras atividades que possam ser prazerosas, em que as crianças possam expressar sua subjetividade em relação ao que estão vivendo: desenho, colagem, trabalhos manuais, jardinagem, fotografia, música, etc,
- Desconectem-se dos dispositivos digitais pelo menos 2 horas antes de ir para cama para preservar a qualidade do sono. Algumas pesquisas indicam que a luz emitida por tablets e celulares tiram o sono e podem fazer mal à saúde.
- Preserve o convívio familiar salutar longe das telas, com refeições feitas juntos, um jogo em família à noite e contação de histórias para os pequenos.
Não se esqueça, dada a frieza dos interações virtuais, o convívio familiar é a dimensão do real e do humano capaz de acolher e preencher a vida da criança.
Abraço caloroso e saúde
Ana Lúcia Machado